quarta-feira, 8 de setembro de 2010

True Blood, recomendo

Se você nunca assistiu essa série, não pense que tem algo a ver com "Crepusculo". Até porque é do mesmo cara que criou a também excelente (e "cult") "A Sete palmos", que eu também recomendo imensamente. Abaixo, trecho da matéria de capa da Rolling Stone norte-americana sobre a série, publicada na íntegra na edição deste mês da edição brasileira.

As Alegrias do Sexo Vampiresco - Os segredos do sucesso da série True Blood, que vem conseguindo injetar sangue na desgastada fórmula dos vampiros sensuais.

Há alguns anos, Anna Paquin não estava feliz. Ela viajava muito a trabalho, quase como uma cigana, e estava cansada de sempre ser chamada para interpretar a garota inteligente e articulada em filmes independentes. "Estava procurando algo diferente, um desafio", ela conta. "Tinha feito muitos papéis estranhos e [de personagens] torturados, queria tentar uma coisa nova." Por isso, agarrou a chance de interpretar Sookie Stackhouse, a garçonete caipira e telepata de True Blood, a série vampiresca da HBO - agora altamente bem sucedida, com mais de 12 milhões de telespectadores por semana nos Estados Unidos (em uma rede de TV paga!). "A Sookie é doce, boa e pode te arrebentar usando salto alto e vestido", diz a atriz de 28 anos. "Não é assim que as pessoas me viam." Ela ri um pouco, com a voz cheia de sarcasmo. "Sabe, a garota de cabelo escuro deve ser séria", afirma. É engraçado ver Anna, uma ativista de esquerda com uma rica inteligência emocional, dar uns amasses em um vampiro em True Blood, o que não deixa de ser uma empreitada imensamente tosca. Afinal, ela também é vencedora do Oscar - uma das atrizes mais jovens a ganhar esse prêmio - por seu papel em O Piano, de 1993, aos 11 anos. Antes disso, era uma garota que tocava violoncelo em uma cidade pequena da Nova Zelândia, com pais que insistiam em aulas de música erudita para os três filhos na esperança de que eles formassem um trio de câmara ("Éramos aquele tipo de família", conta) e, depois do sucesso do filme, ela voltou para a escola. "Comecei a trabalhar um pouco, até a atuação virar algo que eu estava procurando conscientemente, não u ma coisa que meus p ais me deixavam fazer para me divertir um pouco", diz.

Depois de estrelar em X-Men como Vampira, Paquin frequentou a Universidade de Columbia por um ano e morou em Nova York, onde quer ser "enterrada", conta, de tanto que ama a cidade. Estava preocupada por se mudar de volta para Los Angeles, onde nunca se sentiu confortável, porque é "no fundo uma garota gótica de 14 anos", afirma. "Eu era skatista - não era ótima, mas era boa em ficar com cara de tédio enquanto os meninos andavam de skate." Ela ainda escuta Metallica e Nirvana no fone de ouvido enquanto malha, e mal disfarça sua irritação com quem possa tentar obrigá-la a fazer algo que ela não queira - como o dentista, com quem se consultou na adolescência, que sugeriu que ela fechasse o diastema, espaço entre os dentes. "Enquanto ele colocava o dedo na minha boca e dizia que poderia consertar aquilo, eu pensava 'ok, e eu podia morder seu dedo agora mesmo'", conta.

Hoje, True Blood não só tornou Anna uma estrela maior do que ela era na época de O Piano, mas ela também conheceu o marido, Stephen Moyer, no set. Ele faz seu par amoroso vampiresco, Bill Compton, veterano da Guerra Civil norte-americana com quem Sookie perde a virgindade. Essa não é a grande única mudança de sua vida: há alguns meses, Anna Paquin causou polêmica quando decidiu se assumir bissexual, algo que afirma "não ser novidade" para ela, mas que sempre escondeu em Hollywood. Foi convidada para fazer um anúncio de utilidade pública pró-gays, no qual celebridades aparecem explicando por que apoiavam os direitos gays, e pensou: "Por que não?" Contaria a todos quem realmente era.

"Não sei qual foi a reação, mas que bom que fiz isso", diz. "Há um impulso tão grande de transformar isso em algo sensacionalista, quando na verdade eu esperava dizer que é normal e nada interessante." Sorri. "Eu me sinto muito sortuda agora. A vida está ótima." Aí está: a liberação pode vir em vários disfarces, e às vezes até via uma série de TV novelesca e trash sobre vampiros.

O mito moderno sobre vampiros foi criado em 1816, quando alguns amigos, entre eles Lord Byron, seu médico John Polidori e Mary Shelley, foram a uma vila no lago Genebra para o verão. Chovia muito e havia nuvens de cinzas devido a erupções vulcânicas, então eles decidiram ficar em casa e se divertir lendo histórias de fantasmas uns para os outros. Isso não era suficientemente assustador, então Byron os desafiou a criar suas próprias histórias. Shelley, que tinha apenas 18 anos, sonhou com a ideia de Frankenstein. Polidori inventou uma história chamada "O Vampiro", que reformulava o mito antigo de vampiros, que até então eram cadáveres fedorentos, com lábios inchados e unhas em forma de garras. A partir daí, se tornaram um novo ícone do sexo - p arte predadores, parte sedutores românticos.

Não é de surpreender que, quase 200 anos depois, os puritanos norte-americanos transformassem essa figura complexa em um maricas insosso como Edward, o personagem de Robert Pattinson em Crepúsculo, a imagem dominante do vampiro nos últimos cinco anos. A saga Crepúsculo é essencialmente uma alegoria sobre castidade, uma espécie de fantasia pré-adolescente sobre manter os homens em um estado de agonia perpétua. O subtexto de Crepúsculo é claro: se Edward transar com Bella, ela poderá ser arruinada para sempre, então os dois simplesmente correm por aí, nunca consumando seu amor. Um escritor afirma que as histórias de vampiros para garotas de Crepúsculo são "o equivalente ao pornô lésbico para homens: ambos criam uma atmosfera de abandono sexual que não é ameaçadora". Stephen King é mais claro sobre o apelo dos vampiros para os jovens, tanto garotos quanto garotas: "A impotência nunca é uma ameaça, pois os anseios sexuais dos vampiros são completamente orais", já alegou. "Eles são especialmente interessantes para adolescentes inseguros sexualmente."

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