quarta-feira, 29 de outubro de 2014

CONTRAPONTO

É nóis no Contraponto
CONTRAPONTO é um programa de debates conduzido pelo meu camarada de longa data Antonio Passos. Vai ar ar semanalmente pela TV e FM Aperipê. É legal, dinâmico e informal. Participo ocasionalmente. Na edição que vai ao ar hoje às 17:30 pela TV e amanhã às 13H pela FM discutimos, principalmente, a reforma política, que voltou à pauta depois da eleição presidencial - eleição que deu o tem, também, durante a gravação, com um confronto de idéias tão acirrado que quase fez com que a condução do programa saísse do controle de Passos - uma pessoa sempre serena e ponderada.

Assista pela TV Aperipê, canal 31, ou neste link. No rádio você ouve ao vivo via streaming aqui

Aproveito o "gancho" para reproduzir um balanço final da campanha produzido para a Agência Carta Maior pelo jornalista, professor e jornalista brasileiro, atualmente residente em Berlim, Flávio Aguiar:

Tão importante quanto dizer quem ganhou e quem perdeu ao final da campanha eleitoral de 2014 é dizer quem saiu ganhando e quem saiu perdendo. Nem sempre estas coisas coincidem, como se verá ... 

Dilma Rousseff – ganhou e saiu ganhando. O sucesso de sua candidatura dependeu muito de seu estoicismo (ao enfrentar os insultos no Itaquerão), da sua firmeza (ao responder de modo duro às acusações de Aécio nos debates), de sua capacidade de se comprometer com a manutenção (salário, empregos) e com a mudança (eventual correção no caso Petrobrás) de rumos. Provou e comprovou que tem luz própria e estofo de estadista.

Aécio Neves – perdeu e saiu perdendo. Provou que sua habilidade retórica não o protege de ataques porque não está preparado para isto. Achou que podia ganhar no grito, isto é, só atacando uma pauta negativa, sem se comprometer ou revelar seu verdadeiro programa para o país. Tergiversou. Conseguiu mais votos pelo antipetismo do que por si próprio. Não tem luz própria, e agora está ameaçado em seu arraial. José Serra já afia os caninos e Geraldo Alckmin planta seus chuchus na cerca de São Paulo para aprimorar seu picolé, ambos tendo em vista 2018. A vida de Aécio não será fácil.

Armínio Fraga – perdeu, mas se saiu perdendo é outra história. Cometeu um erro fatal. No debate com Guido Mantega, ao falr das dificuldades do cidadão brasileiro, falou de alguém que quer comprar ações na Bolsa. Mantega falou de quem quer trocar de geladeira. Claro: no Brasil tem mais gente preocupada em trocar de geladeira do que em comprar ações na Bolsa. Mas seu erro não foi este. Foi o de imaginar que quem assiste este tipo de debate hoje no Brasil é apenas quem quer comprar ações na Bolsa. Enterrou um pouquinho a candidatura de Aécio. Saiu perdendo? Ora ora, tem muito mundo financeiro pelo mundo afora querendo gente com Fraga.

Marina Silva – perdeu e saiu perdendo. Cresceu nas pesquisas depois da tragédia de Eduardo Campos e seus companheiros de vôo, mas se confundiu com o próprio crescimento. Atirou para todos os lados em busca de votos, rolou e enrolou, disse e desdisse, contradisse e entrou na dança e na contradança, mas o que ficou na lembrança é que quem tem poder sobre ela é o pastor Malafaia. Quem se curva à chantagem de pastor jamais vai chegar à presidência. De quebra, apresentou uma lista de reivindicações a Aécio para apoiá-lo, não viu nenhuma atendida e apoiou assim mesmo. Eu não votaria nela nem pra Associação de Pais e Mestres. Comprometeu a credibilidade de sua futura Rede, que pode virar uma rede para pescar goiabas. É pena. O Brasil precisa de um partido ambientalista forte.

PT – Empate técnico, graças à atuação e à vitória de Dilma Rousseff. Na verdade saiu perdendo. Perdeu cadeiras no Parlamento, mas não só isto. Em alguns momentos, em alguns lugares (sobretudo São Paulo) lembrou aquele ditado nordestino: “em tempo de murici, cada um cuide de si”. Murici vem do tupi-guarani e quer dizer “árvore pequena”. Pois é. O PT está se acostumando ao estilo “árvore pequena” tão caracterísitico da política brasileira. Fica pensando mais na próxima eleição do que nas utopias que o fundaram e o fundamentam. O PT precisa se reciclar (detesto o “refundar”, que me parece próximo do “afundar”). Ter uma política para a juventude mais efetiva. Uma política para o meio-ambiente mais visível e propositiva. Retomar a ideia de um projeto de futuro mais amplo, não apenas o de administrar este e aquele governo. Enfim ...

