terça-feira, 20 de novembro de 2012

Falta alguém ...

          Eu gosto de monumentos. Sempre gostei. Eles fornecem identidade às ruas de uma cidade. Muitos extrapolam estes limites e tornam-se uma espécie de representação simbólica de toda uma nação, como o Cristo Redentor, que, para além do Rio de Janeiro, mundo afora, representa o Brasil. Dá pra imaginar São Paulo sem o Monumento aos Bandeirantes? Ou Paris sem a Torre Eiffel?

          Sempre  achei Aracaju pobre em monumentos. Fora a Ponte do Imperador – que por não ser uma ponte nem servir usualmente como atracadouro serve apenas como monumento  – temos poucos, e pouco conhecidos. Por isso fiquei feliz quando começaram a erguê-los na Nova Orla da Atalaia. Gosto muito do que homenageia os escritores e intelectuais e do que é dedicado a Inácio Barbosa, presidente da provícia de Sergipe Del Rey e fundador da cidade de Aracaju. Este último, especialmente, é bastante peculiar e criativo, pois não exibe nenhuma imagem do homenageado em si, já que não existem registros pictográficos do mesmo. Há, em seu lugar, uma figura humana estilizada sendo observada por pessoas comuns que compõem as três etnias formadoras do Brasil: um homem branco, uma negra e uma índia. 

          Já o chamado “Monumento aos Formadores da Nacionalidade” acho incompleto. Falta alguém ali. Estão lá os presidentes Kubitscheck e Getúlio Vargas, o Duque de Caxias, o Barão do Rio Branco, Tiradentes, José Bonifácio e Dom Pedro II. Está lá, inclusive, a imagem de Isabel, “A redentora”, princesa que entrou para a história apenas porque seu pai, o imperador, estava ausente quando chegou a hora de assinar, finalmente, a Lei Áurea, que abolia a escravidão no Brasil. Libertas Quæ Sera Tamen. Falta, no entanto, aquele que é o principal símbolo da luta contra este mal. Aquele que lutou com todas as suas forças e sacrificou a sua vida em nome da liberdade. Zumbi dos Palmares.

          Nem seria necessário desalojar a princesa de seu pedestal: Há um espaço vazio, clamando para ser preenchido, entre as imagens de Tiradentes e de José Bonifácio, o “patriarca da independência”. De quem ergueu o monumento não se poderia esperar que se lembrasse deste verdadeiro Herói popular. Só não sei, sinceramente, como alguém desta já nem tão nova administração do Governo Estadual ainda não pensou nisso, já que se trata, supostamente, de uma coalizão de centro-esquerda comandada por um partido socialista.  

          Fica lançada então a idéia: Representação de Zumbi no monumento aos formadores da pátria! Já!

por Adelvan ----------------------------------------------------------------------------------

          A palavra Zumbi, ou "Zambi", vem do termo zumbe, do idioma africano quimbundo, e significa fantasma, espectro, alma de pessoa falecida. Zumbi nasceu em Palmares, Alagoas, livre, no ano de 1655, mas foi capturado e entregue a um missionário português quando tinha aproximadamente seis anos. Rebatizado com nome cristão de 'Francisco', recebeu os sacramentos, aprendeu português e latim e ajudava diariamente na celebração da missa. Apesar destas tentativas de aculturá-lo, escapou em 1670 e, com quinze anos, retornou ao seu local de origem. Zumbi se tornou conhecido pela sua destreza e astúcia na luta e já era um estrategista militar respeitável quando chegou aos vinte anos.

          O Quilombo dos Palmares - localizado na atual região de União dos Palmares, Alagoas - era uma comunidade, um reino ou república - não se sabe ao certo - formado por escravos negros que haviam escapado das fazendas, prisões e senzalas brasileiras. Ocupava uma área próxima ao tamanho de Portugal e sua população chegou a trinta mil pessoas, segundo estimativas.

         Por volta de 1678 o governador da Capitania de Pernambuco, cansado do longo conflito com o Quilombo de Palmares, se aproximou de seu líder, Ganga Zumba, com uma oferta de paz. Foi oferecida a liberdade para todos os escravos fugidos caso o quilombo se submetesse à autoridade da Coroa Portuguesa; a proposta foi aceita, mas Zumbi a rejeitou, desafiando a liderança de Ganga Zumba. Prometendo continuar a resistência contra a opressão portuguesa,  tornou-se então o novo líder dos quilombolas.

          Quinze anos depois, o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho foi chamado para organizar a invasão do quilombo. Em 6 de fevereiro de 1694 a capital de Palmares foi destruída e Zumbi ferido. Apesar de ter sobrevivido, foi traído por Antonio Soares e surpreendido pelo capitão Furtado de Mendonça em seu reduto (talvez a Serra Dois Irmãos). Apunhalado, resiste, mas é morto com 20 guerreiros quase dois anos após a batalha, em 20 de novembro de 1695. Teve a cabeça cortada, salgada e levada ao governador Melo e Castro. Em Recife, a cabeça foi exposta em praça pública, visando desmentir a crença da população quanto à lenda da imortalidade de Zumbi.

Polêmicas: Alguns autores levantam a possibilidade de que Zumbi não tenha sido o verdadeiro herói do Quilombo dos Palmares e sim Ganga-Zumba: "Os escravos que se recusavam a fugir das fazendas e ir para os quilombos eram capturados e convertidos em cativos dos quilombos. A luta de Palmares não era contra a iniquidade desumanizadora da escravidão. Era apenas recusa da escravidão própria, mas não da escravidão alheia.[...]"
 
De acordo com José Murilo de Carvalho, em "Cidadania no Brasil" (pag 48), "os quilombos mantinham relações com a sociedade que os cercavam, e esta sociedade era escravista. No próprio quilombo dos Palmares havia escravos. Não existiam linhas geográficas separando a escravidão da liberdade". Para alguns estudiosos, no entanto, a escravidão nos quilombos não se assemelhava à escravidão dos brancos sobre os negros, sendo os escravos considerados como membros das casas dos senhores, aos quais deviam obediência e respeito. Algo semelhante à escravidão entre brancos, comum na Europa na Alta Idade Média.

Segundo alguns estudiosos Ganga Zumba teria sido assassinado, e os negros de Palmares elevaram Zumbi a categoria de chefe: "Depois de feitas as pazes em 1678, os negros mataram o rei Ganga-Zumba, envenenando-o, e Zumbi assumiu o governo e o comando-em-chefe do Quilombo". Seu governo também teria sido caracterizado pelo despotismo: "Se algum escravo fugia dos Palmares, eram enviados negros no seu encalço e, se capturado, era executado pela ‘severa justiça’ do quilombo.

Em todo o caso, Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão. Lutou pela liberdade de culto, religião e prática da cultura africana no Brasil Colonial. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra."

wikipedia

Um comentário:

Joanne Mota disse...

Todo dia é uma dia de luta. Luta de ideias, luta por justiça, luta por identidade... Meu camarada - produtor e locutor do programa mais alternativo de Sergipe, Programa de Rock, Adelvan Barbosa Kenobi - entre muitas conversas levantou uma questão: Por que não há Representação de Zumbi no monumento aos formadores da pátria na Orla de Atalaia?? E respondi é mesmo!

Parabéns companheiro, esse é o começo de uma nova jornada, que se permitir terei prazer qem trilhaá-la ao seu lado!