sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Dilma Presidente: vamos deixar como está para ver como é que fica

"putz, mais Ctrl+C, mais política", você deve estar pensando. Mas não resisti: Excelente texto de André Forastieri ...

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Dilma Rousseff já ganhou. As explicações são rasas. Só uma convincente é ligada exclusivamente a ela. Como não tem passado eleitoral, Dilma seria “tabula rasa”, imaculada por politicagens, e portanto sem rejeição.

Ser um ilustre desconhecido não é pouca coisa e ajudou na eleição de, por exemplo, Fernando Collor de Mello e Gilberto Kassab, com os resultados conhecidos, toc toc, bato na madeira.

Todas as outras explicações de praxe atribuem a eleição de Dilma no primeiro turno a Lula e sua administração. Você conhece a lista: Lula é um gênio da política, não deixou a inflação subir, aumentou o salário mínimo, a economia bomba, o Bolsa Família etc.

Eu arrisquei mais duas aqui: o grande aumento no número de funcionários públicos e a contagiosa rejeição dos paulistas a Serra. É pouco. Tem mais uma, ótima, talvez a principal, que não encontro por aí.

Eu não voto, mas posso usar meus encanecidos neurônios para tentar entender o que se passa. Me diverte, se não aos pobres amigos deste blog.

O Pnad, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, é o mais importante termômetro da economia nacional. É realizado pelo IBGE e divulgado anualmente.

Alguns resultados do estudo mais recente, relativo ao ano de 2009:

a) a renda média do brasileiro subiu - de R$ 618,00 para R$ 630,00;
b) os 10% mais ricos alcançaram uma renda média mensal de R$ 4702,00
c) os 10% mais pobres tiveram aumento zero na renda, que está na média de R$ 127,00.

Outros índices também mostram melhoras, igualmente ínfimas.

No período de 2004 a 2009, o analfabetismo entre os brasileiros com mais de 15 anos caiu de 11,5% para 9,7%. O indíce Gini, que mede a desigualdade, melhorou, caindo de 0,559 para 0,524 (sendo que zero é igualdade plena, e um desigualdade absoluta). Os domicílios com esgoto (tanto na rede como fossa) subiram de 56,4% para 59,1% do total.

E em 2009, mais de um milhão de pessoas saiu da pobreza, pela Linha de Pobreza adotada pela GV, que considera pobre quem ganha até R$ 140,00 por mês. Agora temos 28,84 milhões de brasileiros nesta situação, em vez dos 29,86 milhões de 2008.

Avançamos? Avançamos. A passos largos? Não, claudicamos como uma tartaruga perneta. Na carência subsaariana em que vive a maioria dos brasileiros, qualquer esmola é sinal dos céus.

Por que o Brasil caminha tão lentamente para resolver seus problemas?

O cenário acima sugere que somos um país pobre e não temos recursos para investir na nossa população. Mas esta explicação está errada.

No Índice Global de Competitividade do Fórum Mundial de Economia, o Brasil está em 58º, entre 139 países. Foram ouvidos 13.500 executivos globais, sendo 168 do Brasil.

Nesta pesquisa, o Brasil é:

- 121º em desvio de dinheiro público
- 125º em crime organizado
- 127º na qualidade do ensino primário
- 136º na taxa de juro
- e 8º em tamanho do mercado.

Este é só um de muitos estudos/pesquisas que comprovam o mesmo fato inegável: o Brasil é um país grande e rico com uma população grande e pobre. Por quê? Como dizia lá o informante de Watergate, “Garganta Profunda”: siga o dinheiro.

De janeiro a julho de 2010, o BNDES desembolsou R$ 39,1 bilhões para grandes empresas brasileiras. O Programa de Sustentação de Investimento (PSI), lançado em 2009, contratou desde seu início R$ 80,7 bilhões, sendo que 47% foram destinados aos 30 maiores grupos econômicos do país.

Em 2009? Foi mais dinheiro. O BNDES emprestou R$ 64,1 bilhões ano passado. É dinheiro público indo para grandes empresas, que, se grandes, na teoria dão lucro, e têm condições de captar recursos no mercado.

E não no BNDES, a custo baixo. O Bolsa Família, programa que é a cara do governo Lula, custa R$ 13 bilhões por ano aos cofres públicos. Perto do que vai para mãos privadas, dinheiro de pinga.

Eu poderia escrever textos parecidos com este, usando outros números, por mais uns vinte dias.

Daria para comparar quanto dinheiro o governo colocou nas montadoras com nossa verba anual de pesquisa; ou o orçamento para distribuição de remédios contra o que o governo promete gastar com submarino nuclear, trem-bala e preparação para Copa e Olimpíadas. Mas a vida é curta e a mensagem, espero, está dada.

Como todos os governos, o de Lula deu muito mais aos ricos que aos pobres. Diferente da maioria, liberou algum para os miseráveis. Estes retribuem com lealdade, amor e votos.

Os muito ricos também agradecem o maná que fertiliza seus cofres, e metem a mão no bolso recheado com grana do contribuinte, aparecendo com dinheirama para campanha e apoio político à ungida do presidente.

Dilma é a candidata dos poderosos porque, como Lula, ela vai continuar enchendo os bolsos deles com dinheiro público, em vez de aplicar onde é mais necessário para o país.

E porque, como Lula, vai continuar pingando uma esmolinha para os pobres, o que alivia as tensões sociais no país e aplaca a consciência dos super-ricos, cada vez mais politicamente corretos, verdes, ongueiros etc.

O voto desta turma é bem mais importante que o voto dos desdentados, e Lula aprendeu isso depois de várias eleições perdidas.

Dilma, nova vovó, está no jornal de hoje toda orgulhosa abraçando o neto. Você acredita que ela vai mudar o destino dos milhões de crianças brasileiras que vivem sem dinheiro, sem esgoto, sem educação?

Torço que sim, sei que não. E é por isso que não voto em Dilma nem em ninguém. O coração tem seus usos, mas quando se trata de política, prefiro usar o cérebro.

Fonte: Blog do cara.

Um comentário:

Anônimo disse...

boa matéria ....
tomei a liberdade de buzzar algumas frazes !!!!!!!!1