quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Kubrick no cinema


No aniversário de 40 anos de Laranja Mecânica (A Clockwork Orange), o Janela Internacional de Cinema do Recife terá como parte importante da sua programação uma retrospectiva inédita no Brasil dos longas metragens do grande cineasta americano Stanley Kubrick. Durante a quarta edição do festival, que vai de 4 a 13 de novembro, será exibida, no majestoso Cinema São Luiz, a obra completa do diretor, em cópias de 35mm e em cinema digital DCP, via equipamento de projeção especialmente instalado.

Laranja Mecânica (1971), cuja cópia restaurada em 4K foi apresentada no último Festival de Cannes, em maio, será projetado no IV Janela ao lado de clássicos absolutos do cineasta como A Morte Passou por Perto (Killer’s Kiss, 1955), O Grande Golpe (The Killing, 1956), Glória Feita de Sangue (Paths of Glory, 1957), Spartacus (1960), Lolita (1962), Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964), 2001: Uma Odisséia no Espaço (2001 A Space Odissey, 1968), Barry Lyndon (1975), O Iluminado (The Shining, 1980), Nascido para Matar (Full Metal Jacket, 1987) e De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999). Os mais velhos poderão rever e as novas gerações de cinéfilos poderão ver pela primeira vez na tela grande, num templo do cinema como o São Luiz, filmes essenciais de um autor imprescindível.

O Janela Internacional de Cinema do Recife tem o orgulho de apresentar programação tão especial na tela do Cinema São Luiz, palácio de 1952 restaurado recentemente pelo Governo de Pernambuco.

A Retrospectiva Stanley Kubrick é apenas uma parte da programação extensa que será divulgada nas próximas semanas pelo festival, que tem o patrocínio do Governo de Pernambuco (Edital do Audiovisual - Funcultura, da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco), da Petrobras e da Chesf.

NOTA: Quero muito ver isso ...

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Stanley Kubrick nasceu no dia 26 de Julho de 1928 em Nova Iorque. Considerado inteligente, apesar das suas más notas na escola, foi enviado pelo pai em 1940 para Pasadena, na Califórnia, onde um tio deveria orientar os seus estudos. Voltou ao Bronx em 1941 para terminar os estudos secundários, não se notando qualquer alteração no seu comportamento e resultados académicos. O pai tentou interessá-lo pelo xadrez, com sucesso. Tornou-se rapidamente um jogador de algum gabarito e chegou a participar de partidas apenas pelo dinheiro. Aos treze anos o pai ofereceu-lhe uma máquina fotográfica, despertando uma nova paixão no jovem. Conseguiu vender uma das suas fotos para a revista Look, que acabou contratando-o. Ao mesmo tempo, seu interesse pelo cinema tornou-se tão grande que não descansou enquanto não começou a filmar. Em 1950 investiu todo o seu dinheiro na realização do seu primeiro documentário, Day of the Fight (1950), um filme de dezesseis minutos sobre o pugilista Walter Cartier. O documentário acabou sendo comprado pela RKO para a sua série This Is America. Nos anos seguintes fez vários documentários sob encomenda: Flyng Padre(1951), para a série Pathe Screenliner da RKO, e The Seafarers (1952), filme em cores de meia hora. Foi nesta altura que abandonou a Look para se dedicar totalmente ao cinema. Com a ajuda de familiares, de alguns investidores e com o dinheiro que ganhara em jogos de xadrez no Central Park, pôs de pé a sua primeiro longa metragem, Fear and Desire (1953). O projeto, filmado nas montanhas de San Gabrielle, perto de Los Angeles, com uma pequena equipe de dez pessoas, não foi muito feliz e acabou com o divórcio entre ele e a sua primeira mulher, Toba Metz. Se o filme não agradou muito e não conseguiu reaver o investimento, o seu talento como realizador foi de imediato reconhecido. O seu segundo filme, Killer's Kiss (1955) teve mais sucesso sendo vendido à United Artists. Em 1955 realizou seu primeiro filme para um estúdio, The Killers. Este filme negro, escrito pelo famoso Jim Thompson, autor de policiais violentos, chamou a atenção pela elaborada estrutura temporal e foi o seu primeiro verdadeiro êxito.

