quarta-feira, 3 de novembro de 2010

The Walking Dead

George Romero criou uma verdadeira mitologia de terror, comparável às que acompanham monstros clássicos e centenários, como Drácula, O Lobisomem ou Frankenstein, ao ter uma idéia genial e original para seu assombroso filme B em preto-e-branco de 1968, “Night of the living dead”: o que aconteceria se, meio que do nada, sem muita explicação, os mortos saíssem de seus túmulos e passassem a atormentar a parcela da humanidade ainda movida a batidas de coração? A partir daí, centenas, possivelmente milhares de produções foram feitas em cima de variações sobre o mesmo tema, umas, naturalmente, melhores que as outras. As melhores, além das produzidas pelo próprio Romero, as sequencias “Dawn of the dead”, “Day of the Dead”, “Land of the Dead” e Diary of the Dead”, são as refilmagens de suas obras originais, como a do primeiro, “Night of the living dead”, cometida por Tom Savini em 1990, e a do segundo, “Madrugada dos mortos” (2004, de Zack Snider), que aproveitou um gancho de outra produção inspirada nos zumbis de Romero, “Trainspotting”, para revitalizar o gênero. Há ainda algumas paródias clássicas, como “A Volta dos mortos vivos”, Cult trash dos anos 80, e os mais recentes “Shawn of the Dead” e “Zombieland”.

Pois bem: segundo o autor de quadrinhos Robert Kirkman, a todos estes filmes faltava algo - saber como continuava a história. O mundo como conhecemos praticamente acabou e as pessoas têm que conviver com essa nova realidade, mas a vida, pelo menos até que todos sejam transformados em zumbi, continua, então seria interessante acompanhar o dia-a-dia desses indivíduos. Suas relações (inclusive sexuais, evidentemente), seus sentimentos, ansiedades, frustrações, sua vida, enfim, explorando também, além dos conflitos internos, disputas de poder e críticas sociais. Com maior tempo para construir a trama, haveria a possibilidade de apresentar os personagens de maneira mais complexa, criando situações-gancho para outros episódios - diferentemente dos filmes do gênero, nos quais tudo precisa ser resolvido quase que imediatamente.

A partir dessa premissa, Kirkman criou uma “novelinha”, uma série em quadrinhos que se desenrola desde 2003 e já se encontra em seu décimo segundo volume encadernado, correspondente às edições de número 67 a 72 da publicação regular. No Brasil, somente os 4 primeiros encadernados foram publicados até o momento, situação que, espero, melhore com a chegada às telas (mesmo que de forma mutilada por aqui) da série de TV baseada na HQ. Nos EUA, o episódio piloto foi exibido pela emissora por assinatura AMC no último Halloween e alcançou 5,3 milhões de espectadores, maior audiência do canal até o momento.

Não vi ainda a adaptação, mas li os 4 volumes lançados pela Editora HQM e posso afirmar: é sensacional. Acompanha a história de Rick Grimes, um oficial de policia de uma cidade pequena que acorda de um coma (a lamentar, aqui, apenas o evidente plágio do início de "Extermínio", o filme de Danny Boyle lançado em 2002) somente para descobrir que o mundo está tomado por zumbis. Parte para uma cidade maior, Atlanta, a procura de sua família, atendendo a um apelo do que restou do governo para que as pessoas se dirijam para lá, mas encontra o local tomado pela mesma infecção. Se depara, no entanto, com um entregador de pizza que faz parte de um grupo de sobreviventes e, através dele, consegue encontrar, finalmente, sua mulher e seu filho, além de seu parceiro Shane. Shane não fica muito feliz com a chegada de Rick, e a partir daí assistimos a uma sucessão de acontecimentos e construção de personagens muito bem elaborados com situações verossímeis e realistas, desde que se aceite, evidentemente, a premissa fantasiosa da existência dos zumbis. Estes últimos, ao longo da série, vão se tornando “apenas” um pano de fundo para a complicada teia de intrigas e conflitos que se desenrola à medida que protagonistas e coadjuvantes avançam pelo país adentro em busca de melhores condições de sobrevivência.

Mais do que isso, da história, melhor não contar, para não estragar as surpresas.

