domingo, 31 de outubro de 2010

TOMA !!!

Uma vez vi uma camiseta bem interessante: estampava uma imagem do sumo pontíce da igreja católica na época, o papa João Paulo II, "grávido", e a inscrição: "Se os homens engravidassem, o aborto já teria sido descriminalizado". Portanto, mais do que a vitória de Dilma ou do PT, dos quais tenho grandes divergencias e em quem NÃO VOTEI no primeiro turno, comemoro aqui uma derrota do conservadorismo religioso e político, representado nesta campanha por José Serra e sua campanha hipócrita "do bem" e "pela vida".

Agora é fiscalizar e cobrar.

A luta continua.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A Inquisição se manifesta ...

E eis que Vossa Santidade Bento XVI, O Nazi, ex-chefe da inquisição da Igreja Católica, que certamente não está mais queimando “bruxas” na fogueira apenas porque o mundo deu voltas e o iluminismo destituiu a santa sé de seu pedestal de infalibilidade, se manifesta a respeito das eleições no Brasil com um apelo para que seu rebanho assuma um julgamento moral baseado na fé católica "também em matérias políticas". Ué, mas não foi o mesmo Bento XVI, na época Cardeal Joseph Ratzinger, sob as ordens do então sumo pontífice João Paulo II, quem reprimiu sumariamente a corrente da Teologia da Libertação justamente com o argumento de que não se deveria misturar religião com política?

Claro que a campanha fascistóide de José Serra não iria desperdiçar a oportunidade de faturar, hipocritamente, em cima do fato. No programa de radio de hoje, o último antes da eleição, foi passada a seguinte mensagem: "O discurso do papa Bento XVI para os bispos é uma reflexão sobre o direito à vida e sobre a responsabilidade, a transparência das idéias e dos compromissos dos homens públicos. O governante tem que ter uma palavra hoje e a mesma palavra amanhã. Principalmente, quando se trata de problemas fundamentais como o aborto. A palavra do papa é uma palavra de amor à vida".

Inacreditável . É até interessante de se observar como o PT e o PSDB se repelem: quanto mais o primeiro faz movimentos à direita e se afasta do socialismo, assumindo uma postura mais próxima da social-democracia, mais o segundo corre para os braços da extrema direita. A hipocrisia se torna ainda mais escandalosa ao se saber do fato de que a própria mulher de Serra, aquela mesma que foi flagrada dizendo para uma eleitora que Dilma Roussef é a favor do “assassinato de criancinhas”, já praticou um aborto. O fato veio à tona através do depoimento de uma ex-aluna dela, indignada, na internet (veja texto abaixo). Trata-se, evidentemente, de uma discussão complexa reduzida a uma equação simplista e emburrecedora. Quem, em sã consciência, pode ser a favor do aborto ? É evidente que a prevenção com relação à contracepção é um método infinitamente mais racional e saudável para todos, inclusive para as próprias mulheres, tendo em vista o processo traumático, fisica e psicologicamente falando, que o ato abortivo em si provoca. O que se espera, em nome do bom senso, é que, uma vez feito o estrago, o estado, ao invés de ameaçar punir com prisão a autora do suposto “crime”, salve sua vida e instrua-a para que a mesma não incorra no mesmo erro. É lamentável ver o candidato José Serra, que já foi tido como o melhor Ministro da Saúde que este país já teve, assumir uma postura tão retrógrada com relação a este tema. Uma mancha que será difícil de apagar de sua biografia. Espero, sinceramente, que essa merda vomitada pelo primeiro mandatário da Igreja católica, a mesma que ostenta o dogma da infalibilidade, por ser supostamente porta-voz da palavra de Deus, mas que já teve que pedir desculpas por uma série de erros do passado, como ter defendido a escravidão (se justificava, segundo o vaticano, pelo fato de índios e pretos não serem seres humanos, mas bestas) e a perseguição aos judeus, não interfira no resultado das eleições ao ponto de provocar uma vitória do Sr. Burns.

Seria uma tragédia.

por Adelvan

* * *

O desempenho do presidenciável tucano, José Serra, no debate do último domingo pela TV Bandeirantes, foi a gota d’água para uma eleitora brasileira. O silêncio do candidato diante da reclamação formulada pela adversária, Dilma Rousseff (PT) – de que fora acusada pela mulher dele, a ex-bailarina e psicoterapeuta Sylvia Monica Allende Serra, de “matar criancinhas” –, causou indignação em Sheila Canevacci Ribeiro, a ponto de levá-la até sua página em uma rede social, onde escreveu um desabafo que tende a abalar o argumento do postulante ao Palácio do Planalto acerca do tema que divide o país, no segundo turno das eleições. A coreógrafa Sheila Ribeiro relata, em um depoimento emocionado, que a ex-professora do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Monica Serra relatou às alunas da turma de 1992, em sala de aula, que foi levada a fazer um aborto “no quarto mês de gravidez”.

Em entrevista exclusiva ao Correio do Brasil, na noite desta segunda-feira, Sheila deixa claro que não era partidária de Dilma ou de Serra no primeiro turno: “Votei no Plínio (de Arruda Sampaio)”, declara. Da mesma forma, esclarece ser apenas uma eleitora, com cidadania brasileira e canadense, que repudiou o ambiente de hipocrisia conduzido pelo candidato da aliança de direita, ao criminalizar um procedimento cirúrgico a que milhões de brasileiras são levadas a realizar em algum momento da vida. Sheila, durante a entrevista, lembra que no Canadá este é um serviço prestado em clínicas e hospitais do Estado, como forma de evitar a morte das mulheres que precisam recorrer à medida “drástica e contundente”, como fez questão de frisar.

No texto, intitulado “Respeitemos a dor de Mônica Serra”, Sheila Ribeiro repete a pergunta de Dilma, que ficou sem resposta:

– Se uma mulher chega em um hospital doente, por ter feito um aborto clandestino, o Estado vai cuidar de sua saúde ou vai mandar prendê-la?

Leia o texto, na íntegra:

Respeitemos a dor de Mônica Serra

“Meu nome é Sheila Ribeiro e trabalho como artista no Brasil. Sou bailarina e ex-estudante da Unicamp onde fui aluna de Mônica Serra.

“Aqui venho deixar a minha indignação no posicionamento escorregadio de José Serra, que no debate de ontem (domingo), fazia perguntas com o intuito de fazer sua campanha na réplica, não dialogando em nenhum momento com a candidata Dilma Roussef.

“Achei impressionante que o candidato Serra evita tocar no assunto da descriminalização do aborto, evitando assim falar de saúde pública e de respeitar tantas mulheres, começando pela sua própria mulher. Sim, Mônica Serra já fez um aborto e sou solidária à sua dor.

“Com todo respeito que devo a essa minha professora, gostaria de revelar publicamente que muitas de nossas aulas foram regadas a discussões sobre o aborto, sobre o seu aborto traumático. Mônica Serra fez um aborto. Na época da ditadura, grávida de quatro meses, Mônica Serra decidiu abortar, pois que seu marido estava exilado e todos vivíamos uma situação instável. Aqui está a prova de que o aborto é uma situação terrível, triste, para a mulher e para o casal, e por isso não deve ser crime, pois tantas são as situações complexas que levam uma mulher a passar por essa situação difícil. Ninguém gosta de fazer um aborto, assim como o casal Serra imagino não ter gostado. A educação sobre a contracepção deve ser máxima para que evitemos essa dor para a mulher e para o Estado.

“Assim, repito a pergunta corajosa de minha presidente, Dilma Roussef, que enfrenta a saúde pública cara a cara com ela: se uma mulher chega em um hospital doente, por ter feito um aborto clandestino, o Estado vai cuidar de sua saúde ou vai mandar prendê-la?