PSDB – Desastre. Perdeu e saiu perdendo. Na mídia internacional, que pode ser conservadora em grande parte mas sempre chama os bois pelo seu nome verdadeiro, e não o de fantasia, o PSDB brasileiro é descrito como “business friendly”, o que deve ser traduzido por “amigo do mercado”. Isto quer dizer que o PSDB hoje é visto como estando à direita dos partidos da social-democracia europeia. Em termos de Alemanha, por exemplo, o PSDB de hoje é um clube misto de União Democrata Cristã, da chanceler Angela Merkel e do FDP, uma espécie de DEM (PFL) sem coronéis nordestinos por detrás. Periga entrar para a história dentro de um sarcófago de múmias sagradas. Para não dizer vacas.

Geraldo Alckmin – ganhou, mas saiu perdendo. Sua gestão da água em São Paulo foi, é e será um desastre. Ajudou Aécio a perder votos no segundo turno. Bom, pode ser que isto seja bom para ele e seu projeto. Em tempo de murici ...

Lula – não ganhou porque não concorria. Mas saiu ganhando: continua sendo a principal referência de unidade do PT e seu maior cabo eleitoral, além de não se entregar à política das “árvores pequenas”. Jogou um bolão. Vão querer pegá-lo na volta da esquina e por na geladeira. Pode vir processo judicial em cima dele.

Fernando Henrique Cardoso – não perdeu, porque não concorreu. Mas saiu perdendo feio, sobretudo por ter perdido várias oportunidades de ficar quieto e não dizer nada. As mais evidentes foram a de dizer que pobre (nordestino, leia-se) vota mal não porque é pobre, mas porque é desinformado (por acaso quando pobre nordestino votava no PFL ele era bem informado?) e que o salário mínimo no seu governo era muito maior do que no governo Dilma, uma ofensa à aritmética, à geometria, à álgebra e à trigonometria, sem falar na teoria da relatividade e na física quântica. Disse tanta bobagem que foi rebaixado: de Príncipe da Sociologia (seu apelido nos meios acadêmicos, tanto pela elegância no falar e no trajar, quanto pela qualidade de seus trabalhos e seu apreço pela corte que lhe faziam admiradores, colegas e alunos, mais do que merecida) passou a Barão de Higienópolis. Que se cuide, pode virar Juiz de Luta-Livre, entre Geraldo, Aécio e José. O tempo dirá.

Luciana Genro – perdeu, mas saiu ganhando. Os elogios à sua campanha superaram as hostes pissolistas. Deu demonstração de coerência e consistência. Aguentou dedo na cara de Aécio (o que não o ajudou) e se saiu bem nas perguntas e nas respostas. É verdade que no segundo turno se enrolou brabo nas palavras, para não declarar apoio à Dilma. Seu correligionário, candidato ao governo de São Paulo, Gilberto Maringoni, se saiu melhor: “voto contra o Aécio”, e ponto. Sem vírgula.

Eduardo Jorge e o Partido Verde – que vergonha! Apoiar o Aécio no segundo turno! Viraram um puxadinho, o biocapitalismo do capitalismo selvagem. Bom, muitas cúpulas do PV aqui na Europa se comportam assim. Precisavam ter mais contato com a esquerda verde por aqui. Para não dar vexame.

Extrema-direita – saiu ganhando. Malafaia chantageou Marina com sucesso. Feliciano e Bolsonaro tiveram votações consagradoras. Levy Felix, o candidato do conduto excretor, triplicou seus votos. O Pastor Everaldo tanto latiu que mereceu audiência especial com Aécio. Esse pessoal tem um poder de fogo notável. Dá engulhos e medos.

PMDB – Empate técnico, o que para ele é vitória. Saiu ganhando. Continua sendo um partido-esponja, que tudo absorve. Parece um polvo, com tentáculos em toda a parte. É capaz de compor até com Levy Felix, Pastor Everaldo e Luciana Genro ao mesmo tempo. Tem vida longa.