A MGM, que já notara as qualidades do jovem realizador, deu-lhe a possibilidade de realizar na Alemanha a adaptação de uma novela de guerra, Paths of Glory (1957), com Kirk Douglas, filme que marcou a emergência de Kubrick como um grande diretor. Essa saga passada na primeira guerra mundial é uma inteligente e aguçada crítica à prática militar. É também uma poderosa peça cinematográfica, visto que Kubrick sintetiza as lições que aprendeu sobre composição e movimento de camera. A experiência foi tão positiva que Kirk Douglas o convidou mais tarde para substituir Anthonny Mann na realização de um épico que estava encalhado, Spartacus, seu primeiro e único trabalho contratado, típico épico dos anos 50 colorido em Technicolor. No filme que, ao contrário de todas as expectativas, Kubrick realizou à sua maneira, participaram atores como Laurence Olivier e Tony Curtis, além de Kirk Douglas. Um fato curioso, já testemunho de um artista sem concessões que almeja o controlo artístico total do seu trabalho, foi o de ter impedido Russell Metty, o diretor de fotografia, de trabalhar. Não gostando do trabalho do técnico, ele próprio foi o responsável pela fotografia. Este queixou-se sem resultado e, ironicamente, acabou por ganhar o Óscar de melhor fotografia sem ter feito nada durante a realização do filme. O projeto seguinte foi One-Eyed Jack (1961) com Marlon Brando, mas devido a incompatibilidades entre duas personalidades tão fortes, Kubrick abandonou o filme, acabando Brando a realização do western.

Desencantado com Hollywood e com a América, e depois de mais um casamento acabado, Kubrick muda-se para a Inglaterra. Passou a trabalhar lá desde então, desenvolvendo e produzindo apenas sete filmes em 30 anos, cada um meticulosamente trabalhado e cada um notadamente diferente dos outro.

O seu primeiro filme no outro lado do Atlântico foi o famoso e controverso Lolita (1962), uma adaptação do romance de Vladimir Nabokov sobre o romance de um homem de meia idade com uma jovem de apenas 12 anos. Embora Kubrick tenha se queixado da censura tê-lo impedido de explorar a estória em maiores detalhes (dois anos foram adicionados a idade real de Lolita), o filme é visto hoje como um exemplo extraordinário de comédia mesclada com drama e romance.

Dr. Fantástico (1964), o seu filme seguinte, era uma comédia de humor negro sobre a guerra fria em que Peter Sellers tinha três papéis diferentes. Aquilo que devia ser originalmente um drama, baseado no livro Red Alert de Peter George, foi convertido numa hilariante paródia sobre o poder nuclear, porque Kubrick achava que o livro tinha muitas ideias que não podiam ser levadas a sério. O filme, apesar da sua originalidade, foi um grande sucesso, tanto de público como de crítica.

Os sucessos de Lolita e Dr.. Strangelove Or: How I Learned To Stop Worrying and Love the Bomb, junto com seu trabalho em Spartacus, proporcionaram a Kubrick a liberdade de escolher seus próprios temas e, mais importante, de exercer total controle sobre a produção dos filmes, uma liberdade rara para qualquer cineasta.

Em 1965 Kubrick começou a produção daquele que é considerado por muitos o melhor filme de sempre, 2001: Odisseia no Espaço. Inspirado em um conto de Arthur C. Clarke, A Sentinela, esta produção de 1968 é uma reflexão complexa sobre o pendor do homem para a violência. Tomando cinco anos de filmagem, redefiniu as fronteiras do gênero e estabeleceu convenções visuais, metáforas e efeitos especiais que permanecem até hoje como padrão para a indústria cinematográfica. Visualmente hipnótico e com uma narrativa ousada, 2001 fez de Kubrick um herói cultural. Apesar das confusas críticas na época de seu lançamento, provou ter sido influência estilística para diversos filmes lançados nos últimos 25 anos.