“Nesse sentido, devemos prender Mônica Serra caso seu marido seja eleito presidente?

“Pelo Brasil solidário e transparente que quero, sem ameaças, sem desmerecimento da fala do outro, com diálogo e pelo respeito à dor calada de Mônica Serra,

“VOTO DILMA”, registra, em letras maiúsculas, no texto publicado em sua página no Facebook, nesta segunda-feira, às 10h24.

Reflexão

Diante da imediata repercussão de suas palavras, Sheila acrescentou em sua página um comentário no qual afirma ser favorável “à privacidade das pessoas”.

“Inclusive da minha. Quando uma pessoa é um personagem público, ela representa muitas coisas. Escrevi uma reflexão, depois de assistir a um debate televisivo onde a figura simbólica de Mõnica Serra surgiu. Ali uma incongruência: a pessoa que lutou na ditadura e que foi vítima de repressão como mulher (com evento trágico naquele caso, pois que nem sempre o aborto é trágico quando é legalizado e normalizado) versus a mulher que luta contra a descriminalização do aborto com as frases clássicas do “estão matando as criancinhas”. Quem a Mônica Serra estaria escolhendo ser enquanto pessoa simbólica? Se é que tem escolha – foi minha pergunta.

“Muitas pessoas públicas servem-se de suas histórias como bandeiras pelos direitos humanos ou, ainda, ficam quietas quando não querem usá-las. Por isso escrevi ‘respeitemos a dor’. Para mim é: respeitemos que muita gente já lutou pra que o voto existisse e que para que cada um pudesse votar, inclusive nulo; muita monica-serra-pessoa já sofreu no Brasil e em outros países na repressão para que outras mulheres pudessem escolher o que fazer com seus corpos e muitas monicas-serras simbólicas já impediram que o aborto fosse descriminalizado.

“Muitas pessoas já foram lapidadas em praça pública por adultério e muitas outras lutaram pra que a sexualidade de cada um seja algo de direito. A minha questão é: uma pessoa que é lapidada em praça pública não faz campanha pela lapidação, então respeitemos sua dor, algo está errado. Se uma pessoa pública conta em público que foi lapidada, que foi vítima, que foi torturada, que sofreu, por motivos de repressão, esse assunto deve ser respeitadíssimo.

“Vinte por cento da população fazem abortos e esses 20% tem o direito absoluto de ter sua privacidade, no entanto quando decidem mostrar-se publicamente não entendo que estes assimilem-se ao repressor”, acrescentou a ex-aluna de Monica Serra, que teria relatado a experiência, traumática, às alunas da turma de 1992.

Exílio e ditadura

Sheila diz ainda, em seu depoimento, que “muitas pessoas querem ‘explicações” para o fato de ela declarar, publicamente, o que a ex-professora disse às suas alunas na Unicamp.

“Eu sou apenas uma pessoa, uma mulher, uma cidadã que viu um debate e que se assustou, se indignou e colocou seu ponto de vista na internet. Ao ver Dilma dizendo que Mônica falou algo sobre ‘matar criancinhas’, duvidei.

“Duvidei porque fui sua aluna e compartilhei do que ela contou, publicamente (que havia feito um aborto), em sala de aula. Eu me disse que uma pessoa que divide sua dor sobre o aborto, sobre o exílio e sobre a ditadura, não diria nunca uma atrocidade dessas, mesmo sendo da oposição. Essa afirmação de ‘criancinhas assassinadas’ é do nível do ‘comunista come criancinha’. A Mônica Serra é mais classe do que isso (e, aliás, gosto muito dela, apesar do Serra não ser meu candidato).

“Por isso, deixei claro o meu posicionamento que o aborto não pode ser considerado um crime – como não é na Itália, na França e em outros países. Nesse sentido não quero ser usada como uma ‘denunciadora de um ‘delito’. Ao contrário, estou relembrando na internet, aos meus amigos de FB (Facebook), que o aborto é uma questão complexa que envolve a todos e que, como nos países decentes, não pode ser considerado um crime – mas deve ser enfrentado como assunto de saúde.

“O Brasil tem muitos assuntos a serem tratados, vamos tratá-los com o carinho e com a delicadeza que merece.

“Agora volto ao meu trabalho”, conclui Sheila o seu relato na página da rede social.

Sem resposta

Diante da afirmativa da ex-aluna de Sylvia Monica Serra, o Correio do Brasil procurou pelo candidato, no Twitter, às 23h57:

“@joseserra_ Sr. candidato Serra. Recebemos a informação de que Dnª Monica Serra teria feito um aborto. O sr. tem como repercutir isso?”

Da mesma forma, foi encaminhado um e-mail à assessoria de imprensa e, posteriormente, um contato telefônico com o comitê de Serra, em São Paulo. Até o fechamento desta matéria, às 1239h desta quarta-feira, porém, não houve qualquer resposta à pergunta. O candidato, a exemplo do debate com a candidata petista, novamente optou pelo silêncio.

Fonte: Correio do Brasil

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ein Film Von Fritz Lang

Metróplois, clássico do expressionismo alemão e da ficção científica lançado em 1927, é um de meus filmes favoritos de todos os tempos. Foi a produção mais cara da Europa em sua época, e dá pra notar perfeitamente na tela o porque: os cenários absolutamente deslumbrantes, especialmente os que mostram visões panorâmicas de uma cidade futurista com seus veículos voadores e passagens suspensas, influenciaram visual e esteticamente toda a produção cinematografica futura do estilo - a Los Angeles de Blade Runner, por exemplo, é nitidamente decalcada da metropole de Lang, assim como o célebre robô C3PO, da saga "Guerra nas Estrelas", é uma cópia da cópia robótica da personagem Maria.

O roteiro, baseado em romance de Thea von Harbou, foi escrito por ela mesma em parceria com o diretor, e se passa numa grande cidade governada autocraticamente por um poderoso empresário. Seus colaboradores constituem a classe privilegiada, vivendo num jardim idílico, como Freder, único herdeiro do dirigente de Metropolis. Os operários, ao contrário, são escravizados pelas máquinas e condenados a viver e trabalhar em galerias no subsolo. Lá, uma jovem chamada Maria os inspira a lutar por seus direitos e profetiza a vinda de um "escolhido" que os representará.

A obra demonstra uma preocupação crítica com a mecanização da vida industrial nos grandes centros urbanos, questionando a importância do sentimento humano, perdido no processo. Como pano de fundo, a valorização da cultura, expressa através da tecnologia e, principalmente, da arquitetura. O ponto alto e grande mote do filme é, sem dúvida, o final - onde a metáfora "O mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração!" se concretiza no simbólico aperto de mão mediado por Freder entre Grot (líder dos trabalhadores) e Jon Fredersen - o empresário. Este final foi entendido à época como uma alusão ao ideal de conciliação entre capital e trabalho proposto pelo partido nacional-socialista alemão (nazista), o que atraiu para o diretor as atenções do então aspirante a chanceler Adolf Hitler. Metropolis impressionou tanto o "fuhrer" que, quando este chegou ao poder, solicitou ao ministro Goebbels que abordasse Lang, convidando-o a fazer filmes para o partido nazista. Enquanto Thea Von Harbou, sua esposa à época, mergulhou no projeto, Lang evadiu-se para Paris, onde chegou a produzir filmes de conteúdo antinazista, viajando posteriormente para os Estados Unidos, onde faleceu.

Pois bem, no último domingo o filme de Lang foi exibido ao ar livre no parque do Ibirapuera, em São Paulo, com acompanhamento ao vivo de uma orquestra sinfônica executando a partitura original. Deve ter sido uma noite memorável, algo que somente uma grande metropole, como o é a São Paulo de hoje, pode proporcionar a seus habitantes. Clique AQUI para ver imagens da exibição e leia, abaixo, os comentários publicados na Folha de São Paulo e no portal UOL sobre o evento.

