Meus primeiros contatos com o legado do grande frasista se deram, primeiro, atraves da tela da Globo, que sempre exibia algumas adaptações de suas peças feitas para o cinema e, posteriormente, produziu ela mesma alguns especiais e minisséries. O primeiro filme que vi foi “Toda nudez será castigada”, se não me falha a memória. Lembro que aquele mundo povoado de almas atormentadas pela culpa e pelo pecado me perturbava bastante, jovem sexualmente reprimido e igualmente assombrado pela formação católica que era (sou?). Então era aquele o mundo dos adultos? Um mundo dissimulado, feito de hipocrisia e perversões abafadas por uma camada de falso moralismo? Adultério, homosexualismo, Geni, o ladrão boliviano: não estava preparado para absorver aquele tipo de informação. Aquilo não era, definitivamente, coisa para criança.
Mas à medida que o tempo foi passando, fui assimilando melhor o universo rodrigueano, muito embora seu conhecido e auto-proclamado conservadorismo ainda seja, pra mim, um mistério. Não consigo deixar de pensar que, ou ele tinha um pensamento realmente original e por vezes contraditório, ou enganou a todos. Como poderia um homem de direita ter colocado com tanta propriedade o dedo na ferida da moral católica falsamente puritana das elites e da classe média? Na verdade ele já respondeu a este tipo de questionamento, afirmando que expõe os comportamentos mais torpes na esperança de que as pessoas parem de se trair, de se enganar. O que me custa a acreditar é como alguém tão inteligente não conseguia perceber que havia algo de errado em tudo isso, que se as pessoas simplesmente não conseguiam se comportar da forma como se esperava que elas se comportassem, havia algum vício de origem na base de tudo. Se Nelson estava enganando a todos, no entanto, deveria estar também enganando-se a si mesmo, já que chegou a apoiar entusiastica e publicamente o regime militar, recusando-se inclusive a acreditar que havia tortura nos quartéis, algo que só veio a admitir, ao que parece, quando seu próprio filho (o barbudo da foto abaixo) foi preso e torturado.
Contudo, a dúvida persiste: como alguém com convicções REALMENTE conservadoras seria capaz de conceber um livro como “O Casamento”, em que o pai quer, secretamente, comer a filha, que vai se unir em um matrimônio de fachada com um pederasta enrustido, num universo infestado de mentes perturbadas como a do homosexual que se vinga de seu genitor, que o colocou pra fora de casa ao saber de sua opção sexual, sendo currado por um negrão bem dotado na frente dele, agora imobilizado por um derrame? Isso sem falar da inesquecível imagem da curra na chuva protagonizada por vários crioulos e uma Lucélia Santos aos berros gritando “neeegrooooo”, em “Bonitinha mas ordinária” (uma nova versão está para ser lançada, estrelada por João Miguel, Leandra Leal e Letícia Colin). Ou de “O beijo no asfalto”, que coloca a vida de Aprígio, vivido no cinema por Tarcisio Meira, de pernas pro ar por uma simples insinuação de homosexualismo. Ou da lascívia indecente de Sonia Braga como “A Dama do lotação”. Enfim, são muitas histórias e personagens inesquecíveis, imortalizados no teatro e tornados de amplo domínio público pelas mídias de massa, notadamente o cinema e a televisão. Da TV, destaco a Minissérie “Engraçadinha”, interpretada por uma estonteante Alessandra Negrini em início de carreira na juventude e por uma fogosa Claudia Raia em sua fase madura, e a série de crônicas “A Vida como ela é”, brilhantemente adaptada para o Fantástico por Daniel Filho. São histórias aparentemente corriqueiras mas no fundo bizarras repletas de morte, obsessão, traição e adultério, como aquela em que uma personagem se suicida ao tacar fogo na própria banheira cheia de álcool.
A História da vida de Nelson Rodrigues já daria, por si só, um ótimo livro. E deu: “O Anjo pornográfico”, de Ruy Castro, que conta em detalhes toda a História (com H maiúsculo) de suas suas tragédias e triunfos pessoais. É fundamental para quem quer se aprofundar na obra deste pernambucano nascido em Recife no dia 23 de agosto de 1912, mas que passou a vida inteira no Rio de Janeiro, para onde se mudou já em 1916 e onde morreu em 21 de dezembro de 1980.
por Adelvan
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Nelson Rodrigues, nosso Dickens do subúrbio
Nelson
Rodrigues (1912-1980) mostrou aos brasileiros como era o Brasil, em
linguagem simples e direta. Ninguém mais fez isso tão bem como ele.