PIG e Veja em particular – perderam feio, a ver se saíram perdendo. Puseram todas as suas fichas em derrubar Dilma e o PT desta vez por todas. Não deu certo. Esqueceram de combinar com o povo brasileiro, que, acham, são o círculo externo da teoria da pedra no lago: como são ignorantes mesmo, o importante é atingir os “esclarecidos” que “esclarecerão” a “gente diferenciada”. Como a base do PIG é o Rio e São Paulo, desconfio que vão enviar seus copiadores no Norte e no Nordeste para um campo de reeducação em Miami. Daqui pra frente vão começar a pregar primeiro veladamente depois com velas acesas o impeachment, a condenação do Lula (afinal, ele não fez nada para impedir o afundamento do Titanic nem a crise econômica europeia) e coisas assim. Pode apostar. Quando digo que não sei se saíram perdendo, é porque o PIG é como o vampiro: morreu nesta eleição, mas vai renascer mais cruento e sanguinário na próxima. Com verbas de publicidade do governo e das estatais.

O camarote do Itaú no Itaquerão – perdeu, saiu perdendo, deu vexame internacional. Foi se roçar nas ostras, como se diz.

Gilmar Mendes, Joaquim Barbosa e Sérgio Moro – não perderam, porque não concorriam. Mas saíram perdendo. Gilmar Mendes suspendeu um dos direitos de resposta conseguidos pelo PT em relação à Veja numa decisão por 7 x 0, postergando-a para depois das eleições. Joaquim Barbosa sumiu, depois de ser o grande herói do linchamento conhecido como processo 470 (do “mensalão”, sem provas). Pode se recuperar. Se quiser se candidatar a vereador em 2016, talvez seja eleito. Sérgio Moro vai se candidatar ao título de “Juiz Transparência”, tal é a quantidade de vazamentos em suas audiências. Deve ser coisa da National Security Agency, um caso para Snowden e Assange juntos.

O povo brasileiro – ganhou e saiu ganhando. Não precisa explicar.

por Flávio Aguiar

Carta Maior

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terça-feira, 21 de outubro de 2014

ABALANDO BANGU

Fui ao Rio para ver o Napalm Death no Circo voador e, de bônus, assisti um show da Gangrena Gasosa, lendário “combo” de “sarava” metal, no subúrbio, em Bangu. Para tanto pegamos, eu e meu camarada Chorão 3, ex-letrista e vocalista da banda, um trem – lotado, pra variar – na Estação de Engenho de Dentro. Com direito a vendedores ambulantes e pedintes de todo tipo, inclusive uma garota que solicitava contribuições para comprar um leite especial para seu filho que, segundo ela, tem leucemia. A Supervia deseja a todos uma boa viagem ...

Saltamos em Bangu do lado de um shopping Center que, Chorão me informou, funciona numa fábrica desativada que, antes, havia servido de cenário para o Campo de Concentração do filme “Olga”. Há sempre uma curiosidade ou um marco histórico em cada canto que você andar, no Rio de Janeiro ...

Outra coisa que eu acho curiosa é que boa parte dos bairros do Rio parece funcionar como uma pequena cidade à parte – com um às vezes fervilhante comércio local, por exemplo. Alguns, inclusive, têm clima de cidade do interior, com a tradicional pracinha da igreja onde a população se reúne para colocar as fofocas em dia. Foi a impressão que tive de Bangu. O show aconteceu num Clube social que ficava próxima a uma dessas pracinhas. O Clube é bem bacana, tem aquele clima que remete aos tradicionais bailes da década de 1950, com um amplo salão ladeado por um mezanino. No som rolava uma discotecagem meio deslocada das atrações da noite, porém bacana ...

As atrações da noite atendiam pelo que é chamado popularmente de “rock pauleira” – na verdade nem sei se ainda se usa este termo, de repente já está ultrapassado. O tempo passa e a gente nem se dá conta. Enfim: a primeira banda, Deus Castiga, era muito boa e era de grindcore. Boa pegada, especialmente do baterista, que é muito bom. Já a segunda, Evil Inside, surpreendeu: subiu ao palco uma galera com pose de headbanger virtuoso e uma garotinha magrinha, franzina até, mas que assustou a todos quando soltou o primeiro urro gutural. Fazem um som, no entanto, meio clichê, uma espécie de death metal melódico. Passado o susto inicial, tornou-se meio enfadonho, com aqueles solos de guitarra intermináveis e estrutura melódica “manjada”. A presença de palco da “front girl” também deixa a desejar, talvez por inexperiência – mal do qual não sofre a Deus Castiga que, soube depois, é uma banda nova, mas formada por figurinhas carimbadas do underground carioca.

