sexta-feira, 30 de maio de 2014

Heli

Poucas vezes a violência foi retratada nas telas de forma tão explícita quanto em “Heli”, filme de Amat Escalante que chocou Cannes no ano passado. É realmente difícil não desviar os olhos nas cenas mais fortes. O incômodo, no entanto, se justifica, pois está perfeitamente inserido no contexto de denuncia do estado de absoluto caos social no qual a exploração neoliberal e a guerra contra as drogas mergulhou o México de alguns anos pra cá.

“Heli” é um jovem operário que tenta levar a vida da forma mais digna possível, apesar do ambiente inóspito que habita – uma cidadezinha do interior cravada no meio do deserto. Ajuda a sustentar a família – mulher, filho bebê, pai e uma irmã menor de idade – trabalhando numa dessas empresas multinacionais que se instalam nos países do terceiro mundo em busca de mão de obra barata semi-escrava. Mas é pego no contrapé de uma brutal trama de vingança ao tentar defender sua irmã, que havia escondido dois pacotes de cocaína a pedido de seu noivo, um recruta de uma Força Especial Militar dedicada ao combate às drogas. A partir daí é só “pé na porta e soco na cara”, com estupro, morte, tortura e descaso das “autoridades”.

O argumento é ótimo, o roteiro é bem amarrado, os atores são bons e o filme é muito bem dirigido. Apesar da narrativa na maior parte do tempo convencional, o diretor se dá ao luxo de produzir pelo menos uma cena de beleza plástica e conceitual impressionante, aquela na qual um veículo militar para de forma intimidadora na porta da casa do protagonista, desafiando-o.

Assisti no cinema, mas em São Paulo. Não me lembro de tê-lo visto por aqui.

BAIXE AQUI.

A.

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