quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Living In The Shit

ESCARRO NAPALM ENTREVISTA LIVING IN THE SHIT

1. QUANDO VOCÊS COMEÇARAM, FAZIAM HARD CORE. O QUE OS MOTIVOU A MONTAR A BANDA, E O QUE FAZIAM ANTES?
L.I.S.: Na época a gente freqüentava shows de hard core punk, e eu tinha uma vontade muito grande de montar uma banda. Só faltavam pessoas que estivessem a fim. O Eduardo estudava e tocava teclado, o Júnior sonhava em tocar bateria, o Goiaba queria tocar baixo e eu, já que não tinha jeito pra nada, fiquei como vocalista. E o Eduardo como guitarrista. Antes de formar a banda a gente estudava.

2. TENDO EM VISTA QUE SÃO AUTODIDATAS, OU SEJA, APRENDERAM A TOCAR SOZINHOS, CONTEM-NOS COMO FOI ESTE PROCESSO – MUITO ENSAIO? MUITO SHOW?
L.I.S.: Foram muitos ensaios, tanto que a banda quase que acabava logo no começo por excesso de ensaio. Não tinham muitos shows, a gente ensaiava pra aprender a tocar e a compor.

3. EU VI O 2º SHOW DE VOCÊS, AINDA H.C. PURO, E ACHEI MUITO BOM. MAS SEMPRE HAVIA UMA TURMA DE RADICALOIDES XINGANDO. A QUE VOCÊS ATRIBUEM O FATO DO LIVING IN THE SHIT INCOMODAR TANTO, E COMO ANDA, HOJE, A RELAÇÃO DA BE VOCÊS COM AS DEMAIS BANDAS DE MACEIÓ?
L.I.S.: Naquela época os caras não gostavam pelo simples fato de ter um surfista na banda – coisa de ignorante, mesmo. Hoje não gostam da gente por aqui porque nós estamos tendo mais oportunidades do que qualquer outra banda já teve, seja ela de hardcore ou jazz. Ninguém gosta, as rádios nos ignoram, pelo simples fato da gente ser conhecido e reconhecido em todo o país.

4. O L.I.S. MUDOU MUITO – COMO ACONTECEU? FOI UM ROMPIMENTO BRUSCO OU AS COISAS FORAM SURGINDO NATURALMENTE?
L.I.S.: Quanto mais a gente ensaia, mais a gente evolui. Uma banda demora cerca de dois anos no mínimo para ter uma identidade, saber o que realmente quer. O L.I.S. hoje é uma banda underground que está quase na mídia, acho que só falta o disco. O pessoal que compra nossas demos nos adora, falta alguém da imprensa perceber isso e deixar de lado um pouco os modismos que surgem por aí.

5. COMO VOCÊS DEFINIRIAM O SOM DO LIVING IN THE SHIT HOJE?
L.I.S.: Saber o que a gente toca é um pouco complicado. Nós misturamos muitos estilos, damos nossos toques pessoais. Não dizemos: nós somos uma banda de funk metal, porque funk metal é um tanto limitado. Cada um diz alguma coisa. Nós temos muita influência de música negra, misturamos rap, reggae, thrash, rock n roll, funk, noise, hip hop, psicodelismo e também um pouco de jazz nas músicas novas.

6. VOCÊS HOJE PARECEM REPRESENTAR MAIS A CENA DE RECIFE QUE DA SUA PRÓPRIA CIDADE NATAL. COMO E PORQUE ISSO ACONTECE?
L.I.S.: Isso acontece por que aqui em Maceió não nos dão espaço. Existe um preconceito muito grande com a gente. Em Recife a gente toca desde 1992, evoluímos e crescemos lá. O pessoal de Recife é muito legal e sabe dar o valor que merecemos. Nós moramos em Maceió, mas nos consideramos uma banda pernambucana.

7. CONTEM-NOS COMO FOI O EPISODIO DA POLICIA TER PRENDIDO VOCÊS E TAL – PRETENDEM FAZER ALGUMA MUSICA RELATANDO O FATO, COMO É DE PRAXE?
L.I.S.: Essa pergunta é foda! A gente ia tocar em um festival em Recife. Eu fui na frente da banda pra agilizar uns contatos. No outro dia os caras foram e o baixista resolveu fumar lá atrás do ônibus, porque estava quase vazio. O resto da banda tava dormindo. O cara foi, e teve o azar de estarem no ônibus dois policiais a paisana. Todo mundo acordou com um revolver na cabeça, sem saber o que estava acontecendo. O cara tinha dito que todo mundo tava chapado, e que todos estavam “de cima”. Foi todo mundo preso, inclusive minha irmã e minha namorada. O show foi cancelado e se não fosse meu pai e o pai do Junior todo mundo tinha levado processo por causa desse sujeito. Mas hoje ele não está mais na banda. Fizemos 3 músicas falando sobre isso: “LEGALIZE MARIJUANA NOW LOU”, “I WANNA SMOKE” e “ GANJHA YEAH”.

