Que começou em clima de expectativa entre os que escolheram ignorar o “hypado” Arcade Fire, se apresentando num palco ao lado – o maior - no mesmo horário. Eu havia desistido de tentar ver de perto o Soundgarden, que tocou antes, ao ver a impressionante multidão que se direcionava ao palco ônix depois do show do Pixies. Tracei, então, uma nova estratégia: vi os heróis do grunge de Seattle sossegadamente, de longe, sentado na grama do alto de uma das colinas que circundavam o local da apresentação, aproveitando para descansar e ver, finalmente, um show completo, de perto, de forma decente. Do New Order.
E então eles entraram, foram ovacionados pelo público e começaram com “Crystal”, uma boa faixa mais recente, do álbum “get ready”, de 2001 – note: “mais recente”, no caso, já significa 13 anos de lançada! Pra “compensar”, mandaram uma nova mesmo, inédita, chamada “singlularity” – anunciada com uma verdadeira obsessão por Bernard Summer, o vocalista. Que parecia estar um pouco “alto” – não por acaso disse que amava as “caipirinhas”.
Uma maratona insana que começou na noite anterior. Como só o Nine Inch Nails, praticamente, me interessava, cheguei tarde, depois de uma verdadeira via crucis para conseguir trocar meus ingressos comprados pela internet. Tudo era muito organizado e bem sinalizado, mas também muito, MUITO longe - e grande. Uma falha aqui e ali, passagens estreitas para o fluxo de pessoas que causavam aglomeração, mas nada de muito sério. Por conta das distâncias, principalmente, já cheguei acabado e fui logo aproveitando uma tenda montada para que as pessoas descansassem em frente ao palco em que Lorde cantava “Royal”.
PÂNICO! Disparei pelo local indicado até ver, finalmente, a tal roda gigante – que ficava MUITO longe. E, no caminho, havia um tumulto, muita gente indo e vindo, tava tudo parado, com os monitores desesperados tentando organizar a circulação das pessoas. Eu não estava só: um carioca e dois pernambucanos, desconhecidos, me acompanharam na tarefa de vencer a multidão e a enorme distancia até finalmente ouvir, ao longe, “March of the pigs”, uma de minhas favoritas. Chegamos, finalmente, a tempo de ver, ainda, cerca de 45 minutos de show. Bom, pesado e com uma iluminação criativa, apesar de um tanto quanto anticlimático no meio, com algumas canções hipnóticas e experimentais não muito apropriadas para um festival. Os fãs ficaram em transe, o resto foi se posicionar para ver o Muse. Ao final, no bis, uma emocionante interpretação de “Hurt”, uma das melhores músicas “pop” (ênfase nas aspas) já feitas. Um daqueles momentos que fazem você perceber que valeu a pena o sacrifício – e olha que o saldo daquela noite, numa análise fria, foi pra lá de negativo: tanto esforço pra ver tão pouco tempo de uma banda que eu já tinha visto ao vivo antes, no Claro que é rock de 2005! Bom, pelo menos eu já sabia me localizar e tratei de me preparar melhor para a noite seguinte. Aproveitei o resto do sábado para explorar as atrações paralelas, como uma simpática loja de discos de vinil montada num espaço da Skol onde encontrei algumas pérolas: além dos discos das bandas que se apresentariam no festival haviam bolachas do Fugazi, Bikini Kill, Eddie – “original Olinda Style” – e até um raro exemplar da coletânea “Cult” “Another kind of noise”. Só biscoito fino, tudo estalando de novo, lacrado – menos a coletânea, que saiu nos anos 1990 e, que eu saiba, nunca foi relançada.
De lá fui para o primeiro palco, “Interlagos”, para ver o Savages. No caminho, uma inglesinha bonitinha mas ordinária da qual eu nunca tinha ouvido falar cantava umas musiquinhas pop sem vergonha no gigantesco palco “Skol”. Cheguei exausto, claro – as distancias eram inacreditáveis, não se contavam em metros não, é coisa de quilômetros rodados mesmo – então vi a primeira parte do show de longe, da tenda “relax”. Savages é uma banda inglesa relativamente nova, formada só por mulheres, que faz um som bastante derivativo do chamado “post punk” dos anos 80, com forte influencia de Siouxsie and the Banshees, especialmente nos vocais – o que está muito longe de ser um demérito, muito pelo contrário. Muito bom show. Já mais descansado, me aproximei e cheguei quase à beira do palco, pois a área estava semivazia – para os padrões de um grande festival, que fique claro. E pude, finalmente, ver um show do Lollapalooza completo e, pelo menos em parte, de perto, quase sentindo o suor da vocalista – estilosíssima, toda de preto com um sapato de salto alto vermelho.
E então rumo ao palco maior, “Skol”, para esperar pelos Pixies. Já cansado de novo – ah, meus vinte e poucos anos e vários quilinhos a menos que não voltam mais – por isso vi de longe. Mas foi um show foda, muito bom. Entraram todos juntos, saudaram a platéia e sentaram o pau numa saraivada de canções pop ácidas e barulhentas, já tão conhecidas que nem soam mais tão deliciosamente estranhas como quando ouvi pela primeira vez, em vinil, na extinta loja “akydiscos” – a primeira vez que seus ouvidos tomam contato com “Debaser” você nunca esquece.
Assim como no New order, faltava alguém no comando das 4 cordas, mas a baixista que cumpria a ingrata tarefa de substituir Kim Deal, a argentina - criada nos Estados Unidos - Paz Lenchantin, se saiu muito bem. Não falou nada, e poderia ter se comunicado bem, já que é fluente no espanhol, mas exibiu o tempo inteiro um belo sorriso, o que era, também, uma das marcas da musa. Era não, é: Kim seguem em frente, preparando uma carreira solo.
Comunicação zero com a platéia – sério, nem uma palavra. A não ser pelo que realmente importa: a música. Algumas novas, e boas, inclusive. Comunicação não é exatamente o forte dos Pixies, como pode ser comprovado no documentário "loudQUIETloud", e é provavelmente isso que dá às suas apresentações um clima estranho, meio distante, que só não é "frio" porque a entrega na execução das canções é palpável, visível e audível, especialmente quando Frank Black - ou seria Black Francis? - se esgoela no microfone.
5 minutos para o Soudgarden e me parece que vacilaram, pois tinha mais gente para ver Cornell e Cia. que os pixies, num palco menor e distante. Desisti: ia pegar começado mesmo e jamais conseguiria chegar perto do palco, a julgar pela multidão inacreditável se dirigia ao “Ônix”. Fiz mais um pit stop estratégico em outra tenda “relax” e aproveitei pra comer um sanduíche ruim e caro, claro. Não fosse assim, não seria um “mega” festival. Só então fui lá, ver uma das bandas mais aguardadas de todo o evento - primeira vez deles no Brasil! Vi, mas de longe, de MUITO longe. De cima de uma das várias colinas que circundavam o palco ônix. Até que o visual era bonito, parecia Woodstock. Mas o som, dali, estava sofrível. No entanto, não tinha jeito: era muita gente e muito cansaço, de minha parte. Foi aí que tomei a decisão de repensar a estratégia final, bem sucedida, como vocês puderam ver no início deste relato.
Saldo pra lá de positivo, apesar dos pesares. Cheguei no hotel em que estava hospedado, no centro de São Paulo, destruído. Mas feliz. Que venha a próxima edição.
Ou não. Nâo sei se tenho pique pra outra não ...
A
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