Não foi perfeito mas chegou perto, da perfeição. Como sempre, salta aos olhos a incrível competência de todos os que ocupavam o palco, sem exceção. Mas não aquela competência mecânica, insossa, típica de quem está ali apenas para fazer bem seu trabalho e garantir o ganha pão: a competência de quem tem muito a mostrar, em forma e conteúdo, e se esmera em passar aquelas mensagens codificadas em forma de música da melhor forma possível, sem firulas perfomáticas, aos que estão assistindo, na platéia. Emocionante. Pra voltar pra casa – dos pais de Maíra Ezequiel, que me hospedaram de forma extremamente generosa e hospitaleira – com a alma lavada.
Na sequencia, Xique Baratinho. Fazem, em Maceió, mais ou
menos o mesmo que o Maria Scombona em Aracaju: um som calcado no rock mas com
forte sotaque regional. Ou seria o contrário? Enfim, é “fusion”. E é muito bem
composto e executado de forma extremamente competente, também. E também têm
muitos anos de estrada, o que faz com que tenham músicas bastante conhecidas do
público local, que cantava junto em vários momentos. É bom, mas não é muito a
minha praia ...
Foto: Nando Magalhães |
A noite seguinte, no sábado, para nós, os eternos Atrasildos
da Silva, começou com o Zefirina Bomba, da Paraíba, no palco. Lamentei ter
perdido Ataque Cardíaco, de Delmiro Gouveia – a cidade mais Hard Core do
interior do nordeste – que todo mundo dizia que foi muito bom. Zeferina é um
esporro do caralho, é realmente impressionante o barulho que Ilson consegue
tirar daquele violão velho. Mas acho-os muito fracos em termos de composição, o
que compromete o resultado final. Ok, eu sei, é punk rock, é “grunge”, é pra
ser simples mesmo, mas não sei, acho que exageram na dose do minimalismo - por opção estética, talvez. Em todo caso,
fizeram um bom show, pois acreditam no que fazem e isso garante a energia primária
que é o motor que move as engrenagens do rock.
Aí vieram uns tais Nelsons, de Paulo Afonso, com um tal “Cangaço HI-FI” que nada mais é que uma emulação daquela mistura que já deu tudo o que tinha que dar nos anos 1990 de rock com rap e guitarras com scratch. Chatíssimo. E o Foxy Trio, de Olinda, Pernambuco, que faz um som bem mais lento, introspectivo, com longas passagens climáticas interrompidas aqui e ali por explosões “guitarrísticas” muito bem orquestradas. Não funcionou muito bem no palco, no meio de um festival, mas deu pra sentir que têm algo a dizer. Vale uma conferida posterior, no sacrossanto recesso do lar ...
Aí vieram uns tais Nelsons, de Paulo Afonso, com um tal “Cangaço HI-FI” que nada mais é que uma emulação daquela mistura que já deu tudo o que tinha que dar nos anos 1990 de rock com rap e guitarras com scratch. Chatíssimo. E o Foxy Trio, de Olinda, Pernambuco, que faz um som bem mais lento, introspectivo, com longas passagens climáticas interrompidas aqui e ali por explosões “guitarrísticas” muito bem orquestradas. Não funcionou muito bem no palco, no meio de um festival, mas deu pra sentir que têm algo a dizer. Vale uma conferida posterior, no sacrossanto recesso do lar ...
O metal esteve presente com o Death “mezzo” “nu” metal do
Abismo, local. Competentes. Barulhentos. Mas eu, particularmente, não agüento os
clichês do estilo. Afinação baixa, vocais guturais, som meio “grooveado” com
passagens “pula pula” em meio a convites às rodas de pogo. Não foi ruim, mas
também não impressionou. Deu pro gasto.
Foi um bom aquecimento para a Necronomicon, sensacional
formação roqueira calcada no que de melhor os anos 60 e 70 nos deram em termos
de peso “sabbáthico” e psicodelia “crua”. Músicas longas, cheias de passagens,
vocais berrados porém cantados, bateria devidamente castigada com energia e
estilo, conduzindo com perfeição a guitarra de Lillian Lessa que eu finalmente
consegui ouvir da forma que sempre quis: em alto e bom som! Nem tenho muito
mais o que falar desses porras, sou fã incondicional. Segundo melhor show do
festival, perdendo apenas para a Mopho.
Poderia ter ido embora, mas queria ver o Mukeka di Rato. Para tanto tive que esperar o chatíssimo Zander e seu “emotional Hard Core”, o popular “emo”. Vai um pouco na linha do Dead Fish, com letras “emocionais”(dã) cantadas a plenos pulmões em meio a boas guitarras ligadas no talo. A galera parece gostar muito. Eu não.
Poderia ter ido embora, mas queria ver o Mukeka di Rato. Para tanto tive que esperar o chatíssimo Zander e seu “emotional Hard Core”, o popular “emo”. Vai um pouco na linha do Dead Fish, com letras “emocionais”(dã) cantadas a plenos pulmões em meio a boas guitarras ligadas no talo. A galera parece gostar muito. Eu não.