8. O L.I.S. É A FAVOR DA LIBERALIZAÇÃO DO USO DA MACONHA?
L.I.S.: Não temos nada contra, se for usada conscientemente.

9. O QUE VOCÊS OUVEM INFLUENCIA DE QUE FORMA NO SOM QUE VOCÊS FAZEM? FALANDO NISTO, O QUE VOCÊS OUVEM?
L.I.S.: Quando vamos fazer alguma música nunca nos inspiramos em ninguém, parece até mentira. Por exemplo, se eu fosse me guiar pelas bandas que eu gosto, nosso som seria uma cópia mal feita do smashing punpkins. E isso não acontece, começamos a fazer música pensando no estilo que tocamos. Nós escutamos muitas coisas, minhas bandas favoritas são DeFalla, Smashing Punpkins, Beastie Boys, De La Soul, P. J. Harvey, Bob Marley, Ziggy Marley, Yo Ho Delic, Eddie, Chico Science, etc

10. UMA PEQUENA SABATINA É SEMPRE BOM PRA SABER O QUE PASSA NA CABEÇA DO ENTREVISTADO. EU VOU CITAR UM ASSUNTO E VOCÊS COMENTAM O QUE VIER A MENTE NA HORA:
#KURT COBAIN... meu ídolo e fonte de inspiração.
#ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS... votem a favor do imposto único.
#HOMOSSEXUALISMO... nada contra.
#FANZINES... melhor e mais honesto meio de divulgação das artes.
#BOCETA... objeto de prazer e desejo do homem. (NOTA ATUALIZADA: mas que perguntinha idiota essa minha)
#ROCK INDEPENDENTE... no Brasil falta mais organização e apoio da imprensa que se diz especializada, dar mais valor às bandas que realmente merecem e precisam de ajuda.

11. PLANOS PARA O FUTURO?
L.I.S.: gravar nosso primeiro CD e continuar evoluindo.

12. PRA TERMINAR: MACEIÓ AINDA É “A TERRA ONDE O TEMPO PAROU”? (NOTA ATUALIZADA: referencia a uma música da primeira demo deles)
L.I.S.: Aqui o que estava faltando acabou de acontecer: o vento parou e as mulheres alagoanas ficaram cegas.

Adelvan perguntou
Marcelo respondeu

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A entrevista acima foi feita em algum momento da primeira metade dos anos 90 e publicada, originalmente, no Escarro Napalm, fase Fanzine “xerocado”. Eu era bastante amigo dos caras da Living In The Shit, especialmente de Marcelo, o vocalista, com quem trocava correspondências já há algum tempo.

Conheci a banda na primeira vez que fui a Maceió, acompanhando a Karne Krua, que era a atração “de fora” de um Festival que aconteceu na quadra da UESA (união dos Estudantes Secundaristas de Alagoas), célebre point de shows “underground” da cidade na época. Duas bandas locais me chamaram a atenção: Morcegos, pela tosqueira (anunciaram “Anarchy in the uk” como “um cover do Megadeth”), e Living In The Shit, que também era tosquinho, mas tinha “mojo”, uma pegada diferente do feijão com arroz que era quase sempre servido pelas bandas de Hard Core “tradicionais”. Tanto que eram abertamente hostilizados por parte do público, como se fossem playboys intrusos na “cena”. Isso, por si só, já seria o suficiente para conquistar minha simpatia (sempre fui chegado em “traidores” dos movimentos), mas também havia curtido o som, tanto que fui, segundo Marcelo, a primeira pessoa a comprar a primeira cópia da primeira demo deles, "Mente Atrofiada".

Minhas suspeitas se confirmaram algum tempo depois, quando eles lançaram a segunda demo, “The world Ass Rock”, com um som bem mais elaborado, suingado e cheio de novas influências. Além disso, a capinha era caprichada, colorida e impressa em gráfica em papel de boa qualidade. Essa demo foi um marco, chamando inclusive a atenção de “bambambams” do cenário alternativo, como o produtor Carlos Eduardo Miranda, e projetando-os nacionalmente.