A grande atração da noite era, no entanto, a Gangrena Gasosa. Era apenas o segundo show que eu via deles na vida, desta vez num esquema mais real, “pé no chão” – UNDERGROUND, mesmo. O outro foi abrindo para o Cannibal Corpse no Circo Voador.  A Gangrena é uma daquelas bandas que você curte e fica se perguntado porque, afinal, não são mais conhecidos do grande público, porque é sensacional! A resposta só pode ser uma: porque o mundo é injusto. São, no entanto, uma banda “Cult” – no sentido de cultuada, mesmo que por um número reduzido de seguidores. E eu pude comprovar isso naquela noite: entraram no palco sob uma ovação impressionante do público presente e já começaram passando por cima das adversidades, notadamente o som “capenga” da frente do palco, cujas caixas haviam “estourado” durante a apresentação da segunda banda de abertura – soube depois que eles não sabiam disso e o retorno estava ok. Menos mal, porque o público não se fez de rogado e já começou cantando junto o primeiro “hit”, “surf Yemanjá”.  A catarse tomou conta e as Invasões de palco foram se sucedendo, inclusive de um cidadão com uma curiosa máscara de cavalo e de uma aranha que parece ter resolvido sair de sua reclusão no teto e tecer sua teia até o meio do palco para conferir que porra era aquela que estava acontecendo. Angelo, um dos vocalistas – o Zé Pelintra - percebeu e interagiu com o inseto, com um resultado visual interessante que eu espero que tenha sido captado por algum fotógrafo mais atento ...

Pérolas do cancioneiro “underground” foram entoadas em uníssono por todos: “Eu não entendi Matrix”, “Quem gosta de Iron Maiden também gosta de KLB”, “Fist Fuck agredi”, “Terreiro do desmanche” e “Centro do Pica Pau Amarelo” – a galera adora gritar que “Emilia pomba gira é uma boneca de Vodu”, bem como invocar o “coisa ruim” em “A Super via deseja a todos uma boa viagem”. Bem legal ver tudo isso do lado do cara que criou a maioria daquelas letras. Muito bom também ver que ele, mesmo há tanto tempo fora da banda, ainda é reconhecido e celebrado por isso: várias pessoas o reconheceram e fizeram questão de pedir autógrafos e tirar fotos juntos – alguns, inclusive, de forma histérica! Coisa de fã mesmo. Assédio que se repetiu, de forma ampliada, no fim do show, quando a banda teve que ficar um bom tempo atendendo ao público do lado do palco, em meio à farofa de despacho e aos doces que se espalhavam por todo o recinto – era dia de Cosme e Damião.

F iquei feliz em constatar, também, que a faixa etária dos presentes no recinto era bem baixa, o que indica que a banda está conseguindo renovar seu público. Bateu, inclusive, uma curiosidade em saber como aquelas pessoas haviam conhecido a Gangrena Gasosa. Fizemos a pergunta a um garotão – não aparentava ter mais de 20 anos – e a resposta foi interessante: ele disse que era Testemunha de Jeová e conheceu a gangrena pesquisando sobre macumba na internet. Acabou virando fã e saindo da igreja.

Parabenizei-o por isso ...

OUÇA AQUI

por Adelvan

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sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O Silêncio é ensurdecedor ...

NÃO É O HATEBREED !!!
Não é qualquer banda que pode ostentar em seu currículo o feito de ter inaugurado um novo estilo musical. O Napalm Death é uma delas: Com “Scum” e “From Slavement to Obliteration” eles criaram o que ficou conhecido como “grindcore” – Punk/Hard Core e metal levados ao extremo, às últimas conseqüências. Não é figura de retórica: com estes dois álbuns, a banda de Birminghan venceu a corrida de velocidade que estava a pleno vapor na segunda metade da década de oitenta, superando, neste quesito – não na técnica, evidentemente – o Slayer e seu “reing in blood”.

Não há mais praticamente ninguém daquela época na banda hoje em dia – apenas Shane, o baixista, que, mesmo assim, não é membro-fundador e não estava no lado A de “Scum”. Mas a banda mantém uma linha evolutiva tão coerente que ninguém liga muito pra isso, na verdade. Até porque a atual formação já está junta há BASTANTE tempo – desde o quarto álbum, “Utopia Banished”, de 1992. Foi muito bom vê-los ao vivo, finalmente, e ainda em tão boa forma ...

Boa forma e humildade: acabada a apresentação da banda de abertura, Fórceps (chatinha, death metal “genérico”), Mitch, o guitarrista – supreendentemente jovem para sua idade – e Shane, o lendário contrabaixista que toca também no Brujeria e numa série de outros projetos paralelos, subiram ao palco do Circo voador sem nenhuma cerimônia para fazer o que, em qualquer outra banda com o tempo de estrada e a estatura deles, seria feito por roadies e técnicos contratados: afinar os instrumentos e ajustar e testar o som. Ficamos lá, extasiados, vendo nossos ídolos (nenhuma conotação hierárquica na palavra, aqui) trabalhar, esperando pela avalanche que estava por se formar ...

