O disco que a trouxe ao mundo, "viagem cigana", de 1983, do grupo Cata Luzes, é muito bom. Um verdadeiro marco da Música Popular Brasileira feita em Sergipe. Duvida? Baixe aqui, ouça e confira por si próprio. E olha que quem fala isso não é nenhum bairrista enlouquecido ou adepto incondicional da MPB, muito pelo contrário - eu sou do rock, e vou morrer sendo. Portanto, para corroborar minhas palavras, solicito o auxílio luxuoso do jornalista Rian Santos, cujo texto, publicado originalmente em seu blog "Spleen & Charutos", reproduzo abaixo:
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A informação veio num comentário fortuito do colega Pascoal Maynard, que guarda no humor cáustico e nos cabelos brancos a bagagem que falta à molecada cheirando a mijo das redações. Este ano, o grupo Cata Luzes completa trinta anos de atividade e pretende comemorar o feito com toda a pompa que a circunstância merece. Projetos destinados a celebrar a data certamente serão enviados aos entes públicos encarregados de zelar pelo patrimônio cultural do lugar, mas enquanto a realeza de nossa música não sobe no palco, vale a pena pegar o rastro da Viagem Cigana (1983) realizada pelo conjunto na época de minhas fraldas e ficar abestalhado com a vitalidade de um trabalho tão rico que simplesmente ignora as intempéries do tempo.
É consenso entre pesquisadores e especialistas que, nos idos de 1970, a música sergipana, enquanto expressão popular massiva, simplesmente não existia. Talvez por isso, a fórmula gasta de confundir o nome de determinado artista com o desenvolvimento da linguagem em que ele se expressa faça tanto sentido no caso do Cata Luzes. O grupo foi o primeiro vencedor do Festival de Música Popular Sergipana, realizado no início dos anos 80 – marco histórico e pedra fundamental da música produzida na terrinha –, abrindo a porteira para a caralhada de bons músicos e compositores que desembocaria na diversidade criativa de nossos dias.
A justiça do julgamento ficou registrada em dois LP’s da maior importância, garimpados ainda hoje pelos colecionadores mais dedicados dos quatro cantos do mundo. Na ambição de tal posse, a singularidade da inspiração de Cláudio Miguel (voz e vioão), Valdefrê (voz e violão), José Amaral (voz e percussão) e Tonho Amaral (voz e percussão).
Viagem Cigana – Um disco histórico. Aqui, o adjetivo extrapola o ornamento e se veste com bastante justeza do significado pretendido. É bem verdade que a participação do saudoso Paulo Moura, que assina os arranjos e a direção artística do rebento, empresta alguma mineirice e distinção ao produto. A força inata das canções, contudo, supera qualquer artifício estranho à criação.
Com apenas 16 canais, o Cata Luzes conseguiu mais do que muito músico entupido de recursos, trancado num estúdio moderno, sem nenhuma idéia na cachola e meio mundo de computadores à disposição. O segredo para alcançar a felicidade do resultado parece guardado na maestria dos músicos que acompanharam o quarteto durante as gravações. Estamos mencionando gente da estirpe de Jaques Morelenbaum, Joel Nascimento e Túlio Mourão, entre outros.
Além disso, uma intenção aventureira permeia as dez faixas de Viagem Cigana, como se a música do Cata Luzes futucasse o bandoleiro ressentido, o andarilho ressabiado, o romeiro vencido por um fardo de léguas e pelos fantasmas do medo que assombram a todos nós. O mesmo medo que, numa canção do conjunto, “Assusta, assalta/ os delinqüentes/ dos vis albergues naturais”.
riansantos@jornaldodiase.com.br
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2 comentários:
O adjetivo luxuoso nem combina com o seu amigo aqui! rsrs
Muitas vezes o simples dá um show. Só que os limitados não conseguem assistir.
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