segunda-feira, 31 de maio de 2010
Morreu O Selvagem da motocicleta
Sem destino. É a tradução brasileira p/ EASY RIDER, o melhor filme sobre moto de todos os tempos. “Get your motor runnin’/ Head out on the highway/ Lookin’ for adventure/ And whatever comes our way”...
Numa cidade do México, os motoqueiros Wyatt e Billy conseguem – por meios ilícitos – dinheiro suficiente p/ caírem na estrada em uma viagem de costa a costa nos EUA, numa jornada de ‘redescobrimento’ da América. Com a grana muvucada em mangueiras dentro dos tanques de gasolina, os jovens, loucos e rebeldes saem queimando tudo pela Interstate 40 e a Highway 160...
Lançado em 1969, Easy Rider foi o 1º blockbuster de uma nova geração de diretores que iria quebrar convenções e salvar Hollywood do ostracismo [como Francis Ford Coppola, Martin Scorsese e George Lucas], c/ lucro 10X superior ao seu baixo custo de US$ 400.000. Além disso, lançou Peter Fonda – irmão de Jane e pai de Bridget – ao estrelato e retratou o espírito de uma geração ao mesmo tempo em que antecipou o fim do sonho hippie.
Prêmio de Melhor Filme de um Novo Diretor no Festival de Cannes p/ Dennis Hopper, então c/ 32 anos, protagonista ao lado de Fonda. O roteiro, escrito pelos dois junto a Terry Southern [autor de Dr.Strangelove], também recebeu uma indicação ao Oscar. “Easy Rider foi o primeiro filme independente a ser distribuído por um grande estúdio!”, bradava.
Apesar de ser O CARA na virada dos 60 pros 70, Hopper já estava em cena desde que atuou ao lado do mito James Dean nos filmes Rebel Without a Cause [no Brasil, ‘Juventude Transviada’] e Giant [‘Assim Caminha a Humanidade’], ambos de 1955. Na década seguinte, participa de clássicos do faroeste – Rebeldia Indomável e Bravura Indômita – e torna-se amigo do produtor Roger Corman, rei dos filmes B, e do ator Jack Nicholson, rei dos doidões. Com eles, participou da 1ª película sobre os Hell’s Angels: The Wild Angels, de 1966.
TOP CHOP - “Yeah, darlin’ gonna make it happen/ Take the world in a love embrace/ Fire all of the guns at once and/ Explode into space”...
’69 foi um ano quente nos EUA: festival de Woodstock, eleição de Nixon, auge da guerra do Vietnã, assassinato de 2 líderes políticos [Robert Kennedy e Martin Luther King]. Sem Destino surge neste contexto capturando o clima incerto de uma era de mudanças. Os anti-heróis da história eram maconheiros vivendo à margem da sociedade, que perturbam o status-quo somente c/ as suas presenças aonde chegam.
“Dois jovens em busca da liberdade que encontram a realidade”, resume o pessoal do Mamutes – não a banda de rock, mas o site do motoclube. A trilha sonora é primorosa, c/ Jimi Hendrix, Bob Dylan, The Band, Steppenwolf em seu auge tocando o hino de uma geração... E as motocas! Harley-Davidson modelo Chopper, 1200 cilindradas de potência sobre duas rodas. “Peter Fonda comprou 4 motos num leilão da polícia, elas eram Harleys equipadas com motor ‘Panhead’, uma 1950, duas 1951 e uma 1952”, conta o Mamutes: “Com a ajuda de Cliff Boss foram montadas duas motos de cada.”
As motos foram batizadas de Capitain America e Billy Bike. “Fonda foi o responsável pelo desenho da Capitão América, para o qual se baseou no estilo das motos californianas da época. A moto de Hopper, que não tinha experiência nesse estilo, teve seu guidão mais baixo e freio na roda dianteira para facilitar a pilotagem e minimizar o risco de acidentes.”
As Choppers foram criadas quando os donos da Harley resolveram desenvolver motocicletas mais leves, como as inglesas, sem perder o estilo próprio. Retiraram então todo o peso desnecessário – setas, buzinas, paralama dianteiro, assento do garupa – e reduziram o sistema de frenagem. Alongaram os garfos dianteiros e levantaram o guidon p/ cortar o ar e assim ter estabilidade nas rodovias. Como a lei exigia espaço pro carona, introduziu-se um ‘sissy bar’ [o famoso ‘santo antônio’]. Nascia um ícone.
Falando em mitos, Dennis Hopper participou de mais de 200 produções p/ o cinema e a TV em quase 60 anos de carreira. Dirigiu documentários e atuou em alguns dos maiores clássicos do cinema moderno, como Apocalipse Now e O Selvagem da Motocicleta, de Coppola, e Veludo Azul, de David Lynch.
