Acabo de assistir ao vivo, pela TV, as homenagens com honras militares que o governo brasileiro prestou, antes tarde do que nunca, aos restos mortais do ex-presidente João Goulart, deposto em PRIMEIRO DE ABRIL de 1964 por um golpe de estado. É sempre emocionante ver a História passar diante de seus olhos, principalmente quando se está fazendo, ao mesmo tempo, justiça. Faço minhas, também, as lágrimas derramadas pela viúva e demais parentes presentes, bem como as da presidente Dilma Roussef. Nesses momentos ela, certamente, deve lembrar o que sofreu nos porões do regime de excessão.
Aproveito para prestar, também, uma pequena reverência. Para tanto publico, na íntegra, o discurso proferido por Jango no célebre comício da Central do Brasil em que ele anunciou as reformas de base e que serviu como estopim para a rebelião nas casernas.
Clicando AQUI você assiste, na íntegra, o célebre documentário de Silvio Tendler.
Descanse em paz, presidente.
"Devo agradecer em primeiro lugar às organizações promotoras deste
comício, ao povo em geral e ao bravo povo carioca em particular, a
realização, em praça pública, de tão entusiasta e calorosa manifestação.
Agradeço aos sindicatos que mobilizaram os seus associados, dirigindo
minha saudação a todos os brasileiros que, neste instante, mobilizados
nos mais longínquos recantos deste país, me ouvem pela televisão e pelo
rádio.
Dirijo-me a todos os brasileiros, não apenas aos que
conseguiram adquirir instrução nas escolas, mas também aos milhões de
irmãos nossos que dão ao Brasil mais do que recebem, que pagam em
sofrimento, em miséria, em privações, o direito de ser brasileiro e de
trabalhar sol a sol para a grandeza deste país.
Presidente de 80 milhões de brasileiros, quero que minhas palavras sejam bem entendidas por todos os nossos patrícios.
Vou
falar em linguagem que pode ser rude, mas é sincera sem subterfúgios,
mas é também uma linguagem de esperança de quem quer inspirar confiança
no futuro e tem a coragem de enfrentar sem fraquezas a dura realidade do
presente.
Aqui estão os meus amigos trabalhadores, vencendo uma
campanha de terror ideológico e sabotagem, cuidadosamente organizada
para impedir ou perturbar a realização deste memorável encontro entre o
povo e o seu presidente, na presença das mais significativas
organizações operárias e lideranças populares deste país.
Chegou-se
a proclamar, até, que esta concentração seria um ato atentatório ao
regime democrático, como se no Brasil a reação ainda fosse a dona da
democracia, e a proprietária das praças e das ruas. Desgraçada a
democracia se tiver que ser defendida por tais democratas.
Democracia
para esses democratas não é o regime da liberdade de reunião para o
povo: o que eles querem é uma democracia de povo emudecido, amordaçado
nos seus anseios e sufocado nas suas reinvindicações.
A
democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do
anti-sindicato, da anti-reforma, ou seja, aquela que melhor atende aos
interesses dos grupos a que eles servem ou representam.
A
democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobrás;
é a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais, é a
democracia que luta contra os governos populares e que levou Getúlio
Vargas ao supremo sacrifício.
Ainda ontem, eu afirmava, envolvido
pelo calor do entusiasmo de milhares de trabalhadores no Arsenal da
Marinha, que o que está ameaçando o regime democrático neste País não é o
povo nas praças, não são os trabalhadores reunidos pacificamente para
dizer de suas aspirações ou de sua solidariedade às grandes causas
nacionais. Democracia é precisamente isso: o povo livre para
manifestar-se, inclusive nas praças públicas, sem que daí possa resultar
o mínimo de perigo à segurança das instituições.
Democracia é o
que o meu governo vem procurando realizar, como é do seu dever, não só
para interpretar os anseios populares, mas também conquistá-los pelos
caminhos da legalidade, pelos caminhos do entendimento e da paz social.
Não
há ameaça mais séria à democracia do que desconhecer os direitos do
povo; não há ameaça mais séria à democracia do que tentar estrangular a
voz do povo e de seus legítimos líderes, fazendo calar as suas mais
sentidas reinvindicações.
Estaríamos, sim, ameaçando o regime se
nos mostrássemos surdos aos reclamos da Nação, que de norte a sul, de
leste a oeste levanta o seu grande clamor pelas reformas de estrutura,
sobretudo pela reforma agrária, que será como complemento da abolição do
cativeiro para dezenas de milhões de brasileiros que vegetam no
interior, em revoltantes condições de miséria.
