Nesta foto havia um pai. |
No sofá da ditadura |
A mãe (à esquerda, de óculos) |
Naquela altura, José Maria era considerado pela Marinha como um “ex-militar”. Seus vínculos com a Força começaram ainda nos tempos de criança, quando ele morava com os pais e dez irmãos na cidade de Santa Luzia (PB). “Ele era um entusiasta pelo mar. Entrar para a Marinha sempre foi o sonho dele. Assim que terminou o antigo grupo primário, começou a estudar na Escola de Aprendizes-Marinheiros do Ceará. Em seguida, foi para o Rio de Janeiro”, lembra um de seus irmãos mais novos, Paulo Maria Ferreira de Araújo, professor da Universidade de Campinas (Unicamp). Incorporado, José Maria vivia em um navio. Não demorou a engrossar a fileira dos marinheiros que reivindicavam o direito de se reunir, morar fora de navios e poder contrair matrimônio. Em 1962, José Maria estava entre os fundadores da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais, entidade considerada ilegal pelas Forças Armadas.
O pai. |
Anistiado por Goulart
Cinco dias depois, aconteceu a Revolta dos Marinheiros, como ficou conhecida a resistência a uma ordem de prisão determinada pelo ministro da Marinha, Sílvio Mota. Mesmo proibidos de comemorar o aniversário de dois anos da associação, mais de dois mil marinheiros e fuzileiros navais tinham se reunido na sede do Sindicato dos Metalúrgicos. O destacamento de fuzileiros navais enviado para prender os organizadores do encontro acabou aderindo ao movimento, com o apoio de seu comandante, o contra-almirante Cândido Aragão.
Na sequência, o presidente João Goulart proibiu a invasão do sindicato, o que fez o ministro da Marinha se demitir. Os manifestantes passaram por uma detenção simbólica, de poucas horas, e foram anistiados por Goulart. O episódio ajudou a aprofundar a crise entre as Forças Armadas e o governo federal, além de dar projeção a uma figura que mais tarde marcaria a vida de Ñasaindy: o Cabo Anselmo, como ficou conhecido o líder do movimento, José Anselmo dos Santos, que jamais passou de marinheiro.
Ñasaindy |
Ñasaindy acredita que Soledad e José Maria se conheceram em Santiago de Cuba, cidade da parte leste da ilha: “Um dos meus tios maternos, Alberto, me contou que eles estavam lá com outras pessoas da família. Soledad ensinava o idioma guarani para alguns camponeses e retornava sozinha à noite, pela mata. Meu pai então se ofereceu para acompanhá-la e, nesse processo, eles se apaixonaram”. Na época, Cuba era o destino de latino-americanos fugindo de perseguição política em seus países. Como José Maria, muitos brasileiros chegavam à ilha para participar de treinamentos de guerrilha. Predominava entre parte da esquerda brasileira a teoria do foquismo, inspirada no argentino Ernesto Che Guevara e desenvolvida pelo teórico francês Régis Debray. A ideia era criar focos de revolução no País, por meio de ações armadas, até que o movimento se alastrasse, provocando a derrocada do regime. Nesse contexto, e sabendo que o serviço de inteligência americano, a CIA, ainda operava na ilha, havia muitos subterfúgios. Tanto que, além da certidão de nascimento original, Soledad providenciou um documento falso para a bebê, com o nome Ñasaindy Sosa Del Sol. A trajetória de Soledad – e de sua família – também ajudam a explicar este tipo de medida.