Seguiram tocando muito, especialmente em Recife e Olinda, onde eram muito ligados ao pessoal do Eddie. Tocaram nas primeiras edições dos Festivais Abril pro rock e RecBeat e foram, ao que consta, a primeira banda alagoana da época a cair na estrada Brasil afora. Em São Paulo, participaram e venceram um concurso promovido por um antigo programa da MTV, o ULTRASOM. Na ocasião o apresentador, Gastão Moreira, afirmou que Eduardo era “o melhor guitarrista wah-wah do país”.

Em Aracaju tocaram três vezes: a primeira no Mahalo Disco Club do centro, num show memorável que pôs na roda até notórios amigos avessos a “rodas”, como Marlio, antigo baixista da Karne krua, que era fã. Na segunda, no Batata Quente da orla, abrindo para o Mundo Livre S/A, e na terceira, já sem Marcelo, mas ainda com Juninho, que posteriormente atenderia por Sonic jr., no Festival Rock-se, em 1998. Seu som estava totalmente descaracterizado, era reggae “roots” puro. Ou não, já que o Living, assim como o DeFalla, uma de suas maiores influências, mudava sempre de sonoridade – às vezes abusando das referências, o que gerou, em Recife, o apelido jocoso de “living in the Xerox”. Pura maldade, os caras podiam não ser 100% originais o tempo inteiro, mas eram sempre muito competentes. Aliás, era o que mais destacava a banda no cenário da época: a competência e o profissionalismo.

Em 1995 lançaram seu primeiro CD, “chá magiológico”, depois de mais uma reviravolta, a meu ver, trágica (ok, não é pra tanto, mas que prejudicou, prejudicou): abandonaram o inglês e encheram suas letras de gírias regionais e praieiras pretensamente malandras e “ixpertas” que, pelo menos aos meus ouvidos, soaram muito mal. Fake, como se fiz hoje em dia. Coisas como “raputenga crancolina”, que Marcelo me explicou, sem nenhum constrangimento, que era um termo para chamar uma dama de “rapariga, puta e quenga” (????!!!!). Fora isso, o disco é bom, muito bem gravado, especialmente para a época, e com a competência de sempre nos arranjos e na execução das músicas. Uma delas, inclusive, virou clip com rotação razoável na MTV, “quentura” (procurei no Youtube mas não achei).

A banda acabou no final dos anos 90, pouco tempo depois do último show por aqui. Ou melhor: mudou de nome, para “Bombalá”. Parece que não bombou, então finalmente acabou. Teve uma sobrevida na metade dos anos 2000, quando voltaram a fazer alguns shows sob o comando da guitarra ainda afiada e nervosa de Eduardo Quintela, dentre os quais um no badalado festival FMI, de 2006.

Aliás, gostaria de saber o que Eduardo anda fazendo da vida ...
Juninho continua como Sonic jr.
Marcelo ainda mora nos States.
Dos outros eu não sei.

por Adelvan

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A história do rock nos anos 90 em Alagoas, especialmente em Maceió, começa sem dúvida com o Living in The Shit, banda importante naquele cenário tão enérgico e frutífero da pequena capital à beira mar. Não só por terem se destacado ao cruzar fronteiras tocando por vários estados e regiões, mas pela diversidade que aquele som e aquela atitude dos garotos traziam.

Era o fim da era “turma do metal contra turma dos punks”, era o tempo do crossover, da mistura, do encontro, que sem dúvida, influenciou outros grupos contemporâneos em Maceió como Ball, Mental, Dread e outras tantas bandas alagoanas. Além disso, o pessoal do Living, sobretudo o Eduardo Quintela e sua guitarra alucinante, tiveram participação fundamental na construção de uma sonoridade que viria a caracterizar o manguebeat, ou ainda pré-manguebeat, ao lado de Jorge Cabeleira, Eddie, Mundo Livre, entre outras tantas que rodaram na AL 101 Norte tocando entre Maceió e Recife. O Gastão Moreira, ex-VJ da Mtv, afirmou em apresentação do Living no programa Ultrasom, da MTV, que Eduardo era “o melhor guitarrista wah-wah do país”. A banda lançou várias fitas demo, como “The World Ass Rock”, “Quentura” e o primeiro, único e indispensável álbum, “Chá Magiológico”! Os punks de Maceió(!?) na época detestavam o Living, eram “traidores do movimento”, eles diziam. Ainda bem!