Ameaça à
democracia não é vir confraternizar com o povo na rua. Ameaça à
democracia é empulhar o povo explorando seus sentimentos cristãos,
mistificação de uma indústria do anticomunismo, pois tentar levar o povo
a se insurgir contra os grandes e luminosos ensinamentos dos últimos
Papas que informam notáveis pronunciamentos das mais expressivas figuras
do episcopado brasileiro.
O inolvidável Papa João XXIII é quem
nos ensina que a dignidade da pessoa humana exige normalmente como
fundamento natural para a vida, o direito ao uso dos bens da terra, ao
qual corresponde a obrigação fundamental de conceder uma propriedade
privada a todos.
É dentro desta autêntica doutrina cristã que o
governo brasileiro vem procurando situar a sua política social,
particularmente a que diz respeito à nossa realidade agrária.
O
cristianismo nunca foi o escudo para os privilégios condenados pelos
Santos Padres. Nem os rosários podem ser erguidos como armas contra os
que reclamam a disseminação da propriedade privada da terra, ainda em
mãos de uns poucos afortunados.
Àqueles que reclamam do
Presidente de República uma palavra tranqüilizadora para a Nação, o que
posso dizer-lhes é que só conquistaremos a paz social pela justiça
social.
Perdem seu tempo os que temem que o governo passe a
empreender uma ação subversiva na defesa de interesses políticos ou
pessoais; como perdem igualmente o seu tempo os que esperam deste
governo uma ação repressiva dirigida contra os interesses do povo. Ação
repressiva, povo carioca, é a que o governo está praticando e vai
amplia-la cada vez mais e mais implacavelmente, assim na Guanabara como
em outros estados contra aqueles que especulam com as dificuldades do
povo, contra os que exploram o povo e que sonegam gêneros alimentícios e
jogam com seus preços.
Ainda ontem, trabalhadores e povo
carioca, dentro da associações de cúpula de classes conservadoras,
levanta-se a voz contra o Presidente pelo crime de defender o povo
contra aqueles que o exploram nas ruas, em seus lares, movidos pela
ganância.
Não tiram o sono as manifestações de protesto dos
gananciosos, mascarados de frases patrióticas, mas que, na realidade,
traduzem suas esperanças e seus propósitos de restabelecer a impunidade
para suas atividades anti-sociais.
Não receio ser chamado de
subversivo pelo fato de proclamar, e tenho proclamado e continuarei a
proclamando em todos os recantos da Pátria – a necessidade da revisão da
Constituição, que não atende mais aos anseios do povo e aos anseios do
desenvolvimento desta Nação.
Essa Constituição é antiquada,
porque legaliza uma estrutura sócio-econômica já superada, injusta e
desumana; o povo quer que se amplie a democracia e que se ponha fim aos
privilégios de uma minoria; que a propriedade da terra seja acessível a
todos; que a todos seja facultado participar da vida política através do
voto, podendo votar e ser votado; que se impeça a intervenção do poder
econômico nos pleitos eleitorais e seja assegurada a representação de
todas as correntes políticas, sem quaisquer discriminações religiosas ou
ideológicas.
Todos têm o direito à liberdade de opinião e de
manifestar também sem temor o seu pensamento. É um princípio fundamental
dos direitos do homem, contido na Carta das Nações Unidas, e que temos o
dever de assegurar a todos os brasileiros.
Está nisso o sentido
profundo desta grande e incalculável multidão que presta, neste
instante, manifestação ao Presidente que, por sua vez, também presta
conta ao povo dos seus problemas, de suas atitudes e das providências
que vem adotando na luta contra forças poderosas, mas que confia sempre
na unidade do povo, das classes trabalhadoras, para encurtar o caminho
da nossa emancipação.
É apenas de lamentar que parcelas ainda
ponderáveis que tiveram acesso à instrução superior continuem
insensíveis, de olhos e ouvidos fechados à realidade nacional.
São
certamente, trabalhadores, os piores surdos e os piores cegos, porque
poderão, com tanta surdez e tanta cegueira, ser os responsáveis perante a
História pelo sangue brasileiro que possa vir a ser derramado, ao
pretenderem levantar obstáculos ao progresso do Brasil e à felicidade de
seu povo brasileiro.
