terça-feira, 27 de abril de 2010

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Não chega a ser uma “verdade universal“, expressão com a qual Jane Austen inicia seu clássico Orgulho e preconceito (1813), mas pode-se dizer que, com zumbis, tudo fica bem mais divertido. Foi pensando assim que um americano ligeiramente matusquela, Seth Grahame-Smith, resolveu “reler“ o livro original, transformando-o em Orgulho e preconceito e zumbis (Ed. Intrínseca).

Típico produto desta época de canibalismo (olha os zumbis aí) cultural, o livro gerou tanto fúria em professores de literatura inglesa quanto cócegas no cérebro de leitores de cuca mais fresca, além de gordas vendagens, o que o levou a ocupar o terceiro lugar da lista de mais vendidos do New York Times em 2009. O sucesso foi tanto que a brincadeira, já designada de “mash-up literário“ pelos gaiatos de plantão, gerou uma série de lançamentos similares, como Razão e Sensibilidade e Monstros Marinhos, Android Karenina e Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros, este último escrito pelo próprio Grahame-Smith. (NOTA: cotado para virar filme com produção de Tim Burton)

Assim como os zumbis, os mash-ups parecem se espalhar rapidamente, chegando até o Brasil. A revista Época divulgou recentemente que a editora Desiderata tem uma versão morta-viva de Memórias Póstumas de Brás Cubas, nos planos – o que, aliás, parece casar como uma luva para a alma penada criada por Machado de Assis.
Não para por aí. Orgulho e preconceito e zumbis já está nas mãos da produtora Lionsgate para virar um filme, com Natalie Portman no papel da heroína Elizabeth Bennet. Enquanto isso, Grahame-Smith escreve a série de HQs Zumbis Marvel.
Comédia romântica e zumbis - Clássico da literatura universal e um dos retratos mais bem acabados da fleugma britânica em contraste com seu rigoroso sistema de castas, Orgulho e preconceito é uma deliciosa comédia romântica centrada no difícil relacionamento entre Elizabeth Bennet, uma linda jovem sem papas na língua, e o charmoso Sr. Darcy, igualmente franco em suas colocações.

Considerado um dos exemplos mais perfeitos de como se utiliza o recurso do discurso indireto em um romance, Orgulho e preconceito é também um rico painel de época e costumes. A versão zumbificada de Grahame-Smith, segundo o próprio, manteve 85% do texto original de Austen intocado. Nos outros 15%, o “co-autor“, em um procedimento definido por ele mesmo como “uma microcirurgia“, introduziu uma terrível praga de mortos-vivos na Inglaterra – além de rigoroso treinamento nas artes do kung-fu em um templo shaolin para todas as belas e casadoiras irmãs Bennet.
Obviamente, o leitor que leva este tipo de brincadeira a sério – os leitores de Austen – devem passar bem longe da prateleira deste livro. Já o leitor bem-humorado – e, necessariamente, fã de George Romero – que se aventurar por suas páginas poderá ter duas sensações.

A primeira é tédio. Fã de zumbi que é fã de zumbi que ver o bicho pegar – e desmembrar e arrancar nacos de cérebro. Em Orgulho e preconceito e zumbis, estes últimos, na verdade, aparecem bem menos do que se espera. As vezes, muitas páginas se passam sem que um ataque dos “não-mencionáveis“, como são chamados, ocorra.
Porém, aqueles que se mantiverem firmes na leitura poderão ser recompensados com a segunda sensação que o livro provoca: um senso de humor dos mais divertidos, que contrapõe as frescuras dos empertigados ingleses com o desespero causado pelos ataques dos fétidos desmortos.

A mistura de comédia romântica com mortos-vivos, na verdade, não é exatamente nova. O DNA de Orgulho e preconceito e zumbis pode ser traçado a partir do filme Todo Mundo Quase Morto (Shaun of The Dead, 2004), de Edgar Wright, no qual um adorável loser vivido por Simon Pegg tenta reconquistar sua noiva entre machadadas e tripas voando numa Londres tomada por zumbis.

por Franchico

Rock Loco

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Uma misteriosa peste começa a assolar o pacato vilarejo inglês de Meryton. Os mortos estão voltando à vida. A heroína Elizabeth Bennet está determinada a livrar-se da ameaça zumbi, mas logo ela é distraída pela chegada do altivo e arrogante Sr. Darcy. É isso mesmo. O clássico "Orgulho e Preconceito", de Jane Austen, ganhou uma nova versão com toques sobrenaturais.

Mais estranho que a inusitada simbiose é o fato de que o livro está se tornando um sucesso: 750.000 cópias já foram impressas desde o início do ano, quando o livro foi lançado. Escrita por Seth Grahame-Smith e publicada pela editora Quirk Books, a história mantém 85% do texto de Austen. Nos 15% restantes, muito sangue e carnificina. Uma versão para os cinemas já está sendo preparada.

O retorno positivo, mesmo dos fãs dos livros originais, levou a editora a preparar uma nova adaptação bizarra de uma história de Jane Austen. "Razão e sensibilidade e os monstros marinhos" será lançado no próximo mês. Lagostas gigantes e polvos enlouquecidos agitarão a famosa trama.

