


Outro grande sucesso de público e crítica de Manara foi a série “O Click”, que conta a história de Claudia Christiani, uma fina e recatada dama da alta sociedade. Sexualmente reprimida, reage com repulsa ao assédio dos homens, mas acaba sucumbindo aos seus instintos mais primitivos sob o poder de uma maquininha diabólica que, com um simples clique, é capaz de provocar na mais puritana das mulheres um furor uterino incontrolável, o que rende inúmeras situações inusitadas e divertidas.

por Adelvan
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Com a assinatura de Manara, o cartaz de apresentação do evento mostra uma mulher morena, vestindo uma roupa curta nas cores da bandeira brasileira, com a paisagem do Rio como fundo.
Após quase 20 anos sem organizar eventos deste estilo, o "Rio Comicon" chega como uma versão própria da onda de mais de 40 edições de conferências internacionais dedicadas aos romances gráficos desde os anos 70, como o Comics (de Londres), o Napoli Comicon e o mundialmente conhecido Comic-Com (San Diego, EUA.).

O artista, de 60 anos e grande homenageado do festival, conta com uma exposição própria na qual teve a colaboração do cineasta Federico Fellini, a história em quadrinhos Viagem à Tulum, baseado em um relato original do diretor italiano, inspirado em uma viagem a essa região mexicana.
Funcionando na antiga estação de trens da Leopoldina, construída em 1926, o festival contará com a presença da igualmente polêmica desenhista americana Melinda Gebbie.
A artista é conhecida no mundo do desenho por Lost Girls, série escrita por seu marido, Alan Moore, que reúne as protagonistas de contos como Wendy, de Peter Pan, Dorothy, do Mago de Oz, e a heroína de Alice no País das Maravillas, onde contam suas experiências sexuais.

Outro nome importante do Rio Comicon é o britânico Kevin O'Neill, autor de A Liga Extraordinária, série gráfica que junta personagens fantásticos da literatura vitoriana, transformada em longa-metragem em 2003.
Desta terça-feira até o dia 14 de novembro, Manara, Melinda, O'Neill e outros 20 artistas brasileiros e internacionais se reunirão para realizar seminários, debates, e assinar autógrafos, enquanto os fãs poderão participar de oficinas especializadas sobre assuntos que vão desde a criação de personagens até a elaboração de histórias em quadrinhos para a web.

Com o objetivo de promover a arte gráfica nacional, os organizadores incluíram 12 artistas brasileiros em sua mostra principal, para "destacar autores e produções nacionais, e abrir espaço para a cultura pop", explicaram em seu comunicado.
Entre os brasileiros convidados estão os ilustradores Angeli e Laerte, além de Fabio Moon e Gabriel Bá .
EFE
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Erótica sem ceder à tentação da vulgaridade, a obra de Manara recorre a cenários e tramas envolventes para provocar a libido dos leitores. Para ele, aliás, essa a grande vantagem que os quadrinhos têm em relação a formas de arte mais modernas como o cinema e a fotografia. O quadrinista, entre algumas baforadas de charuto antes de assistir à palestra de abertura do evento, do humorista Ziraldo, defendeu, em entrevista ao site de VEJA, a imaginação como a forma mais ousada de excitação.

E no plano das ideias não há limites. Vale tudo. Manara não se furta a explorar temas como bondage – fetiche que consiste em amarrar e imobilizar o parceiro – , dominação, sadismo e sadomasoquismo – práticas que, juntas, enquadram-se no que os adeptos chama de BDSM. Ao contrário das imagens reais, como explica o ‘papa’ dos quadrinhos eróticos, os desenhos atenuam o aspecto violento ou condenável dessas modalidades, e explora os conceitos – seja de dominação ou entrega – que fazem a cabeça de tantas pessoas. Ou, como simplifica Manara, “os desenhos excitam mais porque chocam menos”.
“Se falarmos de sadismo no cinema ou fotografia, teremos imagens fortes, com corpos sujos de sangue. Não teremos um ato mental, mas um ato físico. E o sadismo é um ato que diz respeito a outra dimensão. Creio que o desenho leva vantagem porque conta tudo o que tem que ser contado, enfatizando o aspecto mental em vez do físico”, compara o italiano.
Manara situa seus trabalhos numa categoria anterior à erótica, a de histórias em quadrinhos para adultos. A escolha do sexo como especialidade veio da empolgação dos tempos de juventude. “Comecei a fazer um trabalho para adultos porque percebi que falar para crianças não era o meu caminho. E deu certo. Optei pelo erótico porque me parece que esta é uma parte muito importante da vida. Principalmente quando se tem 20 anos - a idade com a qual comecei a desenhar”, conta.