Após prisões e internamentos por abuso de álcool e drogas, ‘encaretou’ na década de 80. Coincidência ou não, passou a aceitar qualquer trabalho que lhe oferecessem. Em 1988 dirigiu Colors [no Brasil, ‘As Cores da Violência’], o 1º filme a retratar o conflito de gangues em Los Angeles. Dois anos depois faria Catchfire [‘Atraída pelo Perigo’], estrelado por Al Pacino, e Hot Spot [‘Um Local Muito Quente’].
Mesmo nos anos 90, quando se especializou nos papéis de vilões em bombas hollywoodianas [Speed, Waterworld, etc.], ainda mostrava lapsos de brilhantismo. Em sua participação no filme Amor à Queima-Roupa, de Tony Scott [c/ roteiro de Quentin Tarantino], interpretando um aposentado que mora num trailer e é torturado por mafiosos italianos por causa da dívida do filho vigarista, divide uma cena memorável c/ Christopher Walken, na qual zoa seus algozes diante do inevitável destino, dizendo que os sicilianos têm cabelo crespo por causa dos mouros que invadiram a Itália e comeram suas tataravós.
DENNIS TROUT - “I like smoke and lightnin’/ Heavy metal thunder/ Racin’ with the wind/ And the feelin’ that I’m under”...
‘Chopper’ Hopper morreu neste sábado, aos 74 anos, em sua casa na praia de Venice, CA, cercado pela família e amigos. Sua última aparição pública foi em 26 de março, quando recebeu a estrela na Calçada da Fama do Sunset Boulevard, em Los Angeles. “Vocês me ofereceram uma vida que eu jamais poderia ter tido sendo um menino de Dodge City, no Kansas”, falou na ocasião. Irônico que um dos caras c/ mais ‘culhões’ em Hollywood tenha morrido de câncer de próstata, mas assim é a vida.
“Nós tínhamos atravessado a década de 1960 e ninguém tinha feito um filme sobre fumar maconha sem matar um monte de enfermeiras.” Workaholic, atuou em 25 filmes nos últimos 10 anos – só em 2008 foram 6! Ano passado, mesmo doente, participou da série Crash, versão televisiva do filme homônimo vencedor de 3 Oscar. “Eu fui abençoado por sua paixão e amizade”, lamentou Peter Fonda, após a notícia do falecimento do amigo: “Juntos, rodamos pelas estradas dos Estados Unidos e mudamos a forma como filmes eram feitos.”
“A produção foi uma bagunça", escreveu João Solimeo no blog Câmera Escura, “Hopper não tinha idéia de como se fazia um filme, era extremamente violento e egocêntrico e tão viciado que tinha marcado, no roteiro, que tipo de droga usaria para interpretar cada cena.“ As informações são do livro Easy Riders Raging Bulls, de Peter Biskind, traduzido no Brasil p/ 'Como a Geração Sexo, Drogas & Rock'n'Roll Salvou Hollywood': “Hopper não conseguia finalizar o filme e os financiadores tiveram que tirá-lo dele, cortando-o para uma duração apropriada. O filme acabou sendo um sucesso inesperado e deixou os estúdios sem saber o que fazer.“
“As últimas fotos dele que eu tinha visto mostravam quase um cadáver ambulante, terrível mesmo”, comentou Allan Sieber em seu blog: “Um cavalo selvagem & louco desse naipe não merecia passar pelo papelão de definhar em público. Era hora de sair de cena mesmo. Lembrei de Paris Trout, filme pouco citado onde ele simplesmente destrói.”
Easy Rider é um dos poucos road movies autênticos já feitos. Toda a equipe de filmagem viajou junto c/ Wyatt e Billy pelas cidades de Needles, na Califa, Selingman, no Arizona, Morganza, na Louisianna, etc. A caminho do Texas, a produção foi ‘aconselhada’ pelos nativos a não gravar nada, mas Hopper estava decidido a rodar algumas cenas em Taos, onde morou por 15 anos. Após 1 dia de estrada e 1 acampamento, conseguiram filmar convencendo os caipiras de que compartilhavam de suas idéias racistas. Os ‘rednecks’ chegaram a participar do filme, mas a paz acabou quando o xerife flagrou o grupo de cabeludos californianos bebendo num bar p/ negros. “A música e a diversão eram bem melhores!”
Dennis Hopper foi o fotojornalista de Apocalipse Now, o Frank Booth de Veludo Azul, o terrorista de Velocidade Máxima e o vilão caolho de Waterworld, mas será lembrado sempre como o motoqueiro fora-da-lei inspirado em Billy The Kid, de Sem Destino. “As pessoas fumavam maconha e tomavam LSD em todo o país, mas no cinema continuavam vendo Doris Day e Rock Hudson. Não havia sido feito nada até então. Eu queria que Easy Rider fosse como uma cápsula do tempo sobre aquele período.”
...“Like a true nature’s child/ We were born, born to be wild/ We can climb so high/ I never wanna die.” [Born To Be Wild, Steppenwolf]
por Adolfo Sá
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Um comentário:
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