De minha parte, à frente do Poder
Executivo, tudo continuarei fazendo para que o processo democrático siga
um caminho pacífico, para que sejam derrubadas as barreiras que impedem
a conquista de novas etapas do progresso.
E podeis estar certos,
trabalhadores, de que juntos o governo e o povo – operários ,
camponeses, militares, estudantes, intelectuais e patrões brasileiros,
que colocam os interesses da Pátria acima de seus interesses, haveremos
de prosseguir de cabeça erguida, a caminhada da emancipação econômica e
social deste país.
O nosso lema, trabalhadores do Brasil, é “progresso com justiça, e desenvolvimento com igualdade”.
A
maioria dos brasileiros já não se conforma com uma ordem social
imperfeita, injusta e desumana. Os milhões que nada têm impacientam-se
com a demora, já agora quase insuportável, em receber os dividendos de
um progresso tão duramente construído, mas construído também pelos mais
humildes.
Vamos continuar lutando pela construção de novas
usinas, pela abertura de novas estradas, pela implantação de mais
fábricas, por novas escolas, por mais hospitais para o nosso povo
sofredor; mas sabemos que nada disso terá sentido se o homem não for
assegurado o direito sagrado ao trabalho e uma justa participação nos
frutos deste desenvolvimento.
Não, trabalhadores; sabemos muito
bem que de nada vale ordenar a miséria, dar-lhe aquela aparência bem
comportada com que alguns pretendem enganar o povo. Brasileiros, a hora é
das reformas de estrutura, de métodos, de estilo de trabalho e de
objetivo. Já sabemos que não é mais possível progredir sem reformar; que
não é mais possível admitir que essa estrutura ultrapassada possa
realizar o milagre da salvação nacional para milhões de brasileiros que
da portentosa civilização industrial conhecem apenas a vida cara, os
sofrimentos e as ilusões passadas.
O caminho das reformas é o
caminho do progresso pela paz social. Reformar é solucionar
pacificamente as contradições de uma ordem econômica e jurídica superada
pelas realidades do tempo em que vivemos.
Trabalhadores,
acabei de assinar o decreto da SUPRA com o pensamento voltado para a
tragédia do irmão brasileiro que sofre no interior de nossa Pátria.
Ainda não é aquela reforma agrária pela qual lutamos.
Ainda não é a reformulação de nosso panorama rural empobrecido.
Ainda não é a carta de alforria do camponês abandonado.
Mas é o primeiro passo: uma porta que se abre à solução definitiva do problema agrário brasileiro.
O
que se pretende com o decreto que considera de interesse social para
efeito de desapropriação as terras que ladeiam eixos rodoviários, leitos
de ferrovias, açudes públicos federais e terras beneficiadas por obras
de saneamento da União, é tornar produtivas áreas inexploradas ou
subutilizadas, ainda submetidas a um comércio especulativo, odioso e
intolerável.
Não é justo que o benefício de uma estrada, de um
açude ou de uma obra de saneamento vá servir aos interesses dos
especuladores de terra, quase apoderaram das margens das estradas e dos
açudes. A Rio-Bahia, por exemplo, que custou 70 bilhões de dinheiro do
povo, não deve beneficiar os latifundiários, pela multiplicação do valor
de suas propriedades, mas sim o povo.
Não o podemos fazer, por
enquanto, trabalhadores, como é de prática corrente em todos os países
do mundo civilizado: pagar a desapropriação de terras abandonadas em
títulos de dívida pública e a longo prazo.
Reforma agrária com
pagamento prévio do latifundio improdutivo, à vista e em dinheiro, não é
reforma agrária. É negócio agrário, que interessa apenas ao
latifundiário, radicalmente oposto aos interesses do povo brasileiro.
Por isso o decreto da SUPRA não é a reforma agrária.
Sem reforma
constitucional, trabalhadores, não há reforma agrária. Sem emendar a
Constituição, que tem acima de dela o povo e os interesses da Nação, que
a ela cabe assegurar, poderemos ter leis agrárias honestas e
bem-intencionadas, mas nenhuma delas capaz de modificações estruturais
profundas.
