Não posso dizer que me surpreendi com a notícia,
infelizmente. Roberto bebia e comia muito, de tudo, e não controlava nem a
diabetes nem a hipertensão. Cansei de recusar convites para acompanha-lo nas
madrugadas de Aracaju por botecos e biroscas. Aceitei alguns, como na noite em
que degustamos uma deliciosa macaxeira com carne ensopada num treiler ao lado
da rodoviávia velha, no centro, de madrugada – quem conhece o “pico” sabe que não
é um ambiente freqüentado pelas famílias da alta sociedade sergipana ...
Apesar dos pesares – e foram muitos, oriundos principalmente
de sua cabeça dura e instransigência que, se por um lado fazia com que as
coisas acontecessem, mesmo que na marra, por outro inviabilizavam a
continuidade dos projetos – ele deixou sua marca no cenário cultural da cidade
que adotou e com a qual tinha uma relação conturbada, de amor e ódio. Foi aqui,
em Aracaju, que o o Cine Cult nasceu. Fez tanto sucesso que acabou sendo
adotado “oficialmente” pela rede cinemark e estendido para salas de cinema de
todo o Brasil. Foi aqui, também, que ele desenvolveu projetos pioneiros como as
sessões “Notívagos”, onde bandas de renome do cenário alternativo local e
nacional se apresentavam no saguão do cinema – que fica no interior de um
shopping center! Por lá passaram, dentre outros, Cidadão instigado, Eddie, Pata
de Elefante, Retrofoguetes, Do Amor, Karne Krua, Plástico Lunar, The Baggios e
Mamutes. Trouxe também para a cidade a “Virada Cinematográfica”, na qual três
filmes eram exibidos na seqüência a partir da meia-noite. Ao final, éramos
brindados com um delicioso café da manhã de confraternização. Inesquecível!
A última vez que o vi foi em mais um aniversário do Cine
Cult, no qual foi exibido o clássico de Alfred Hitchcock, “Os pássaros”. Estava
acompanhado de sua ex-esposa, uma pessoa queridíssima que conheci pouco, mas
pela qual tenho uma grande estima. Gostaria muito de lhe transmitir meus pêsames
por notícia tão triste. Deixo aqui minha pequena homenagem, com meu depoimento
e o de alguns amigos que recolhi pela net. Ao final, nas palavras dele mesmo,
um relato de seus últimos dias, na terra do sol. Parecia feliz. Quero crer que
sim.
(*) Descanse em paz, Roberrrto ...
“Conheci o Roberto no
Psicodália de 2009 pra 2010. Desde então, quando coincindíamos presença em
Aracaju, tentávamos combinar algumas geladas ou uma refeição em um dos lugares
de seu roteiro gastrobotequeiro. A última vez que nos encontramos foi em
fevereiro,em um show do Rafa's Trio no Maneco. Depois seguimos pra porta do
Cook, onde ficamos papeando sobre alguns dos nossos assuntos mais recorrentes:
cinema brasileiro e uma parceria que um dia faríamos em algum projeto em Porto Alegre. De
lá, segui pra casa e ele pra uma das tantas saideiras. É uma pena vê-lo fechar
a conta tão cedo. Para quem o conheceu, a Plástico Lunar será sempre a PRástico.”
Fred Nicholson
“Dia 4/7 treze anos que a mãe
partiu, deixando um buraco imenso, e vc Roberto Nunes, por
motivos tão seus, resolveu ir embora de Bauru, se afastando de todos, ficamos
anos sem ter noticias suas, até que por um site de pessoas desaparecidas
finalmente tivemos noticias suas, ai podiamos seguir mesmo a distâncias as
peripecias suas no cinema, coisa que vc transformou em sua vida, vc vivia pro
cinema, vc vivia pro que acreditava, ai hj
recebemos a noticia do seu falecimento, vc partiu se juntou a mãe ao pai e aos
seus irmãos, o que poderia te dizer hj, que ficou a saudade dos tombos que te
dava quando pequeno, das surras que eu dava nos meninos no caminho da escola
quando mexiam com vc, e até do dia que fiz o pai te bater, por causa do
maracuja que jogou em mim e nem tinha doido kkkk, vc foi cedo dia 31 agora ia
fazer só 46 anos, mas espero que sua vida tenha valido a pena, descanse em paz
meu irmão, mesmo não estando ai pra te dar o ultimo adeus, mas vc era meio
aveso a vélorios, então mais uma vez descanse em paz e fique com Deus.”
