... ou uma revista. Mas não sem antes dar uma conferida neste post, com minhas dicas de leitura mais recentes:
EU SOU OZZY – Este livro está, literalmente, me tirando o sono, mas por um bom motivo: é tão divertido que eu simplesmente não consigo parar de ler. Na primeira sentada devorei mais de 140 páginas de uma vez, o que é raro pra mim, e só dei uma pausa porque os raios do sol começavam a entrar pelas frestas da janela e eu me toquei que já eram 4:30 da manhã. Trata-se da autobiografia de Ozzy Osbourne, escrita numa linguagem fluente e coloquial. É como se o próprio “madman” estivesse sentado na sua frente relatando informalmente tudo o que ele conseguia se lembrar dos anos loucos (e bota loucos nisso) com o Black Sabbath, seguidos da ainda mais louca fase solo. São muitas histórias, mas engana-se quem pensa que Ozzy tem uma mente lesada ao ponto de não fazer observações rebuscadas e inteligentes sobre alguns assuntos pertinentes: num dos trechos que li ontem, por exemplo, ele comentava o fato do guitarrista virtuoso Randy Rhoads não demonstrar muito entusiasmo pelo Black Sabbath. “Não entendo como uma musica como “Iron Man” faz tanto sucesso, qualquer criança pode tocar aquele riff”, ele dizia, no que Ozzy retrucou: “Randy, se funciona, não importa se é simples ou complexo. A primeira vez que eu ouvi “you really got me”, do Kinks, eu enlouqueci, toquei tanto o disco que quase gasto a agulha da velha vitrola de meu pai”. “É, pode ser”, ponderou Rhoads. O episódio ilustra bem as diferenças entre os gênios criativos que tiram leite de pedra a partir de suas limitações, como o prório Tony Iommi, e os que baseiam sua arte no estudo meticuloso da técnica, muitas vezes em detrimento do sentimento, do “feeling”, como Yngwie Malmsteen, Joe Satriani ou o próprio Randy Rhoads. Gosto do estilo de Randy, é supertécnico mas não chega a ser “frio” e calculista como o de alguns de seus pares, mas ele estava longe, muito longe, de ser um gênio da guitarra como Tony Iommi, um cara que criou, sozinho, toda uma nova corrente musical dentro do universo do rock and roll. Em outras palavras: Randy Rhoads era um excelente guitarrista, mas Tony Iommi é Deus.
Outro ponto interessante a se notar durante a leitura é a impressionante quantia de dinheiro que era gerada no “showbizz” naqueles tempos pré-internet e downloads de música farto e gratuito. Os caras simplesmente ligavam para seu “manager” e pediam qualquer coisa, um rolls royce, um cortador de grama, drogas e muitas garotas, evidentemente, e o objeto do desejo simplesmente se materializava na frente deles no dia seguinte, como num passe de mágica. Evidentemente isso gerava uma certa acomodação nos músicos – o própio Ozzy admite, em vários trechos, que começou a se comportar como um rockstar idiota, egocêntrico e egoísta. É de se pensar se não será benéfica esta mudança que se configura no horizonte – não que os músicos não mereçam ser remunerados pelo seu trabalho, mas também não precisam ser paparicados ao ponto de se sentirem semideuses caminhando entre os mortais. Até porque quem tem a música no sangue vai continuar a produzir, de uma forma ou de outra. Quem viver verá ...
Fora isso, o livro é, basicamente, uma sucessão absurda de situações inusitadas e muito engraçadas que vale muito a pena ser lida até mesmo por quem não é fã de Ozzy ou de Heavy Metal em geral – não por acaso é um sucesso de vendas em todo o mundo. Vou contar apenas uma delas: Eles estavam cheirando tanta coca que Ozzy começou a suspeitar que deveriam estar na mira de algum órgão do governo e entrou em paranóia. Num determinado dia, ele ligou o condicionador de ar da casa onde estava alojado com o Black Sabbath e, em seguida, começou a ouvir sirenes se aproximando. Todos entraram em pânico e Ozzy, junto com um membro da equipe, dispararam para o banheiro para tentar se livrar das substancias ilícitas que tinham o tempo todo à disposição. Só que a maconha entupiu os canos das pias e dos vasos sanitários, e só lhes restou uma solução: teriam que cheirar toda a cocaína que tinham em mãos. “Você está louco, se a gente cheirar essa porra toda a gente vai morrer”. “Você já esteve numa cadeia antes?”, perguntou Ozzy. “Não”, retrucou o outro. “Pois eu já e te digo: não vou voltar para lá”. O pânico aumentou quando eles ouviram um oficial de polícia batendo insistentemente à porta e sendo atendido pela empregada, o que os fez meter desesperadamente o nariz na montanha de pó para tentar se livrar do flagrante. Ouvindo a conversa que se travava na sala, no entanto, souberam que tudo se tratou de um mal entendido: alguém (adivinha quem?) tinha apertado acidentalmente o botão de pânico que acionava a polícia, que fica ao lado do termostato do condicionador de ar, e por isso eles estavam ali. Constatado que estava tudo ok, apenas reprogramaram o sistema e se retiraram colocando-se à disposição para qualquer emergência.