Neta do escritor e filósofo espanhol Rafael Barrett (1876-1910), Soledad nasceu no Paraguai, onde o avô desenvolveu parte essencial de sua produção literária. As posições anarquistas de Rafael Barrett eram conhecidas, mas ele estava morto havia muito tempo quando o general Alfredo Stroessner inaugurou uma ditadura de 35 anos no Paraguai. Os pais de Soledad, por sua vez, eram militantes políticos antes mesmo de Stroessner tomar o poder, em 1954. Com frequência, mudavam de um país a outro para escapar de problemas políticos. Onde chegavam, a pequena Soledad se destacava. “Ela era uma criatura formosa, de cabelos cor de ouro, macios e longos, pele branca e sobrancelhas de cor castanha escuro quase negra”, registrou em depoimento sua irmã Nanny, já falecida. À medida que crescia, Soledad também passou a se destacar em manifestações políticas
Suástica
Aos 17 anos, ela se tornou alvo de um atentado quando a família morava em Montevidéu, no Uruguai governado por um Conselho Nacional que abolira o cargo de presidente. Na noite de 1o de julho de 1962, no auge de uma série de atentados a comunistas e judeus, Soledad foi sequestrada por quatro homens. Enquanto circulavam de carro pela cidade, os sequestradores não pouparam golpes na tentativa de obrigá-la a repetir frases de louvor a Adolf Hitler. Antes de libertá-la, um último ataque: com canivete, gravaram duas suásticas nazistas nas pernas de Soledad. Fotografias das marcas hoje integram o acervo do Museu da Memória do Uruguai. Damaris, a operária brasileira que anos depois assumiria Ñasaindy como filha, lembra que Soledad não costumava exibir as suásticas: “Eu nunca vi, mas sabia que existiam”.
Depois que José Maria deixou Cuba para voltar ao Brasil, Soledad e Ñasaindy foram morar com Damaris. a menina passava a maior parte do tempo com Damaris. “Soledad trabalhava na rádio Habana Cuba. Além disso, era militante, participava de reuniões, de congressos”, explica Ñasaindy. “Damaris tinha chegado havia menos de um ano, passado por várias cirurgias para se recuperar da tortura. Estava em estado de repouso, embora com três filhos pequenos e uma agregada. Tinha ainda o Ariston, o filho mais velho, preso no Brasil. Ela se preocupava com o destino dele.” Para os filhos menores de Damaris, a chegada de Ñasaindy foi uma festa. “Ela era uma boneca. A gente adorava brincar com ela”, diz Telma.
Damaris também se apegou à menina que mal andava, mas já batia na porta de seu quarto, pedindo para entrar, mesmo quando Soledad estava em casa. E, como lembrou Ñasaindy, a operária se recuperava de uma sucessão de tragédias. Militante política experimentada, junto com o marido, Antônio Raymundo Lucena, Damaris havia trocado o Partido Comunista Brasileiro (PCB) pela luta armada. O casal integrava a linha de frente da organização clandestina Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). No meio de uma tarde de fevereiro de 1970, ela estava com a caçula Telma no colo, alfabetizando os gêmeos Denise e Adilson na sala, quando sua casa no Jardim das Cerejeiras, na cidade paulista de Atibaia, foi cercada pela polícia. Lucena abriu a porta e saiu. Estava armado.
Ninguém sabe ao certo o número de disparos feitos. “Fui o primeiro a sair para o quintal. Meu pai estava deitado ao lado do tanque, todo ensanguentado. Um miliciano chegou e deu um tiro de misericórdia na cabeça dele”, conta Adilson. “Depois, eles encurralaram a gente dentro de casa e ficaram discutindo se matavam ou não. Mais tarde chegou o capitão Mauricio Lopes Lima, da Operação Bandeirantes. Minha mãe começou a ser torturada ali mesmo, na frente da gente. Já era noite quando fomos para a delegacia. Estava tudo cercado pelo Exército. Levaram a Damaris embora e deixaram meus irmãos e eu num orfanato de Atibaia chamado Lar das Mariquinhas.” Nos dias seguintes, Adilson foi tirado duas vezes do orfanato e levado à casa onde morara: “Estava tudo revirado. Eles cismaram com um buraco que tinha no quintal, onde a gente queimava o lixo. Queriam saber para que servia”.