Bel Nunes
“Num
rodízio de massas no final da Rua Augusta, na Cantina Piolin, Roberto Nunes me
pede algumas artes. Iria aplicar em camisetas comemorando os 6 anos do Cine
Cult.
Achou estranho pq não cobrei o serviço. Falei que tava precisando elaborar um portfolio com artes mais conceituais e que pra mim bastava assinar as ilustrações. Pedi apenas pra ele me indicar como designer gráfico enquanto eu estivesseem SP. Alguns meses
depois, nem camisetas, nem portfolio, nem porra nenhuma, apenas uma amizade
gorducha, regada a base de cerveja e feijoada no Arouche. Não qualquer
feijoada, a melhor feijoada que comi em São Paulo. Quando
voltei pra João Pessoa, ele ficava me mandando fotos na hora do almoço no
sábado, alimentando minha inveja. Também mandava fotos dos Bolinhos de Risoto
do Boteco Dona Teresa. Safado.
É cara, só foi 1 ano de troca, de conversas engraçadas e encontros ligeiros.
A saudade vai durar bem mais tempo. Pode ter certeza.”
Achou estranho pq não cobrei o serviço. Falei que tava precisando elaborar um portfolio com artes mais conceituais e que pra mim bastava assinar as ilustrações. Pedi apenas pra ele me indicar como designer gráfico enquanto eu estivesse
É cara, só foi 1 ano de troca, de conversas engraçadas e encontros ligeiros.
A saudade vai durar bem mais tempo. Pode ter certeza.”
Jonathas Pereira Falcão
“Hoje partiu um dos melhores
produtores culturais que tive o prazer de conhecer. Roberto Nunes foi o responsável
por levar a Tess, eu e o Fabio à Natal/RN,
para um debate com o público do Cine Cult Natal-rn
após a exibição do longa Hoje Eu Quero
Voltar Sozinho. Muitos já tinham pedido que fôssemos à Natal e foi ele quem
viabilizou nossa ida até lá. Fomos recebidos por ele com um largo sorriso (às 4h30am), e assim foi o fim de semana que passamos em Natal. Conhecendo
pontos turísticos, passeando na praia e curtindo ao máximo. E Roberto fazia
questão que estivéssemos bem e confortáveis. Mal dava tempo de sentir falta de
alguma coisa, pois ele providenciava tudo antes que houvesse a necessidade de
pedir.
Além disso tudo, além do
conforto e praticidade, as conversas. Variados temas, com alto respeito a
opiniões contrárias às dele. Ironizava sem ridicularizar, contra argumentava
sem faltar com respeito. Um exemplo de como tratar seus convidados.
Descanse bem. E Vida Longa ao CINE CULT!!
Descanse bem. E Vida Longa ao CINE CULT!!
Guilherme Lobo
“Meu
querido amigo Roberto Nunes.
Grande amante do cinema, da música, da vida, da Boemia, dos bons papos. Seu
amor pela arte e pela estrada sempre foi contagiante e inspirador. Idealizadou
e coordenou com paixão o belo projeto Cine Cult. Vimos muitos filmes no cine.
Curtimos muitos shows. Biritas & Filosofia. Assistimos juntos nosso
Corinthians ser campeão da libertadores. Sua paixão pelo cinema, pela música e
pela estrada inspirará a gente pra gente.
Descanse em paz meu querido amigo
Tatá Aeroplano
“Eu tenho um saco cheio de histórias pra contar sobre Roberto Nunes. A maioria não fala bem do personagem. Roberto era capaz de acordar um amigo com os punhos na porta do apartamento em plena madrugada. A mulher o havia expulsado de casa mais uma vez. Mulher desalmada. Numa segunda-feira. Nesse ritmo, eu acabaria sem teto também.
