sexta-feira, 28 de junho de 2013

ɯәpɹo ɐp ɐɹoɟ áʇsә ɐs!oɔ ɐɯnƃʃɐ

Faço minhas, mais uma vez, as palavras de Cynara Menezes, a "socialista morena", no post que reproduzo abaixo. Com ênfase para o fato de que, caso as manifestações realmente consigam a concretização de uma reforma política positiva e consistente, terá sido uma vitória e tanto. Pelo menos o financiamento público das campanhas tem que passar - é praticamente a raiz de todo o mal da corrupção. É a raiz, inclusive, do mal contra o qual os atuais protestos foram originalmente organizados - o das máfias que controlam o transporte público nas grandes cidades.

Destaco também um ponto tocado por Suyenne Correia em seu blog: não vi nenhum cartaz exigindo mais atenção para a cultura. E, como muito bem dizia o grande Raul Seixas, "é preciso ter cultura pra cuspir na estrutura".

* * *

Já critiquei aqui a falta de foco da grande maioria dos manifestantes que foram às ruas nas últimas semanas para protestar contra “tudo”. Desde então, apareceram algumas listas e pesquisas sobre o que querem os manifestantes. Encabeça o rol a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) número 37, que reduz o papel do Ministério Público nas investigações policiais, um projeto polêmico que não encontra consenso nem no meio jurídico – e sobre o qual muitos dos que bradam contra ela não sabem quase nada além de ouvir falar que é a “PEC da Impunidade”. Eu tenho dúvidas até se sabem o que significa a palavra “PEC”.


UPDATE: a PEC 37 foi arquivada pela Câmara na terça-feira à noite. Vitória dos manifestantes. Devo tirar o chapéu para eles, não importa que soubessem ou não profundamente do que se tratava. Derrubaram a PEC, uma PEC no mínimo polêmica. Parabéns.

Segundo pesquisa Ibope revelada domingo à noite no programa Fantástico, 24% dos que foram aos protestos disseram estar ali “contra a corrupção”, de forma genérica, e 6% contra a PEC37. 12% alegaram defender melhorias para a saúde e 5% estavam protestando contra os gastos da Copa do Mundo e em favor da educação. Vi gente pedindo à presidenta Dilma várias coisas que não são de sua alçada, como a destituição de Renan Calheiros da presidência do Senado, o que para mim é significativo da falta de consciência política e de informação da maior parte dos manifestantes.
Um problema, aliás, que atribuo ao PT: em dez anos de governo, o partido pouco ou nada investiu na formação política e na conscientização da juventude. Na Venezuela, mesmo os adversários reconhecem o papel que Hugo Chávez teve na formação de uma juventude consciente. Tanto é que, de esquerda ou de direita, os jovens venezuelanos conhecem seus direitos e a Constituição do país. No Brasil estamos a anos-luz disso.

Já mencionei os polêmicos projetos do Estatuto do Nascituro e da Cura Gay, que os fundamentalistas tentam empurrar goela abaixo da população esclarecida e que não vêm sendo suficientemente denunciados nas manifestações. Eu pergunto: se você, cidadão consciente, ainda pretende ir às manifestações (pessoalmente, defendi que sou a favor de uma trégua), que tipo de bandeira pretende empunhar? Você saberia responder por que estas questões estão ausentes dos protestos? A quem interessa que não sejam lembradas?

Até agora várias pautas continuam de fora dos protestos, que, a meu ver, além de terem descambado para a violência por conta de uma minoria exaltada, continuam vazios de significado. Curiosamente, todas progressistas. Algumas delas: 

– A FAVOR: PEC90, de autoria da deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), estabelece a mobilidade urbana e metropolitana como direito social nos termos do artigo sexto da Constituição, ao lado da saúde e da educação. Se aprovada, poderia trazer melhorias fundamentais ao transporte público, item primordial dos protestos. UPDATE: a PEC90 foi aprovada pela CCJ da Câmara. Outra vitória que também pode ser atribuída à pressão popular.

– CONTRA: Lei Geral das Religiões, prestes a ir ao plenário do Senado, prejudica religiões minoritárias como as de matriz africana (umbanda e candomblé), e torna o ensino religioso obrigatório. 

– A FAVOR: Reforma Política. O financiamento público de campanha seria capaz de reduzir a corrupção em todas as esferas governamentais. 

– CONTRA: PEC215, de autoria do deputado federal Almir Sá (PPB-RR), que retira do Executivo a palavra final sobre a demarcação de terras indígenas e a repassa ao Congresso. Esta PEC é a atual causa de revolta dos índios no País. 

– A FAVOR: Imposto sobre as grandes fortunas, que incidiria sobrre contribuintes que têm patrimônio superior a 4 milhões de reais. Isso representaria uma arrecadação de 14 bilhões de reais que poderiam muito bem reforçar o orçamento da saúde, por exemplo. 

– CONTRA: PEC33, aprovada pelo PT em conjunto com o PSDB na Comissão de Constituição e Justiça, torna possível ao Congresso questionar algumas decisões do Supremo. Imaginem o perigo. 

– A FAVOR: desmilitarização da polícia. 

– CONTRA: alianças do PT com o conservadorismo. Por que ninguém pede que Dilma rompa com os ruralistas e com a bancada evangélica?


por Cynara Menezes

Socialista Morena


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