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Foto por Thiago Souza Santos |
O tempo é um filtro poderosíssimo! Sob sua ação, vão-se os
“embalistas” – termo bastante usado pelos punks locais nos anos 1980/90 para
definir os que entravam no movimento de forma passageira, “no embalo” – e ficam
os que realmente têm dentro de si a essência da coisa. Na ultima sexta-feira,
dia 01 de agosto do ano da graça de 2014 da era cristã, houve um memorável
encontro das duas bandas mais importantes da cena punk/Hard Core sergipana. Foi
também um encontro de gerações, tanto no palco(que não existe) quanto no
público – numeroso!!! - que veio prestigiar seus heróis suberrâneos,
underground. O trigo, separado do joio – que preferiu ficar em casa ou nem
sequer tomou conhecimento do evento(falo, evidentemente, dos que puderam ir e preferiram
não faze-lo).
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Foto por Thiago Souza Santos |
“Viva Macaô!”*, bradou Silvio em “O vinho da história”. E eu
estava bem ao lado da filha de Macaô, hoje já bem crescidinha. À minha frente,
crianças pequenininhas, filhas de ilustres figuras da “cena”, acompanhavam tudo
num animado ritmo “galinha preta pintadinha do capeta” (lembre-se, o diabo é o
pai do rock). A imagem, que eu vi com meus olhos que a terra há de comer mas
que espero que você possa visualizar em sua mente a partir do meu relato, é um
retrato perfeito do que estou tentando transmitir sobre o que foi aquela noite:
uma celebração da arte transgressora que passa de geração a geração.
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Foto por Snapic |
Tudo começou quando se confirmou uma nova reunião da Triste
Fim de Rosilene para o show comemorativo dos 15 anos do selo Estopim, em Salvador. A partir daí
se desencadeou uma pressão latente para que eles se apresentassem também em Aracaju. O resultado
foi uma noite inesquecível, para entrar nos anais (ops!) da História do rock
sergipano, com a mais que acertada decisão de concretizar o feito em mais uma
edição do vitorioso projeto “Clandestino” e com a presença da Karne Krua,
verdadeiro patrimônio histórico – História viva, ativa e pulsante - da cena
local. E mais: com a participação, no show da Karne, de DOIS bateristas – o
atual, Oitchi, discípulo brilhante e aplicado, e o mestre, Thiago Babalu. E
MAIS: OS DOIS TOCANDO AO MESMO TEMPO E SE REVEZANDO, DIVIDINDO O MESMO BUMBO.
Quando cheguei ao local, um half de skate abandonado na belíssima área verde –
coisa rara, em Aracaju – que margeia o rio Poxim no Inácio Barbosa e vi que
seria assim, imediatamente intuí que aquela noite seria ainda mais especial do
que eu já esperava que fosse ...
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Foto por "Cabelera" |
E foi! O show da Karne Krua foi matador! O “clone” drum,
quando simultâneo, não foi exatamente preciso – pouco ensaio, compreensível –
mas a energia gerada por aquela dupla de britadeiras humanas impulsionou banda
e publico na direção de uma catarse poucas vezes vista. Nem as panes da
aparelhagem estragaram a festa – muito pelo contrário, deram um “charme”
especial à apresentação, já que o povo seguia cantando junto com Silvio, Babalu
e Oitchi quando o som sumia. Antológico!
Um publico considerável, que ia chegando à medida que a
noite avançava, já se aglomerava pelos arredores enquanto a Triste Fim
rearrumava o kit de bateria e plugava seus instrumentos. Coisa linda de ver!
Bem familiar, inclusive, com a presença de várias crianças. A se lamentar,
apenas, o desleixo de alguns presentes que jogavam despreocupadamente suas
latinhas no chão bem ali, do lado do mangue. É como se dissessem “foda-se, quem
teve a idéia que limpe meu lixo depois, ou deixe aí, pro poder publico mandar limpar
– se limpar”. Estão precisando prestar um pouco mais de atenção ao que dizem as
letras das músicas que foram ali ouvir – se é que foram ali para ouvir musica,
vai saber. O espírito da “balada” hedonista e egoísta – que é do que eventos
como o clandestino busca distancia, afinal – é onipresente, infelizmente. Espero que alguns deles tenham, pelo menos, tido a decência de contribuir com a caixinha voluntária que estava sendo passada de mão em mão ...
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Foto por Thiago Souza Santos |
Talco no salão – Estava
distraído circulando e batendo papo e fui pego de surpresa com o inicio brusco
do show da Triste Fim, sob uma chuva de talco arremessada por um dos presentes –
isso é “armada” de Iuri! Não estou reclamando, ficou legal, até porque não fui “atingido”.
Banda entrosadíssima, parecia que eles nunca tinham parado, tal a precisão na
execução das músicas, rapidíssimas e gritadíssimas por uma Daniela endiabrada –
musa total, sensacional!
Mas veja bem: outro
tipo de "musa". Despojada, sem pedestal, no mesmo nivel, gente como a
gente. Do tipo que vira musa porque incorpora idéias com as quais muita gente se
identifica. Uma musa punk, no melhor sentido da palavra. Muito por conta disso - da mensagem - boa parte do público, em êxtase, acompanhava cantando
junto e “agitando”, com cuidado para não esbarrar nas crianças. Destaque para
Ravi, filho de Fúria e Jaqueline, solando altos “air guitars” na frente do
palco.
O show foi curto, mas intenso – como deve ser. Tudo
devidamente registrado em fotos e vídeos, de forma igualmente espontânea, da
parte do público, para a posteridade. Abaixo, links para alguns destes
registros, que ajudam a eternizar uma noite que não devia ter terminado ...
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