Ela vem, a avalanche, quando Barney Greenway, o vocalista, sobe finalmente ao palco para entoar o hino “Multinational Corporations”, logo emendada com “Silence is deafening”, de “The Code is red... Long live the code”(2005). Catarse total no recinto, clube da luta instaurado, salve-se quem puder! Recuei um pouco, para fugir do ringue em que se transformou a pista – em outros tempos estaria lá, no meio, mas com 43 anos nas costas e um cotovelo esmigalhado e reconstruído por duas cirurgias por conta dessa “brincadeirinha”, a gente fica naturalmente mais contido.

O tom da noite estava dado: o set list passearia por toda a carreira da banda, mesclando sons de todas as fases de uma extensa – e impecável! – discografia. Com efeito, a terceira, “Everyday pox”, já foi sacada do último disco, “Utilitariam”(2012). Entre uma musica e outra, muito diálogo com a platéia – iniciado com um singelo “caso não saibam, somos o Napalm Death, de Birminghan, Inglaterra”. Discursos politizados contra a homofobia, o racismo e a exploração capitalista dão o tom da apresentação de clássicos como “unchallenged Hate” – total grindcore na veia – e “Suffer the Childrem” – da época em que eles começaram a flertar com o Death metal. Não por acaso, a época de “Harmony Corruption”, que marca o surgimento desta nova formação, com uma reformulação quase que completa do line up – o baterista, Mitch, seria substituído no disco seguinte.

Formação que é frequentemente lembrada pelo vocal potente e característico de Barney – que “mastiga arame farpado temperado com chumbinho mata rato”, segundo o precioso relato de Marcos Bragatto no seu rock em geral – mas que tem um outro imprescindível pilar na impressionante máquina de esporro produzida pelo guitarrista Mitch Harris. E olha que, ao contrário do que acontecia antes, quando contava com o auxilio do já falecido Jessé Pintado, hoje ele comanda a “bagaçada” sozinho – ok, nem tanto, tem Shane, que preenche muito bem as lacunas com seu contrabaixo de som pra lá de saturado. Mitch faz, também, os backing vocals, sempre “rasgados”, numa dobradinha perfeita e típica do estilo que criaram.

Destaque para a seqüência final, com vários clássicos do primeiro álbum, “Scum” – iclusive “You suffer”, que já figurou no livro dos recordes como “a musica mais curta já gravada” – são precisamente 1,316 segundos. Seqüência quebrada, apenas, pelo já tradicional cover de “Nazi Punks Fuck Off”, do Dead Kennedys. Fiquei pensando com meus botões que eles bem que poderiam ter feito uma gracinha e tocado “Troops of Doom”, do Sepultura, que já gravaram num célebre disco de covers ...

Uma noite que tinha tudo para ser perfeita, caso o Napalm não fosse – notem bem o absurdo! – A BANDA DE ABERTURA! Nem sequer o pano de fundo deles estava lá: tocaram sob o nome do Hatebreed, como se fossem uma bandinha iniciante para a qual se estava “dando uma chance”. Simplesmente patética a atitude, por parte da produção – da parte deles, da banda, uma impressionante demonstração de humildade e um grande FODA-SE para os esqueminhas viciados da industria cultural. Por conta disso, o show foi curto – o que eu mais temia quando estava no sacrossanto recesso do meu lar, em Aracaju, tentando decidir se valeria ou não a pena ir ver meus ídolos nestas condições adversas.

Valeu! Muito! Foi curto, porém intenso.

Foi GRINDCORE, sem sobra de dúvidas.

por Adelvan

Hatebreed (QUEM?), Napalm Death e Forceps
Rio de Janeiro
Circo Voador
26/09/2014
22H

Set List do Napalm Death

1- Multinational Corporations
2- Silence Is Deafening
3- Everyday Pox
4- The Wolf I Feed
5- Unchallenged Hate
6- Suffer The Children
7- When All Is Said and Done
8- Errors in the Signals
9- Human Garbage
10- Success?
11- On the Brink of Extinction
12- Social Sterility
13- Protection Racket
14- Mass Appeal Madness
15- Scum
16- Life?
17- Deceiver
18- The Kill
19- You Suffer
20- Nazi Punks Fuck Off
21- Siege of Power


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