No sofá do DEOPS
A casa do Jardim das Cerejeiras, na verdade, funcionava como um depósito da VPR. Afinal, Lucena era o armeiro da organização. Sob sua guarda a polícia encontrou um arsenal pesado, com 52 armas de fogo, entre elas dez fuzis FAL calibre 7,62 e quatro metralhadoras INA. Encontrou também grande quantidade de equipamentos médico-cirúrgicos, que seriam usados na montagem de uma unidade médica. O material apreendido foi descrito em minúcia nos autos policiais, exceto os valores em papel moeda. “Tinha uma sacola com muito dinheiro da organização”, lembra até hoje Damaris. O certo é que a operária estava sem nenhum tostão quando foi banida do País com os três filhos, em troca do cônsul do Japão em São Paulo, Nobuo Okuchi, que havia sido sequestrado.
Como tinha ficado menstruada na sede da OBAN, a roupa de Damaris estava imunda. No sábado 14 de março de 1970, ao se preparar para embarcar em um Caravelle da Cruzeiro do Sul em direção ao México, ela ganhou roupas da socióloga Eliana Rollemberg, com quem dividia cela. Seus três filhos menores tinham sido levados para a sede do DEOPS, onde foram fotografados em um sofá do andar da diretoria. A imagem encontra-se no acervo da polícia, no Arquivo Público do Estado de São Paulo. Telma, a filha mais nova de Damaris, se recorda bem da situação, pois ganhou um boneco do capitão Mauricio, que integra a relação de torturadores do projeto Brasil: Nunca Mais. “O boneco que ele me deu era cor de rosa, de plástico, cheio de balinhas. Denise, minha irmã mais velha, jogou todas as balas fora, com medo de que estivessem envenenadas”, lembra Telma.
Após serem fotografadas, as crianças foram reunidas à mãe, pela primeira vez depois do cerco à casa de Atibaia. Damaris ainda trazia marcas da tortura. Seu filho Adilson conta que as roupas de Damaris eram mais curtas do que as habituais: “E ela estava sem calcinha. A dela tinha ficado imprestável. Passou a viagem inteira preocupada, segurando a saia”. Poucos dias depois de desembarcar no México, eles seguiram para Cuba. Na ilha, Damaris reencontrou José Maria, soube que ele era pai de Ñasaindy, e prometeu cuidar da menina quando o marinheiro apostou na volta ao Brasil, em junho daquele mesmo ano.
Segredos no porão
José Maria foi preso três meses depois em circunstâncias até hoje não esclarecidas. Entre os presos políticos que o viram sob tortura nas dependências de um órgão vinculado ao Exército, o DOI-CODI de São Paulo, estava Ariston, o filho mais velho que Damaris deixara no Brasil. Ariston, que faleceu de problemas cardíacos agora em maio de 2013, costumava relatar que o marinheiro chegou a conversar com ele, mas não comentou nada sobre a filha deixada em Cuba. Nos porões do regime, ninguém falava sobre a vida pessoal. E aqueles dois tinham motivos de sobra para guardar seus segredos. A prisão de José Maria não estava legalizada. Ariston, com apenas 17 anos, tinha escapado de um centro de treinamento no Vale do Ribeira com Carlos Lamarca, o capitão que desertou do Exército para aderir à luta armada. Na fuga, os guerrilheiros mataram um tenente da Polícia Militar, o que acabou valendo a Ariston uma sentença de morte, mais tarde comutada para prisão.
Enquanto isso, em Cuba, a pequena Ñasaindy continuava cada vez mais sob os cuidados de Damaris. “Não sei se é lembrança ou uma cena imaginada, mas me recordo de estar no colo da Damaris, olhando para a Soledad. Mesmo muito pequena, talvez eu tenha percebido que ela estava indo embora”, diz Ñasaindy. A decisão de Soledad de viajar para o Brasil estava associada ao Cabo Anselmo, o líder da Revolta dos Marinheiros da qual José Maria participara em 1964.
Carteira Preta
No papel de agente infiltrado da polícia, Cabo Anselmo convocara militantes em Cuba para retomar ações guerrilheiras no Brasil. Soledad aderiu ao chamado Grupo Primavera, que deveria estabelecer um núcleo da VPR no Nordeste. Era uma armadilha preparada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, que decidira exterminar de vez com a guerrilha urbana. Depois de passar pelo Chile e Uruguai, Soledad chegou ao Brasil, onde acabou se envolvendo amorosamente com Cabo Anselmo. Estaria grávida dele quando se tornou uma das vítimas do esquema, no começo de janeiro de 1973.