No ano em que completaria 100 anos – depois
de intensa relação de amor e ódio com a intelectualidade brasileira — a
obra de Nelson conquista certa unanimidade, a mesma que ele,
ironicamente, considerava burra.
Na noite de 28 de dezembro de 1943, a nata da elite intelectual carioca — embaixadores, escritores, poetas e jornalistas — lotou o Teatro Municipal do Rio de Janeiro para assistir à estreia de Vestido de Noiva. O autor, o então jovem dramaturgo Nelson Rodrigues, de 31 anos, passou todo o tempo na antecâmara de um camarote, apavorado, ora de frente, ora de costas para o palco, a úlcera pegando fogo. Ao término do primeiro ato, duas palmas foram ouvidas. “Estou frito”, pensou Nelson. Acabou o segundo ato e as palmas minguaram. Nem as irmãs do autor aplaudiram. Ao fim do último ato, o pano caiu, e com ele um silêncio esmagador. Algumas palmas foram ouvidas, e outras, e mais, aumentando até o teatro ser tomado por um estrondo de aplausos frenéticos que ecoou por minutos.
Nos dias seguintes, Nelson foi acolhido por aquela elite intelectual. O poeta Manuel Bandeira e os críticos Álvaro Lins e Décio de Almeida Prado, que conheciam o texto, já haviam feito elogios públicos antes da estreia. Gilberto Freyre, Augusto Frederico Schmidt e Guilherme Figueiredo logo engrossaram o coro de admiradores. Mesmerizados com o que viram — um show de 132 efeitos de luz, 140 mudanças de cenas e 32 personagens conduzidos pelo diretor polonês Ziembinski —, Otto Maria Carpeaux, Carlos Drummond de Andrade e Alceu Amoroso Lima juntaram-se àqueles que passaram a ver em Nelson a grande novidade do teatro brasileiro.
Era isso e mais. Com Vestido de Noiva, Nelson Rodrigues entrava para o clube dos pensadores brasileiros, pertencente a uma geração — a dos anos 30 — que achava importante decifrar o país. Nos anos anteriores ao seu primeiro sucesso nos palcos surgiram as três obras magnas dessa corrente: Casa Grande & Senzala (1933), de Gilberto Freyre, Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Hollanda, e Formação do Brasil Contemporâneo (1942), de Caio Prado Júnior. Nelson viu-se nesse time atacando em duas frentes por muito tempo desprezadas pelos estudiosos, pela distância que guardavam do mundo acadêmico: a crônica de jornal e o teatro.
Em ambos os casos, interessava-lhe menos o estilo rebuscado do ensaio e mais a linguagem direta das ruas. Pode-se dizer que Nelson fez a crônica de seu tempo mesmo quando escreveu teatro. Nas duas formas, ele teve o mérito de resumir, de forma acessível, o Brasil para os brasileiros. Mas será que ele próprio se levava a sério como pensador das coisas brasileiras? A crítica de teatro Barbara Heliodora acha que sim. “Ele levava sua obra muito a sério, e ela revela que ele tinha, mesmo que não verbalizados, certos princípios dominantes para sua visão das coisas”, diz.
O jornal como princípio de tudo
Nelson é resultado da sucessão de revezes que marcou sua vida pessoal e do jornalismo que praticou desde cedo. Fumava quatro maços de cigarro ordinário por dia. Ficou tuberculoso aos 23 anos. Era cardíaco, enxergava muito mal e cultivou uma úlcera durante quase toda a vida. Foi repórter policial, editorialista político, cronista esportivo e autor de folhetins, crônicas, contos, romances, novelas e peças teatrais. Começou a escrever teatro premido pela falta de dinheiro, mas logo foi tomado de ambição literária. A partir de então, seu objetivo passou a ser o reconhecimento dos grandes intelectuais da época — que ele atingiu ainda jovem, no episódio descrito no início desta reportagem.