“Eu tenho um saco cheio de histórias pra contar sobre Roberto Nunes. A maioria não fala bem do personagem. Roberto era capaz de acordar um amigo com os punhos na porta do apartamento em plena madrugada. A mulher o havia expulsado de casa mais uma vez. Mulher desalmada. Numa segunda-feira. Nesse ritmo, eu acabaria sem teto também.
Não me arrependo de ter mandado Roberto tomar no cu, pagar a conta e sair sem olhar pra traz. Foi ele, no entanto, quem me apresentou à cidade de meus pecados e minha vida inteira. O bicho tinha faro. Macaxeira com carne na rodoviária velha; leitão à pururuca, com direito a baralho, jogo de truco e cachaça pingada de um barril de madeira depois de o restaurante fechar as portas, na Atalaia. Posso dormir o resto de meus dias e não vou recuperar as noites que perdi e ganhei ouvindo Roberto reclamar da vida e dos homens num trailer enferrujado, ao lado da catedral.
Roberto era um cara passional. Só assim pra aturar a relação complicada, pontuada por tantos conflitos de interesses, que o homem por traz do Cine Cult mantinha com o Cinemark. Só assim pra amargar os prejuízos recorrentes da Sessão Notívagos. Era investimento na marca da produtora, mas parecia filantropia. Ele ficava devendo a Deus e o mundo (a mim, sempre pagou direitinho), mas botava as caras e fazia.
Morreu como vivia: Cabeça dura. Dizem que os amigos de verdade nunca vão embora. Eu levantei da mesa e não me arrependi. Nunca mais bebemos juntos. Tinha de ser assim.
Rian Santos
“Roberto Nunes,
produtor cultural. Idealizador do CINE CULT,
projeto que há 7 anos inclui nas salas de exibição do Brasil os filmes que o
"circuitão" deixa de fora - basicamente tudo que não for da Globo ou
de Hollywood. Entusiasta do cinema autoral.
Paulista de Bauru, morou um tempo em Aracaju e promoveu na cidade belas noitadas regadas a cinema & música com as sessões Notívagos e Virada Cinematográfica. Quem foi lembra dos shows de Autoramas, Karne Krua e Banda Eddie, pra não citar títulos como "A Fita Branca", "Valsa com Bashir", "Gomorra" e tantos outros. Numa dessas, eu e Bebegás estreamos o clipe de "Gargantas do Deserto" da Plástico Lunar.
Robertão, meu amigo. Radicado em Natal (RN), fez questão que eu estivesse presente na pré-estreia do longa "Aos Ventos que Virão" aquiem
Sergipe. Polêmico e considerado um cara "difícil"
por muita gente, sempre teve todo meu respeito por não fazer média e produzir
suas histórias através da iniciativa privada.
Acabo de saber que ele morreu nesta madrugada em decorrência de uma hemorragia interna. Tinha apenas 47 anos e vai fazer falta.
Fica em paz, irmão.
Paulista de Bauru, morou um tempo em Aracaju e promoveu na cidade belas noitadas regadas a cinema & música com as sessões Notívagos e Virada Cinematográfica. Quem foi lembra dos shows de Autoramas, Karne Krua e Banda Eddie, pra não citar títulos como "A Fita Branca", "Valsa com Bashir", "Gomorra" e tantos outros. Numa dessas, eu e Bebegás estreamos o clipe de "Gargantas do Deserto" da Plástico Lunar.
Robertão, meu amigo. Radicado em Natal (RN), fez questão que eu estivesse presente na pré-estreia do longa "Aos Ventos que Virão" aqui
Acabo de saber que ele morreu nesta madrugada em decorrência de uma hemorragia interna. Tinha apenas 47 anos e vai fazer falta.
Fica em paz, irmão.
Adolfo Sá
“Reza
a lenda que uma vez existiu uma história chamada: "Dias Difíceis no
Suriname". A Plástico Lunar
era Prástico, Julico (Julio Andrade)
era Jurico, o Rei do Brues, os filmes eram da Grobo Filmes e o celular meu
amigo, só podia ser da Craro.
Nesse longo rio da vida, passado nesse país fantástico, existiam filmes imprescindíveis e shows em num cinema, lançamento de clipes, pessoas fumando e provando que o sistema de incêndio precisava ser revisto e, principalmente, um louco, sim amigos um louco daqueles que era tão chato que arrumava confusão com você do nada.
