terça-feira, 5 de abril de 2011

FUI !

A esta altura do campeonato descrever, pura e simplesmente, um show do Iron maiden é mais do que chover no molhado: é fazer cair uma tempestade num lugar já inundado. Mas não poderia deixar de registrar esta minha experiência pessoal, minha “ida a Meca”, “roquisticamente” falando. Porque eu, assim como a maioria dos apreciadores do rock “pauleira” de minha geração, cheguei a este universo através desta banda, atraído pelas irresistíveis, para os moleques adolescentes, capas com o mascote Eddie estampado. Perdi o show de 2009 (não podia ir aos 2, escolhi o Motorhead), portanto não poderia, sob hipótese alguma, perder esta segunda (e ainda mais inusitada) chance de ver finalmente, ao vivo, uma das bandas que mudaram a minha vida.

Antes de mais nada quero registrar que, na parte que me toca, a produção está de parabéns: Foi tudo muito tranqüilo, limpo e organizado, da compra dos ingressos no Shopping Center Recife ao acesso ao “Front stage”. Tudo bem sinalizado e sem estresse, como a vida deveria ser. Cheguei, infelizmente (ou não, não sei) já no finalzinho do show da banda de abertura, que estava tocando um cover do Metallica, pelo que eu ouvia do lado de fora. Posicionei-me a uns 20 metros do palco e de lá não arredei pé até o início da apresentação, que começou pontualmente às 20:00H, como combinado, ao som de “doctor doctor”, do UFO (antes já havia identificado uma do The Cult e “Machine Head”, do Deep Purple, saindo dos auto-falantes). No telão começam a ser exibidas imagens editadas do clipe de The Final Frontier com “Sattelite 15”, a introdução do último disco, rolando ao fundo. Terminada e exibição, a esperada explosão de luzes acompanhada da catarse do público com a banda executando “The Final Frontier” a todo vapor. Caiu a ficha e algumas lágrimas me vieram aos olhos: eu estava, realmente, num show do Iron Maiden. O adolescente “metaleiro” que ainda existe dentro de mim, provavelmente à espreita habitando meu subconsciente, agradecia.

“Eldorado”, o single, veio a seguir. Bom pique até aqui. Foi aí que aconteceu aquele que foi, provavelmente, o único evento inesperado de toda a noite: um cidadão consegue invadir o palco, se posta ao lado de Steve Harris e posiciona o celular para uma foto ! Steve não se abala e ainda faz uma careta simpática para o flash antes que o indivíduo seja retirado aos solavancos por um segurança. Uma façanha e tanto. Parabéns para o rapaz – espero que não tenha sido agredido nos bastidores nem que tenham apagado o registro de seu feito histórico.

A terceira música da noite foi também a primeira “clássica”, dos primórdios: “two minutes to midnight”, que eu cantarolo compulsivamente toda vez que olho no relógio e os ponteiros estão rodeando o 12 há uns bons 20 e tantos anos. Desnecessário dizer que a “coroada” (haviam muitos) foi ao delírio. A partir dali começaram as “progressivices” que a mim, particularmente, não agradam – até porque não conheço. Nada que me fizesse nem por um segundo me arrepender de estar ali depois de uma longa jornada de suor(calor da porra!), lágrimas e alguns bons reais derramados pelo caminho, mas a turnê ideal, para mim, teria sido a de 2009, onde tocaram “só crássicos”. Isso porque, admito sem a menor vergonha, o último disco do Iron maiden que eu comprei no lançamento e ouvi de cabo a rabo até decorar cada acorde foi o “seventh son of a seventh son”, de 1988 ! E olha que já não tinha curtido tanto – não gosto de álbuns conceituais pois, a meu ver, as músicas costumam ficar engessadas para que possam contar a “historinha”. Há nele, no entanto, alguns excelentes momentos e, felizmente, foi um destes o escolhido para representá-lo na noite: “The evil that man do”. Grande som.

Mas como eu estava dizendo, haviam começados as “progressivices”: “The Talisman”, do disco novo. Enorme, verborrágica e com um refrão que não “pega”. Mas vale o registro do ótimo trabalho do geralmente desvalorizado (e não é pra menos, quem mandou entrar numa banda que tem Adrian Smith e Dave Murray na formação?) Janick Gears ao violão, na introdução. Emendam com “coming home”, outra que eu desconheço. Aproveito para apreciar mais detalhadamente o cenário, excelente, num clima futurista/retrô aparentemente inspirado na Ficção Científica dos anos 50 – o design dos dois “foguetes” postados dos dois lados do palco não me deixam mentir. Além disso, os panos de fundo iam se revezando a cada música, ora com imagens ilustrativas deslumbrantes, ora com um cenário cósmico vazado salpicado de luzes representando estrelas. Conjugados com os telões de excelente definição que ficavam nas laterais do palco, formavam uma excelente combinação de tecnologia com apego à tradição.