Seu trabalho seguinte, A Laranja Mecânica, baseado no ensaio satírico de Anthony Burgess do mesmo nome, é uma meditação sobre crime e castigo. Apesar de extremamente violento (até lhe foi atribuído um X nos Estados Unidos, depois retirado), o filme teve bastante sucesso, sendo inclusive nomeado para vários óscares. Também esteve proibido e depois liberado no Brasil com as famosas "bolinhas pretas" que perseguiam as "partes intímas" dos atores enquanto eles se movimentavam na tela. Quem viu nunca esquecerá. "Laranja Mecânica" é um estudo sobre a amoralidade do ser humano, que não consegue administrar seus instintos frente a uma civilização igualmente incapaz de administrar suas contradições sociais. O filme é muito violento e tem uma das melhores trilhas sonoras da história do cinema. Aliás, Kubrick sempre demonstrou uma ousadia imensa na confecção do som de seus filmes, jamais se permitindo a solução fácil da música incidental que automaticamente sublinha o contexto dramático de cada cena. Kubrick, assim como brinca com a imagem, brinca com o som.

Em 1975 adaptou uma novela de W. Thackery, Barry Lyndon. O filme relatava a ascensão e queda de um irlandês na Inglaterra do século XVII. Foi bem recebido pelo público, mas não agradou à crítica em geral. No início dos anos oitenta experimenta o filme de terror com The Shining, adaptação da obra homónima de Stephen King. King não gostou do que Kubrick fez com a sua história e ele próprio a adaptou ao cinema mais tarde. Enquanto o filme de Kubrick é uma obra prima do cinema de terror, ninguém se lembra mais do filme produzido por King.

Nesta altura, Kubrick já não se preocupa com o tempo. Entre The Shining e o seu filme seguinte passam-se sete anos. Só em 1987 surge a sua nova produção, Nascido para Matar, sobre a guerra do Vietnam, uma das obras cinematográficas fundamentais sobre o conflito do sudoeste asiático. Novo êxito crítico e comercial.

Kubrick morreu, em Londres, no dia 07 de março de 1999, deixando pronto De Olhos Bem Fechados, com Tom Cruise e Nicole Kidman, e uma série de projetos intocados, como a ficção científica A.I. - Inteligência Artificial e Wartime Lies, drama sobre a Segunda Grande Guerra.

Recebeu 4 indicações ao Oscar de Melhor Diretor, por seu trabalho em Dr. Fantástico (1964), 2001 - Uma Odisséia no Espaço (1968), Laranja Mecânica (1971) e Barry Lyndon (1975).

Recebeu 3 indicações ao Oscar como produtor, por Dr. Fantástico (1964), Laranja Mecânica (1971) e Barry Lyndon (1975).

Recebeu 5 indicações ao Oscar como roteirista, por seu trabalho em Dr. Fantástico (1964), 2001 - Uma Odisséia no Espaço (1968), Laranja Mecânica (1971), Barry Lyndon (1975) e Nascido Para Matar (1987).

Ganhou um Oscar de Melhores Efeitos Especiais, por seu trabalho em 2001 - Uma Odisséia no Espaço (1968).

Recebeu 2 indicações ao Globo de Ouro, na categoria de Melhor Diretor, por seu trabalho em Laranja Mecânica (1971) e Barry Lyndon (1975).

Recebeu uma indicação ao Framboesa de Ouro de Pior Diretor, por seu trabalho em O Iluminado (1980)

Ganhou em 1997 um Leão de Ouro, no Festival de Veneza, dado pela sua contribuição ao cinema.

Ganhou em 1997 um prêmio do Director's Guild of American, pelo conjunto de sua obra cinematográfica.

Ganhou em 1988 o Prêmio Luchino Visconti (Itália), pela sua contribuição ao cinema.

NOTA: Texto sem assinatura

Fonte: Webcine

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