O show do Mukeka foi mais ou menos a bagaceira de sempre. Nem
o melhor nem o pior que eu já vi – e vi vários. A impressão que tenho é que o
Sandro voltou aos vocais sem o mesmo pique de antes: faz o show meio que no piloto automático, pra
cumprir tabela. O que, na verdade, não faz o menor sentido, porque tenho
certeza que ele não vai ficar rico sendo o vocalista do Mukeka di rato. Mas vai ver
é só impressão minha. Enfim, foi divertido, mas o som estava muito embolado,
sem definição. Tocaram canções clássicas de todas as fases e discos da banda. Destaque
para “carne”, a música, que eu acho muito foda. Muito acima do repertório da
própria banda, inclusive.
Fiquei bastante surpreso, positivamente falando, com a
estrutura e a organização do Festival. Esperava que fosse algo mais
mambembe, improvisado. Impossível não comparar o que vi naquele final de semana
em Maceió com o atual momento em que passamos aqui, em Aracaju. Afinal,
desde a “morte” – independência ou morte, lembram? – do PUNKa, em 2004, a cidade não tem
nenhum festival independente acontecendo de forma regular e organizada. Vivemos
à mercê da maré dos momentos, ora com muitos e excelentes shows acontecendo ao
mesmo tempo em pontos diversos, ora com nada a fazer.
Depois de um longo período de pasmaceira e estagnação,
quando os poucos produtores que ainda se arriscavam a promover por aqui
apresentações com bandas de fora de médio ou pequeno porte - estas últimas de passagem
em turnês “do it yourself” - cansaram de tomar prejuízo, por falta de público,
a maré parece estar, aos poucos, virando. Por conta, em grande parte, do grande
momento que vivemos, paradoxalmente, na cena local, com o surgimento de
excelentes novas bandas, como a Tody´s Trouble Band, e a lenta projeção além-fronteiras
provincianas de outras já não tão novas, como a The Baggios. Um dos grandes
responsáveis por essa “retomada”, digamos assim, foi o pessoal que organiza os
eventos “Clandestino”, feitos na rua, sem porta, sem cobranças, embora não sem
custos.
O “Happening” cooperativo teve mais uma edição na última
quinta-feira, dia 07 de novembro de 2013. Aconteceu na praça do farol da Farolândia,
próximo à UNIT, com apresentações da Renegades of punk e do Medialunas, de
Porto Alegre – e adjescências. Foi lindo, como sempre. O gerador roncando, o
rock rolando, as crianças brincando e o vento soprando. E fanzines circulando!
Lá recebi, das mãos do camarada Aquino, a cópia # 22(de 50) da simpática
publicação xerocada com sobrecapa em papel vegetal “linhas tortas”, em primeira
e gloriosa edição. Bacana, bem diagramado, com bons textos de Josimas e Maria
Rita Kehl, poemas de Hilda Hist e Carlos Drummond de Andrade e um pôster “militante”
de Ivo Delmondes. Digo mais: naquela mesma noite, ali vizinho, no CHE, os
goianos do Hellbenders se apresentaram para um bom público com as locais Nucleador
e Tody´s Trouble Band.
Hellbenders faz aquele rock pesado “mezzo” stoner cantado em
inglês que se tornou característico de Goiânia. Um bom show, energético, com
boas composições e uma boa presença de palco – um pouco exagerada, é verdade,
especialmente da parte de um dos guitarristas e principal vocalista, que não se
cansava de fazer caras e bocas e mostrar a língua a la Gene Simmons, mas
enfim, faz parte do show dele, fazer o que ...
Já a Nucleador vem renascendo das cinzas em grande estilo
com um novo – que já nem é mais tão novo – vocalista e novas – que também não são
mais tão novas – composições que estarão no seu aguardado segundo disco. Tão
aguardado que já está sendo chamado de “o chinese democracy sergipano”.
Tody´s Trouble é foda, melhor banda da cidade, atualmente. Mas
naquela noite exageraram no desleixo e só foram subir no palco em adiantadas
horas, por pura vagabundice, já que estavam todos lá, batendo papo, e o som
estava “de cima”. Vi um pouco do show, como sempre ótimo, e me mandei.
Além do CHE e do Tio Maneco – que é mais “light”, apenas
flerta com o som preferido do capeta – o Capitão Cook está reabrindo as portas
e estão surgindo, surpreendentemente, novos espaços para apresentações de rock “underground”
na cidade. Caso do Saloon, no Augusto Franco, e da Caverna do Jimi Lennon, no
centro. Lá vi, dias atrás, um excelente show de Hard Core com mais uma
devastadora apresentação da Karne Krua, que não só se recusa a “morgar” como
vem se superando a cada dia em todos os aspectos, seja nas novas composições,
seja na energia que entregam ao vivo. E perdi a estréia do Skabong, primeira
banda inteiramente dedicada ao ska da cidade – antes havia o Friendship, que
flertava com o estilo. Porque estava discotecando no segundo show depois da
reabertura do cook, com Snooze e Arthur Matos. Que não deu praticamente ninguém,
porque além do ska com renegades no Caverna estava acorrendo, no Tio Maneco, um
show de covers com Plástico jr. E Cia. Ltda. Além do Saloon, onde certamente
também estava rolando um rock.
É isso então. Ainda não temos um festival, mas por outro
lado a cena está viva e ativa, se multiplicando com qualidade, o que é mais
importante e pode gerar uma movimentação mais forte, permanente e, suprema
ambição, SUSTENTÁVEL! Meta perseguida pelo Zons, festival muito bem articulado
ao qual não compareci justamente porque estava em Maceió, no Maionese.
“Várias Variáveis”, como dizia o “grande filósofo” Humberto
Gessinger.
SQN.
A.
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