quinta-feira, 1 de julho de 2010

Dia 10/07/2010 tem Virada Cinematográfica

Tema: Cinema nacional - SÁBADO - 10/07/2010 - A partir das 23:59h - No Cinemark do Shopping Jardins - Café e refrigerante nos intervalos - Café da manhã no final - Os Ingressos estarão a venda somente na Bilheteria do Cinemark a R$ 15,00 a meia.

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O cinema brasileiro – e aqui não falo só dos realizadores, falo do público e também da crítica, esse tripé de desejos e gostos insondáveis - vive uma terrível síndrome de cachorro vira-lata, incensando muitos filmes abaixo da média por supostas qualidades técnicas e deixando passar em branco grandes e pequenos filmes que aparecem por aí, de cinematografia sólida e bem construída.
Será esse o caso de Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos, filme do diretor de longas estreante e roteirista mais que experiente Paulo Halm? Espero que não. O filme é comovente e divertido, em doses equilibradas e cheio de curvas dramáticas que surpreendem o cara que está sentadinho na poltrona do cinema.
Zeca, um jovem supostamente talentoso interpretado por Caio Blat narra a sua vida com um certo distanciamento, como se ele próprio e seus problemas fossem matéria ficcional. Mas isso tem uma explicação: a beira dos 30, Zeca está empacado na página vinte do seu romance de estréia e não escreve sequer uma linha. Representando a famosa geração y, que não eclode, implode ou explode, o rapaz vai ficcionalizando sua vida, fantasiando um possível caso homoerótico da sua madura namorada com uma aluna argentina.
O que movimenta a vida de Zeca não é o que acontece e sim o que ele imagina acontecer, e na sua incapacidade de produzir ficção de verdade ele vai desenrolando a sua história como um mega narrador às vezes histérico, às vezes deprimido, o personagem compara suas dúvidas existenciais com autores e chega a comparar Júlia, sua mulher, com um personagem do cinema francês. Ao fazer isso o dublê de escritor escreve, mas escreve a vida como deveria ser, e não como ela é de fato. Ele é é um narrador que não faz a menor idéia de sua condição real, do que é palpável na sua existência: sua relação com o pai, com a arte e com sua mulher.
O romance que Zeca inventa e que movimenta parte da trama trás a parte bem humorada do filme. A participação de Hugo Carvana não é apenas afetiva: é um dado da influência no filme desse humor tipicamente carioca e debochado que tantalizou cinemas nas décadas passadas, como “a virgem camuflada” e “se segura malandro”, do prório Carvana. O Romance que dura apenas 90 Minutos não é o de Zeca com sua mulher ou de Zeca com sua paixão indefinível pela argentina “acariocada” Luz. É a escritura que ele compõe ao se relacionar de forma transversal com os acontecimentos, sem encará-los de frente. Um livro sem páginas que poderia se chamar: A vida de Zeca, segundo Zeca e sem Zeca.
Passeando entre a nouvelle vague do personagem caminhante, e pela comédia erótica de tradição italiana tipicamente brasileira, Paulo Halm faz um filme de fôlego, que não se arvora de pretensa seriedade para discutir as agruras da geração dos jovens adultos nascidos na década de 80, mas ainda sim, com algum escracho calculado (como na impagável cena do “brinquedinho”) é profundo e lança questões importantes, diluídas entre a compaixão e o ridículo do protagonista. Veredicto: vale.

por Renata Corrêa

Valeounaovale

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Enquanto rodava festivais, o novo filme de Sérgio Bianchi, Os Inquilinos, tinha como subtítulo ou Os Incomodados que se Mudem. A expressão popular adquire ao longo do filme sentidos diferentes, ora sarcástico, ora resignado. Aos incomodados só resta mesmo se mudar?

Válter (Marat Descartes) é um deles. Vive com sua mulher e dois filhos em um bairro paulistano de classe média baixa, perto da favela, sempre em sobressalto. A situação fica insuportável quando a vizinha aluga um quarto para três jovens suspeitos. Os personagens hipócritas de Bianchi sempre vivem sob a máxima sartreana de que "o inferno são os outros", e com Válter não é diferente.
Estamos numa mistura de Faça a Coisa Certa com Estranhos Vizinhos, em resumo.
O que separa Os Inquilinos de outros filmes do diretor, como Cronicamente Inviável e Quanto Vale ou É por Quilo?, antes de mais nada, é um olhar mais solidário, mais Rousseau, das falhas dos personagens. Ninguém é mau porque nasceu assim (ideia que Válter discute com a filha durante um jantar), mas por influência do meio (também conhecido por Datena). Em certo momento, ouvimos uma briga do lado de fora de uma casa e, quando a câmera entra, descobrimos que vinha da televisão.
Outra vantagem em relação aos trabalhos anteriores de Bianchi é a concentração. O diretor frequentemente cede à tentação de tecer comentários sobre diversos assuntos de cunho social, o que tira o foco de suas histórias, mas em Os Inquilinos a epidemia de temas, ainda que presente (vai de erotização infantil a precariedade trabalhista), é mais contida.
Permanece, no entanto, a obsessão - ademais bastante presente no cinema da Retomada - de colocar a tese na frente da trama. A quantidade de cenas funcionais, planejadas para problematizar a questão da percepção da violência, como os momentos no supletivo, enfraquecem o filme porque, pra usar outra expressão popular, colocam a carroça na frente do boi.
Bianchi não precisaria forçar a mão nos diálogos-discursos. Sua direção de atores e seu olhar são bastante apurados para enxergar sentido em situações banais do dia-a-dia, seja na forma como a mãe arruma o cabelo da filha com um zelo até agressivo, seja nos olhares que ela dirige ao marido (o sorriso de Anna Carbatti pelo vitrô quando Válter entra na casa vizinha é fortíssimo).
Existe ali um tema interessante (entre tantos), que não se verbaliza e fica o tempo todo nas entrelinhas: a necessidade de Válter, o branco careca no meio de negros atléticos, de se reafirmar como o macho alfa, o cão de guarda.
Na superfície, então, temos a ideia de que há humanidade em meio ao mundo cão (a árvore que sobrevive no morro) mas o medo afasta mais as pessoas do que a violência em si (a diáspora no final). Tudo o que Bianchi sugere, mais ou menos acintosamente, entre esses dois extremos também tem valor.

por Marcelo Hessel

Omelete

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