Na verdade o filme é quase um tratado sociológico sobre a situação da violência urbana no Rio de Janeiro. É narrado o tempo inteiro pelo agora Coronel Nascimento, que se revela um personagem muito mais rico e intrigante do que o brucutu sanguinolento da primeira versão. A narração em off, no cinema, é um artifício perigoso, muito usado por cineastas que subestimam a inteligência de seu público e acham que precisam explicar tudo o que já está sendo visto na tela o tempo inteiro, mas nesse caso, dada a complexidade das situações retratadas e da própria “psique” do personagem em si, se justifica. Padilha, habilmente, consegue tomar posição sem em nenhum momento recorrer ao maniqueísmo. Consegue, acima de tudo, passar a mensagem de que os personagens antagônicos de Nascimento e do Deputado Fraga, político de esquerda e defensor dos Direitos Humanos, estão, na verdade, do mesmo lado, muito embora com uma visão de mundo e utilização de métodos totalmente diferentes. Mais: acaba de uma vez com qualquer resquício de suspeita de legitimação dos métodos de Nascimento, alçado ao posto de “herói” por um monte de gente burra que entendeu tudo errado no primeiro filme, ou melhor, entendeu da forma que lhes é mais conveniente. Isso fica bem claro num trecho da fala do personagem em seu depoimento na Assembléia Legislativa, quando ele relembra que um dia seu filho teria lhe perguntado porque sua profissão era matar, e ele agora admitia que não tinha uma resposta para isso. Nascimento se deu conta, finalmente, de que estava sendo, o tempo todo, manipulado por um “sistema” (palavra repetida à exaustão durante toda a projeção) fascista e excludente, muito bem representado pelo excelente personagem do apresentador de televisão fanfarrão e sensacionalista que se esconde sob uma capa de falso moralismo para legitimar o “status quo” com soluções simplistas resumidas em frases de efeito do tipo “dá caixinha de bombom pro malandro”, “manda flores pro meliante” ou “direitos humanos para os humanos direitos” (Bareta?).
Tudo isso sem falar das interpretações, que são sensacionais. Todos, começando por Wagner Moura, evidentemente, estão muito bem. O roteiro é enxuto e a direção é segura. Apenas os diálogos, a meu ver, pecam por um certo excesso de “naturalismo” que às vezes soa um pouco forçado, mas nada que comprometa o conjunto da obra.
Fico feliz em saber que “Tropa de Elite 2 – O Inimigo agora é outro” é um sucesso estrondoso de público e crítica.
É quase uma obra-prima.
por Adelvan
* * *
“A PM do Rio tem que acabar”. Esta é uma das muitas frases polêmicas do Capitão Nascimento, personagem vivido por Wagner Moura em “Tropa de Elite 2”. No filme, o ex-capitão do Bope, agora subsecretário de segurança do Rio, faz severas criticas a esquemas de corrupção, tanto na polícia quanto nos setores mais burocráticos do governo. Em entrevista exclusiva ao EXTRA, o ator solta o verbo: reafirma que muitas das situações retratadas no filme podem ser vistas no dia a dia, fala sobre o sentimento que o longa-metragem despertou na população e opina sobre uma das maiores bandeiras da área de segurança, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
— A UPP é boa, mas deve ser vista como um meio, não como um fim — diz o ator, alertando que o programa pode se tornar uma espécie de milícia: — O perigo é que aquelas comunidades sejam dominadas por aquela polícia.
Em uma entrevista coletiva na última quinta-feira, o verdadeiro comandante do Bope, o tenente-coronel Paulo Henrique Moraes, disse que “Tropa de Elite 2” pode confundir a população por misturar elementos da ficção e da vida real, e que, assim, muitas conclusões erradas podem ser tiradas.
Wagner Moura tem outra opinião sobre o filme:
— O filme é de ficção por mais que tenha uma estética documental. Mas o que é retratado no produção acontece na vida real de uma maneira geral — afirma Moura.
O comandante do Bope disse que não gostou do filme porque mistura ficção e realidade, e pode passar uma noção de realidade distorcida. Você concorda?
Moura: Ele está fazendo uma confusão estética. O filme é de ficção, por mais que tenha uma estética documental. Mas o que é retratado no filme acontece na vida real de uma maneira geral. Existe milícia? Existe. Existe polícia corrupta? Existe. O Bope é uma polícia violenta? É. Há uma ingerência dos políticos na vida dos policiais? Há. Há uma ingerência do poder público na questão das milícias? Há. O filme, neste sentido, não está dizendo nada que não exista. É baseado em fatos reais.
Como tem sido a repercussão de "Tropa de Elite 2" em comparação ao primeiro filme?
Moura: Este filme tem causado uma comoção, uma catarse cívica, que o primeiro não causou. As pessoas viam aqueles políticos (ligados à milícia), a reação do Nascimento (que agrediu um deles no filme), e se identificaram bastante. O que não significa que o que tenha acontecido no filme tenha acontecido na realidade. Mas as situações criadas no filme, de uma certa forma, existem, não há como negar.
A principal bandeira da área de segurança — a UPP — tem por objetivo quebrar o sistema regido pelo tráfico. Você tem alguma opinião formada sobre a UPP?