Nelson sempre esteve no jornal — e o jornal, em sua época, era o ponto de encontro dos intelectuais. Suas colunas e crônicas misturavam literatura, colunismo social, crítica literária e comentários políticos. Fustigava seus desafetos publicamente. Até Otto Lara Resende, de quem era amigo e admirador, foi alvo da sanha rodrigueana. De acordo com Victor Hugo Adler Pereira, professor de literatura da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o jornalismo não somente atraía uma parcela da intelectualidade que desejava interferir nos rumos da vida pública, como também oferecia possibilidades de ganho aos jovens intelectuais. “Durante os anos 50 e 60 pode-se reconhecer que a consagração pública de alguns poetas e escritores de peso, como Drummond, Cecília Meireles e até mesmo Clarice Lispector, deveu-se, em parte, à atuação nos jornais como cronistas”, afirma. Segundo o dramaturgo Caco Coelho, que coligiu num livro os primeiros escritos do autor, Nelson não via diferença entre literatura e jornalismo — e naquela época ela, de fato, quase não existia.
Como era o Brasil de Nelson?
O que torna a obra de Nelson relevante para entender o país em seu tempo é que ele buscou o chamado “Brasil profundo” no subúrbio carioca. A chamada literatura regionalista, contemporânea dos grandes ensaístas Gilberto Freyre, Sérgio Buarque e Caio Prado Júnior — e que também tentava, a seu modo, “explicar” o país —, se debruçava sobre o Brasil rural. Nelson era eminentemente urbano. A partir de A Falecida (1953) surge no teatro uma parcela da sociedade quase invisível na produção cultural nacional: a classe média, até então só focalizada por Lima Barreto. Para Fábio de Souza Andrade, professor de literatura da USP, Nelson tinha faro e pena de caricaturista e, em suas mãos, o subúrbio do Rio sobrevive à pesada estilização por trás do moralismo histriônico. “Nelson Rodrigues tinha alguma coisa de vitoriano deslocado, de Dickens da Pavuna, sem demérito para nenhum dos dois. A atualização de arquétipos míticos e uma linguagem sensível às imagens fazem do seu teatro coisa difícil de igualar”, diz.
Em sua visão do subúrbio, Nelson incorporou até Sigmund Freud, o que era extremamente ousado para a época. “Nelson, mesmo sem dominar em profundidade as lições psicanalíticas, tinha do assunto aquela informação genérica, acervo de todo cidadão de conhecimento mediano, que autorizava a tratar de incesto e assuntos familiares”, afirma o crítico Sábato Magaldi. Foi por causa disso que uma peça como Álbum de Família (1945), que levou o incesto para os palcos e inaugurou, nas palavras do próprio Nelson, a fase do “teatro desagradável”, causou tanto escândalo e foi proibida por duas décadas. A influência freudiana também está em Anjo Negro (1947), na relação incestuosa entre a jovem Ana Maria e seu pai presumido, o negro Ismael; e em Senhora dos Afogados (1947), na paixão de Moema pelo próprio pai. O mesmo vale para Vestido de Noiva, em que duas personagens mortas, Alaíde e Clessi, enunciam com liberdade — justamente porque mortas — o plano do inconsciente.
O Brasil de Nelson era, assim, cosmopolita, de temática urbana e ligado às idéias de seu tempo. Mas havia mais. Como bom cronista, ele resumiria o país numa frase de efeito que hoje é um slogan sobre o Brasil tão citado quanto o “país do homem cordial”, de Sérgio Buarque, ou o “país das idéias fora do lugar”, de Roberto Schwarz — um dos muitos críticos das posições políticas do autor durante o regime militar. Nelson é autor da expressão “complexo de vira-latas”, que surgiu durante a cobertura da Copa do Mundo de futebol, em 1958. A epopeia do Brasil em busca de seu primeiro título mundial parece feita sob medida para um manual de sociologia — ou para ilustrar o livro Casa Grande & Senzala.
Oito anos antes, o Brasil havia perdido a Copa do Mundo para o Uruguai, derrota atribuída na época a dois jogadores, por acaso, negros — o goleiro Barbosa e o lateral Bigode. Na Copa de 1958, coincidência ou não, o Brasil definiu um time titular com dez jogadores brancos e um único negro — o botafoguense Didi, inegavelmente o grande craque do país na época. No banco, nas primeiras partidas, ficaram o mulato Garrincha e o negro Pelé. Quando os dois entraram em campo, a partir do terceiro jogo, o time passou a ganhar todos os jogos e conquistou o título. Uma fábula destinada a ilustrar a obra de Gilberto Freyre, para quem o Brasil, no futuro, deixaria de considerar a mestiçagem uma desvantagem para glorificá-la, orgulhando-se deste traço da identidade nacional. Nas suas crônicas, Nelson fez, por meio do futebol, com que o país se orgulhasse de ser um caldeirão de raças. Nesse ponto, é interessante notar que seu irmão, Mário Filho, uma figura estelar na crônica esportiva, é autor do clássico O Negro no Futebol Brasileiro (1947).