Por Adelvan Kenobi (with a little help from wikipedia)

* * *

Em Silêncio, mais de 12 mil pessoas assistem "Metropolis" no Ibirapuera

O prólogo à exibição de "Metrópolis" (1927) no Parque do Ibirapuera, na noite de ontem, foi quase tão impressionante quanto a sessão a céu aberto promovida pela 34ª Mostra Internacional de Cinema e pelo Auditório Ibirapuera.

Quem estava sentado na grama, tomado pelas imagens de Fritz Lang (1890-1976) e pela orquestra regida ao vivo, não podia supor que tantos outros milhares de olhos e ouvidos estavam ali também. Não podia supor que, depois de mais de três horas de sessão, com um frio que o descampado tornava maior, pelo menos 12 mil pessoas sairiam caminhando pelas avenidas que torneiam o parqu. Eram 11 e meia da noite quando os espectadores se descobriram milhares e deram seu próprio fecho a "Metrópolis".

São Paulo, cidade que como a cidade de Lang fora enrijecida pela velocidade, pelas máquinas e pelos relógios vivia, de repente, o seu tempo da delicadeza.

VERSÃO INÉDITA - A versão de "Metrópolis" que São Paulo recebeu traz 25 minutos inéditos desse clássico do cinema mudo. Os rolos perdidos foram encontrados em Buenos Aires.
Depois de recuperada, a cópia foi exibida no Portão de Brandemburgo, durante o Festival de Berlim, em fevereiro deste ano. Esta é sua primeira exibição na América Latina.

A projeção foi feita na parede de trás do Auditório Ibirapuera. Sob a tela, os 82 músicos da Orquestra Jazz Sinfônica executaram a música original do filme, composta pelo alemão Gottfried Huppertz, no tempo em que a técnica não permitia que os personagens falassem. E é absolutamente única a experiência de ouvir a trilha sonora moldar, ao vivo, cada uma das cenas de um filme. Trata-se, na definição do maestro João Maurício Galindo, de uma "partitura gestual", que leva as notas a acompanharem o ritmo da ação.

Quando os trabalhadores correm pela tela, são corridos os compassos. Quando o relógio marca a vida regrada dos homens, a percussão potencializa a força da imagem.

Há, também, registros emocionais. Quando, após uma série de turbulências, os dois protagonistas se reencontram, é romântica a melodia. "Nessa cena, a música talvez emocione até mais do que aquilo que se vê", disse Galindo, em entrevista à Folha, antes do concerto.

EXPERIÊNCIA COLETIVA - Passados mais de 80 anos de sua primeira exibição, na Alemanha, "Metrópolis" chegou a São Paulo, pela primeira vez, tal e qual imaginado por Lang -- completo e com a orquestração original.

Chegou sem uma ruga sequer. E a cidade, discretamente, prestou sua homenagem a esse filme de imagens inesquecíveis, definitivas.

Uns espectadores levaram mantas, uns levaram garrafas e taças de vinho, outros levaram seus cães. Mas todos, em silêncio, viveram o cinema como arte, como experiência que, só se for coletiva, é completa de verdade.

* * *

Em uma noite tipicamente paulistana - vento frio e com momentos de garoa -, milhares de pessoas se reuniram no Parque do Ibirapuera para assistir a um filme ao ar livre.

O que motivou a multidão a vencer as adversidades e ficar até o final do evento, depois das 11 da noite, foi a exibição do clássico "Metrópolis" (1927), longa futurista alemão dirigido por Fritz Lang. O evento faz parte da programação da 34ª Mostra Internacional de Cinema.

O filme mudo foi restaurado recentemente e quase meia hora de cenas que eram consideradas perdidas foram recuperadas. Outro atrativo para o evento foi a Orquestra Jazz Sinfônica, que executou ao vivo a trilha enquanto o filme era projetado na parede do Auditório do Ibirapuera.

O longa foi apresentado pelos diretores da Mostra. Leon Cakoff e Renata Almeida subiram ao palco para os agradecimentos. "Somos o primeiro país da América Latina a ver essa cópia nessa noite mágica e fantástica", concluiu Leon.

Cinéfilos de todas espécies - As condições meteorológicas foram um motivo de hesitação para muitos dos presentes. "Espero que não chova", disse Mário Reys, que antigamente se considerava "um rato de Mostra". Para ele, "Metrópolis" foi o primeiro evento da agenda cinematográfica. "Ainda pretendo ver o vencedor de Cannes na quinta-feira, mas não tenho outros planos definidos", relatou.

A plateia era heterogênia, com famílias, casais, grupos de amigos, jovens, idosos. Retrato da pluralidade que acompanha a Mostra. A pequena Victória Shahini, de 9 anos, teve de insistir para que sua mãe a levasse para a sessão. "Eu não queria vir por causa do frio, mas ela brigou", afirmou Denise Shahini. "Achei a ideia disso super legal", comentou Victória.

Entre as pessoas que se acomodavam com toalhas, cangas, cadeiras de praia no meio do gramado; alguns dos presentes consumiam guloseimas e outros apreciavam um bom vinho. A multidão ocupou uma grande área, com uma concentração maior no gramado em frente ao palco, mas com alguns grupo mais próximos das árvores.

Outra figura que curtia a programação musical da noite era Billy, o cachorro de Ana Alves. "Espero que essa noite quebre a rotina para que eu comece a semana energizada", disse Ana. "Acho bom que esse evento é totalmente livre, até para o Billy". O cãozinho está acostumado a ouvir música em casa e se comportou muito bem no meio dos espectadores.

Frequentadores de outras atividades do parque receberam a novidade de braços abertos. "Costumo correr aqui no parque e confiro a programação para ver outros eventos", falou o vendedor Felipe Costa. "Hoje resolvi dar uma esticada aqui."

Reencontro de cinema - Muitas das pessoas no Ibirapuera não conheciam "Metrópolis", mas outros resolveram enfrentar a noite fria para rever o clássico alemão. O filme mostra alguns princípios que estavam estrapolados no Cinema Expressionista Alemão de obras como "O Gabinete do Dr. Caligari" (1920).

Ana Helena Salve, que estava acompanhada de seu sobrinho Marcos, era uma dessas cinéfilas experientes. "Já vi várias versões do filme e sem dúvida estou com grandes expectativas para essa projeção", contou ela.

Também no Ibirapuera para rever a fita estava Sonia Manholer, em um "evento bárbaro e bem especial", segundo ela. "Estou muito emocionada de estar em um evento com essa qualidade", relatou Sonia durante um dos intervalos da sessão.

Pessoas das mais diversas tribos e origens estavam reunidas, mas todas concordaram sobre a qualidade do acontecido. Finalizada a projeção, boa parte da plateia aplaudiu de pé o filme e a competente orquestra.

#



segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Cine Cult com "sede de sangue"


Eu sempre fui fascinado pelo mito dos vampiros. Me lembro que, ainda guri, pedia para meus irmãos me acordarem tarde da noite para poder ver os filmes de Drácula da Hammer, com Christopher Lee, que eram exibidos com freqüência na TV. Adoro “A Dança dos Vampiros”, de Roman Polanski, e “Nosferatu”, tanto o original, de Murnau, quanto a brilhante refilmagem de Werner Herzog. Curto também algumas coisas dessa “nova onda” de vampirismo, como a série True Blood e o sensacional filme sueco “Deixe ela entrar”. Nesta semana a Sessão Cine Cult está exibindo, no Cinemark do Shopping Riomar, mais uma belíssima variação sobre o mesmo tema: “Sede de sangue”, do coreano Park Chan-wook ( o mesmo de “Old Boy”, um dos grandes filmes da década ).