Graças à colaboração patriótica e técnica das nossas
gloriosas Forças Armadas, em convênios realizados com a SUPRA, graças a
essa colaboração, meus patrícios espero que dentro de menos de 60 dias
já comecem a ser divididos os latifúndios das beiras das estradas, os
latifúndios aos lados das ferrovias e dos açudes construídos com o
dinheiro do povo, ao lado das obras de saneamento realizadas com o
sacrifício da Nação. E, feito isto, os trabalhadores do campo já
poderão, então, ver concretizada, embora em parte, a sua mais sentida e
justa reinvindicação, aquela que lhe dará um pedaço de terra para
trabalhar, um pedaço de terra para cultivar. Aí, então, o trabalhador e
sua família irão trabalhar para si próprios, porque até aqui eles
trabalham para o dono da terra, a quem entregam, como aluguel, metade de
sua produção. E não se diga, trabalhadores, que há meio de se fazer
reforma sem mexer a fundo na Constituição. Em todos os países
civilizados do mundo já foi suprimido do texto constitucional parte que
obriga a desapropriação por interesse social, a pagamento prévio, a
pagamento em dinheiro.
No Japão de pós-guerra, há quase 20 anos,
ainda ocupado pelas forças aliadas vitoriosas, sob o patrocínio do
comando vencedor, foram distribuídos dois milhões e meio de hectares das
melhores terras do país, com indenizações pagas em bônus com 24 anos de
prazo, juros de 3,65% ao ano. E quem é que se lembrou de chamar o
General MacArthur de subversivo ou extremista?
Na Itália,
ocidental e democrática, foram distribuídos um milhão de hectares, em
números redondos, na primeira fase de uma reforma agrária cristã e
pacífica iniciada há quinze anos, 150 mil famílias foram beneficiadas.
No
México, durante os anos de 1932 a 1945, foram distribuídos trinta
milhões de hectares, com pagamento das indenizações em títulos da dívida
pública, 20 anos de prazo, juros de 5% ao ano, e desapropriação dos
latifúndios com base no valor fiscal.
Na Índia foram promulgadas
leis que determinam a abolição da grande propriedade mal aproveitada,
transferindo as terras para os camponeses.
Essas leis abrangem
cerca de 68 milhões de hectares, ou seja, a metade da área cultivada da
Índia. Todas as nações do mundo, independentemente de seus regimes
políticos, lutam contra a praga do latifúndio improdutivo.
Nações
capitalistas, nações socialistas, nações do Ocidente, ou do Oriente,
chegaram à conclusão de que não é possível progredir e conviver com o
latifúndio.
A reforma agrária não é capricho de um governo ou
programa de um partido. É produto da inadiável necessidade de todos os
povos do mundo. Aqui no Brasil, constitui a legenda mais viva da
reinvindicação do nosso povo, sobretudo daqueles que lutaram no campo.
A reforma agrária é também uma imposição progressista do mercado interno, que necessita aumentar a sua produção para sobreviver.
Os
tecidos e os sapatos sobram nas prateleiras das lojas e as nossas
fábricas estão produzindo muito abaixo de sua capacidade. Ao mesmo tempo
em que isso acontece, as nossas populações mais pobres vestem farrapos e
andam descalças, porque não tem dinheiro para comprar.
Assim, a
reforma agrária é indispensável não só para aumentar o nível de vida do
homem do campo, mas também para dar mais trabalho às industrias e melhor
remuneração ao trabalhador urbano.
Interessa, por isso, também a
todos os industriais e aos comerciantes. A reforma agrária é
necessária, enfim, à nossa vida social e econômica, para que o país
possa progredir, em sua indústria e no bem-estar do seu povo.
Como
garantir o direito de propriedade autêntico, quando dos quinze milhões
de brasileiros que trabalham a terra, no Brasil, apenas dois milhões e
meio são proprietários?
O que estamos pretendendo fazer no
Brasil, pelo caminho da reforma agrária, não é diferente, pois, do que
se fez em todos os países desenvolvidos do mundo. É uma etapa de
progresso que precisamos conquistar e que haveremos de conquistar.
Esta
manifestação deslumbrante que presenciamos é um testemunho vivo de que a
reforma agrária será conquistada para o povo brasileiro. O próprio
custo da produção, trabalhadores, o próprio custo dos gêneros
alimentícios está diretamente subordinado às relações entre o homem e a
terra. Num país em que se paga aluguéis da terra que sobem a mais de 50
por cento da produção obtida daquela terra, não pode haver gêneros
baratos, não pode haver tranquilidade social. No meu Estado, por
exemplo, o Estado do deputado Leonel Brizola, 65% da produção de arroz é
obtida em terras alugadas e o arrendamento ascende a mais de 55% do
valor da produção. O que ocorre no Rio Grande é que um arrendatário de
terras para plantio de arroz paga, em cada ano, o valor total da terra
que ele trabahou para o proprietário. Esse inquilinato rural desumano é
medieval é o grande responsável pela produção insuficiente e cara que
torna insuportável o custo de vida para as classes populares em nosso
país.