Por que não temos mais um cronista como ele
• O Brasil era pequeno, tudo acontecia no Rio de Janeiro. Nos anos 30, a então capital federal contava com pouco mais de 2 milhões de habitantes, e era ali que circulavam todas as discussões sobre a formação de um ideário nacional. Além disso, estava em curso na época um projeto urbanístico que expandiu os subúrbios cariocas, levando sua cultura — as modinhas, as serestas de violão, os cordões carnavalescos, o reisado, as brigas de galo — para o centro, para o universo da elite intelectual, e foi desse universo que Nelson extraiu a atmosfera de suas obras.
• A imprensa escrita tinha uma tremenda influência no meio intelectual. Hoje a força do jornal é relativamente menor. Ganharam prestígio as universidades, que passaram a ser as instituições de produção e intercâmbio de conhecimento. Surgiram também outros meios de comunicação — as revistas, a TV e depois a internet. No que se refere à internet, não deixa de ser curioso que os blogs tenham desenvolvido novos formatos de crônica, baseadas quase sempre num certo intimismo confessional.
• No mundo globalizado, os intelectuais não têm mais a pretensão de resumir o país em ideias básicas. Nunca mais surgiram ensaístas — ou cronistas, ou dramaturgos — com a pretensão de decifrar a alma brasileira simplesmente porque hoje ninguém mais busca isso.
Tudo isso é verdade, mas nenhuma dessas razões oculta a evidência mais simples de todas — a de que gênios são mesmo raros. Por enquanto, embora inúmeros talentos do jornalismo e do teatro tenham surgido, nenhum deles suplantou o artista múltiplo que foi Nelson Rodrigues. Na história do pensamento brasileiro, Nelson já foi pulha, já foi santo. Mas, como ele escreveu certa vez, “o gênio, não sei por quê, é mais difícil do que o santo ou o pulha”.
por Edward Pimenta
Fonte: EPIMENTA
Frases
- Toda mulher bonita é um pouco a namorada lésbica de si mesma.
- Não diga jamais a um pretendente seu que se julga feia. Ele poderá não ter percebido e fará então a descoberta.
- A bola tem um instinto clarividente e infalível que a faz encontrar e acompanhar o verdadeiro craque.
- Que Brasil formidável seria o Brasil se o brasileiro gostasse do brasileiro.
- Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico(desde menino).
- O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: — o da imaturidade.
- Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhores que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém.
- Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de "ilustre", de "insigne", de "formidável", qualquer borra-botas.
- A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem.
- O brasileiro não está preparado para ser "o maior do mundo" em coisa nenhuma. Ser "o maior do mundo" em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade.
- Há na aeromoça a nostalgia de quem vai morrer cedo. Reparem como vê as coisas com a doçura de um último olhar.
- O homem não nasceu para ser grande. Um mínimo de grandeza já o desumaniza. Por exemplo: — um ministro. Não é nada, dirão. Mas o fato de ser ministro já o empalha. É como se ele tivesse algodão por dentro, e não entranhas vivas.
- Assim como há uma rua Voluntários da Pátria, podia haver uma outra que se chamasse, inversamente, rua Traidores da Pátria.
- Está se deteriorando a bondade brasileira. De quinze em quinze minutos, aumenta o desgaste da nossa delicadeza.
- O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras passam por ele.
- A mais tola das virtudes é a idade. Que significa ter quinze, dezessete, dezoito ou vinte anos? Há pulhas, há imbecis, há santos, há gênios de todas as idades.
- Outro dia ouvi um pai dizer, radiante: — "Eu vi pílulas anticoncepcionais na bolsa da minha filha de doze anos!". Estava satisfeito, com o olho rútilo. Veja você que paspalhão!
- Em nosso século, o "grande homem" pode ser, ao mesmo tempo, uma boa besta.
- O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda.
- Toda mulher bonita leva em si, como uma lesão da alma, o ressentimento. É uma ressentida contra si mesma.