Só o fato da História se passar no oriente e do filme ser dirigido e interpretado por atores orientais já seria um diferencial, já que os coreanos têm uma peculiar capacidade de misturar num mesmo caldeirão vários gêneros, como pode ser conferido em outra grande produção vinda daquele país, “O Hospedeiro”. Um mix de drama, romance, suspense, surrealismo, humor negro e pastelão puro e simples que, nas mãos de um ocidental, provavelmente soaria indigesta, mas que eles sabem dosar com maestria.

É a História de um padre que se transforma em vampiro ao ser contaminado por um vírus depois de se submeter como cobaia para experimentos científicos. Um padre católico coreano – mais um diferencial. O personagem se vê, então, no dilema de como saciar sua (agora) natural sede de sangue sem macular sua fé – dilema que é aprofundado quando entra na equação o desejo carnal, uma associação natural quando se fala de vampirismo, que sempre foi e sempre será uma metáfora para o sexo, que me perdoem (ou não) as fãs da melosa e puritana série “Crepúsculo”.

Aos poucos o padre vai se entregando aos seus instintos – nem tanto os de morte, já que encontra uma solução bizarra (e engraçada) para a questão da alimentação, mas os referentes aos prazeres da carne. Tórridas cenas de coito são exibidas enquanto acompanhamos o processo de sedução psicológica perpetrado por sua, digamos, não muito bem intencionada parceira com o intuito de fazê-lo ajudá-la numa vingança contra seu marido idiota e sua sogra carrasca. Não poderia faltar vingança num filme de Park Chan-wook, não é mesmo ? Nem misoginia – em sua visão, parece que todo homem, até mesmo os vampiros, está fadado a ruir nas mãos de uma mulher.

Ao longo da projeção, com a película já desgastada pelo uso (a produção é do ano passado e estreou faz tempo no Brasil, ou seja, deve ter circulado por todo o país antes de aportar, finalmente, em telas sergipanas), cenas belas e ao mesmo tempo bizarras se sucedem num exercício estilístico refinado até o final, cômico e poético na mesma medida. Destaque para as brutais sequencias de caçada humana e para o inusitado cenário da casa reformulada pelos vampiros, com muita luz branca refletida em paredes da mesma cor – provavelmente para compensar sua incapacidade de ver a luz do sol.

Um belíssimo exercício de imaginação. Mais uma prova de que, definitivamente, cinema ainda é a maior diversão e de que vale a pena, sim, arriscar-se a ver filmes que se diferenciam do desgastado padrão hollywoodiano.

por Adelvan

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A Arte de Iri5

O brasileiro Vik Muniz ficou famoso por transformar qualquer material em réplicas de obras de arte – macarrão c/ molho vira Caravaggio, a Mona Lisa é de chocolate, e a abertura da novela das 8 é puro lixo. Ele não está sozinho nessa onda de reciclagem.

Nos EUA, a artista Erika Iris Simmons, a Iri5, encontrou um fim digno p/ as velhas & aposentadas fitas k7. O “compact cassete” é um padrão de fita de áudio inventado pela empresa holandesa Philips e lançado em 1963. Uma fita magnética presa em 2 carretéis dentro de uma caixinha de plástico.

As fitinhas foram as precursoras da pirataria, muito antes do CD, DVD, MP3... E as preferidas de caminhoneiros & taxistas – pela praticidade – e de peões de obra & empregadas domésticas – pelo preço. Medindo 10x7cm, podiam ser guardadas no bolso. Mas a era digital acabou c/ elas.

Iri5 trabalha c/ materiais descartados, de cartões de crédito a bolas de beisebol. Mas a série que a tornou conhecida mundialmente é a GHOST IN THE MACHINE, que retrata celebridades do cinema e principalmente da música angloamericana c/ fita & cola, como as telas do Jimi no último post e o Travis Bickle c/ rolo 35mm em Vales de Netuno.

“Eu me sinto bem trabalhando c/ materiais velhos, estranhos. Coisas que têm vida própria. Quase tudo que eu uso foi jogado fora ou doado. O passado é o melhor, tem algumas das coisas mais finas do mundo”, diz Iris.

->Acompanhe o trabalho de Iris no link ao lado.

Texto por Adolfo Sá.







quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Também vai pegar você.

Confesso que tive medo de que Tropa de Elite 2 fosse um filme frouxo, feito apenas para aproveitar o sucesso e tentar esclarecer, de forma “politicamente correta”, os mal-entendidos do primeiro. Felizmente, estava errado. Esse José Padilha é “cabra macho” mesmo, tem o que dizer e diz, de forma brilhante e contundente. Este segundo episódio é mais discursivo, tem mais história e menos ação, mas as cenas de ação são sensacionais, de um realismo impressionante.
Na verdade o filme é quase um tratado sociológico sobre a situação da violência urbana no Rio de Janeiro. É narrado o tempo inteiro pelo agora Coronel Nascimento, que se revela um personagem muito mais rico e intrigante do que o brucutu sanguinolento da primeira versão. A narração em off, no cinema, é um artifício perigoso, muito usado por cineastas que subestimam a inteligência de seu público e acham que precisam explicar tudo o que já está sendo visto na tela o tempo inteiro, mas nesse caso, dada a complexidade das situações retratadas e da própria “psique” do personagem em si, se justifica. Padilha, habilmente, consegue tomar posição sem em nenhum momento recorrer ao maniqueísmo. Consegue, acima de tudo, passar a mensagem de que os personagens antagônicos de Nascimento e do Deputado Fraga, político de esquerda e defensor dos Direitos Humanos, estão, na verdade, do mesmo lado, muito embora com uma visão de mundo e utilização de métodos totalmente diferentes. Mais: acaba de uma vez com qualquer resquício de suspeita de legitimação dos métodos de Nascimento, alçado ao posto de “herói” por um monte de gente burra que entendeu tudo errado no primeiro filme, ou melhor, entendeu da forma que lhes é mais conveniente. Isso fica bem claro num trecho da fala do personagem em seu depoimento na Assembléia Legislativa, quando ele relembra que um dia seu filho teria lhe perguntado porque sua profissão era matar, e ele agora admitia que não tinha uma resposta para isso. Nascimento se deu conta, finalmente, de que estava sendo, o tempo todo, manipulado por um “sistema” (palavra repetida à exaustão durante toda a projeção) fascista e excludente, muito bem representado pelo excelente personagem do apresentador de televisão fanfarrão e sensacionalista que se esconde sob uma capa de falso moralismo para legitimar o “status quo” com soluções simplistas resumidas em frases de efeito do tipo “dá caixinha de bombom pro malandro”, “manda flores pro meliante” ou “direitos humanos para os humanos direitos” (Bareta?).
Tudo isso sem falar das interpretações, que são sensacionais. Todos, começando por Wagner Moura, evidentemente, estão muito bem. O roteiro é enxuto e a direção é segura. Apenas os diálogos, a meu ver, pecam por um certo excesso de “naturalismo” que às vezes soa um pouco forçado, mas nada que comprometa o conjunto da obra.
Fico feliz em saber que “Tropa de Elite 2 – O Inimigo agora é outro” é um sucesso estrondoso de público e crítica.
É quase uma obra-prima.
por Adelvan
* * *
“A PM do Rio tem que acabar”. Esta é uma das muitas frases polêmicas do Capitão Nascimento, personagem vivido por Wagner Moura em “Tropa de Elite 2”. No filme, o ex-capitão do Bope, agora subsecretário de segurança do Rio, faz severas criticas a esquemas de corrupção, tanto na polícia quanto nos setores mais burocráticos do governo. Em entrevista exclusiva ao EXTRA, o ator solta o verbo: reafirma que muitas das situações retratadas no filme podem ser vistas no dia a dia, fala sobre o sentimento que o longa-metragem despertou na população e opina sobre uma das maiores bandeiras da área de segurança, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

— A UPP é boa, mas deve ser vista como um meio, não como um fim — diz o ator, alertando que o programa pode se tornar uma espécie de milícia: — O perigo é que aquelas comunidades sejam dominadas por aquela polícia.

