Tenho aqui em minhas mãos a cópia número 16/100 da segunda edição do fanzine linhas tortas, editado pelo camarada Aquino Neto
diretamente de seu quartel-general encravado no conjunto Augusto
Franco, este verdadeiro celeiro sergipano de bizarrices musicais. Em
mãos mesmo, de fato. Não é uma metáfora. É um fanzine de papel,
materializado em 5 folhas ofício (ou seriam A4? Nunca consegui
diferenciar) xerocadas, dobradas no meio em sentido vertical e grampeadas, o que dá ao produto final um aspecto charmoso, "fininho".
A capa, ótima, traz um belíssimo desenho de Laura Athayde emcimado pelo
título, escrito à mão com caneta azul-piscina de ponta porosa. Na
primeira página, um ótimo editorial que resume em poucas (nem tanto,
ocupa a página inteira) palavras o significado da obra para o seu autor.
Depois temos uma excelente entrevista com o Medialunas, banda gaúcha
que tocou recentemente por aqui, muito bem diagramada e enriquecida por
belas fotos de Marcelinho Hora. No meio, uma pequena biografia e alguns
exemplos da poesia - muito boa - de Miró, um poeta "marginal" (no
sentido de à margem) pernambucano que ama São Paulo, apesar de andar
sempre de ônibus por lá e de não ter sentido nada quando cruzou a
esquina da Ipiranga com a avenida São João - eu também não. Aí temos um
artigo chamado "10 películas feministas", bem intencionado porém um
tanto quanto superficial - os comentários poderiam passar de duas
linhas, parece texto de twitter - e controverso - nesse caso, sem
novidade, pois qualquer lista já nasce sob o signo da controvérsia. No
caso, eu tiraria um os filmes da Disney apontados, "Valente". É
fraquinho demais. O outro, "Mulan", é legal, mas mesmo assim há inúmeras
outras obras que mereciam ocupar seu lugar na lista, como
"Libertárias", que trata da participação feminina durante a Guerra Civil
espanhola. E, por fim, a divulgação de uma dupla de artistas chamada
"poro" sem dar nenhuma amostra de sua arte - a não ser que o
interessante panfleto que vem reproduzido embaixo, "10 Maneiras
incríveis de perder tempo*" seja deles. Não sei, não ficou claro. Tudo
isso intercalado por reproduções de trabalhos sempre belos e/ou
interessantes assinados por Beatriz Lopes, Matheus xMarrecox, Jarlan
Félix, Guilherme C., LoveLove6, Carla e Liz, Márcio Thiago e Mayra
Vasconcelos.
Perfeito inclusive em suas imperfeições - quem
disse que tudo tem que estar sempre em seu lugar, graças a Deus? Acho
que foi Benito Di Paula. Enfim, discordo - o "linhas tortas" é uma
pequena grande iniciativa, fruto da inquietação e da sempre saudável
necessidade de comunicação de um pequeno grande homem - pequeno porque
ele é um cara discreto, na dele, e é fisicamente magrinho, embora não
tão baixinho, mas quem o conhece sabe que faz o que faz com dedicação e
paixão e, acima de tudo e mais importante, tem um grande coração. Eu te
daria o enderêço dele pra correspondência, já que no editorial ele pede:
"não me mandem emails, me escrevam(cartas)". Só que ele não colocou o
enderêço para correspondência no zine! Te falei: nem tudo, aqui, está no
seu lugar. Graças a Deus.
Me despeço reproduzindo dois micropoemas do Miró que gostei muito:
Finalmente onde é que vamos parar?
O policial perguntou:
-tá indo pra onde boy?
-estou voltando, senhor
fui preso por desacato.
Não me contento em ter
um lugar para dormir
Quero ter mil lugares
para sonhar.
A
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