- Acho a velocidade um prazer de cretinos. Ainda conservo o deleite dos bondes que não chegam nunca.
- Chegou às redações a notícia da minha morte. E os bons colegas trataram de fazer a notícia. Se é verdade o que de mim disseram os necrológios, com a generosa abundância de todos os necrológios, sou de fato um bom sujeito.
- Invejo a burrice, porque é eterna.
- Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos...
- O amor entre marido e mulher é uma grossa bandalheira. É abjeto que um homem deseje a mãe de seus próprios filhos.
- O brasileiro, quando não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte.
- Qualquer indivíduo é mais importante do que a Via Láctea.
- Só o cinismo redime um casamento. É preciso muito cinismo para que um casal chegue às bodas de prata.
- Todo ginecologista devia ser casto. O ginecologista devia andar com batina, sandálias e coroinha na cabeça. Como um São Francisco de Assis, com luva de borracha e um passarinho em cada ombro.
- Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém.
- Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu.
- A prostituta só enlouquece excepcionalmente. A mulher honesta, sim, é que, devorada pelos próprios escrúpulos, está sempre no limite, na implacável fronteira.
- As grandes convivências estão a um milímetro do tédio.
- Convém não facilitar com os bons, convém não provocar os puros. Há no ser humano, e ainda nos melhores, uma série de ferocidades adormecidas. O importante é não acordá-las.
- Sem paixão não se chupa nem um chicabon.
- A mulher ideal deve ser dama na mesa e puta na cama."
- Todas as mulheres deveriam ter catorze anos.
- O casamento é o máximo da solidão com a mínima privacidade.
- O Fluminense é o único time tricolor do mundo. O resto são só times de três cores.
- O Fla-Flu surgiu quarenta minutos antes do nada.
- No dia da inauguração do paraíso, houve um FLA-FLU de portões abertos, e escorria gente pelas paredes.
- Eu vos digo que o melhor time é o Fluminense. E podem me dizer que os fatos provam o contrário, que eu vos respondo: pior para os fatos
- Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia.
- Não há nada mais relapso do que a memória. Atrevo-me mesmo a dizer que a memória é uma vigarista, uma emérita falsificadora de fatos e de figuras.
- O ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota. Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos. Nunca vi um sujeito vir à boca de cena e anunciar, de testa erguida: 'Senhoras e senhores, eu sou um canalha'.
- A companhia de um paulista é a pior forma de solidão.
- Até 1919, a mulher que ia ao ginecologista sentia-se, ela própria, uma adúltera.
- Toda mulher gosta de apanhar, apenas as neuróticas reagem.
- Hoje é muito difícil não ser canalha. Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo.
- O 'homem de bem' é um cadáver mal informado. Não sabe que morreu.
- O homem só é feliz pelo supérfluo. No comunismo, só se tem o essencial. Que coisa abominável e ridícula!
- O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras passam por ele.
- Eu, como artista, se tivesse de escolher um epitáfio, optaria pelo seguinte: - 'Aqui jaz Nelson Rodrigues, assassinado pelos imbecis de ambos os sexos.
- As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado".
- O homem começou a própria desumanização quando separou o sexo do amor."
- A mediocridade, além de numerosa, é solidária.
- O subdesenvolvimento não se improvisa, é uma conquista de séculos."
- Amar a humanidade é fácil; difícil é amar o próximo
- Se os filhos da puta voassem, nunca veríamos o sol.
- A plateia só é respeitosa quando não está a entender nada.
- Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.
- Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe.
- Nem todas mulheres gostam de apanhar, só as normais.
- Só acredito nas pessoas que ainda se ruborizam.
- Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola.
- Deus me livre de ser inteligente.
- Só os profetas enxergam o óbvio.
- Geladeira é o principal móvel do pobre.
- Todo amor é eterno. E se acaba, não era amor.
- A fidelidade devia ser facultativa.
- O mineiro só é solidário no câncer.
- Amar é ser fiel a quem nos trai.
- O brasileiro é um feriado.
- O dinheiro compra até o amor verdadeiro.
- O pudor é a mais afrodisíaca das virtudes.
- A liberdade é mais importante do que o pão.
- A cama é um móvel metafísico.
- Não existe família sem adúltera.
- Só o inimigo não trai nunca.
- Toda unanimidade é burra.
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