Em uma entrevista coletiva na última quinta-feira, o verdadeiro comandante do Bope, o tenente-coronel Paulo Henrique Moraes, disse que “Tropa de Elite 2” pode confundir a população por misturar elementos da ficção e da vida real, e que, assim, muitas conclusões erradas podem ser tiradas.

Wagner Moura tem outra opinião sobre o filme:

— O filme é de ficção por mais que tenha uma estética documental. Mas o que é retratado no produção acontece na vida real de uma maneira geral — afirma Moura.

O comandante do Bope disse que não gostou do filme porque mistura ficção e realidade, e pode passar uma noção de realidade distorcida. Você concorda?

Moura: Ele está fazendo uma confusão estética. O filme é de ficção, por mais que tenha uma estética documental. Mas o que é retratado no filme acontece na vida real de uma maneira geral. Existe milícia? Existe. Existe polícia corrupta? Existe. O Bope é uma polícia violenta? É. Há uma ingerência dos políticos na vida dos policiais? Há. Há uma ingerência do poder público na questão das milícias? Há. O filme, neste sentido, não está dizendo nada que não exista. É baseado em fatos reais.

Como tem sido a repercussão de "Tropa de Elite 2" em comparação ao primeiro filme?

Moura: Este filme tem causado uma comoção, uma catarse cívica, que o primeiro não causou. As pessoas viam aqueles políticos (ligados à milícia), a reação do Nascimento (que agrediu um deles no filme), e se identificaram bastante. O que não significa que o que tenha acontecido no filme tenha acontecido na realidade. Mas as situações criadas no filme, de uma certa forma, existem, não há como negar.

A principal bandeira da área de segurança — a UPP — tem por objetivo quebrar o sistema regido pelo tráfico. Você tem alguma opinião formada sobre a UPP?

Moura: A UPP é boa, mas deve ser vista como um meio, e não como um fim. A gente não pode achar que a UPP é uma solução. É o Estado se fazendo presente em localidades historicamente negligenciadas por meio de sua polícia. É um bom começo. Mas se não se fizer presente de outras formas, como saneamento básico, hospitais, escolas, o perigo é que aquelas comunidades sejam dominadas por aquela polícia.

Nesse sentido, a UPP pode virar um sistema semelhante ao adotado pelas milícias?

Moura: Pode sim. Ou outra coisa diferente que a gente não sabe o que é ainda. O sistema certamente se recria.

Fonte: Extra Online

sábado, 9 de outubro de 2010

Mais uma na conta do presidente ...


Por "pragmatismo", como sempre, para derrotar uma de suas principais adversárias (no caso, de esquerda), Lula pediu voto em Alagoas para um candidato do PP (o que restou do PDS/Arena) e um notório corrupto, ladrão, salafrário e ex-baba-ovo numero 01 de Fernando Collor, Renan Calheiros. Não sou exatamente fã de Heloisa Helena, não consigo esquecer dela falando num debate aqui em Aracaju que João Fontes era um "petista histórico" (ou a então senadora era muito desinformada ou dissimulada) nem de braços dados com Gilmar Carvalho para receber o título de Cidadã Aracajuana. Acho que, se ala bate tanto em Lula e no PT por conta das "más companhias", pelo menos nestes casos, que eu acompanhei "in loco", com estes olhos que a terra há de comer, foi contraditória. Mas seria boa a presença dela lá no senado, colocando o dedo em algumas feridas que precisam ser sangradas - também não esqueço dela chamando o Todo-Poderoso ACM de "senhor de engenho" ou brandindo um abridor de cartas como se fosse uma faca para "cortar a lingua de fofoqueiros dissimulados", referindo-se a José Serra.

Enfim, já foi. Agora é tapar o nariz e votar em Dilma para evitar um mal ainda maior.

* * *

http://noticias.terra.com.br/eleicoes/2010/noticias/0,,OI4718473-EI15317,00-Heloisa+Helena+enfrentei+do+presidente+aos+politicos+locais.html

Heloísa Helena: "enfrentei do presidente aos políticos locais"
05 de outubro de 2010 • 12h55 •

por Odilon Rios - de Maceió

Dois dias após as urnas confirmarem sua derrota oficial na disputa ao Senado, a vereadora Heloísa Helena (Psol) apareceu publicamente na primeira sessão da Câmara Municipal em Maceió. Não fez discursos e atendeu muitos telefonemas. "Agradeço aos 417.636 votos. Foi uma eleição difícil".

Há dois meses, Heloísa Helena estava na ponta nas pesquisas ao Senado. A entrada do presidente Lula, pedindo votos ao deputado federal Benedito de Lira (PP) e Renan Calheiros (PMDB), no guia eleitoral, causou um efeito devastador. Ela ficou em terceiro lugar, com 16,6% dos votos.

"Tive de enfrentar a máquina dos governos federal, estadual e municipais. Foi uma máquina de moer gente", disse. "Desde o início, eu sabia que seria difícil. Mas, o que é difícil a gente faz. O impossível a gente tenta".

O candidato ao governo de Alagoas pelo Psol, Mário Agra, ficou com 1,37% dos votos na disputa. Benedito de Lira era apoiado pelo governador Teotonio Vilela Filho (PSDB); Renan pelo ex-governador Ronaldo Lessa (PDT). Teotonio e Lessa se enfrentam no segundo turno. Ambos elogiam Lula em seus palanques. Lessa, oficialmente, é o candidato do Palácio do Planalto em Alagoas.

O Psol nacional não pedia votos a Heloísa, que declarou preferência por Marina Silva (PV). O candidato do partido à presidência da República, Plínio de Arruda Sampaio, não pisou em Alagoas. José Serra esteve duas vezes, em encontro com os tucanos; Dilma Rousseff recusou até os convites para receber títulos de cidadã alagoana e maceioense. O senador Fernando Collor (PTB) pedia votos para a petista.

O tostão e o milhão - "Foi uma vitória nossa. Não tínhamos riqueza e havia o poder político e econômico. Enfrentei desde o presidente da República até as instâncias locais", disse a vereadora.

"Eu quero pensar, mas pensar objetivamente e emocionalmente. Eu sei que a política é um bom meio de vida para quem é ladrão e mentiroso. Para quem é do bem e honesto é uma tarefa difícil de sempre nadar contra a corrente todos os dias", disse, negando que vá desistir da política.

"Todas as pessoas dignas que estão na política pensam em deixar. É natural. Mas, não vou dar este gosto aos meus adversários políticos. Não vou dar a eles esta dupla vitória. A gente tem que pensar no papel que a gente cumpre na sociedade".

Em feiras no interior de Alagoas, onde aparecia para distribuir santinhos, era acompanhada por jagunços de prefeitos e vereadores. Na capital, o prestígio de Lula "demonizou" Heloísa. Chegou a ser hostilizada em alguns lugares. Não fala do assunto. Derrotada, fica mais dois anos na Câmara. Ela é oposição ao prefeito Cícero Almeida (PP), apesar de evitar críticas a administração dele.

Em 2003 era senadora pelo PT. Por críticas a Lula e a política econômica, foi expulsa do partido. Com ex-petistas fundou o Psol. Em Alagoas, o partido tem, além de Heloísa, o vereador Ricardo Barbosa, que era candidato a deputado estadual. Ele também perdeu a eleição.

