quarta-feira, 6 de junho de 2012

rip Ray Bradbury

"Todos devem deixar algo para trás quando morrem, disse meu avô. Um filho ou um livro ou uma pintura ou uma casa ou uma parede que construiu ou um par de sapatos que fez. Ou um jardim que plantou. Algo que sua mão tocou de alguma maneira, para que seu espírito tenha algum lugar para ir quando você morrer. Assim, quando as pessoas olharem para aquela árvore, ou aquela flor que você plantou, você estará lá. Não importa o que você faça, disse ele, contanto que você transforme algo. Mude do que era antes de você tocar, para algo que é como você, depois que suas mãos não estiverem mais aqui".

Ray Bradbury, Fahrenheit 451


Fahrenheit 451 é a mais bela declaração de amor à literatura que eu já vi na vida. Tanto o livro, escrito por Ray Bradbury e publicado pela primeira vez em 1953, quanto o filme, adaptado por François Truffaut em 1966, são imperdíveis - e atualíssimos: apresenta-nos um futuro onde opiniões próprias são consideradas anti-sociais e potencialmente subversivas, os livros são proibidos e o pensamento crítico suprimido. Segundo Bradbury, é uma história sobre como a televisão destrói o interesse pela leitura.

Seu outro livro mais famoso é "As Crônicas Marcianas", que narra a história da colonização de Marte como metáfora para, principalmente, as paranóias americanas surgidas depois da segunda guerra mundial, no período conhecido como "guerra fria". Faz, também, um paralelo com a conquista do oeste - os "nativos" marcianos são praticamente extintos por pragas trazidas pelos colonizadores.

Seu trabalho como escritor abrangeu, além da ficção científica, gêneros como humor e terror, além de histórias sobre negros, irlandeses e mexicanos. Bradbury também fez o roteiro da versão cinematográfica de "Moby Dick" dirigida por John Huston em 1956, além de ter colaborado escrevendo para a série "The Twilight Zone" e outros programas televisivos, como "The Ray Bradbury Theater", para o qual adaptou vários de seus trabalhos.

Ray Bradbury morreu ontem, aos 91 anos, de causa não divulgada. “Uma bela luz se perdeu no Cosmos”, declarou Sam Weller, seu biógrafo oficial. Danny Karapetian, neto do escritor, destacou uma passagem de "O Homem Ilustrado", seu livro preferido do avô, em que um homem convive com tatuagens que têm vida própria: “Minhas músicas e meus números estão aqui. Eles preencheram meus anos, os anos em que me recusei a morrer. Em função disso escrevi, escrevi, escrevi ao meio-dia ou às 3h da manhã. Para não morrer”. “Seu legado reside em sua obra e, principalmente, nas mentes que o leram, pois lê-lo era conhecê-lo. Foi o maior garoto que conheci”, disse.

Desligue o computador e vá ler Bradbury.











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