A reforma agrária só prejudica a uma minoria de
insensíveis, que deseja manter o povo escravo e a Nação submetida a um
miserável padrão de vida.
E é claro, trabalhadores, que só se
pode iniciar uma reforma agrária em terras economicamente aproveitáveis.
E é claro que não poderíamos começar a reforma agrária, para atender
aos anseios do povo, nos Estados do Amazonas ou do Pará. A reforma
agrária deve ser iniciada nas terras mais valorizadas e ao lado dos
grandes centros de consumo, com transporte fácil para o seu escoamento.
Governo
nenhum, trabalhadores, povo nenhum, por maior que seja seu esforço, e
até mesmo o seu sacrifício, poderá enfrentar o monstro inflacionário que
devora os salários, que inquieta o povo assalariado, se não forem
efetuadas as reformas de estrutura de base exigidas pelo povo e
reclamadas pela Nação.
Tenho autoridade para lutar pela reforma
da atual Constituição, porque esta reforma é indispensável e porque seu
objetivo único e exclusivo é abrir o caminho para a solução harmônica
dos problemas que afligem o nosso povo.
Não me animam,
trabalhadores – e é bom que a nação me ouça – quaisquer propósitos de
ordem pessoal. Os grandes beneficiários das reformas serão, acima de
todos, o povo brasileiro e os governos que me sucederem. A eles,
trabalhadores, desejo entregar uma Nação engrandecida, emancipada e cada
vez mais orgulhosa de si mesma, por ter resolvido mais uma vez,
pacificamente, os graves problemas que a História nos legou. Dentro de
48 horas, vou entregar à consideração do Congresso Nacional a mensagem
presidencial deste ano.
Nela, estão claramente expressas as
intenções e os objetivos deste governo. Espero que os senhores
congressistas, em seu patriotismo, compreendam o sentido social da ação
governamental, que tem por finalidade acelerar o progresso deste país e
assegurar aos brasileiros melhores condições de vida e trabalho, pelo
caminho da paz e do entendimento, isto é pelo caminho reformista.
Mas
estaria faltando ao meu dever se não transmitisse, também, em nome do
povo brasileiro, em nome destas 150 ou 200 mil pessoas que aqui estão,
caloroso apelo ao Congresso Nacional para que venha ao encontro das
reinvindicações populares, para que, em seu patriotismo, sinta os
anseios da Nação, que quer abrir caminho, pacífica e democraticamente
para melhores dias. Mas também, trabalhadores, quero referir-me a um
outro ato que acabo de assinar, interpretando os sentimentos
nacionalistas destes país. Acabei de assinar, antes de dirigir-me para
esta grande festa cívica, o decreto de encampação de todas as refinarias
particulares.
A partir de hoje, trabalhadores brasileiros, a
partir deste instante, as refinarias de Capuava, Ipiranga, Manguinhos,
Amazonas, e Destilaria Rio Grandense passam a pertencer ao povo, passam a
pertencer ao patrimônio nacional.
Procurei, trabalhadores,
depois de estudos cuidadosos elaborados por órgãos técnicos, depois de
estudos profundos, procurei ser fiel ao espírito da Lei n. 2.004, lei
que foi inspirada nos ideais patrióticos e imortais de um brasileiro que
também continua imortal em nossa alma e nosso espírito.
Ao
anunciar, à frente do povo reunido em praça pública, o decreto de
encampação de todas as refinarias de petróleo particulares, desejo
prestar homenagem de respeito àquele que sempre esteve presente nos
sentimentos do nosso povo, o grande e imortal Presidente Getúlio Vargas.
O
imortal e grande patriota Getúlio Vargas tombou, mas o povo continua a
caminhada, guiado pelos seus ideais. E eu, particurlamente, vivo hoje
momento de profunda emoção ao poder dizer que, com este ato, soube
interpretar o sentimento do povo brasileiro.
Alegra-me ver,
também, o povo reunido para prestigiar medidas como esta, da maior
significação para o desenvolvimento do país e que habilita o Brasil a
aproveitar melhor as suas riquezas minerais, especialmente as riquezas
criadas pelo monopólio do petróleo. O povo estará sempre presente nas
ruas e nas praças públicas, para prestigiar um governo que pratica atos
como estes, e também para mostrar às forças reacionárias que há de
continuar a sua caminhada, no rumo da emancipação nacional.