* * *

http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=35&id=352232

A vereadora por Maceió e presidente nacional do PSOL, Heloísa Helena, disse nesta terça-feira (05) em entrevista ao programa 'Cidadania', da Rádio Jornal, que não vai apoiar ninguém no segundo turno das eleições, nem para o governo do Estado, nem para a Presidência. "Não precisa que eu oriente o povo como deve votar. O PSOL vai se reunir nacionalmente, aqui no Estado também para decidir o que é que vai fazer no segundo turno. Eu teria a obrigação de ficar como bicho do mato, gato no mato, em cima da árvore só vendo os 'cabras' grandes se batendo lá embaixo, né? Mas, o partido irá discutir qual alternativa a fazer", afirmou Heloísa Helena, na primeira entrevista depois da derrota nas urnas no último domingo, quando ficou em terceiro lugar para o Senado.

"Agora que eu vá para qualquer órgão de comunicação para indicar voto, isso eu não vou fazer. Só se eu não tivesse vergonha nenhuma na cara, nenhuma honra de estar no palanque entre aqueles que passaram o primeiro turno todo batendo em mim sem dó, sem compaixão e sem piedade, mentindo, como ladrões que são; cínicos, só se eu não tivesse vergonha como mulher, como mãe de família, passar para o bando de lá do palanque como se não tivesse acontecido nada", afirmou a ex-senadora.

Heloísa disse ainda que não está em Alagoas para participar das gangues e dos bandos de ladrões da política do Estado. "Estou em Alagoas porque eu quero estar. Até por uma questão profissional, como eu sou da Universidade Federal de Alagoas há 26 anos, quando o reitor da Universidade do Rio de Janeiro me convidou para ficar lá como professora visitante, e poderia ser feito normalmente, porque isso pode ser feito entre duas universidades federais ou até entre uma universidade federal e estadual, eu não fui porque eu quero continuar na militância em Alagoas"

A vereadora disse também que sua maior decepção foi com os adversários políticos, que se juntaram todos contra ela nas eleições deste ano em Alagoas. "Isso é realmente uma coisa triste. Eu sei que mentira repetida muitas vezes vira verdade. O então ministro das comunicações do Hitler, Joseph Goebbels, utilizou-se dessa estratégia, repetindo muitas vezes a mentira até virar verdade. Mesmo assim, você ainda tem esperança, ainda espera-se que esse tipo de comportamento nazista e fraudador da verdade não consiga contaminar as pessoas. Mas, quando isso acontece, você objetivamente segue em frente a sua vida".

Para Heloísa, a política em Alagoas ainda está muito associada ao clientelismo. "O que eu faço no processo eleitoral pouquíssimos fazem. Porque é muito fácil para os políticos andar com aquele monte de gente, aquele bando com bandeiras, e sai dando aquele tchauzinho distante e passa, mas ir de banca em banca de feiras conversando com as pessoas, aceitando a crítica fraterna, respondendo as críticas que considera injustas, são pouquíssimos que nadam livres no meio do povo".

Questionada sobre a derrota nas urnas, ela disse que ficou triste, mas já se recuperou do revés. "Foi triste, mas ao mesmo tempo eu prefiro ter vivenciado essa situação extremamente perversa do que ter me vendido, do que ter me rendido diante de tudo que estava acontecendo. Então, agora é seguir em frente. Cuidar um pouco da minha saúde e seguir em frente pra que a gente, continuar meu mandato de vereadora que pra mim foi algo muito gratificante".

A vereadora disse também que vai continuar sua militância política em Alagoas e vivendo modestamente. "Eu sempre tive uma vida simples, independente de ser senadora, ou de professora ou dona de casa. Eu sempre tive uma vida muito simples. Então, na minha vida muda nada praticamente do que eu já vinha vivenciando E agora, é continuar o meu trabalho na Câmara e continuar dando aula e lógico que também discutindo o que é que o meu partido vai fazer, apresentando a minha condição também".

Heloisa disse que conversou hoje de manhã com Mário Agra (candidato ao governo pelo PSOL) e com o padre Eraldo, seu candidato a suplente na chapa para o Senado. "Vão fazer plenária para decidir. Evidente que vai ser feito um debate antes, democrático, consultando a militância e os amigos do partido. Evidente que, no meu caso especifico, eu já disse. Eu não vou orientar os meus eleitores, porque meus eleitores não precisam de orientação. O povo não precisa que fique igual a uma vaqueira conduzindo boi".

Questionada sobre o que deu errado na sua estratégia para tentar o Senado, ela respondeu: "Não teve estratégia, não. Foi uma campanha. Tem gente que diz: e por que a senhora estava falando do Lula? Olha que coisa. Como é a televisão. Eu falei aquilo há seis anos. O povo achava que eu estava falando agora, na campanha. Agora, se alguém achar que eu me arrependi, eu não me arrependi, não. Há seis anos, quando eles estavam no mensalão, na roubalheira, tirando o direito dos trabalhadores na reforma da Previdência, a minha fala tinha repercussão".

Ela também disse que se desgastou muito para explicar durante a campanha que conseguir recursos para Alagoas, quando seus adversários diziam que não fazia nada pelo Estado. "Muitos funcionários da Infraero ficavam dizendo 'Heloísa tire o retrato aqui da placa do aeroporto porque está o seu nome na placa do aeroporto porque foi você quem mandou, por isso tá na placa de inauguração do aeroporto, eu não quis, porque eu não me submeto a esse tipo de comportamento clientelista".

No final da entrevista, Heloisa disse que continuar fazendo política, com coerência. "Vou continuar lutando, de cabeça erguida, coração feliz, consciência tranquila e pronto. Um dia mudará. Mais cedo ou mais tarde, um dia mudará. Então, é em função disso que a gente continua lutando com todas as nossas forças pra que agente possa ajudar a construir novos e melhores caminhos para nossa querida Alagoas e novos e melhores caminhos para o Brasil". (Ricardo Rodrigues - AE)

* * *

http://www.correiodopovo-al.com.br/v3/politica/8500-Presidente-Lula-celebra-derrota-candidatura-Helosa-Helena.html

Nos bastidores se comentava, mas ainda não se tinha a confirmação de que o presidente Lula torcia contra a eleição de Heloísa Helena, sua ex-colega de partido, candidatada ao Senado por Alagoas. Mas, ontem as especulações foram confirmadas em matéria publicada pelo site IG.

De acordo com o texto, o presidente Luis Inácio Lula da Silva tripudiou, durante encontro com o candidato eleito ao Senado, Eunício Oliveira (PMDB), a derrota do senador Tasso Jereissati (PSDB) e da vereadora Heleoísa Helena (PSol). As declarações de Lula repercutiram na imprensa nacional. Segundo informações do portal, ao receber Eunício, Lula foi logo dando as boas vindas, e exclamou: “Está aqui o senador que derrotou o Tasso Jereissati!”

Em outro momento, durante o café da manhã com a base aliada, Lula também festejou a derrota de Heloisa Helena (PSOL): “Quero dizer que estou particularmente satisfeito com a derrota da Heloísa Helena. Alagoas para mim foi uma das eleições mais importantes.”

Tasso Jereissati foi derrotado pelos deputados federais Eunício Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT), que conquistaram 2,6 milhões e 2,3 milhões de votos, respectivamente. O tucano, que governou o Ceará por três mandatos, obteve 1,7 milhão de votos.

A ex-senadora Heloísa Helena (PSOL) perdeu a eleição para o Senado em Alagoas, onde enfrentou uma campanha com fortes ataques de seus adversários. Em entrevista à Folha de São Paulo, disse que está lambendo as feridas e que foi feito “um conluio de esquerda e de direita” - na esferas federal e estadual - para derrotá-la politicamente. “O PSDB agiu articulado com o governo Lula para me derrotar”, disse à Folha.