Um cara daqueles que, por aprontar todas sendo como ele é, deixaria um dia uma série de histórias que você pode contar como a piada do tio chato da festa de Natal, sem que perca a graça: "Ah! Vai lá meo!" "O Júniorrrrrrr...." "Conrintxia mano!" "Se você for pra São Paulo leve sempre cuscuz, ninguém lá vai te ajudar".
Nesses dias difíceis e polêmicos no Suriname, existia uma alma desencontrada por gerações que vagava arengueiro por um certo circulo de jovens com idades aproximadas. Talvez ele fosse tão desencontrado que às vezes assumia posições bi-polares de idades discrepantes. E quem nunca se sentiu assim? Mas nesse lugar, com certeza, a mágica aconteceu e o rock era EXPROSIVO!
Vida longa ao Robeeerrrtto! (só vale ler isso com um sotaque bem característico).
Nesse longo rio da vida, passado nesse país fantástico, existiam filmes imprescindíveis e shows em num cinema, lançamento de clipes, pessoas fumando e provando que o sistema de incêndio precisava ser revisto e, principalmente, um louco, sim amigos um louco daqueles que era tão chato que arrumava confusão com você do nada.
Um cara daqueles que, por aprontar todas sendo como ele é, deixaria um dia uma série de histórias que você pode contar como a piada do tio chato da festa de Natal, sem que perca a graça: "Ah! Vai lá meo!" "O Júniorrrrrrr...." "Conrintxia mano!" "Se você for pra São Paulo leve sempre cuscuz, ninguém lá vai te ajudar".
Nesses dias difíceis e polêmicos no Suriname, existia uma alma desencontrada por gerações que vagava arengueiro por um certo circulo de jovens com idades aproximadas. Talvez ele fosse tão desencontrado que às vezes assumia posições bi-polares de idades discrepantes. E quem nunca se sentiu assim? Mas nesse lugar, com certeza, a mágica aconteceu e o rock era EXPROSIVO!
Vida longa ao Robeeerrrtto! (só vale ler isso com um sotaque bem característico).
Werden Tavares Pinheiro
“Pode-se dizer que o
idealizador do Cine Cult, o cara que trouxe para Aracaju, a possibilidade dos
cinéfilos sergipanos não ficarem tão desatualizados em matéria de estreias do
dito “cinema independente” ou “de arte”, deixou uma parcela considerável de órfãos.
Através da Cine Video Educação, iniciou suas atividades na capital sergipana,
em setembro de 2005, quando implantou no extinto Moviecom, do Riomar Shopping,
o Cinema de Arte. O projeto proporcionou ao público carente de bons filmes no
cinema, o prazer de conferir produções da estirpe de “Dogville”, “O Leopardo”,
“2046” ,
“Pai e Filho”, “Time”, entre outros, até 2007, quando o cinema fechou suas
portas. Depois, Roberto Nunes levou a
ideia ao Cinemark, que a abraçou. Nascia, assim, o Cine Cult, que deu tão certo
na pequena Aracaju- a estreia por aqui foi com o filme “O Hospedeiro” de
Joon-ho Bong – que aos poucos foi sendo levado para outras praças e,
atualmente, contemplava 18 cidades e 26 complexos. Para quem pensava que a
capital sergipana só tinha plateia para o cinemão, os projetos coadjuvantes que
Roberto Nunes implementou- como a “Virada Cinematográfica” e a “Sessão
Notívagos”- só mostrava o contrário. Quanto mais cinema, melhor. E foi assim,
durante sete anos.
“Bubble”, “A Criança”, “A Culpa é do Fidel”, “Marie –Jo e Seus Dois Amores”, “O Fantástico Sr. Raposo”, “O Anti-cristo”, “Sede de Sangue”, “Incêndios”, “O Garoto da Bicicleta”, “O Homem que Grita”, “Amor”, “Moonrise Kingdom” , A Vida dos Outros”, “Infância Roubada”, “A Casa de Alice”, “A Via Láctea”, “Hércules56” ,
“Vermelho como o Céu”, “O Pequeno Italiano”, “Amor”, “Pelo Malo” foram algumas
das pérolas que tivemos a oportunidade de assistir e debater.