Falando em punks conservadores e turma do metal, duas bandas são emblemáticas nesse sentido em Maceió: Misantropia e Morcegos. Verdadeiras instituições, estandartes, autarquias ao representarem o hardcore (de verdade, diriam alguns) e o metal extremo (ou extremista, diriam outros). Misantropia e Morcegos são bandas que nunca vão acabar, nunca vão fazer sucesso, nunca poderão terminar ou mesmo se preocupar em serem esquecidas ou lembradas. Afinal, aquilo ali é que é a mais autêntica expressão artística, descomprometida, livre, verdadeira! Acho que os Morcegos já vão pra mais de 20 anos de banda e soube recentemente de um dos integrantes do Misantropia que o grupo vai lançar um CD depois de todo esse tempo.

Nenhuma das bandas citadas acima tinha o prestígio e a popularidade do Avoid, grupo que oscilava entre o thrash metal quando queriam ser uns caras pesadões e o hard rock farofa quando pensavam em ser pop. A Música que levava o nome da banda era cantada em uníssono pelo público numeroso, com direito até a isqueiro acesso e mãos para o alto, algo imitado das transmissões da Rede Globo de grandes eventos internacionais como Rock’n’Rio e Hollywood Rock. O batera dessa banda, o Enio Luciano, é outro personagem importante daquela história toda. Dono da “Rock Shop”, no centro da capital, Enio era responsável pelo comércio de vinis e CDs que víamos apenas em revistas como Rock Brigade e Bizz, por exemplo, e vendia também um bocado daquelas camisetas pretas de banda gringa. Além disso, Enio produzia a maioria dos shows de rock com artistas locais e atrações maiores de fora do estado. Um baita empreendedor do rock! Já o guitarrista do Avoid, Rafael, atualmente faz parte da dupla sertaneja Rafael e Gabriel.

Havia certa efervescência em Maceió naqueles anos 90, muitos turistas, verões lotados, muitas baladas, luais e lugares para tocar. Havia hits de fitas demo como “Avoid”, já citada, “Quentura” do Living in The Shit, “Último dia do Rio” do Ball, “Só”, do Mental, minha banda naqueles tempos, e, é claro, “Nobody Knows Smith” dos quase-britânicos 70th Blight, grupo que agitou um intercâmbio importante com cenas de outros estados ao realizarem o Festival Acendedor de Lampiões, referência ao poema de Jorge de Lima. Com isto, trouxeram para a cidade bandas como o Oito, de São Paulo, que viriam a tocar em Maceió outras vezes e manter contato e produção de longo prazo com os músicos da cena alagoana. Até hoje, na verdade.

Foram os membros dessa banda, o Oito, que receberam em suas casas as primeiras incursões dos artistas sobreviventes daquela cena de Maceió dos anos 90 em São Paulo, onde os caminhos da música costumam levar. Como Sonic Junior, formado por Juninho, baterista do Living in The Shit, e pelo guitarrista do Ball, Aldo Jones, hoje no Coisa Linda Sound System. Também foi um porto seguro para o ex-vocalista do Ball, Wado, que também iniciara um projeto solo em parceria com o guitarrista do Mental, Alvinho Cabral, atualmente no Fino Coletivo.

Acabaram os anos 90. Ficaram canções e os novos projetos que nasceram dali. Agora é uma nova história.

por Marcelo Cabral, jornalista e músico alagoano.

Fonte: Meus Sons

4 comentários:

rockman disse...

Onde posso encontrar para baixar a musica "QUENTURA". Procurei e não achei em lugar nenhum. Valeu.

Adelvan Kenobi disse...

Pelo link que consta no texto você baixa o disco inteiro, incluindo "quentura"

MORCEGOS disse...

Neste texto mesmo o cara fala q a MORCEGOS anunciou Anarchy in the uk como cover do Megadeth,eu lembro muito bem o q eu falei,mas eles escrevem o q querem,eu disse q iamos tocar o cover Anarchy in the uk na versão Megadeth,e logico q sabiamos q a musica é do SEX PISTOLS.

Anônimo disse...

Deveriam falar a verdade sobre o episódio da prisão. O Baixista foi apenas laranja de um bando de cuzões que vcs são. Por isso não vão pra frente!