
Bairrismos e provincianismos a parte, o que me levou a
comparecer à abertura do “Curta-Se – Festival Iberoamericano de cinema de
Sergipe” ontem à noite no Teatro Tobias Barreto foi, principalmente, a
curiosidade de assitir, finalmente, “A Pelada”, primeiro longa metragem de cinema inteiramente
rodado em Aracaju. Para
nós, nativos do menor estado da federação, é sempre uma novidade se ver retratado na tela
grande. Muita coisa foi filmada, inclusive, aqui do lado de minha casa, nas
ruas pelas quais passo diariamente e no banco em que tenho conta! Só isso me
bastaria. Não nutria grandes expectativas quanto à qualidade artístico/narrativa
do filme em si, a julgar pelo treiler que havia visto – divertido, mas nada de
mais. Mais do mesmo, era o que parecia.

Me surpreendi. Não vi nenhuma obra-prima da sétima arte, evidentemente,
mas me diverti bastante com essa comédia de erros que conta a história de um
casal em crise que, por iniciativa da contraparte feminina, decepcionada com a
apatia do companheiro, decide ousar, experimentar, “apimentar” a relação. Para
tanto sugere um “ménage a trois”, o que assusta o malandro fajuto que vive se
vangloriando de suas conquistas amorosas fantasiosas entre os amigos.
As situações embaraçosas em que os protagonistas se metem na
tentativa de concretizar a empreitada são criativas, divertidas e bem
encadeadas. Resvala-se num ou outro clichê aqui e ali, mas nada que comprometa
o resultado final. O mais importante é que a narrativa flui satisfatoriamente,
a fotografia é boa e a escolha das locações adequada, mostrando uma Aracaju
provinciana porém em pleno crescimento - infelizmente desordenado, como e praxe, com os edifícios brotando ao fundo da
paisagem ainda dominada pelas águas - poluídas - margeadas pelos manguezais. O filme tem
também uma boa edição e é bem dirigido, o que certamente contribuiu para o bom
desempenho dos atores, especialmente do casal em torno do qual a trama gira.

A lamentar apenas o subaproveitamento dos talentos locais,
mais uma vez relegados a papeis secundários ou meramente figurativos. Em todo
caso, foi bem legal poder ver na telona, em um trabalho cinematográfico
profissional, figuras com as quais convivo ou já convivi cotidianamente, como
minha amiga “Teteca”(Everlane Moraes), ex-frequentadora assídua do
underground noturno do centro de Aracaju. E todos se saíram muito bem, a meu
ver. Nada de constrangedor foi mostrado durante os 80 minutos de projeção ...
A noite foi aberta com os tradicionais discursos e a apresentação
dos atores do filme presentes. O diretor, o belga Damien Chamin, é simpático,
comunicativo – fala muito bem português, já que vive há bastante tempo aqui
mesmo, nas terras de Sergipe Del Rey – e estava visivelmente emocionado.

Foi ainda exibida uma interessantíssima mostra de
videoclipes com uma qualidade, em termos gerais, muito boa. Especialmente nos três
primeiros: “Pele Africana”, do grupo Cataluzes – excelente música, por sinal – dirigido
por André Aragão com belas imagens em preto e branco da terra de Fidel Castro; “Hey
yo Silver”, da banda cuiabana Vanguart, dirigido por Isaac Dourado com uma
excelente edição simulando a dinâmica de uma história em quadrinhos; e “Loreta
& Boutique”, da sergipana Coutto e Orquestra, com direção de Marcos Mota e
Marlon Delano e belas imagens captadas durante uma apresentação ao vivo.

Encerrando a noite, uma belíssima apresentação dos Grupos
Membrana e Pífano de Pife que se encerrou no Hall do teatro, com os músicos
interagindo com o público.
A programação do Curta-se se estende por toda a semana em
diversos pontos da cidade. Para saber mais, clique
AQUI e acesse o site oficial
do evento.
E clicando
AQUI, você vê o treiler de "A Pelada".
por Adelvan Kenobi.
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