Mas algumas sessões foram emblemáticas como a do filme “O Violino” de Francisco Vargas, já que só existia uma cópia em35 mm , circulando no Brasil e
não foi fácil para Roberto Nunes consegui-la; “Do Começo ao Fim” de Aluizio
Abranches, que teve sessões bem concorridas, sendo um dos filmes com maior número
de espectadores do projeto, ainda que seja um desastre cinematográfico; a do
filme francês “O Papel da Sua Vida” de François Favrat que teve direito até ao
alarme de incêndio tocando, indevidamente, no meio da exibição; “Incêndios” de
Denis Villeneuve que foi exibido no 4º aniversário do projeto, na sala 8 (a
maior do complexo Jardins) e deixou muita gente “grudada” na poltrona após os
créditos finais.
A troca de ideias podia ser com os frequentadores assíduos, logo após a sessão, ou com os convidados que o produtor trazia, a exemplo dos diretores Lina Chamie, Silvio Da-Rin e Vladimir Carvalho. Num dos últimos projetos que Roberto Nunes havia iniciado -“Conversas Cine Cult”- ele trouxe a Aracaju, em janeiro, o premiado diretor de “O Som ao Redor”, Kléber Mendonça Filho. Para esse segundo semestre, ele já havia sinalizado a possibilidade de trazer para cá, o cineasta Júlio Bressane.
Os últimos filmes em cartaz no Cine Cult Aracaju foram “Inch'Allah" de Anaïs Barbeau-Lavalette e “Que Estranho Chamar-se Federico!” de Ettore Scola. Torço para que a rede de multiplex não acabe com o projeto que deu tão certo e arregimentou um novo público frequentador das salas de cinema.
Notívago de “carteirinha”, workaholic, mal humorado prá uns e boa praça para outros, apreciador das obras de Bresson, Polanski e Bergman e leitor do sergipano Francisco Dantas, Roberto Nunes deverá ser sepultado na cidade de Bauru (SP), onde nasceu.
Suyene Correia
O produtor cultural Roberto Nunes faz a alegria dos mais exigentes nas salas de cinema. Ele está à frente do projeto Cine Cult desde 2007, trazendo filmes do circuito não comercial para a rede Cinemark. Há 18 anos Roberto desenvolve projetos de exibição de filmes diferenciados para mostras, festivais, programações especiais para exibidores e institutos culturais. Paulista, workaholic idealista, veio passar um tempo em Natal e, como bom “turista”, resolveu estender o prazo. “No início do ano vim para acompanhar as sessões mais de perto, uma estadia prevista de dois meses já está no sexto mês...e sem prazo de terminar”, diz. A natureza de Natal é cinematográfica.
“Bubble”, “A Criança”, “A Culpa é do Fidel”, “Marie –Jo e Seus Dois Amores”, “O Fantástico Sr. Raposo”, “O Anti-cristo”, “Sede de Sangue”, “Incêndios”, “O Garoto da Bicicleta”, “O Homem que Grita”, “Amor”, “Moonrise Kingdom” , A Vida dos Outros”, “Infância Roubada”, “A Casa de Alice”, “A Via Láctea”, “Hércules
Mas algumas sessões foram emblemáticas como a do filme “O Violino” de Francisco Vargas, já que só existia uma cópia em
A troca de ideias podia ser com os frequentadores assíduos, logo após a sessão, ou com os convidados que o produtor trazia, a exemplo dos diretores Lina Chamie, Silvio Da-Rin e Vladimir Carvalho. Num dos últimos projetos que Roberto Nunes havia iniciado -“Conversas Cine Cult”- ele trouxe a Aracaju, em janeiro, o premiado diretor de “O Som ao Redor”, Kléber Mendonça Filho. Para esse segundo semestre, ele já havia sinalizado a possibilidade de trazer para cá, o cineasta Júlio Bressane.
Os últimos filmes em cartaz no Cine Cult Aracaju foram “Inch'Allah" de Anaïs Barbeau-Lavalette e “Que Estranho Chamar-se Federico!” de Ettore Scola. Torço para que a rede de multiplex não acabe com o projeto que deu tão certo e arregimentou um novo público frequentador das salas de cinema.
