segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Cine Cult com "sede de sangue"


Eu sempre fui fascinado pelo mito dos vampiros. Me lembro que, ainda guri, pedia para meus irmãos me acordarem tarde da noite para poder ver os filmes de Drácula da Hammer, com Christopher Lee, que eram exibidos com freqüência na TV. Adoro “A Dança dos Vampiros”, de Roman Polanski, e “Nosferatu”, tanto o original, de Murnau, quanto a brilhante refilmagem de Werner Herzog. Curto também algumas coisas dessa “nova onda” de vampirismo, como a série True Blood e o sensacional filme sueco “Deixe ela entrar”. Nesta semana a Sessão Cine Cult está exibindo, no Cinemark do Shopping Riomar, mais uma belíssima variação sobre o mesmo tema: “Sede de sangue”, do coreano Park Chan-wook ( o mesmo de “Old Boy”, um dos grandes filmes da década ).

Só o fato da História se passar no oriente e do filme ser dirigido e interpretado por atores orientais já seria um diferencial, já que os coreanos têm uma peculiar capacidade de misturar num mesmo caldeirão vários gêneros, como pode ser conferido em outra grande produção vinda daquele país, “O Hospedeiro”. Um mix de drama, romance, suspense, surrealismo, humor negro e pastelão puro e simples que, nas mãos de um ocidental, provavelmente soaria indigesta, mas que eles sabem dosar com maestria.

É a História de um padre que se transforma em vampiro ao ser contaminado por um vírus depois de se submeter como cobaia para experimentos científicos. Um padre católico coreano – mais um diferencial. O personagem se vê, então, no dilema de como saciar sua (agora) natural sede de sangue sem macular sua fé – dilema que é aprofundado quando entra na equação o desejo carnal, uma associação natural quando se fala de vampirismo, que sempre foi e sempre será uma metáfora para o sexo, que me perdoem (ou não) as fãs da melosa e puritana série “Crepúsculo”.

Aos poucos o padre vai se entregando aos seus instintos – nem tanto os de morte, já que encontra uma solução bizarra (e engraçada) para a questão da alimentação, mas os referentes aos prazeres da carne. Tórridas cenas de coito são exibidas enquanto acompanhamos o processo de sedução psicológica perpetrado por sua, digamos, não muito bem intencionada parceira com o intuito de fazê-lo ajudá-la numa vingança contra seu marido idiota e sua sogra carrasca. Não poderia faltar vingança num filme de Park Chan-wook, não é mesmo ? Nem misoginia – em sua visão, parece que todo homem, até mesmo os vampiros, está fadado a ruir nas mãos de uma mulher.

Ao longo da projeção, com a película já desgastada pelo uso (a produção é do ano passado e estreou faz tempo no Brasil, ou seja, deve ter circulado por todo o país antes de aportar, finalmente, em telas sergipanas), cenas belas e ao mesmo tempo bizarras se sucedem num exercício estilístico refinado até o final, cômico e poético na mesma medida. Destaque para as brutais sequencias de caçada humana e para o inusitado cenário da casa reformulada pelos vampiros, com muita luz branca refletida em paredes da mesma cor – provavelmente para compensar sua incapacidade de ver a luz do sol.

Um belíssimo exercício de imaginação. Mais uma prova de que, definitivamente, cinema ainda é a maior diversão e de que vale a pena, sim, arriscar-se a ver filmes que se diferenciam do desgastado padrão hollywoodiano.

por Adelvan

Nenhum comentário: