Enquanto este "momento certo" não vem, o canal colocou no ar, ontem, uma nova série derivada, uma espécie de "prequel", cuja história se passa cronologicamente antes dos fatos acontecidos em "Blood and sand". Intitulada Spartacus: Gods of the Arena e dividida em seis partes, trará de volta os personagens Lucrecia, vivida por Lucy Lawless – a eterna Xena -, e Batiatus, vivido por John Hannah. Na trama, Batiatus ainda não é o chefe de sua família nem do campo de treinamento de gladiadores. Campeão antes da era de Spartacus, Gannicus (Dustin Clare) é o principal gladiador do ludus, que ainda não conquistou respeito social ou o direito de estar em grandes campeonatos.
A série “Spartacus: Blood and Sand” é o único sucesso do canal Starz até o momento. O pequeno canal a cabo começou a investir na produção seriada para tentar entrar nesse mercado e competir com as produções de canais como AMC, HBO, Showtime, FX, TNT e outros. Começou com “Head Cases“, passou por “Crash“, chegou à “Party Down“, sem conseguir uma repercussão de público ou crítica.
Então veio “Spartacus”, série filmada na Nova Zelândia que tem como produtores os mesmos responsáveis por “Hércules” e “Xena,a Princesa Guerreira”. A resposta de público tem sido o grande estímulo do canal que esse ano já anunciou a produção e compra de projetos que também retratam histórias de épocas passadas, como é o caso de “The Pillars of the Earth“, minissérie produzida na Alemanha que já tem a continuação engatilhada; e “Camelot“, que narra a lenda do Rei Arthur, muito embora o projeto tenha sido divulgado como uma adaptação para os tempos modernos. Ainda assim, prevalece a trama.
A história de Spartacus é real; tendo vivido em uma época anterior a de Cristo, Spartacus era um guerreiro que foi capturado, vendido como escravo e transformado em gladiador. Posteriormente liderou uma revolta formando um exército de gladiadores que enfrentou Roma, na época envolvida em duas guerras, uma na Espanha e outra, a mais importante, que ocorreu entre Roma e a Ásia Menor, chamada de Terceira Guerra Mitridática. Em função disso, o Império Romano não se preocupava com conflitos internos, o que proporcionou o avanço de Spartacus e seus homnes. Afora esse registro histórico, pouco se sabe da vida de Spartacus, o que permite a roteiristas a liberdade criativa em desenvolver o personagem e roteiros que melhor lhes convier para a produção de um filme, minissérie ou seriado.
A produção mais famosa e aclamada ainda é o filme de Stanley Kubrick, produzido em 1960 e estrelado por Kirk Douglas. Tendo como base o livro de Howard Fast, o roteiro foi desenvolvido por Dalton Trumbo, que somente teve seu verdadeiro nome incluído nos créditos por exigência de Douglas, que além de ator também era o produtor. O motivo para Trumbo usar um pseudônimo era porque ele tinha sido incluído na lista negra anticomunista do governo, a qual levava os profissionais listados a perderem seus empregos e caírem em desgraça.
Apesar dos problemas entre Kubrick e Trumbo, o filme entrou para a história cinematográfica americana tornando-se um cult. Por isso mesmo, quando, de tempos em tempos, se fala em produzir um remake, cinéfilos se revoltam. Já foram produzidas versões italianas, francesas e russa de Spartacus para o cinema; para a televisão, existiram poucas versões. Entre 1985 e 1987 foi produzida na França uma série animada, vagamente baseada na história desse personagem, que recebeu o título de “Spartacus and the Sun Beneath de Sea”. Em 2004, um telefilme com duração de minissérie de três episódios, foi produzido pelo USA Network, tendo como personagem principal o ator iugoslavo Goran Višnjić, de “Plantão Médico/ER”.
Cinco anos depois, estreia pelo canal Starz a série “Spartacus: Blood and Sand”. A produção busca conquistar os fãs dos video games de ação. Utilizando o mesmo recurso técnico explorado pelo filme “300″, a série tem como base as cenas de violência, sangue e insinuações de sexo. Logo no início de cada episódio, aparece um aviso para o telespectador, informando-o de que o conteúdo a ser apresentado poderá ser chocante.No entanto, quem assistiu à série “Roma”, da HBO, produção que se equipara pelo período retratado, verá que existe uma diferença muito grande entre as cenas de violência e sexo exploradas por ambas as séries. Enquanto que em “Roma” o artificial se mescla com o real, em “Spartacus”, a artificialidade estética transforma as cenas em violência comparável àquelas vistas em desenhos animados adultos. O abuso dos efeitos especiais nas cenas de ação e violência, se contrapõe à proposta de crueldade da série, tornando sua abordagem e seu conteúdo visivelmente irreais. Dessa forma, as cenas mantém um distanciamento seguro entre conteúdo e público.
Por outro lado, a série se propôs a explorar a cultura sexual da época, algo louvável, pois, assim, trabalha um importante aspecto histórico que a trama oferece. No entanto, ela é vista apenas nos primeiros episódios, sendo abandonada pouco depois. Além disso, as cenas não ultrapassam o aspecto estético da insinuação do ato ou desfile de mulheres com seios à mostra. Assim sendo, tanto as cenas de ação quanto as de sexo, se mantém a um nível seguro, existindo sem de fato existirem. Quem assistiu à série “Tell Me You Love Me”, também da HBO, poderá ter uma noção da diferença de abordagem para o mesmo ato sexual.
A série oferece uma boa trama, a qual poderia ter se saído criticamente melhor se seu conteúdo e personagens tivessem sido desenvolvidos com mais profundidade, algo necessário para compensar o excesso de artificialidade oferecido pelo visual das cenas de ação e pelos cenários.
por Fernanda Furquim, para a Veja.
Um comentário:
A Estética GRAPHIC NOVEL filmada de Spartacus deve influenciar muitas obras futuras, merece atenção especial.
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