Rafael Lemos
Veja
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O verso tropicalista de Alegria Alegria, de Caetano Veloso, cai como uma luva para definir o universo cheio de curvas do cartunista italiano Milo Manara, um dos mitos do quadrinho erótico europeu. Suas mulheres de bocas carnudas, pernas longilíneas e aspecto selvagem escapuliram diretamente de mais do que uma costela da atriz Brigitte Bardot - e caíram como bombas acariciantes há 40 anos no imaginário masculino de todo o mundo.A Rio Comicon 2010 vai ocupar a Estação da Leopoldina, no Rio, entre os dias 9 e 14 de novembro. Os convidados são artistas de altíssimo nível, como o premiado francês François Boucq; o editor italiano Claudio Curcio; os ingleses Kevin O"Neill (de A Liga Extraordinária), Melinda Gebbie (Lost Girls, mulher da lenda Alan Moore) e o também editor Paul Gravett; Etienne Davodeau e Patrice Killofer; o alternativo Jeff Newelt; e os argentinos Lucas Nine e Patricia Breccia.
Manara contou ao Estado que prepara o derradeiro volume de sua história Bórgia, que narra a saga de Lucrécia Bórgia, filha de papa, uma crítica violentíssima à Igreja e suas instituições sagradas. "Depois disso, eu gostaria de me dedicar um pouco à pintura e à ilustração, e pode ser que eu me dedique, nessa viagem ao Brasil, a realizar um livro de ilustrações sobre as belas brasileiras."

"Meu amor pelos quadrinhos nasce nos anos 60, quando vi Barbarella, de Jean-Claude Forest; Valentina de Guido Crepax; Jodel et Pravda de Guy Pellaert e todas as histórias de Magnus", contou o cartunista. "Nos anos 70, eu lia muito revistas como Métal Hurlant e apreciei enormemente o gênio de Moebius, a quem todos os desenhistas devem muito. Evidentemente, toda minha vida profissional, e não somente ela, foi influenciada pelo meu amigo Hugo Pratt."
Com Hugo Pratt, o veneziano criador do imortal personagem Corto Maltese, Manara fez o fascinante álbum Verão Índio (de 1983, HQ que só teve sua primeira edição no Brasil no ano passado, 22 anos depois, pela Conrad), e El Gaucho (1991). O desenho de Manara é primoroso, o humor é cáustico e irônico, o erotismo tingido com tintas do sadomasoquismo (pode tranquilamente ser considerado uma espécie de Sade dos quadrinhos). Como Guido Crepax (Valentina) e Serpieri (Druuna), é um craque em coreografar fantasias sexuais e usar o sonho como espaço para tratar do sexo como uma zona franca.

"Primeiro, eu pensava que seria difícil. Mas depois se revelou ainda mais difícil do que eu pensava", conta. Brincalhão, no prefácio da edição ele esclarece que, de todas as X-Men que desenhou, gostaria de ter os poderes de Kitty, para poder "passar através dos muros". Alegria, Alegria: o maestro de fantasias está a caminho!
Jotabê Medeiros
Estadão
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“Tenho medo de que atirem o livro na minha cabeça! Se abrirem um livro que não tenha nenhuma garota nua, vão dizer 'ah, esse cara virou um mané! Basta'"
Milo Manara
“Aquilo que nós italianos fantasiamos sobre as mulheres brasileiras vem, naturalmente, das imagens que se vê muito no Carnaval”, explica o quadrinista, autor de obras primas da HQ erótica como os álbuns “Verão índio”, “Gulliveriana” e a popular série “Clic”, que também ganha reedição de luxo para a Rio Comicon lançada pela editora Conrad.
“As moças em que nós pensamos são como aquelas do Carnaval, com seus corpos realmente atléticos, ligeiramente andróginos, mas de uma beleza absoluta”, completa Manara em entrevista exclusiva ao G1.
Autor do cartaz oficial do Rio Comicon, que mostra uma garota voluptuosa, vestindo shorts curtíssimo e camisa da seleção canarinho, Manara sabe, no entanto, que o que verá por aqui está bem além dos estereótipos da “brasileira típica que nós europeus sonhamos”.
“São todos sinais de uma grande abertura, do fato de que o futuro é aqui, não é na Europa”, elogia o autor, que já havia visitado o Brasil em 2003 a bordo de um navio cargueiro, bem à maneira de seus amigos e mestres favoritos: o também quadrinista Hugo Pratt e o cineasta Federico Fellini, com quem colaborou em HQs como “El gaucho” e “Viagem a Tulum”, respectivamente.

