“Isso não é coisa de Deus não”, foi o que me veio à cabeça quando
a cabecinha vermelha do braço do meu pick up repousou sobre a bolachinha de
vinil também vermelha que me foi enviada por minha amiga de longa data Marli,
do No Sense. Os sulcos transmitiram aos alto-falantes o monstruoso som de uma
banda cearense da qual já tinha ouvido falar, mas nunca ouvido o som: Obskure. “Uterus
and grave”, sua primeira demo-tape, de 1990, foi relançada em vinil num belíssimo
split com o “debut” dos pioneiros do grind core de Santos, “Confused Mind”.
As capas e encartes reproduzem fielmente o design original
xerocado – com uma ligeira adptação ao novo formato, evidentemente – obra do
gigante George Frizzo! Como a do Obskure ficou na frente, consideirei-a o lado
A e ouvi primeiro. Me impressionei: trata-se de uma musica sombria e
extremamente barulhenta, com três faixa relativamente longas – para o padrão do
“grind” – que combinam um instrumental poderoso a letras opressivas vociferadas
por um vocal pra lá de gutural.
Já a do No Sense, do mesmo ano, é uma velha conhecida, mas
que tomou uma nova dimensão ao ser ouvida assim, em pleno século XXI e em
glorioso vinil colorido. Tem 20 faixas(!!!!), sendo as 10 primeiras barulhinhos
“from hell” intitulados “noise song”. A primeira coisa mais parecida com uma
musica é a faixa título, “confused mind”, na qual já podemos sentir o vocal de
Marly ainda “verde” – se comparado aos dias de hoje e mesmo ao que foi gravado
na época, posteriormente – e com uma pronuncia em inglês pra lá de tosca,
beirando o risível – “Devastation and massacre”, em suas palavras, virou “devastation
and massêicre”! Normal, ela tinha apenas 13 anos quando gravou esta pérola!
Era, aliás, uma das peculiaridades que mais contribuíram para chamar a atenção
para a banda, na época. Isso e o fato de que eram REALMENTE bons, com um som
que fugia do barulho óbvio e monocórdico, como pode ser constatado na própria
faixa citada, um pequeno clássico que se destacava do conjunto por ter um ritmo
mais cadenciado e uma melodia mais reconhecível.
Grande resgate de uma página gloriosa – e obscura! – de nossa
música feita à margem dos padrões pré-estabelecidos pela ditadura do “bom gosto”
– ênfase nas aspas. Por obra e graça de um selo alemão, “Winter productions”,
sediado em Hamburgo.
DON´T MAKE
MUSIC, MAKE NOISE !!!!!!!!
A.
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