domingo, 4 de novembro de 2012

" NO MONEY NO ENGLISH ", Ratos de porão

Em vinil é melhor, porra! Não sou entusiasta fanático de nenhum formato de midia específico mas tive mais uma prova de que o bom e velho bolachão preto ainda é a melhor forma de se ouvir música ao pousar o braço de meu heróico e resistente 3 em 1 caseiro da Sony comprado em 1991 (nunca foi para o conserto!) no mais novo petardo lançado, apenas em vinil, pelo Ratos de Porão - "No Money, no english" - e ter meus ouvidos estuprados por uma onda sonora implacável e cristalina de peso e distorção ...

Trata-se de um LP duplo com sobras de estúdio e faixas ao vivo nunca lançadas, emoldurado por mais uma sensacional capa produzida pelo genial Marcatti - desta vez mostrando um pobre coitado sendo torturado num pau-de-arara com saco plástico na cabeça por um PM animalesco sob os olhos complacentes da igreja e do estado. Tinha decidido que ia comprá-lo assim que vi uma foto do dito cujo na página da Laja records do Facebook, mas diante do salgadíssimo preço de 100 pilas, estava hesitando. Acabei pegando na mão de Luiz Humberto, da Purgatorius records, por 90 conto (e sem frete, evidentemente) num show que rolou este mês em Capela, interior do estado. Só falta pagar ...

Abre com uma sensacional cover para "reaganomics/sad to be", que eu já conhecia de um tributo ao DRI que havia baixado em mp3, e foi justamente aí que se manifestou, em todo o seu esplendor, a diferença entre ouvir uma musica em formato digital via caixinha de som de computador ou em glorioso vinil, com caixas de som decentes e som no talo. Não dá nem pra comparar!

Continua com outro cover, com letra em português, da banda norueguesa Turbo Negro. Bem mais fraquinha, assim como a seguinte, uma composição prória nunca antes lançada extraída das sessões de gravação do disco "onisciente coletivo" - um dos mais fracos da banda. Finalizando o lado A do primeiro disco, dois petardos: mais um cover, desta vez inusitado, porque em castelhano e de um artista que, a princípio, não tem nada a ver com o Ratos - o poeta, cantor, compositor e ativista político chileno Victor Jara. Eles já haviam experimentado algo parecido no Tributo a Arnaldo Baptista, dos Mutantes, nos anos 80, e se saído igualmente bem. A última é "Stone Dead Forever", do Motorhead, que ficou boa, apesar do inglês sofrível do Gordo.

Abrindo o lado B, "Thaw", do Septic Death, com direito à inserção de um discurso virulento anti-político em português. Ótima. Depois de "Direito de fumar", uma ode à auto-destruição, uma sequencia de sons extraídos de uma demo de 2001. Razoáveis - uma delas tem um título estranho para uma musica do Ratos de Porão, "tenho medo de te perder". Fechando o disco, duas faixas das sessões de "Carniceria Tropical": "Bad Cake" e "Estaca zero" - nesta última há outro momento inusitado, um trecho em ritmo de bossa nova! Dá pra imaginar o Gordo cantando Bossa nova? Pois é, ficou bom!

O disco 2 se resume a gravaçoes "demo" de músicas já lançadas em "just another crime in massacreland", de 1993, e trechos de dois shows ao vivo, de 1992 (não diz onde foi) e 2000 (no Hangar, casa de show localizada em São Paulo, capital). Parece pouco, mas não é: a gravação da demo é muito boa, se brincar melhor até que a do disco em si. As músicas são todas em inglês, mas o Gordo parece ter feito um esforço para pronunciar melhor as palavras. E Ao Vivo, não há nem o que questionar: no palco, o Ratos é imbatível, especialmente quando executa clássicos do "naipe" de "Amazonia nunca mais", "Novo Vietnã" e "Agressão/repressão".

Chama a atenção a qualidade e unidade sonora do disco como um todo. Se as informações não estivessem registradas na contracapa, nem daria para notar que se tratam de sessões registradas em diferentes datas e fases da banda. Excelente trabalho de equalização e, imagino, masterização - neste caso, posso apenas imaginar, já que, infelizmente, não há nehuma informação quanto à produção do disco no encarte. Aliás, outra deficiencia: não há "encarte" propriamente dito, apenas uma capa dupla que, quando aberta, exibe as letras das musicas emolduradas por um desenho do ilustrador "Magoo". Já os rótulos foram produzidos pelo camarada Tulio DFC, de Brasília.

É um disco irregular e recomendado especialmente para os fãs, mas não deixa de ser um grande lançamento. Valeu cada centavo investido.

por Adelvan



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