Moura: A UPP é boa, mas deve ser vista como um meio, e não como um fim. A gente não pode achar que a UPP é uma solução. É o Estado se fazendo presente em localidades historicamente negligenciadas por meio de sua polícia. É um bom começo. Mas se não se fizer presente de outras formas, como saneamento básico, hospitais, escolas, o perigo é que aquelas comunidades sejam dominadas por aquela polícia.
Nesse sentido, a UPP pode virar um sistema semelhante ao adotado pelas milícias?
Moura: Pode sim. Ou outra coisa diferente que a gente não sabe o que é ainda. O sistema certamente se recria.
Fonte: Extra Online
— A UPP é boa, mas deve ser vista como um meio, não como um fim — diz o ator, alertando que o programa pode se tornar uma espécie de milícia: — O perigo é que aquelas comunidades sejam dominadas por aquela polícia.
Em uma entrevista coletiva na última quinta-feira, o verdadeiro comandante do Bope, o tenente-coronel Paulo Henrique Moraes, disse que “Tropa de Elite 2” pode confundir a população por misturar elementos da ficção e da vida real, e que, assim, muitas conclusões erradas podem ser tiradas.
Wagner Moura tem outra opinião sobre o filme:
— O filme é de ficção por mais que tenha uma estética documental. Mas o que é retratado no produção acontece na vida real de uma maneira geral — afirma Moura.
O comandante do Bope disse que não gostou do filme porque mistura ficção e realidade, e pode passar uma noção de realidade distorcida. Você concorda?
Moura: Ele está fazendo uma confusão estética. O filme é de ficção, por mais que tenha uma estética documental. Mas o que é retratado no filme acontece na vida real de uma maneira geral. Existe milícia? Existe. Existe polícia corrupta? Existe. O Bope é uma polícia violenta? É. Há uma ingerência dos políticos na vida dos policiais? Há. Há uma ingerência do poder público na questão das milícias? Há. O filme, neste sentido, não está dizendo nada que não exista. É baseado em fatos reais.
Como tem sido a repercussão de "Tropa de Elite 2" em comparação ao primeiro filme?
Moura: Este filme tem causado uma comoção, uma catarse cívica, que o primeiro não causou. As pessoas viam aqueles políticos (ligados à milícia), a reação do Nascimento (que agrediu um deles no filme), e se identificaram bastante. O que não significa que o que tenha acontecido no filme tenha acontecido na realidade. Mas as situações criadas no filme, de uma certa forma, existem, não há como negar.
A principal bandeira da área de segurança — a UPP — tem por objetivo quebrar o sistema regido pelo tráfico. Você tem alguma opinião formada sobre a UPP?
Moura: A UPP é boa, mas deve ser vista como um meio, e não como um fim. A gente não pode achar que a UPP é uma solução. É o Estado se fazendo presente em localidades historicamente negligenciadas por meio de sua polícia. É um bom começo. Mas se não se fizer presente de outras formas, como saneamento básico, hospitais, escolas, o perigo é que aquelas comunidades sejam dominadas por aquela polícia.
Nesse sentido, a UPP pode virar um sistema semelhante ao adotado pelas milícias?
Moura: Pode sim. Ou outra coisa diferente que a gente não sabe o que é ainda. O sistema certamente se recria.
Fonte: Extra Online
7 comentários:
O que estraga estes filmes é a quantidade de zé ruela globesta falando, eu já nem assisto. E com tantos/as roteiristas talentoso/as no Brasil, a maioria até dos deserdados dos imortais de ex-fazines, vão fazer filme sobre o Rio como se isso fosse o país inteiro até o fim dos tempos.
Não aguento mais gente mal amada me perseguindo. Gente que só sabe reclamar e nada faz. Não adianta, tem muita gente do meu lado. Melhor desistir. Não vou comprar sua guerra virtual, tenho mais o que fazer ao contrário de você que vem crucificando quem nunca lhe fez mal.
Realmente esse filme me impressionou, quando subiu os créditos, me deu um nó na garganta e uma vontade de gritar. Mas consegui falar um "filme do caralho!"...
Padilha mostrou que tem saco roxo e que alguém precisava dar um sacode pesado na galera.
E não só pro povo do Rio, do Brasil todo. Quem não entendeu a mensagem que continue acreditando em gente de mau caráter que levam esse país cada dia mais para o buraco.
Façamos a nossa parte! Um dia a coisa muda. As coisas boas deixarão de ser exóticas.
Querido Adel, companheiro de underground de tantos anos, que eu respeito justamente por discutir até com quem discorda de ti, por este episódio lastimável! Prometo que não volto mais a comentar para evitar e nem dar opinião diferente, me recolhendo a minha insignificância feminina, para que teu blog tão bacana e do qual sempre fui seguidora fiel e fã (mesmo você achando isso chato) continue melhor que nunca.
Ow, Wild Blumen, não falei nada com relação a seu comentário. Acho massa seus, só enriquece o blog, continue ficando a vontade. Essa treta aí de vocês dois eu não tenho nada a ver, nem sei de que se trata.
Valeu, Adel, não existe nenhuma treta. Veja que eu comento aqui todo dia e nem sempre elogio. Valeu de novo!
Adelvan, quero te dar os parabéns primeiro pelo trabalho e por conquistar notoriedade com dignidade. Em segundo lugar, pelo blog (foda pra caralho), e também pelo cavalheirismo e especialmente por não compactuar coma turma do Digão e o bullying.
turma do Digão e o bullying - Não faço a mínima idéia do que se trata isso!
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