Sempre generosíssimo com as mulheres italianas que desenha, inspiradas em musas do cinema como Sophia Loren e Brigitte Bardot, Manara se mostra, contudo, decepcionado ao falar da geração atual de conterrâneas, especialmente as que têm buscado fama fácil, de biquíni, em programas de auditório dos canais de TV controlados pelo presidente Silvio Berlusconi.
“Muitas garotas, não digo todas, mas a maior parte das garotas bonitas na Itália sonha em se tornar uma estrela televisiva, mas sem recitar uma fala. Só para se mostrar, para ser admirada e ficar famosa”, lamenta. “E o mais grave é que a presença dessas garotas [na TV] tem como objetivo aumentar a audiência e o preço da publicidade. É uma operação comercial, bastante próxima da mentalidade da prostituição. Não que as garotas sejam [prostitutas], mas a mentalidade de usar o corpo de uma bela mulher para se ganhar mais dinheiro, eu acho isso muito vulgar e grave.”
Contra a vulgarização da mulher italiana – e de todo o planeta, já que suas HQs viajam pelos quatro cantos do mundo real ou imaginário -, Manara emprega a sua arte, que prefere chamar de erotismo à pornografia. “Na realidade, não penso que haja muita diferença entre erotismo e pornografia que não a intenção de quem o faz. Há uma demanda evidente nas pessoas por 'eros', por erotismo. E se a sua reposta a ela for somente um monte de páginas estampadas só para fazer um pouco de dinheiro, eu chamo de pornografia. Se, em vez disso, se busca falar verdadeiramente de erotismo, aí eu chamo de erotismo. Resumindo em uma palavra, a diferença é: se é excitante é erotismo, se não é excitante é pornografia.”
Ainda que boa parte de suas HQs seja pouco – ou nada – recomendável para menores de 18 anos, Manara andou flertando recentemente com trabalhos fora do universo exclusivamente adulto. Em 2004, colaborou com Neil Gaiman em uma história curta para a antologia “Sandman: Noites sem fim”e, no ano passado, emprestou seu traço sensual às heroínas da série em quadrinhos “X-Men”, em uma HQ escrita pelo americano Chris Claremont.
“É claro que me agrada muito ler e desenhar [outros tipos de quadrinhos]”, diz o autor, que entre seus trabalhos já quadrinizou até uma versão do livro do sexo “Kamasutra”. “Mas tem só dois problemas. O primeiro é que eu penso que na vida, normalmente, há um percentual de erotismo muito alto. Por isso, sinto necessidade de colocar em quase toda história um percentual de erotismo. Mas o segundo problema é que tenho medo de frustrar meus leitores. Tenho medo de que atirem o livro na minha cabeça! Se abrirem um livro que não tenha nenhuma garota nua, vão dizer 'ah, esse cara virou um mané! Basta!' Tenho medo de desiludi-los”, diverte-se.
por Diego Assis
G1
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Rio Comicon 2010
Quando: 9 a 14 de novembro, das 13h às 22h
Onde: Ponto Cultural Barão de Mauá – Estação Central da Leopoldina, Rio de Janeiro
Quanto: R$ 10 (meia-entrada: R$ 5)
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Bibliografia:
Jolanda de Almaviva - La Figlia del Mare (1971) com Francesco Rubino
La parola alla giuria (1975) com Mino Milani
Alessio, Il Borghese Rivoluzionario (1975), com Silverio Pisu
Lo scimmiotto (1976) com Silverio Pisu
Un uomo un'avventura: L'uomo delle nevi (1978) com Alfredo Castelli
HP e Giuseppe Bergman (1978)
Le avventure asiatiche di Giuseppe Bergman (1980)
L'uomo di carta, o Quattro dita (1982)
Tutto ricominciò con un'estate Indiana (1983) com Hugo Pratt
Il gioco (1983)
Il profumo dell'invisibile (1986)
Candid camera (1988)
L'apparenza inganna (1988)
Viaggio a Tulum (1989) com Federico Fellini
L'arte della sculacciata (1989) com Jean-Pierre Enard
Le avventure africane di Giuseppe Bergman (1990)
Breakthrough (1990) com Neil Gaiman
Il gioco 2 (1991)
El Gaucho (1991) com Hugo Pratt
Il sogno di Oengus (1991) com Giordano Berti
Il viaggio di G. Mastorna detto Fernet (1992) com Federico Fellini
La feu aux entrailles (1993) com Pedro Almodovar
Il gioco vol.3 (1994)
Seduzioni (1994)
Storie brevi (1995)
I viaggi di Gulliver, o Gulliveriana (1995) Baseado no texto de Jonathan Swift
Kamasutra (1997) Baseado no texto de Vatsyayana
Ballata in si bemolle (1997)
L'asino d'oro (1999) Baseado no texto de Apuleius
Le avventure metropolitane di Giuseppe Bergman
1999)
Bolero (1999)
Tre ragazze nella rete (2000)
Rivoluzione (2000)
Il gioco vol.4 (2001)
Il profumo dell'invisibile 2 (2001)
Le donne di Manara (2001)
Memory (2001)
Fuga da Piranesi (2002)
Il pittore e la modella (2002)
Pin-up art (2002)
Aphrodite (2003) com Pierre Louÿs
Donne e motori (2003)
Fellini (2003)
L'odissea di Bergman (2004)
I Borgia - La conquista del papato ( 2004) com Alejandro Jodorowsky
The Sandman: Endless Nights (2004) com Neil Gaiman
I Borgia vol.2 - Il potere e l'incesto (2006) com Alejandro Jodorowsky
Quarantasei (2006) com Valentino Rossi
I Borgia vol. 3 (2008) com Alejandro Jodorowsky
X-Men: Ragazze in fuga (2009) com Crhis Claremont
2 comentários:
Manara é o cara
Manara é o cara (2) e eu também tenho simpatia pelo diabo!
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