"Há uma relação muito mais forte entre os dois mundos (o dos zumbis e de Jane Austen) do que eu poderia imaginar", afirmou o diretor editorial da Quirk Books, Jason Rekulak, que apontou a atual onda, mais comum na internet, de se alterar histórias já consagradas.

Rekulak fez uma lista de livros cujos direitos autorais haviam expirado. A relação foi de "Moby Dick" à "Grandes esperanças". "Fiz uma lista de personagens que poderiam ser incorporados à trama. Robôs, ninjas, zumbis. Assim que consegui traçar uma linha entre 'Orgulho e Preconceito' e zumbis, eu vi que tinha uma história. E de quebra, consegui um ótimo título".

"Orgulho e preconceito e zumbis" e "Razão e sensibilidade e os monstros marinhos" são, certamente, as versões mais inusitadas que uma obra de Jane Austen já ganhou. Mas não é a primeira vez que suas histórias são adaptadas. A escritora, conhecida por sempre ambientar suas tramas em um universo de elegância e tradição, escreveu apenas seis livros. Mas já serviu de inspiração para publicações de temáticas das mais diversas como "O guia de boas maneiras de Jane Austen" e "No jardim com Jane Austen". Na televisão, suas histórias já inspiraram a série de TV "Lost in Austen". Nem Boolywood resistiu à tentação. Produziu "Bride and Prejudice" ("Noiva e preconceito", traduzindo ao pé da letra).

O Globo

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Até o ano passado, a Quirk Books era uma editora desconhecida que publicava livros como "As vidas secretas dos grandes artistas" e "O manual do Batman". O editor Jason Rekulak matava o tempo livre no YouTube vendo mash-ups, vídeos que misturam trechos de clipes, filmes e programas de TV. Inspirado neles, criou uma forma de aplicar a técnica ao seu ramo: fez uma lista de clássicos com direitos autorais em domínio público (Dickens, Tolstoi, Jane Austen) e uma de coisas que fazem todo mundo rir (zumbis, monstros marinhos, ninjas). Bastou ligar os pontos.

— Assim que juntei "Orgulho e preconceito" e "zumbis", senti que tinha um grande título — diz Jason, que conversou com O GLOBO por telefone, de Nova York.

Para passar do título, Jason recrutou o escritor e roteirista Seth Grahame-Smith, autor de "Como sobreviver a um filme de terror". Jason lembra que Seth foi o primeiro a entender sua ideia.

— Não queríamos caçoar de Jane Austen. Queríamos amplificar seus temas e preservar o que ela fez. Acrescentando zumbis.

O resultado, nas contas de Jason, é 85% Jane Austen — ainda estão lá as casadoiras irmãs Bennet e a profusão de intrigas sociais da Inglaterra do século XIX. Mas foram os outros 15% que transformaram "Orgulho e preconceito e zumbis" num fenômeno editorial, que inspirou outros mash-ups literários (a Quirk Books publicou "Razão e sensibilidade e monstros marinhos" em 2009 e lançará "Androide Kariênina" ainda este ano). Além disso, há uma versão cinematográfica do livro prevista para 2011, com direção de David O. Russell e Nathalie Portman no papel de Elizabeth Bennet.

Na versão de Jason e Seth, a Inglaterra é vítima de uma praga que faz os mortos se levantarem das tumbas e vagarem em busca de miolos frescos. Isoladas em seu casarão no campo, as irmãs Bennet se aprimoram nas artes marciais e no combate armado para defender sua propriedade. A trama básica é a mesma de Austen, com os zumbis (a quem todos se referem, com polidez inglesa, como "os não mencionáveis") irrompendo em momentos escolhidos a dedo, conta Jason.

— Os personagens dela são muito contidos, seus conflitos são sempre internos. Então decidimos que os zumbis seriam uma forma de exteriorizar esses conflitos. Toda vez que alguém está sofrendo, ou tem os sentimentos feridos, os zumbis aparecem — diz o editor, citando uma das cenas mais famosas do romance, o baile em que Elizabeth é insultada por um pretendente (na nova versão, nesse momento o salão é invadido por uma horda de mortos-vivos).

O "expressionismo zumbi" de Jason e Seth não agradou a todos. O editor conta que costuma receber reações raivosas de acadêmicos e fãs mais sisudos de Austen. Mas há quem entenda a piada:

— Hoje mesmo uma professora me escreveu dizendo que seus $de 15 anos adoraram o livro. São jovens que nunca se interessariam por Jane Austen, mas leram nossa versão de "Orgulho e preconceito". Quer dizer que eles leram 85% do livro de Austen: é o suficiente para enganar na prova de fim de ano.

por Guilherme Freitas


O Globo


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Um comentário:

A Wild Garden disse...

Adorei! O que eu vendia de trabalho de literatura sobre este, que é um dos meus favoritos, dava pra fazer um monte Everest.
Quero ler estas versões Peter Baiestorficas.