O marechal
deteve-se na porta do salão, conversando baixo com o vice-presidente Pedro
Aleixo, que acabara de chegar de Belo Horizonte. Demoraram-se por quase meia
hora. Quando Costa e Silva ocupou a cabeceira da mesa, cada ministro tinha uma
cópia do Ato Institucional numero 5 em frente a seu lugar. Dois microfones,
colocados ostensivamente sobre a mesa, gravariam a sessão. A sala estava tomada
pelo barulho de sirenes de veículos que circulavam no pátio da mansão.
O presidente
abriu a sessão com um discurso em que se denominou “legítimo representante da
Revolução de 31 de março de 1964” (NOTA DO BLOG: é bom sempre lembrar que a denominação
e a data são apenas as mais convenientes para os golpistas. Na verdade o golpe –
que nunca chegou nem perto de sequer lembrar verdadeiramente uma revolução – se
consolidou no dia seguinte, primeiro de abril. O dia da mentira. Diz algo sobre
o caráter do regime que lançou o país em trevas por 21 anos que a consolidação
da ditadura tenha se dado numa data igualmente agourenta, uma sexta-feira 13) e
lembrou que com “grande esforço [...] boa vontade e tolerância” conseguira
chegar a “quase dois anos de governo presumidamente constitucional”. Ofereceu
ao plenário “uma decisão optativa: ou a Revolução continua, ou a Revolução se
desagrega”. Batendo na mesa, anunciou que “a decisão está tomada” e pediu que “cada
membro diga o que pensa e o que sente”. Era o primeiro discurso desconexo
daquela sessão presidida pela determinação de proclamar uma ditadura. O
marechal suspendeu a reunião por vinte minutos, para que cada ministro lesse o
texto, e desculpou-se pela pressa. Com um preâmbulo de seis parágrafos, o Ato
tinha doze artigos e cabia em quatro folhas de papel. Sua leitura atenta exigia
pouco mais que cinco minutos. Costa e Silva retirou-se debaixo de aplausos.
Em “A Ditadura Envergonhada”
deu no "pravda" da ditadura |
Vol. 01 de “As ilusões Armadas”
por Elio Gaspari
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