Poucas vezes a violência foi retratada nas telas de forma tão
explícita quanto em “Heli”, filme de Amat Escalante que chocou Cannes no ano
passado. É realmente difícil não desviar os olhos nas cenas mais fortes. O incômodo, no entanto, se justifica, pois está perfeitamente inserido
no contexto de denuncia do estado de absoluto caos social no qual a exploração
neoliberal e a guerra contra as drogas mergulhou o México de alguns anos pra
cá.
“Heli” é um jovem operário que tenta levar a vida da forma
mais digna possível, apesar do ambiente inóspito que habita – uma cidadezinha
do interior cravada no meio do deserto. Ajuda a sustentar a família – mulher,
filho bebê, pai e uma irmã menor de idade – trabalhando numa dessas empresas
multinacionais que se instalam nos países do terceiro mundo em busca de mão de
obra barata semi-escrava. Mas é pego no contrapé de uma brutal trama de vingança
ao tentar defender sua irmã, que havia escondido dois pacotes de cocaína a
pedido de seu noivo, um recruta de uma Força Especial Militar dedicada ao
combate às drogas. A partir daí é só “pé na porta e soco na cara”, com estupro,
morte, tortura e descaso das “autoridades”.
O argumento é ótimo, o roteiro é bem amarrado, os atores são
bons e o filme é muito bem dirigido. Apesar da narrativa na maior parte do
tempo convencional, o diretor se dá ao luxo de produzir pelo menos uma cena de
beleza plástica e conceitual impressionante, aquela na qual um veículo militar
para de forma intimidadora na porta da casa do protagonista, desafiando-o.
A.
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