Antológico.
PERDIDOS NA NOITE: A emocionante história de uma amizade improvável entre dois “excluídos” da sociedade: Joe Buck, um cowboy bronco que havia partido do Texas rumo a Nova York em busca de um sentido para sua vida vazia, e “Ratzo” Rizzo, um ladrão vagabundo e coxo que vivia de pequenos furtos e golpes na selva de concreto, sonhando com uma “aposentadoria” tranqüila na ensolarada Flórida. Gerou um filme de enorme sucesso em 1969, estrelado por Dustin Hoffman e John Voight e dirigido por John Schlesinger. Foi o único filme classificado como "X" nos Estados Unidos à vencer o Oscar de melhor filme e foi apontado pela crítica da época como “uma das mais emocionantes histórias de amor e amizade á produzidas pelo cinema norte-americano). O livro é literatura de primeira, o que pra mim não deixa de ser uma surpresa, pois nunca tinha ouvido falar de seu autor, James Leo Herlihy. Estou, inclusive, interessado em conhecer melhor sua obra – espero que consiga.
MALDITO! A VIDA E O CINEMA DE JOSE MOJICA MARINS, O ZÉ DO CAIXAO: Está destinada a se tornar clássica esta emocionante e divertida biografia de nosso maior astro do cinema “underground” cometida em 1998 pelo jornalista André Barcinsky. Através de sua leitura nos damos conta do impressionante talento nato do cineasta auto-didata que precisou primeiro ser redescoberto lá fora para readquirir prestígio entre nossa “inteligentsia”, depois de um longo período esquecido no qual se dedicou a produções de gosto pra lá de duvidoso, como aquela na qual introduziu a zoofilia no universo da então nascente industria pornográfica nacional. Ocaso que, diga-se de passagem, foi provocado em grande parte pela própria personalidade do retratado, sempre envolvido em imbróglios amorosos e perdendo todo o (muito) dinheiro que ganhava com extravagâncias sem sentido. Você, assim como eu, vai compreender melhor a importância desse verdadeiro gênio da raça depois da leitura deste livro – um cara capaz de dar a seu principal personagem um escopo filosófico bastante parecido com o da teoria do “super-homem”, do filósofo alemão Friedrich Nietsche, sem nunca ter posto os olhos sobre a obra do referido autor.
ROLLING STONE: É muito boa a versão brasileira da célebre publicação norte-americana – muito embora eu ache uma pena que ela tenha vindo, em parte, para ocupar a lacuna deixada pelo fim da revista BIZZ, um título de sucesso genuinamente nacional. Não que a Rolling Stone seja uma revista especificamente sobre música, como o era a Bizz, mas é seu foco principal, como não poderia deixar de ser, ostentando tal nome. Traz sempre boas traduções da publicação “gringa” (numa das últimas tivemos, por exemplo, uma rara entrevista inédita com Chuck Berry, o mito em pessoa) e também excelentes matérias produzidas aqui mesmo, pela equipe local, como as excelente reportagens sobre a Amazônia, uma constante nestas 40 edições já publicadas, e uma cobertura política ok. Que tenha vida longa.
