terça-feira, 13 de julho de 2010

I sold my soul for rock 'n' roll


Por conta da passagem do "Dia do rock" foi-me solicitado um depoimento a ser publicado por Rian "Calango Doido" no Jornal do Dia daqui de Aracaju. Abaixo, o texto na íntegra.

Foto: Programa de rock, por Michael Meneses

Texto: Adelvan Kenobi

Em termos de rock and roll, eu costumo dizer que sou da geração “Rock in rio/Revista Bizz”. Em 1985, ano da primeira edição do rock in rio, eu morava em Itabaiana, agreste sergipano, a 52 km da capital. Dá pra imaginar que era um tanto quanto escassa a informação sobre o mundo do rock que chegava até lá na época. Por isso foi tão importante aquele festival já que, afinal, foi promovido pela maior emissora de televisão do país, uma verdadeira “teletela” a lá 1984 de George Orwell espalhada por todos os lares de nossa nação tropical supostamente abençoada por Deus e verdadeiramente bonita por natureza. Através da tela da globo eu tive meu primeiro contato com o Heavy Metal e a New Wave, pude perceber que aquele mundo era bem mais amplo do que eu imaginava e era dividido nos mais diversos estilos, gêneros e “movimentos”. Bateu a curiosidade e eu pude me aprofundar através da leitura da Bizz, que por muito tempo foi a maior revista sobre música do Brasil, e era publicada por outro gigante das comunicações, o Grupo Abril. Nos anos 80 eles davam muito espaço para o rock, inclusive ao rock independente. Pelas páginas da Bizz eu travei contato com o universo alternativo, algo que não fazia a mínima idéia que existisse: Fellini, Mercenárias, Akira S, a vanguarda paulistana, enfim, e o universo do rock pesado, do hardcore e do heavy Metal, Ratos de porão, sepultura, Korzus, Olho Seco, etc, etc, etc. Tudo aquilo me fascinou muito. Foi identificação total, amora à primeira vista e, posteriormente, “ouvida”, quando eu finalmente tomei coragem e gastei meu surrado dinheirinho com o LP “Descanse em paz” do RDP, que tinha uma foto horrível de uma mulher morta por espancamento na capa e que eu usava pra assustar minha irmã menor quando eu estava com raiva dela.

Minha vida mudou. Eu era um jovem reprimido e introspectivo, pseudo-moralista, extremamente religioso (por puro medo do castigo, da punição). O rock, com seu espírito libertário e contestador, me fez desatar essas amarras e me transformar, na medida do possível (nunca é totalmente possível), num “espírito livre”. Meus primeiros discos, de uma coleção que só recentemente parou de crescer, graças à internet, foi “Viva, ao vivo”, do Camisa de Vênus, “Vivendo e não aprendendo”, do Ira!, e “Somewhere in time” do Iron Maiden. Comecei a produzir um fanzine (revista artesanal publicada por fãs), sem nem ter idéia do que era um fanzine, pra mim o que eu estava fazendo era uma “apostila”. Sylvio, da Karne krua, entrou em contato comigo e me colocou a par de toda a movimentação que existia em torno daquilo, à margem da mídia convencional, via troca de cartas, publicações e fitas demo pelo correio. Nos anos 90 me envolvi completamente com aquele universo, e graças a ele pude fazer amigos e viajar por quase todo o Brasil. Acompanhei de perto o nascimento, crescimento, recrudescimento, renascimento, o vai-e-vem, enfim, da pequena porém consistente cena local, produzindo ou ajudando a produzir shows e divulgado as bandas sergipanas através do meu fanzine. Fui proprietário de uma loja especializada (a Lokaos, fundada originalmente por Silvio) e integrei eu mesmo uma banda, a 120 Dias de Sodoma, como vocalista que não sabia cantar de uma banda que não sabia tocar. Foi divertido.

Está sendo divertido. Hoje não sou mais “fanzineiro”, mas procuro ajudar no que posso através do programa de rádio que produzo, o “programa de rock”, que vai ao ar toda sexta-feira, às 20h, pela 104,9 FM. Uma coisa que tenho notado é que hoje em dia ouço mais rock do que quando era mais jovem. Tem jeito não, quanto mais o tempo passa, mais “roqueiro” eu fico. Acho que vou morrer roqueiro. Aproveito então para fazer um apelo público à minha família: para que troquem o tradicional crucifixo por uma guitarra elétrica como ornamento do meu túmulo.

Amém.

2 comentários:

A Wild Garden disse...

mandou hiper bem, Adel, mas eu preferia que fosse o túmulo do Joey!

18 de julho de 2010 14:47

Adelvan Kenobi disse...

Realmente, Johnny era uma figura controversa, de direita e tal - mas que o túmulo dele é mais bonito e estiloso que o do Joey, é, hehehehe