Uma bela imagem da morte estendendo a mão para a platéia emoldura a música seguinte, “Dance of death”, faixa-título do álbum de 2003. Meus amigos de viagem, bem mais jovens (eles têm 20, eu 40), gostam muito, mas eu achei chatinha - uma questão de gosto pessoal, provavelmente, já que eles curtem muito mais metal do que eu, pelo que constatei pela viagem regada a Primal Fear, Gamma Ray e Ronnie James Dio. Nunca ouvi absolutamente nada deste disco, “dance of death”, que tem, a meu ver, a pior capa da discografia do Iron Maiden. Mas aí veio “The Trooper” e caralho, puta que pariu ! Sensacional ver finalmente, ao vivo, a clássica imagem de Bruce Dickinson agitando uma bandeira esfarrapada do Reino Unido ao som deste verdadeiro Hino do Heavy Metal. Um grande momento, intenso, sem rodeios. Comparada ao que veio antes, é uma musica minúscula, simples e direta, e é assim que eu gosto.

Sim, senhoras e senhores: eu NÃO SOU um headbanger, mas não me senti, em nenhum momento, um estranho no ninho em meio àquela horda de fanáticos barbados e suados que me rodeava. Só senti falta de uma maior presença feminina para perfumar o ambiente, mas isso são ossos do ofício. “The wicker man”, do Brave new world (2000), veio a seguir e também é muito boa. Tem um excelente refrão “grudento” (your time Will come) e a letra faz referência a um clássico filme britânico dos anos 70 estrelado por Christopher Lee que eu recomendo muito – mas cuidado para não pegar, por engano, a desnecessária refilmagem hollywoodiana que tem Nicholas Cage. A música seguinte, “Blood brothers”, que também é do mesmo disco, foi dedicada por Bruce aos fãs do Japão e de lugares inusitados onde eles também têm fãs, como Irã, Egito, Síria e Libia. Lugares onde, ainda segundo o vocalista, coisas horríveis estão acontecendo naquele exato momento, o que nos deve fazer pensar, a nós, brasileiros, como é bom ter nascido e poder viver neste país sem guerras civis (há controvérsias), terremotos e outras catástrofes naturais. Foi efusivamente aplaudido.

“When the wild wind blows”, a última do novo disco, não me empolgou. Na verdade não ouvi o disco inteiro, já que os caras são osso duro de roer com a pirataria e não consegui encontrar links para download funcionando. No entanto, apesar de, com já disse, ter sido preferível para mim poder ter ido no show “retrospectivo” da tour anterior, também é legal estar num show, digamos, “normal”, da banda, divulgando um novo disco. Nos faz sentir mais “parte do circuito”, integrados a este grande circo do rock and roll mainstrean, coisa que nós, moradores de rincões mais isolados do mundo, estamos acostumados a acompanhar apenas pela imprensa. Este é um grande mérito do Iron Maiden: audaciosamente ir onde nenhuma outra banda de grande porte jamais esteve. O próximo passo, eles dizem, é a China.

Depois de “The Evil that men do” veio outra apoteose: “Fear of the dark”, provavelmente o último grande hit da banda, do disco de 1992. Finalizando a primeira parte do set, “Iron Maiden”, a música, e a entrada do mascote Eddie, desta vez numa versão ainda mais rebuscada, uma mistura de zumbi com andróide futurista com ótimos movimentos mecânicos. Não por acaso, o boneco foi projetado pelo filho de Ray Harryhausen, que fez o primeiro “Furia dos Titãs” e animações clássicas para Hollywood nos anos 50 e 60.

Intervalo, volta, "The Number of the Beast" (que tem um clima “tenebroso” ótimo, lembra “Black Sabbath”, do Sabbath), "Hallowed Be thy Name" (cantada a plenos pulmões, inclusive por mim) e "Running Free", onde Bruce aproveita para apresentar, de forma bem humorada, os integrantes. Fim de festa. Depois de um longo silêncio no palco, eis que somos brindados com a excelente musiquinha de encerramento do clássico “A Vida de Brian”, do Monty Python. Melhor despedida, impossível.

O primeiro disco de Heavy metal que eu ouvi em minha vida, ainda nos anos 80, foi “somewhere in time”, então o último lançamento da maior banda do estilo no mundo. Mas meu maior deslumbramento veio mesmo quando eu tirei o lacre de “Live after death”, abri a capa dupla e me deparei com aquelas sensacionais fotos da “World slavery tour”, a turnê de divulgação do LP “powerslave”. Não comecei a acalentar a possibilidade de estar, um dia, pessoalmente num show do Iron Maiden porque esta era, para a época e para a cidade em que eu vivia (Itabaiana, Sergipe), uma coisa muito remota para se pensar. Na minha cabeça ficaria, para sempre, no mundo dos sonhos. Ainda bem que o mundo dá voltas – e o Iron Maiden acompanha estas voltas, a bordo do “Ed Force One”.

por Adelvan k.

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2 comentários:

A Wild Garden disse...

Lendo isso me lembrei da primeira vez que me encontrei com o Iron no Rio em 1985!!! A camiseta comprada na loja do Walcir (Woodstock) Challas. Este foi em tantos shows do Iron aqui e fora que poderia substituir qualquer um dos integrantes! Hoje nem penso mais neles a não ser quando ouço o Falcão cantando com o Massacration. Parece que foi em outro planeta.

Adelvan Kenobi disse...

Felizmente, eu sempre consegui conciliar numa boa o "mainstrean" com o underground". Sempre ouvia o que estava a fim, não importava o tamanho da banda. Continuo assim.