PREVIEW: Uma das coisas mais interessantes de se vasculhar o Orkut é a possibilidade de poder interagir e ter um contato mais direto com alguns de nossos “ídolos” do jornalismo musical, muito embora isso signifique, também, a desagradável surpresa de saber que alguns deles são pessoas intragáveis, egocêntricas e anti-éticas. Uma dessas decepções que tive foi com Roberto Sadovsky, um mala – nunca o achei lá grande coisa, mas era um cara competente, e a SET, sob o seu comando, se não era brilhante, era bastante eficiente e informativa. Lia e colecionava, comprava todo mês, por isso fiquei, ao mesmo tempo, triste com o fim da publicação, seguramente a melhor do gênero no Brasil, mas ao mesmo tempo feliz por ver o “prego” do Sadovsky queimar a língua depois de infinitos posts mal-educados em que ele trucidava sem piedade seus colegas de jornalismo, dando a entender que, em sua concepção, só ele sabia como produzir uma revista de qualidade com sucesso comercial. Pois bem, a sucessora da SET, ao que parece, é a Preview, da Editora Sampa – não por acaso pilotada por boa parte da equipe oriunda da falecida publicação comandada pelo “marques de Sade”. Não é a última coca-cola gelada no deserto escaldante, mas é, assim como a Set, competente, enxuta e informativa. Um alento para os que, como eu, preferem ainda ler no papel ao invés do computador. A se registrar a decepção que foi a outra publicação que parecia disputar o mesmo espaço no mercado, a MOVIE, editada por André Forastieri: péssima! Bonitinha, mas ordinária.
VERTIGO: Revista mensal da panini que dá sequencia à saga que tem sido a publicação do selo Vertigo, da DC comics, no Brasil. Não tem um mix tão bom quanto o da extinta “pixel magazine”, da editora de mesmo nome, mas é ok. A melhor série apresentada é “Escalpo”, que se passa numa decadente reserva indígena norte-americana comandada por uma máfia, nos tempos atuais, com muito sexo, violência e um interessante subtexto político-social. Já “Lugar nenhum”, de Neil Gaiman, é confusa e se perde em clichês, mesmo problema sofrido por “Vikings”. Está aos poucos se renovando com a entrada de novas séries, como “Vampiro Americano”, e tende a melhorar.
FÁBULAS: Bill Willingham partiu de uma premissa brilhante: o que aconteceria se o mundo dos contos de fábulas existisse realmente e tivesse sido dominado pelas forças do mal, obrigando personagens conhecidíssimos de todos como a Branca de Neve, o lobo Mau e a Bela e a fera, dentre inúmeros outros, a se refugiar em nosso mundo, mais precisamente num bairro de (adivinha?) Nova York. Antológicos arcos, como o da guerra dos soldados de madeira (produzidos por Gepeto, o criador de Pinóquio, também exilado na metrópole dos mortais) e o que faz referência à clássica “Animal Farm”, de George Orwell, fazem dessa uma das séries mais aclamadas da vétigo em todos os tempos. Está sendo publicada pela panini em álbuns fechados, e é imperdível.
EX MACHINA: Outra premissa genial: o prefeito de Nova York é um super-herói temporariamente “aposentado” que foi alçado ao cargo depois de ter conseguido evitar o choque do segundo avião no ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center. Com argumentos inteligentíssmos, é igualmente imperdível- iclusive por conta dos belos desenhos de Tony Harris. O escritor é Brian K. Vaughan, o mesmo de outra excelente série, “Y – O último homem”, que também está sendo publicada pela panini e conta as desventuras do último homem (e do último macaco macho) que restou no mundo depois de um misterioso evento que dizimou todos os seres humanos do sexo masculino.
OCEANO: Ficção cientifica um tanto quanto clicherosa escrita por Warren Ellis e desenhada por Chris Sprouse (Tom Strong). Não é ruim, mas também não é tão boa ao ponto de merecer receber o acabamento de luxo que teve por aqui, com direito a papel de primeiríssima qualidade e capa dura. Esse tipo de decisão equivocada, que eleva muito o preço do exemplar, pode levar a prejuízos que, no futuro, inviabilizem a publicação no Brasil de obras bem mais importantes, como o bendito final da saga de Preacher, que continua inédito por aqui. Um outro bom exemplo é a impressionante Edição Definitiva de “Terra X”, outra história apenas mediana que não vale o absurdo preço de R$ 110,00 pela qual está sendo vendida (muito embora aqui você pode encontrá-la por “módicos” 58 mirréis). Na história de “oceano” o gélido local, localizado na lua “Europa” de Júpiter, guarda um segredo inimaginável tomado pela escuridão e frio absolutos: sarcófagos e relíquias de eras antigas que revelam a existência de uma população muito mais antiga e avançada que a humana. Obviamente, junto a tantas descobertas há um segredo ainda maior e muito mais preocupante, mas que se revela, no final das contas, banal e decepcionante.
por Adelvan
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