As apostas para quem irá presidir a Câmara dos Deputados e o Senado Federal já estão sendo feitas e conversadas nos bastidores de Brasília. O jornal Correio Braziliense estampou em suas páginas que essa negociação estaria sendo feita inclusive pelo próprio presidente Lula, que tem interesse em manter alguém de sua confiança no cargo. Como o PT deve apresentar um nome para a presidência da Câmara, ficaria com o PMDB a indicação para a presidência do Senado. Após expressiva votação no Ceará, Eunício Oliveira é um dos nomes defendidos pelo próprio presidente Lula a assumir a presidência. Confira a nota:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já trabalha com a possibilidade de o senador José Sarney (PMDB-AP), por motivos de saúde, abrir mão da reeleição à Presidência do Senado. Com 19 senadores, o PMDB continua tendo a maior bancada e deve indicar o presidente da Casa. Dois nomes estão cotados na bancada, o senador maranhense Edison Lobão, que acaba de ser reeleito, e Eunício de Oliveira, que é cristão novo no Senado.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Soylent Green

Houve uma fase estranha em minha vida, no início da adolescência, por volta dos 13, 14 anos, em que eu me descobri com algum tipo de distúrbio nervoso, ou numa crise existencial, não sei ao certo. Só sei que passei a ter medo, muito medo – de situações imaginárias mas, principalmente, de perigos reais, embora nem sempre imediatos. Um certo medo da vida, e do futuro, pode-se dizer. Tudo começou, pelo que me lembro, quando assisti a um filme de terror na Globo (curtia muito a Sessão “Casa do Terror”, que ia ao ar tarde da noite) que me deixou estranhamente aterrorizado. No filme o protagonista era devorado por ratos e, quando fui me recolher aos braços de Morpheus, comecei a ter verdadeiras alucinações com a situação. Me acalmava com água com açúcar, mas passei a ter medo de dormir e de ter pesadelos. 

Vale lembrar que eram os anos 80, a guerra fria e a corrida armamentista estavam a todo vapor e a ameaça de uma aniquilação total da raça humana não parecia uma coisa tão distante e inverossímil quanto hoje, quando os recursos para tal ainda existem, mas a geopolítica e a correlação de forças entre as potências nucleares é totalmente diferente. Talvez por conta desta conjuntura, passei também a desenvolver uma certa consciência social meio estranha à idade, o que me deixou um tanto quanto distante de meus amigos, mais interessados em se divertir e pouco se lixando para os perigos de uma hecatombe em escala global ou coisa do tipo. Lembro que fiquei em pânico, por exemplo, com o filme “O Dia seguinte”, que descrevia os horrores de um hipotético ataque atômico, e com uma reportagem do globo repórter que mostrava os níveis alarmantes de contaminação em Cubatão, então a cidade mais poluída do mundo. A impressão que tinha é que tudo estava se deteriorando ao nosso redor e que o futuro era uma coisa assustadora. Isso antes da “Eco 92” e dos alarmes em relação ao efeito estufa e à destruição da camada de ozônio.

“As mulheres bonitas foram transformadas em mobílias, a contenção das aglomerações humanas passou a desprezar os direitos individuais, os campos se tornaram propriedade de poucos ricos e os alimentos mais banais só poderiam ser consumidos pelos poucos que podiam pagar por eles” – Isso soa familiar? Pois o que este trecho da wikipédia descreve não é a situação do mundo em que vivemos. É o argumento de um filme de 1973 que assisti pela primeira vez na televisão nos anos 80 e, justamente por ter sido na época à qual me referi no primeiro parágrafo, me marcou bastante. Trata-se de “Soylent Green”, de Richard Fleisher, batizado no Brasil como “No Mundo de 2020” - uma distopia ambientalista que tinha como mote a superpopulação, que consumiu os recursos naturais do mundo e deixou a humanidade à beira de um colapso. 

Na fita, Charlton Heston vive Robert Thorn, um investigador às voltas com o assassinato de um magnata das Industrias soylent, responsável pela produção e distribuição do alimento de mesmo nome, supostamente produzido a partir de plânctons marítmos, que era a única alternativa economicamente viável para saciar a fome de uma megapopulação que só na cidade de Nova York chegava a 40 milhões de habitantes. Através dos perigos enfrentados por Thorn somos apresentados a um mundo aterrorizante, onde a esmagadora maioria das pessoas vive à beira da miséria e amontoada, enquanto alguns pouquíssimos privilegiados continuam a ter acesso ao que restou das benesses da praticamente extinta “sociedade de consumo” - coisas que antes eram comuns, como residências espaçosas, belas mulheres, carne de vaca ou legumes frescos adquirem o status de especiarias raríssimas e cobiçadas. 

Aos poucos, a investigação de Thorn vai levá-lo a descobrir que há algo de muito sórdido por trás deste novo produto vendido ao povo a preços acessíveis, o soylent verde. A aterrorizante verdade é primeiramente revelada a seu parceiro Sol, um homem já idoso e saudoso dos bons tempos que não voltariam mais, interpretado por Edward G. Robinson. Sol auxilia Thorn em sua investigação e, através de um relatório secreto surrupiado pelo último da cena do crime, toma conhecimento da real extensão da catástrofe ambiental que toma conta do planeta, o que inclui a extinção dos plânctons a partir dos quais o soylent verde seria, supostamente, fabricado. A revelação do segredo que esconde a verdadeira matéria prima da qual é feito o produto é impactante e assustadora.

A década de 70 foi pródiga em filmes de Ficção Científica de cunho pessimista (vide "THX 1138", de 1970, "Westworld - Onde ninguém tem alma", de 1973, "Rollerbal - os gladiadores do futuro", de 1975, "Logans Run", de 1976, e "Demon Seed"/A Geração de Proteus, de 1977, para ficar apenas nos mais célebres), e "Soylent Green" é um dos mais interessantes exemplares dessa tendencia. A direção de Fleisher é segura e o desempenho do elenco de atores é muito bom. O mesmo pode ser dito da excelente direção de arte, elegante e sem os excessos tão comuns ao gênero. É baseado no romance "Make Room! Make Room!", de Harry Harrison, e tem cenas memoráveis - um dos pontos altos é a sequencia do suicídio assistido, um serviço disponível a qualquer cidadão que queira partir “desta para melhor” e, com isso, aliviar um pouco o peso de sua presença naquela sociedade aparentemente em ordem mas na verdade em frangalhos. A “ordem”, por sinal, é mostrada em toda a sua brutalidade em outra sequencia marcante, a do “controle de distúrbios”, na qual a policia utiliza caçambas para dispersar a multidão de forma absolutamente brutal e desumana.

“Soylent Green” foi o último filme de Edward G. Robinson - ele morreu logo após as filmagens, em 26 de janeiro de 1973. É uma fita “cult”, conhecida por poucos e nunca lançada em DVD no Brasil, mas é possível encontrá-la em diversos formatos em cantos perdido da internet. Para minha sorte, tive alguém que fizesse isso pra mim e agora possuo uma cópia de excelente qualidade em AVI legendado dessa pequena pérola da ficção científica.