Na
mensagem que enviei à consideração do Congresso Nacional, estão
igualmente consignadas duas outras reformas que o povo brasileiro
reclama, porque é exigência do nosso desenvolvimento e da nossa
democracia. Refiro-me à reforma eleitoral, à reforma ampla que permita a
todos os brasileiros maiores de 18 anos ajudar a decidir dos seus
destinos, que permita a todos os brasileiros que lutam pelo
engrandecimento do país a influir nos destinos gloriosos do Brasil.
Nesta reforma, pugnamos pelo princípio democrático, princípio
democrático fundamental, de que todo alistável deve ser também elegível.
Também
está consignada na mensagem ao Congresso a reforma universitária,
reclamada pelos estudantes brasileiros. Pelos universitários, classe que
sempre tem estado corajosamente na vanguarda de todos os movimentos
populares nacionalistas.
Ao lado dessas medidas e desses
decretos, o governo continua examinando outras providências de
fundamental importância para a defesa do povo, especialmente das classes
populares.
Dentro de poucas horas, outro decreto será dado ao
conhecimento da Nação. É o que vai regulamentar o preço extorsivo dos
apartamentos e residências desocupados, preços que chegam a afrontar o
povo e o Brasil, oferecidos até mediante o pagamento em dólares.
Apartamento no Brasil só pode e só deve ser alugado em cruzeiros, que é
dinheiro do povo e a moeda deste país. Estejam tranqüilos que dentro em
breve esse decreto será uma realidade.
E realidade há de ser
também a rigorosa e implacável fiscalização para seja cumprido. O
governo, apesar dos ataques que tem sofrido, apesar dos insultos, não
recuará um centímetro sequer na fiscalização que vem exercendo contra a
exploração do povo. E faço um apelo ao povo para que ajude o governo na
fiscalização dos exploradores do povo, que são também exploradores do
Brasil. Aqueles que desrespeitarem a lei, explorando o povo – não
interessa o tamanho de sua fortuna, nem o tamanho de seu poder, esteja
ele em Olaria ou na Rua do Acre – hão de responder, perante a lei, pelo
seu crime.
Aos servidores públicos da Nação, aos médicos, aos
engenheiros do serviço público, que também não me têm faltado com seu
apoio e o calor de sua solidariedade, posso afirmar que suas
reinvindicações justas estão sendo objeto de estudo final e que em breve
serão atendidas. Atendidas porque o governo deseja cumprir o seu dever
com aqueles que permanentemente cumprem o seu para com o país.
Ao
encerrar, trabalhadores, quero dizer que me sinto reconfortado e
retemperado para enfrentar a luta que tanto maior será contra nós quanto
mais perto estivermos do cumprimento de nosso dever. À medida que esta
luta apertar, sei que o povo também apertará sua vontade contra aqueles
quenão reconhecem os direitos populares, contra aqueles que exploram o
povo e a Nação.
Sei das reações que nos esperam, mas estou
tranqüilo, acima de tudo porque sei que o povo brasileiro já está
amadurecido, já tem consciência da sua força e da sua unidade, e não
faltará com seu apoio às medidas de sentido popular e nacionalista.
Quero
agradecer, mais uma vez, esta extraordinária manifestação, em que os
nossos mais significativos líderes populares vieram dialogar com o povo
brasileiro, especialmente com o bravo povo carioca, a respeito dos
problemas que preocupam a Nação e afligem todos os nossos patrícios.
Nenhuma força será capaz de impedir que o governo continue a assegurar
absoluta liberdade ao povo brasileiro. E, para isto, podemos declarar,
com orgulho, que contamos com a compreensão e o patriotismo das bravas e
gloriosas Forças Armadas da Nação.
Hoje, com o alto testemunho
da Nação e com a solidariedade do povo, reunido na praça que só ao povo
pertence, o governo, que é também o povo e que também só ao povo
pertence, reafirma os seus propósitos inabaláveis de lutar com todas as
suas forças pela reforma da sociedade brasileira. Não apenas pela
reforma agrária, mas pela reforma tributária, pela reforma eleitoral
ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os
brasileiros, pela pureza da vida democrática, pela emancipação
econômica, pela justiça social e pelo progresso do Brasil.
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