sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O Silêncio é ensurdecedor ...

NÃO É O HATEBREED !!!
Não é qualquer banda que pode ostentar em seu currículo o feito de ter inaugurado um novo estilo musical. O Napalm Death é uma delas: Com “Scum” e “From Slavement to Obliteration” eles criaram o que ficou conhecido como “grindcore” – Punk/Hard Core e metal levados ao extremo, às últimas conseqüências. Não é figura de retórica: com estes dois álbuns, a banda de Birminghan venceu a corrida de velocidade que estava a pleno vapor na segunda metade da década de oitenta, superando, neste quesito – não na técnica, evidentemente – o Slayer e seu “reing in blood”.

Não há mais praticamente ninguém daquela época na banda hoje em dia – apenas Shane, o baixista, que, mesmo assim, não é membro-fundador e não estava no lado A de “Scum”. Mas a banda mantém uma linha evolutiva tão coerente que ninguém liga muito pra isso, na verdade. Até porque a atual formação já está junta há BASTANTE tempo – desde o quarto álbum, “Utopia Banished”, de 1992. Foi muito bom vê-los ao vivo, finalmente, e ainda em tão boa forma ...

Boa forma e humildade: acabada a apresentação da banda de abertura, Fórceps (chatinha, death metal “genérico”), Mitch, o guitarrista – supreendentemente jovem para sua idade – e Shane, o lendário contrabaixista que toca também no Brujeria e numa série de outros projetos paralelos, subiram ao palco do Circo voador sem nenhuma cerimônia para fazer o que, em qualquer outra banda com o tempo de estrada e a estatura deles, seria feito por roadies e técnicos contratados: afinar os instrumentos e ajustar e testar o som. Ficamos lá, extasiados, vendo nossos ídolos (nenhuma conotação hierárquica na palavra, aqui) trabalhar, esperando pela avalanche que estava por se formar ...

Ela vem, a avalanche, quando Barney Greenway, o vocalista, sobe finalmente ao palco para entoar o hino “Multinational Corporations”, logo emendada com “Silence is deafening”, de “The Code is red... Long live the code”(2005). Catarse total no recinto, clube da luta instaurado, salve-se quem puder! Recuei um pouco, para fugir do ringue em que se transformou a pista – em outros tempos estaria lá, no meio, mas com 43 anos nas costas e um cotovelo esmigalhado e reconstruído por duas cirurgias por conta dessa “brincadeirinha”, a gente fica naturalmente mais contido.

O tom da noite estava dado: o set list passearia por toda a carreira da banda, mesclando sons de todas as fases de uma extensa – e impecável! – discografia. Com efeito, a terceira, “Everyday pox”, já foi sacada do último disco, “Utilitariam”(2012). Entre uma musica e outra, muito diálogo com a platéia – iniciado com um singelo “caso não saibam, somos o Napalm Death, de Birminghan, Inglaterra”. Discursos politizados contra a homofobia, o racismo e a exploração capitalista dão o tom da apresentação de clássicos como “unchallenged Hate” – total grindcore na veia – e “Suffer the Childrem” – da época em que eles começaram a flertar com o Death metal. Não por acaso, a época de “Harmony Corruption”, que marca o surgimento desta nova formação, com uma reformulação quase que completa do line up – o baterista, Mitch, seria substituído no disco seguinte.

Formação que é frequentemente lembrada pelo vocal potente e característico de Barney – que “mastiga arame farpado temperado com chumbinho mata rato”, segundo o precioso relato de Marcos Bragatto no seu rock em geral – mas que tem um outro imprescindível pilar na impressionante máquina de esporro produzida pelo guitarrista Mitch Harris. E olha que, ao contrário do que acontecia antes, quando contava com o auxilio do já falecido Jessé Pintado, hoje ele comanda a “bagaçada” sozinho – ok, nem tanto, tem Shane, que preenche muito bem as lacunas com seu contrabaixo de som pra lá de saturado. Mitch faz, também, os backing vocals, sempre “rasgados”, numa dobradinha perfeita e típica do estilo que criaram.

Destaque para a seqüência final, com vários clássicos do primeiro álbum, “Scum” – iclusive “You suffer”, que já figurou no livro dos recordes como “a musica mais curta já gravada” – são precisamente 1,316 segundos. Seqüência quebrada, apenas, pelo já tradicional cover de “Nazi Punks Fuck Off”, do Dead Kennedys. Fiquei pensando com meus botões que eles bem que poderiam ter feito uma gracinha e tocado “Troops of Doom”, do Sepultura, que já gravaram num célebre disco de covers ...

Uma noite que tinha tudo para ser perfeita, caso o Napalm não fosse – notem bem o absurdo! – A BANDA DE ABERTURA! Nem sequer o pano de fundo deles estava lá: tocaram sob o nome do Hatebreed, como se fossem uma bandinha iniciante para a qual se estava “dando uma chance”. Simplesmente patética a atitude, por parte da produção – da parte deles, da banda, uma impressionante demonstração de humildade e um grande FODA-SE para os esqueminhas viciados da industria cultural. Por conta disso, o show foi curto – o que eu mais temia quando estava no sacrossanto recesso do meu lar, em Aracaju, tentando decidir se valeria ou não a pena ir ver meus ídolos nestas condições adversas.

Valeu! Muito! Foi curto, porém intenso.

Foi GRINDCORE, sem sobra de dúvidas.

por Adelvan

Hatebreed (QUEM?), Napalm Death e Forceps
Rio de Janeiro
Circo Voador
26/09/2014
22H

Set List do Napalm Death

1- Multinational Corporations
2- Silence Is Deafening
3- Everyday Pox
4- The Wolf I Feed
5- Unchallenged Hate
6- Suffer The Children
7- When All Is Said and Done
8- Errors in the Signals
9- Human Garbage
10- Success?
11- On the Brink of Extinction
12- Social Sterility
13- Protection Racket
14- Mass Appeal Madness
15- Scum
16- Life?
17- Deceiver
18- The Kill
19- You Suffer
20- Nazi Punks Fuck Off
21- Siege of Power


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