Recomendo muito.

por Adelvan k

Informações Técnicas:

Título no Brasil: No Mundo de 2020
Título Original: Soylent Green
País de Origem: EUA
Gênero: Drama / Ficção
Tempo de Duração: 97 minutos
Ano de Lançamento: 1973
Direção: Richard Fleischer

Elenco principal:

* Charlton Heston.... Robert Thorn
* Edward G. Robinson.... Sol Roth
* Joseph Cotten.... William R. Simonson
* Chuck Connors.... Tab Fielding
* Leigh Taylor-Young.... Shirl
* Brock Peters.... Tenente Hatcher

domingo, 3 de outubro de 2010

A Arte de Coffin Souza

Coffin Souza por Petter Baiestorf - Porto Alegrense nascido em plena ditadura brasileira nos anos 60, virou ateu na adolescência, começou a fazer filmes em super 8 com seus primos e amigos pouco depois chegando até a ganhar um prêmio de melhor fotografia de super 8 no festival de Gramado com um curta inspirado no poema “O Corvo” de Edgar Allan Poe. Depois, lá por 1988, parou de fazer qualquer produção até 1995 quando começou a trabalhar comigo na Canibal Filmes como produtor dos meus filmes e depois maquiador gore e ator. Coffin Souza também é escritor, poeta, video-artista (sua série de filmes experimentais feitos com experimentações no manuseio de imagens distorcidas no vídeo, que ele realizou em Fortaleza durante um ano inteiro que viveu no Ceará trancado num quarto por não suportar sol e calor, é genial) e, vez ou outra, se arisca em experiências com colagens como essa série sem nome que aborda temáticas cristãs.

Essa série de colagens Coffin Souza realizou em 2005 e acabei usando-as nos créditos iniciais do meu curta “Que Buceta do Caralho, Pobre só se Fode!!!” (2007, 23 min., roteiro-produção-direção de Petter Baiestorf). Coffin Souza estava em grande forma com seu humor anarco-ateísta quando realizou essas colagens. São imagens belíssimas que não recomendo aos fanáticos religiosos. Se os fanáticos religiosos tem liberdade total (e não pagam impostos) para terem templos e igrejas que cobram de seus fiéis para freqüentar os locais de reza e lamentações, Coffin Souza (que é ateu e não cobra nada de ninguém por isso), também tem a liberdade total de exercitar sua arte com ícones da mitologia cristã sempre que quiser.

Canibuk






sábado, 2 de outubro de 2010

50


'Saio fortalecido como uma figura política de âmbito nacional', diz Plínio.

Irônico, provocador, galhofeiro. Sem ter chegado nem a 1% nas pesquisas, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) conseguiu ser uma das sensações da campanha eleitoral. Movimentou os debates, fez troça de Dilma, Serra e Marina e insistiu sobretudo no mantra de que o Brasil precisa promover a igualdade social e econômica.

Em avaliação de sua participação, se diz feliz por ter dado o recado que queria.

"Acho que consegui mostrar todos os aspectos fundamentais. Foram ditos, e com toda clareza. O problema da desigualdade social, da necessidade de redistribuir terra, de fazer uma reforma agrária. Consegui falar da reforma urbana, da redução da jornada de trabalho sem redução de salário. E consegui falar de dois temas polêmicos que foram a escola pública e a saúde publica".

O candidato socialista aponta duas razões para a baixa intenção de votos: a cobertura da mídia sobre sua campanha e o radicalismo de suas propostas.

"O que eu digo é muito forte pra uma população que foi acostumada à vida como ela é. Ela acha que não é possível além disso. Isso é todo o discurso da direita, fundamentado por um enorme apoio de mídia".

Como avalia a campanha eleitoral?

A campanha foi ruim. É uma campanha limitada pela lei. Tem um prazo de discussão muito curto, cheio de dificuldades, um sistema de fiscalização [das finanças] que só pega os pequenos, e não os grandes, que têm meios de esconder isso. E com o apoio da grande mídia pra omitir tudo aquilo que pudesse causar perturbação. A burguesia brasileira sabe que trata mal o povo. Sabe. De modo que a eleição dificilmente escapará de mãos que ela considera seguras. Os três candidatos com maior pontuação nas pesquisas dizem a mesma coisa, com nuances para cá ou para lá. Mesmo assim ela não quer que soluções diferentes sejam ouvidas pela população. Porque num momento qualquer de perturbação, de turbulência, aquelas ideias subversivas podem significar um problema. Foi uma campanha fechada.

E como o sr. avalia a sua participação?

Eu tô contente. O objetivo era mostrar as soluções verdadeiras para os problemas do povo. Acho que isso foi dito tanto naquele minutinho do horário eleitoral como nos debates. Sobretudo nos debates. Consegui furar a barreira. Quero fazer uma exceção pra Bandeirantes, que foi a única televisão que me convidou. O Mitre [Fernando Mitre, diretor de jornalismo] não quis saber de pontuação [nas pesquisas]. Ele me convidou. A Globo não queria me convidar. Aí eu tive que ir em juízo. Ah! Preciso fazer também uma outra exceção, que foi a RedeTV!, que também me chamou. A Globo foi no fórceps. Tive que demandar no tribunal. Quando viram, me convidaram antes que a ação fosse julgada. Quando consegui furar a Globo, as outras me convidaram.

O sr. acha que conseguiu fazer o debate que queria?

Acho que consegui mostrar todos esses aspectos fundamentais. Foram ditos, e com toda clareza, o problema da desigualdade social, da necessidade de redistribuir terra, de fazer uma reforma agrária. Consegui falar da reforma urbana, consegui falar fortemente do problema da redução da jornada de trabalho sem redução de salário. E consegui falar de dois temas polêmicos que foram a escola pública e a saúde publica. Escola pública que pode perfeitamente coexistir com a escola comunitária pública. Sem fins lucrativos mesmo. Não pode cobrar e não pode discriminar nenhum aluno.

O país está preparado pra fazer o debate que o sr. queria fazer?

Isso a gente vai ver no dia da eleição. Até agora os sinais das pesquisas não são, digamos, otimistas. A impressão é que apenas uma parcela menor [está preparada para o debate]. Agora, também é preciso considerar que até agora a candidatura foi desconhecida.

Houve quem ficasse com a impressão de que o sr. foi aos debates mais pra ser engraçado do que propositivo.

Isso é uma calúnia, uma sacanagem. O que provoca riso é a ironia. Provoca riso por causa do contraste entre a evidencia da situação e a falsidade da posição dos meus adversários. Isso causa riso. Mas eu não faria uma desconsideração dessa ao povo brasileiro.

Por que o sr. não decolou nas pesquisas, mesmo com o sucesso nos debates?

Porque ainda foi pequeno, ainda foi pra um grupo restrito [referindo-se à cobertura da mídia]. Agora, tem um outro fator. O que eu digo é muito forte pra uma população que foi acostumada à vida como ela é. Ela acha que não é possível além disso. Isso é todo o discurso da direita, fundamentado por um enorme apoio de mídia.

O sr. vai apoiar alguma candidatura no segundo turno?

Ainda não decidimos isso. O segundo turno é uma nova eleição. Você tem uma correlação de forças no início da campanha, que se modifica no decorrer da própria campanha. Pode ser até que, se houver segundo turno, a situação seja outra. O que deve fazer um partido político? Ele tem duas possibilidades. Ou apoia um candidato ou vota nulo. Essa decisão é em função da possibilidade de avanço neste novo quadro político que se forme.

Que votação o satisfaria no próximo domingo?

É difícil dizer isso, rapaz. O que mais me satisfaria é se eu fosse pro segundo turno.

No lançamento de sua candidatura, ouvi um correligionário perguntar a outro se achava que o sr. chegaria a 1%.

Não, não. Isso eu acho que chega. Provavelmente chega a mais.

Mas dá pra chegar na Heloísa Helena, que em 2006 teve quase 7%?

Não sei. O que a gente vê na rua é um pouco diferente do que aparece nas pesquisas.

O que será do sr. depois de 3 de outubro?

Se eu não for pro segundo turno, saio fortalecido como uma figura política de âmbito nacional. A minha tarefa vai ser unificar a esquerda. Vamos nuclear, mapear esses votos e vamos atrás desses votos para conscientizá-los e pra espalhar a ideia do socialismo por todo o país.

(Folha Online)

Fernando Gallo

De São Paulo