partículas de chumbo disparadas de um objeto metálico cruzam
o céu em direção a um amontoado de carne, sangue e músculos. Células atordoadas
sucumbem à falta de estímulos. Membros e órgãos inertes estendidos no chão
frio. Moléculas e átomos se fundem como que para lembrar que as aparências
exteriores não passam de ilusão de ótica projetada pela mente humana para mascarar
a verdade de que somos feitos da mesma matéria que o universo. Descarga de vida
em túnel quente e úmido – temperatura ideal para a perpetuação da farsa. Eterno
retorno. Correr instintivamente em direção a um destino ignorado. Morrer no
caminho ou repousar em segurança e aguardar a metamorfose. Substâncias tóxicas
interferindo no processo natural – o poder da vontade elimina o destino. O fim
de um projeto de vida. Um em um milhão. Um milhão de projetos significa um número
incalculável de partículas animadas por estímulo exterior. Novas formas que só
têm significado sob o ponto de vista de um cérebro treinado para ver o que não
existe. Estímulos nos chegam através dos sentidos e são armazenados por uma
massa gelatinosa que guardamos em uma parte do nosso corpo. Organizados segundo
uma arbitrária lógica milenar – o que, no final das contas, não quer dizer
muita coisa – transformam-se em verdade e norma de conduta que conduzirá aquele
grupo de partículas durante o tempo em que permanecer sob aquela forma ...
Olhos fixos na tela, imagens invadem o nosso subconsciente. Luke
Skywalker ergue seu sabre de luz e promete defender a justiça. Adrenalina em
nossas veias deixa os músculos enrijecidos e a mente inquieta. Músculos
enrijecidos deslizam cercados por carne umedecida e nos fazem pensar por alguns
segundos que a vida não é, afinal, tão ruim quanto imaginamos.
Sensações transportam nosso corpo a planos paralelos de
consciência. A vida prossegue sua jornada em direção ao nada. Impulsionado pela
vontade de potência, que é a essência irracional da existÊNCIA, o homem deixa
sua marca invisível num ponto minúsculo e desprezível do cosmo ...
Desprezível se pensado pelo imaginário ponto de vista de uma
consciência universal. Para nós, ele é tudo. O mundo que nos cerca é a razão de
nossa continuidade, e não nos resta outra alternativa a não ser aproveita-lo da
melhor maneira possível.
Sentir no corpo o sangue correndo nas veias. O desejo insano
que, apesar dos pesares, nos impulsiona inexoravelmente em direção ao futuro.
As guitarras estão plugadas.
O show deve continuar.
1994.
A
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