Recomendo muito.

por Adelvan

* * *

Sobre a série de televisão:

Tinha tudo para ser perfeito, mas não foi. Estavam lá os cenários vazios. A maquiagem perfeita. A dramaticidade e o ritmo que normalmente só se vê no cinema. E, claro, os zumbis que deixariam embaçados de lágrimas os gigantescos óculos do mestre George A. Romero. Enfim havia chegado a tão aguardada hora da estreia de The Walking Dead, série que o canal estadunidense AMC adaptou diretamente dos quadrinhos de Robert Kirkman.

Em uma ótima oportunidade de dar a quem baixa as séries a resposta de que existe gente vendo o que está acontecendo e pensando em como diminuir este problema, a o Canal Fox exibiu o primeiro episódio da série com menos de 48 horas de atraso em relação à estreia nos Estados Unidos. Palmas para eles, porém...

O primeiro problema parecia facilmente contornável: quem gosta de ouvir o som original tinha a opção de trocar a dublagem que o canal implementou em toda a sua programação pela versão original e ligar as legendas. Aqui em casa, pelo menos, funcionou perfeitamente, com legendas bem sincronizadas e de boa qualidade.

O primeiro intervalo comercial veio só depois de 26 minutos de exibição. Nada mal para um canal que sobrevive de anúncios, imaginei eu. Mas comemorei muito antes da hora. Nos Estados Unidos, onde a série estreou batendo recordes, o episódio piloto dirigido por Frank Darabont (Um Sonho de Liberdade) durou cerca de 90 minutos - contando os comerciais. Aqui, para poder exibir (acredite!) Doom: A Porta do Inferno, o canal Fox picotou sem dó e começou a mostrar os créditos após apenas 54 minutos, perdendo assim o ritmo cinematográfico citado lá em cima.

A garotinha e o cavalo - A história começa já mostrando que há algo de diferente sendo exibido ali. Logo na primeira cena, o policial Rick Grimes (Andrew Lincoln) aparece procurando por gasolina em um posto no meio do nada. Tudo o que ele vê por onde passa são carros vazios e pessoas em estado de putrefação. Até que avista uma menininha arrastando seu ursinho de pelúcia. Ele tenta chamá-la uma, duas vezes, mas quando ela finalmente se vira, ele percebe que já é tarde demais para salvá-la.

Corta para o passado e começamos a entender um pouco do que aconteceu até ele chegar ali. Grimes é um policial certinho, o sub-xerife de uma cidade pequena que acaba se envolvendo em uma perseguição de carro e é baleado. Depois de ficar um tempo ainda indefinido em coma, ele acorda para ver o mundo como ele conhecia destruído. É impressionante a performance do ator britânico nesta parte. A forma como ele anda, todo desengonçado e curvado, é o que se imagina de alguém que passou meses na cama e agora tem uma necessidade de ir para casa encontrar sua família e apagar de vez a hipótese de que eles também foram atacados e morreram.

Seguindo a cartilha dos filmes de zumbi, Grimes não tem ideia de que o planeta passou por um apocalipse zumbi e demora para assimilar que aquelas pessoas arrastando os pés são mortos-vivos. Mais certinho do que gravata de escoteiro, ele chega a ficar bravo quando vê o primeiro zumbi sendo baleado na cabeça. E é com cenas isoladas como essa que a história vai ensinando como funciona aquele novo mundo: um tiro chama a atenção dos mortos-vivos, que virão na direção do barulho. Sobreviver a um só é fácil, mas quando vários deles se juntam, a coisa fica mais difícil. E Grimes, que chega a Atlanta montado em seu cavalo tal qual um príncipe encantado em busca da princesa, vai aprender isso da pior maneira possível.

O primeiro episódio é tudo o que os fãs de zumbis queriam ver. Darabont dá ao piloto a estética e a carga dramática de um filme. Com a diferença de que ao contrário dos habituais 90 minutos de um longa-metragem, ele e seus parceiros no projeto terão várias horas para desenvolver a história. Bom, pelo jeito, na Fox eles não terão tanto tempo assim...

The Walking Dead é uma produção do canal estadunidense AMC e é exibido no Brasil às 22h das terças-feiras na Fox.

por Marcelo Forlani

Fonte: Omelete





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