Abaixo, uma matéria sobre o panorama (desolador) das artes plásticas locais, e algumas reproduções de obras de artistas sergipanos.
A.
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Cinform, 01/10/2009
“Não existe uma linha de evolução das artes plásticas em Sergipe. Ela é feita de muitos acasos, de uma contrafacção de valores, subestimação da qualidade artística e da ausência de um curso de artes verdadeiro que prepare o aluno”. As palavras do artista plástico Leonardo Alencar, um dos mais respeitáveis de Sergipe, explica e introduz uma problemática existente no Estado: o mercado decadente das artes plásticas, uma das vertentes de artes que tem uma nobre valorização no país inteiro. Mas aqui...
Para Leonardo, o problema aqui precisa começar do zero. E ele tem razão: as obras dos artistas sergipanos quase não têm espaço para ser expostas ao grande público que, por sua vez, não tem conhecimento do real valor delas. Falta galeria que fomente público e artista, e falta público que fomente artes plásticas. É um ciclo vicioso perigoso. “A ideia da valorização da obra de arte não passa pela mente do sergipano. O artista era visto como um marginal, como alguém que estava sempre precisando de dinheiro, um boêmio, um dissoluto”, lamenta Leonardo Alencar. Um solitário.
Para o artista sergipano nascido em Estância, que completa 50 anos de artes plásticas em abril do ano que vem, é preciso força política dentro do mercado das artes em terras sergipanas – mercado este que não existe. “A arte é um ser político. Como não existe apoio, ficamos atrasados. E isso é grave”, explica Leonardo Alencar. Como há pouca cultura na sociedade sergipana no aspecto de compreender a real dimensão da pintura e, também, não há galerias que exponham as peças constantemente, criou-se a prática de vendas em moldurarias que, segundo Alencar, não foi proposital, mas é péssimo. “Os artistas iam colocar moldura nas peças, alguém via, gostava e comprava. O moldureiro acabava sendo o entreposto, mesmo sem querer”, explica Leonardo. Essa prática foi intensificada no Estado na década de 1980 e teve como grande tutor Osvaldo José dos Santos, da Molduraria e, depois também Galeria, José de Dome.

Para Leonardo Alencar o problema se origina no berço. O sergipano vive dissociado da cultura e por isso não credita valor à arte. “Vender mais barato ou mais caro é uma questão cultural. Como as pessoas daqui não lêem sobre arte, tornam-se desinformadas e acabam confundindo arte com artesanato. Então vendem a suposta obra de arte como uma mera peça artesanal. E quando é uma arte, o cliente oferece o preço de uma peça de artesanato. Ele não está acostumado a respeitar o critério do mercado”, teoriza Alencar, numa tradução exata da realidade cultural sergipana, excluindo a culpa das moldurarias e dos pintores. Para se ter uma ideia do quanto a mentalidade cultural do sergipano é deficiente nesta área, Alencar exemplifica que suas peças, por exemplo, são vendidas para pessoas de outros Estados que vão até seu atelier porque já ouviram falar em seu nome. “Essas pessoas são as que têm um conhecimento mais descortinado, mais amplo”, justifica Alencar. E são geralmente as que lhe salvam a condição de artista, dando o real valor ao que ele produz.

O médico e escritor Marcelo Ribeiro é um dos poucos sergipanos que sabem dar valor a uma obra de pintura de qualidade. Uma boa parte dos quadros de seu acervo, de mais de 70 peças, foi comprada na mão de particulares em péssimo estado de conservação. Marcelo Ribeiro concorda que os sergipanos de uma maneira geral não costumam valorizar a arte plástica. “Mesmo a classe média, sem generalizar, acha que não há diferença entre um quadro de um grande pintor sergipano e uma gravura”, salienta Ribeiro. Para ele, a iniciativa teria que partir do Governo do Estado para que investisse e conscientizasse o povo do devido valor das artes plásticas.
A Galeria Ana Maria Alves, na Orla de Atalaia, é a que melhor exemplifica o desleixo com esta vertente da cultura em Sergipe. Desde que foi fundada, em junho de 2006, no Governo de João Alves Filho – está aí o motivo pelo qual o espaço ganhou este nome, da filha do político –, a Galeria Ana Maria Alves, uma das maiores do Estado, teve apenas uma exposição, no dia da sua inauguração. “O espaço está sendo usado apenas para eventos. Esta semana, por exemplo, vai acontecer a festa das crianças”, informa o vigilante ‘solitário’ da galeria, Germino Alves Santos, que há dois anos trabalha no local. Para a artista plástica Hortência Barreto, o problema não é tanto dos espaços, são os valores culturais. “O Estado não vê como uma coisa importante. Falta compromisso do povo e das instituições”, opina Hortência.

“A coisa mais triste é viver de arte em Aracaju. Os que conseguem são vitoriosos. Obra de arte é um suplício. Só compra quem tem dinheiro sobrando. Os novos ricos preferem comprar algo, uma gravura, em São Paulo. Uma minoria de sergipanos consome obra de arte”, pontua Ruteh Oliveira, uma outra vertente que impede que as artes plásticas sergipanas ocupem o lugar que merece.
De fato o sergipano não valoriza a cultura local. Mas para reverter esse quadro seria necessário haver vitrine para essa atividade. Sem recursos próprios, as galerias públicas sergipanas não têm poder de fomentar a arte e atrair o público. A Galeria de Artes Álvaro Santos – GAAS –, fundada em 26 de setembro de 1966, na administração do prefeito Godofredo Diniz Gonçalves, é uma das poucas no Estado que expõe constantemente e que oferece ao artista o apoio mínimo necessário. “Dentro do regimento oferecemos o espaço, funcionários para a montagem e para tomar conta das peças, divulgação e cerca de 500 convites”, argumenta Aldeci Lima Freire, secretária da GAAS. Mas isso não é o bastante.
A realidade das artes plásticas no mercado sergipano pode ser comparada a uma tela vazia, sem a vida das cores. Ruteh Oliveira, diretora da J. Inácio, diz que há quatro ou cinco anos o mercado teve uma forte queda e isso prejudicou ainda mais os artistas. “De fato houve uma crise econômica que prejudicou este segmento. Mas em Aracaju também não existe um mercado de colecionadores. As artes plásticas não dão visibilidade para investimentos nem do poder público nem do povo”, argumenta Hortência Barreto, artista plástica há 20 anos.


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