terça-feira, 19 de abril de 2011

ocaso.

Fidel Castro deixou, hoje, o último cargo político que ainda ocupava: a direção do Partido Comunista Cubano. Antes tarde do que nunca, largou o osso. Quem sou eu para questionar a legitimidade de uma figura histórica como a de Fidel, mas convenhamos: esta estrutura monolítica stalinista baseada na ditadura do partido único já vai tarde. Mais que o ocaso natural, pela própria passagem do tempo, da figura humana, espero que seja mais um passo dado em direção à democracia. Porque não está escrito nas estrelas que um regime socialista tem que, necessariamente, sufocar a oposição. A oposição é sempre mais do que necessária, em qualquer tipo de governo, para estabelecer o contraditório, arejar as idéias. É evidente que neste mundo comandado pelo dinheiro corre-se sempre o risco, em eleições “livres” (enquanto houver concentração de poder econômico as eleições nunca serão realmente livres), de que uma oposição comprometida, aberta ou veladamente, com os interesses do capital internacional ganhe a disputa na base do poder financeiro, como aconteceu com a revolução sandinista, derrotada em seu primeiro pleito presidencial livre por Violeta Chamorro, candidata abertamente apoiada por Washington. Foi uma pena, mas foi também extremamente louvável a opção dos revoltosos vitoriosos de não optarem pela via do autoritarismo. Até hoje os admiro por isso e seu líder, Daniel Ortega, acabou dando a volta por cima e hoje é presidente da Nicarágua – claro que não é mais o mesmo Daniel Ortega, mas o mundo também não é mais o mesmo. O mundo dá voltas.

As sementes da ditadura do partido único como modelo de regime socialista foram plantadas na manhã de 5 de Janeiro de 1918, quando uma imensa manifestação pacífica a favor de uma assembléia constituinte foi dissolvida à bala por tropas leais ao governo bolchevique, na Russia. A assembléia constituinte, que se reuniu pela primeira vez naquela tarde, foi dissolvida na madrugada do dia seguinte. A idéia de Lenin era a de que os Sovietes, conselhos de operários e demais membros da classe trabalhadora, teriam maior legitimidade no processo revolucionário do que aquela suposta instituição “burguesa”. Com o posterior aparelhamento do estado pelo Partido Comunista, no entanto, os conselhos de operários perderam totalmente sua força e relevancia. O que restou foi a ditadura, pura e simples. Há registros de que o próprio Lenin, mais tarde, chegou a manifestar duvidas sobre se não teria sido um erro estratégico aquela decisão. Tarde demais: os abutres, personificados na figura sinistra de Josef Satalin, estavam à espreita e souberam dar o bote no momento certo.

Sigamos em frente observando os desdobramentos do que acontece na Ilha de Cuba, terra de nossos “gauleses irredutíveis”.

Adelvan

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AFP – Há 3 horas - HAVANA — O líder cubano Fidel Castro confirmou sua renúncia à liderança máxima do Partido Comunista de Cuba (PCC), seu último alto cargo político, ao pedir para ser excluído do Comitê Central, principal órgão da formação, em um artigo publicado nesta terça-feira.

"Raúl sabia que eu não aceitaria na atualidade cargo algum no Partido", afirma Fidel, ao explicar em um texto no portal Cubadebate.cu sua "ausência" no novo Comitê Central do PCC, eleito segunda-feira pelo VI Congresso do PCC.

Fidel Castro, 84 anos, ocupava o cargo de primeiro secretário do Comitê Central do PCC - o principal no regime comunista - desde a criação do partido, o único legal em Cuba, em 1965. Seu irmão Raúl é o segundo na hierarquia e provavelmente será o sucessor.

O dirigente comunista confirmou assim o que havia afirmado em março sobre a renúncia ao comando do PCC. Fidel cedeu a Raúl a liderança em julho de 2006, em consequência de uma grave doença, mas continuos sendo chamado de primeiro secretário.

"Ele sempre foi quem me chamava de Primeiro Secretário e Comandante-em-Chefe, funções que como se sabe deleguei na Proclama divulgada quando fiquei gravemente enfermo", reiterou Fidel.

"Nunca tentei, nem podia fisicamente exercê-las, apesar de ter recuperado consideravelmente a capacidade de analisar e escrever. No entanto, ele nunca deixou de transmitir-me as ideias que projetava", completou.

Fidel destacou ter afirmado ao irmão que não desejava ser incluído na lista de candidatos ao Comitê Central, quando Raúl declarou que seria "muito duro" excluir dirigentes "que pela idade ou saúde não poderiam prestar muitos serviços ao Partido".

"Não hesitei em sugerir que não excluísse estes companheiros de tal honra, e acrescentei que o mais importante era que eu não aparecesse na lista. Penso que recebi muitas honras. Nunca pensei em viver tantos anos".

O líder comunista indicou ainda que votou ao meio-dia de segunda-feira, quando recebeu a cédula. O site Cubadebate.cu publica oito fotos de Fidel no momento.

Fidel Castro afirma ainda no artigo que a parte do discurso do irmão, de 79 anos, na abertura do Congresso sábado, que mais chamou sua atenção foi a proposta de limitar a um máximo de dois mandatos consecutivos de cinco anos o período nos cargos governistas, incluindo os de presidente do país e primeiro-secretário do PCC.

"Me agradou a ideia. É um tema sobre o qual eu meditei muito. Devo confessar que nunca me preocupei realmente com o tempo que estaria exercendo o papel de Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros e Primeiro Secretário do Partido", revela.

Castro, que longe do poder se dedica a ler e escrever sobre a política internacional, chegou ao poder em 1º de janeiro de 1959 com a revolução que derrubou o ditador Fulgencio Batista e desde então concentrou os poderes no governo.

Além da eleição do novo Comitê Central, os 1.000 delegados do O VI Congresso do PCC aprovaram o programa de reformas de abertura proposto pelo presidente Raúl Castro para atualizar o modelo socialista em vigor há meio século, que pretende deixar para trás o esgotado modelo ultracentralizado soviético.

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