Notívago de “carteirinha”, workaholic, mal humorado prá uns e boa praça para outros, apreciador das obras de Bresson, Polanski e Bergman e leitor do sergipano Francisco Dantas, Roberto Nunes deverá ser sepultado na cidade de Bauru (SP), onde nasceu.
Suyene Correia
O produtor cultural Roberto Nunes faz a alegria dos mais exigentes nas salas de cinema. Ele está à frente do projeto Cine Cult desde 2007, trazendo filmes do circuito não comercial para a rede Cinemark. Há 18 anos Roberto desenvolve projetos de exibição de filmes diferenciados para mostras, festivais, programações especiais para exibidores e institutos culturais. Paulista, workaholic idealista, veio passar um tempo em Natal e, como bom “turista”, resolveu estender o prazo. “No início do ano vim para acompanhar as sessões mais de perto, uma estadia prevista de dois meses já está no sexto mês...e sem prazo de terminar”, diz. A natureza de Natal é cinematográfica.
“Moro
na vila de Ponta Negra, muito próximo ao mar. Ele está na minha
varanda, e como durmo sempre das 8 às 10h, eu vejo o sol nascer no
mar.... e ai está o meu passeio favorito, ver o sol nascer no oceano
imenso que banha o Morro do Careca. Então é assim: eu trabalho até a
madrugada, desço para a praia para tomar um banho de mar, desses de
quase se afogar, volto e durmo.
Pipa é um
destino que gosto muito. Uma pousada que recomendo é a Chácara do
Madeiro, boa para trilhas, descer na baia onde sempre aparecem uns
golfinhos e vir caminhando até a Praia do Amor. Para um potiguar isso
deve ser trivial, mas para quem vive em São Paulo, morando a duas
quadras da Avenida Paulista, é outro mundo.
Em
Natal curto sempre dar uma passada pela Ribeira, tomar uma cerveja num
bar sem nome, sempre com um bloco de anotações no bolso para registrar
algum pensamento que será incorporado num livro que estou escrevendo -
meio ficção, meio autobiográfico - sobre um mascate do cinema, tipo
‘Cinema, Aspirinas e Urubus’ com o ‘L’uomo Delle Stelle’.
Gosto
de conhecer bares. O Bar do Ku, minha primeira referência em Natal,
cai bem com uma Heineken (nunca só uma), carne de sol com macaxeira, e a
pimenta que é muito boa. Posso dizer que fui no Bar do Cobra Choca - a
maioria nem sabe onde fica. Pesquisem no Google e se não tiverem
frescuras peçam um chambaril e se deliciem. Em Ponta Negra vou na Cipó
Brasil quando quero uma pizza legal, e no Galo do Alto para um jantar
mais elaborado. No dia a dia prefiro minha cozinha, sou um amante das
panelas.
Como passo bastante tempo em casa,
vejo filmes. É trabalho e prazer juntos. Algumas dicas: Bergman, Bresson
e Polanski são autores geniais, do primeiro indico sempre ‘Morangos
Silvestres’, ‘Pickpocket’ de Bresson, e ‘Tess’ de Polanski, são
sugestões que qualifica um olhar menos focado em efeitos especiais ou
cinema pipoca. Também os nacionais, como ‘O Som ao Redor’ e ‘Febre do
Rato’ merecem ser vistos, podendo ser acompanhados de filmes mais
recentes como ‘Alabama Monroe’, ‘Tabu’ e ‘Philomena’.
Três
dicas de livros que estão aqui, um terminando, outro iniciando e outro
esperando: ‘Firmin’, de Sam Savage, ‘Caderno de Ruminações’, do
Sergipano Francisco J. C Dantas, e ‘O Sonâmbulo Amador’, do pernambucano
José Luiz Passos.
Em Natal tudo fecha muito
cedo, e aí está um dos motivos que me impedem de sair mais. Deveria ter
um belo pub, com várias cervejas e um rock inglês tocando até o dia
amanhecer...uma Rua Augusta aqui em Ponta Negra seria pedir demais?”
FIM
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