O conjunto de música antiga Renantique talvez seja o exemplo mais bem acabado de perseverança na seara da música em Sergipe. São doze anos de muita pesquisa dedicados a um gênero sem qualquer apelo mercadológico, apostando na educação de um público ainda incipiente, na esperança de que a beleza da música cativasse nossos corações. Felizmente, o trabalho foi recompensado. Nos últimos anos, o conjunto vem conquistando novos adeptos para seu público seleto, como demonstra um especial veiculado pela TV Aperipê, e se prepara para registrar seu trabalho num disco.
Esta semana, o Renantique – formado pelo alaudista Emmanuel Vasconcelos Serra, o percussionista e flautista Pedro Marcelo, o rabequista medieval Gustavo Adolfo Andrade, a soprano Juliana Almeida, o barítono e flautista Marcus Éverson e o tenor e flautista Ednei Arnon – se apresenta XXIII Festival Internacional de Música do Pará. Era a desculpa que a gente precisava para entabular uma prosa e revisar a trajetória do conjunto.
Jornal do Dia – O Renantique já está em atividade há bastante tempo, apostando alto desde a sua formação, na medida em que sempre se dedicou a um gênero de música que exige alguma educação do público. Quem já assistiu a um concerto do conjunto sabe que ele possui um caráter pedagógico, e costuma associar a execução das peças a uma pequena explanação a respeito da composição. Isso se deve à densidade da proposta do conjunto? Foi muito difícil criar um público para a música antiga aqui em Sergipe? É possível afirmar que o conjunto possui alguma responsabilidade na formação do público local de música erudita?
Marcus Éverson – Sim. Não foi fácil criar um público invejável como o nosso. Foram anos tocando ali e acolá até que as pessoas começassem a perceber que a coisa era séria e demandava pesquisa. Não é possível afirmar ainda se o grupo tem alguma responsabilidade pela formação musical do sergipano. O que sei dizer é que a cidade tem demonstrado que o público apreciador de música erudita é maior do que se pensa. Tenho motivos para acreditar nisso quando vou assistir apresentações da ORSSE e as Terças Clássicas que ocorrem na Biblioteca Epifánio Dória.
JD – Vira e meche, o Renantique é convidado para participar de festivais além de nossas fronteiras. Como se dá o diálogo com outros conjuntos de música antiga em atividade no país? Existem muitas experiências parecidas com a do Renantique Brasil afora?
Éverson – O diálogo do Grupo com outros grupos sempre ocorreu por emails e viagens como essa que vamos fazer para Belém do Pará. Existem muitas experiências como a nossa em outras cidades.
JD – Eu imagino que uma das maiores dificuldades no cotidiano do conjunto esteja relacionada à pesquisa. Como é que vocês entraram em contato com um universo tão singular?
Éverson – Com o advento da Internet as distâncias e o acesso a documentos (partituras e métodos de música) antes raros ficou mais fácil. Para entrar nesse universo é preciso primeiramente gostar do que faz. Pensamos sempre que boa parte desse material (música e poesia) são inseparáveis e que, portanto, o caráter da musica pode ser atingindo tal como se ouvia na época considerando a instrumentação e o tema do poema. Em outras palavras, o texto nos diz muito sobre o andamento da musica, se de caráter triste (lento) ou alegre (dançante) e por aí vai.
JD – A Secretaria de Estado da Cultura vem realizando um investimento considerável na Orquestra Sinfônica de Sergipe, que por sua vez vem realizando um belo trabalho, estreitando laços com o público local, realizando concertos populares e recebendo convidados ilustres. Como vocês acompanham esse investimento e o crescimento da ORSSE? Na sua opinião, as denúncias relacionadas à condução da Orquestra pelo maestro Guilherme Mannis possuem algum fundamento?
Éverson – Bem, quanto ao investimento da Secretaria de Estado considero louvável e necessário. O microcosmo de uma boa Orquestra Sinfônica representa também para o estado o mesmo sentido de harmonia que se busca atingir quando se fala em administração publica. Se cada naipe fizer a sua parte como deve ser feito tudo soará bem. Na administração pública as coisas também precisam funcionar como os naipes de uma orquestra, se cada órgão (naipe) da administração funcionar bem a sociedade se constituirá harmônica. Quanto as denúncias relacionadas à condução da orquestra prefiro que continuem ocorrendo desde que a orquestra continue funcionando e tocando bem, tal como tem ocorrido. Pessoalmente, não tenho e não tive nada contra o Maestro Mannis e penso que tem feito um bom trabalho aqui. Denúncias contra maestros são corriqueiras em todo Brasil. Também são corriqueiras denúncias contra outros administradores. Acredito que as pessoas fazem as coisas para acertar mas, vez ou outra, nem sempre o que se pensa fazer entra em acordo com um determinado grupo de pessoas. Nesse jogo de erro e acerto o Mannis pode ter tido problemas, mas isso não desmerece o trabalho que tem realizado.
JD – Quais os planos do Conjunto de Música Antiga Renantique para 2010?
Éverson – Gravar o primeiro CD. Estamos trabalhando para isso. Será um grande presente para a cultura e a memória do povo sergipano.
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por Rian Santos - riansantos@jornaldodiase.com.br
Spleen & Charutos
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