Há duas versões para a morte da mãe de Ñasaindy. Pela versão oficial, Soledad estava entre os seis “terroristas” mortos durante um tiroteio na Chácara São Bento, em Recife. É o que afirma o delegado Carlos Alberto Augusto, conhecido como Carteira Preta, hoje lotado na cidade paulista de Itatiba, que atuava como agente policial infiltrado na célula da VPR, ao lado de Cabo Anselmo: “Eu usava o codinome Cesar, porque todos os terroristas, por motivo de segurança, tinham de adotar outros nomes. Fui designado por meus superiores, que cumpriam ordens do governo do Estado, a fazer essa investigação de repressão e combate a terroristas”. O delegado garante que não participou diretamente do episódio: “Eu e o Anselmo não estávamos no local dos fatos. Pelo que fui informado depois, houve um cerco na área de guerrilha e reação na hora da prisão. Os órgãos de repressão tinham interesse em pegá-los vivos, para obter informações. Quando os policiais entraram na área, foram atacados por um cachorro. Um dos policiais disparou um tiro e os terroristas reagiram. Eles sabiam os riscos de morte, sabiam que estavam traindo a pátria”.
A versão oficial foi contestada ainda em janeiro de 1973 por duas testemunhas. Dona da butique Chica Boa, em Recife, a comerciante Sonja Maria Cavalcanti de França Lócio denunciou que Soledad foi presa na sua frente, junto com Pauline Reichstul, irmã do ex-presidente da Petrobras Henri Philippe Reichstul. Soledad estava na butique, onde costumava deixar bordados em consignação, quando ela e Pauline foram levadas por cinco homens armados, à paisana. O marido de Sonja tentou registrar o sequestro à polícia, mas foi aconselhado a esquecer o assunto. No dia seguinte, o casal, que não tinha nenhuma atuação política, viu no jornal as fotos de Soledad e Pauline entre os “terroristas mortos em tiroteio”. Sonja procurou então a Ordem dos Advogados do Brasil. Seu depoimento só começou a ficar conhecido após a redemocratização do País.
Advogada de um dos mortos na chácara, Mércia de Albuquerque Ferreira é a outra testemunha que contestou a versão oficial. Ela faleceu há dez anos, mas, em 1995, gravou em vídeo, na presença do então secretário de Segurança de Pernambuco, o relato que repetia desde janeiro de 1973. A advogada afirmava que, ao saber das mortes, conseguiu licença para entrar no necrotério. Lá, encontrou os seis corpos, todos inchados, “muito estragados”, com cortes e marcas de pancadas: “Em um barril estava Soledad Barrett Viedma. Ela estava despida, tinha muito sangue nas coxas, nas pernas, e, no fundo do barril onde se encontrava, também havia um feto. Eu fiquei horrorizada. Como Soledad estava em pé, com os braços ao lado do corpo, eu tirei a minha anágua e coloquei no pescoço dela. Era uma mulher muito bonita”.
Ñasaindy tinha quase 4 anos quando Soledad foi morta. “Até uma certa idade, eu era muito chorosa. Depois, criei algumas doenças. Meu pescoço ficava cheio de bolinhas com pus”, conta. Ela estava um pouco mais velha quando assimilou a morte dos pais, mas ainda é marcada pela ausência, principalmente da mãe. “O que me faz sentir muito mal é o abandono. A Soledad fez uma escolha. Naquele momento, a luta era muito importante para ela”, diz Ñasaindy. “Para mim, era difícil juntar a imagem de deusa que me passavam dela com o abandono.”
Sem RG
Quanto à sua trajetória, Ñasaindy comenta que fez pesquisa a vida toda, “para juntar os caquinhos” da própria identidade. Não gostou nem um pouco de entrar com documentos falsos no Brasil: “Tudo o que não era verdade me incomodava”. Estava há quase dois anos em São Paulo quando chegou à casa em que morava e encontrou duas pessoas que não conhecia: “Eu logo vi que aquilo tinha a ver comigo”. Eram sua avó paterna e seu tio Paulo. A família de José Maria esperava por ele desde 1966, quando recebera sua última carta. “Meu pai morreu em 1973, na ilusão de que a qualquer hora ele voltaria”, diz Paulo.
