Me chamou a atenção agora há pouco uma matéria na televisão que mostrava uma entrevista coletiva com Kaká, da seleção brasileira, em que ele se queixava de supostos ataques a ele como “crente” e até ao próprio Jesus Cristo “em pessoa” por parte do jornalista Juca Kfouri. Soltou a velha ladainha de “respeite minha crença” e coisas do tipo. Kfouri se defende falando em seu blog que em nenhum momento desrespeitou a crença de qualquer jogador, apenas se posiciona contra o merchandising religioso que alguns insistiam em fazer aproveitando o palco privilegiado que ocupam, algo que já incomodou a própria FIFA, que tratou de proibir exageros como as malfadadas camisetas exibidas depois das comemorações dos gols. O episódio me lembrou um trecho do sensacional livro de Richard Dawkins, “Deus, um delírio”, em que ele discorria sobre este estranho “status” que goza a religião em nossa sociedade: tudo é passível de crítica – posições políticas são veementemente contestadas e combatidas, opiniões pessoais são rebatidas, técnicos e jogadores da seleção são severamente questionados, mas se tocar no assunto religião, aí é tabu, é desrespeito, é blasfêmia. Claro que isso é fruto de uma doutrinação que vem da infância, basta notar, como bem o fez Dawkins, que chamar uma criança de “católica”, ou “muçulmana”, ou “judia”, nos parece mais do que normal, enquanto que um termo como “criança marxista”, ou “criança keynesiana”, seria imediatamente taxado como absurdo – e é, assim como também o é rotular os pequenos a partir das convicções religiosas de seus pais.
Vai cuidar do teu púbis que é o melhor que você faz, Kaká.
Abaixo, transcrevo o post de Juca Kfouri:
Frase de Kaká, poucas horas atrás, em entrevista coletiva, em resposta ao repórter da ESPN-Brasil, André Kfouri, meu filho:
“Há algum tempo os canhões do seu pai são disparados contra mim. A artilharia dele está voltada contra mim. Eu queria aproveitar a pergunta para responder às críticas que ele vem fazendo, e o que me deixa triste é que o problema dele comigo não é profissional, mas porque ele não aceita minha religião. Porque eu sou uma pessoa que segue Jesus Cristo. Eu o respeito como ateu, e gostaria que ele me respeitasse como [seguidor de] Jesus Cristo, como alguém que professa a fé em Jesus Cristo. Não só a mim, mas a todos os milhões de brasileiros que acreditam em Jesus Cristo”.
Kaká se engana e enfiou Jesus onde Jesus não foi chamado.
Critico sim o merchandising religioso que ele e outros jogadores da Seleção costumam fazer, tentando nos enfiar suas crenças goela abaixo.
Um tal exagero que a Fifa tratou de proibir, depois do que houve na comemoração da Copa das Confederações.
Mas não abri bateria alguma contra ele, provavelmente mal assessorado, tanto que o considerei o melhor em campo no jogo contra Costa do Marfim.
Apenas noticiei que ele sofre com seu púbis e há quem avalie que isso o levará a encerrar a carreira prematuramente.
Ele negou as dores no púbis ao dizer que sente dores como qualquer jogador profissional e que o prazer de jogar pela Seleção o faz superá-las.
Aí caiu na primeira contradição, pois ao atribuir às dores que sentia a sua má atuação na Copa da Alemanha, quatro anos atrás, declarou que não jogaria mais com dores.
E hoje mesmo, na entrevista coletiva, ao responder sobre se seria operado do púbis depois da Copa respondeu que esta era uma questão delicada e que os médicos divergiam a respeito.
Mas, para quem não tem nada no púbis, como alegou, por que cogitar de tal hipótese?
Talvez só Deus saiba.
Como não acredito nele…
Em tempo: em tudo isso, além das inegáveis qualidades técnicas de Kaká, resta-lhe um mérito: diferentemente do que frequentemente fazem tantos, Dunga e Jorginho entre eles, Kaká não generalizou e deu nome aos bois, no caso, ao boi.
É muito melhor assim.
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