Quatro anos antes da morte do pai, quando foi estudar Farmácia e Bioquímica em Fortaleza, Paulo tinha começado a procurar pelo irmão. Durante uma viagem ao Rio, em 1970, se deu conta de que existiam muitos desaparecidos no País. Intensificou seus contatos com familiares de presos políticos quando começou a fazer pós-graduação na Unicamp. Com a volta dos exilados, a partir de 1979, ele conseguiu reconstituir parte da trajetória do irmão. Só teve certeza de que o José Maria não voltaria quando o escritor Paulo Conserva publicou um artigo no jornal A União, de João Pessoa (PB), relatando que ele havia sido assassinado no DOI-CODI de São Paulo. Ao procurar o escritor, Paulo soube que José Maria tinha uma filha em Havana: “Era uma época difícil. Ninguém abria nada para mim. Todos estavam com receio do Cabo Anselmo. Em 1982, quando eu organizava a viagem para buscar a filha de José Maria em Cuba, soube que Ñasaindy vivia em São Paulo.”
Para chegar à casa de Damaris, Paulo teve de acionar os contatos que cultivara no decorrer dos anos. Só encontrou Ñasaindy depois de se reunir com Ariston, o filho mais velho de Damaris, no escritório de um advogado: “Até hoje me dói muito lembrar a situação precária em que viviam. A Damaris foi ser doméstica e todos os filhos trabalhavam e estudavam à noite. Quando conheci a Ñasaindy, ela vendia balas numa galeria, na região da Avenida Paulista”. Pouco tempo depois, quando terminou a oitava série, Ñasaindy parou de estudar, por causa de sua condição de clandestina: “Na escola, viviam me pedindo o RG, que eu não tinha como tirar. Chegou uma hora que não deu mais para fazer matrícula”.
Nome inspirador
Nessa época, Ñasaindy também já tinha começado a manter contatos com a família de Soledad. Com o passar do tempo, ela estreitou os vínculos com Paulo, o tio paterno. “Ele fez a diferença na minha vida. É o pai que eu não tive”, diz Ñasaindy. Paulo, por sua vez, esperou anos para “assumir” integralmente a sobrinha: “Criada em Cuba, com outra mentalidade, ela era muito independente, desenvolta”. Quando Ñasaindy estava com 27 anos, Paulo contratou um advogado para regularizar a situação da sobrinha. Ñasaindy passou por momentos de crise. “Eu tinha medo de que a minha mãe fosse penalizada de alguma maneira”, afirma, referindo-se a Damaris.
Hoje naturalizada brasileira e formada em Pedagogia, Ñasaindy faz um curso de extensão na Unicamp, onde foi fotografada para esta reportagem, e analisou a vida em retrospectiva: “Eu não sou frágil. Sou muito mais resistente do que imaginava. Esses processos foram duros, mas me fortaleceram muito”. Embora tenha se aliado a Paulo na busca pelos restos mortais dos pais, jamais os encontrou. Ambos constam da lista de desaparecidos políticos do Brasil. Mãe de quatro filhos, Ñasaindy mora em Campinas com os dois mais novos, Habel e Dina. A segunda filha, Ivich, cursa Cinema na Universidade Federal da Integração Latino-Americana, em Foz do Iguaçu (PR). A mais velha, Yalis, estuda Rádio e TV em São Paulo. Nascida nos tempos em que Ñasaindy vivia com documentação falsa, Yalis assina Lucena, como Damaris. O nome da Ñasaindy, por sua vez, inspirou Samuel Ferreira, que também passou parte da infância exilado em Cuba, na hora de batizar a própria filha. Assim, orgulhosa de carregar um nome “com um significado muito bonito”, vive em São João de Meriti (RJ), a estudante Ñasaindy Ferreira, de 18 anos. Detalhe: as duas Ñasaindys ainda não se conhecem.
por Luiza Villaméa
Brasileiros
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