sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

ZONS 2014, o festival.

Arte por toda parte.
O Zons é um projeto vitorioso! Está conseguindo, aos poucos, romper a velha lógica de que não seria possível viabilizar a produção de cultura alternativa, em nosso estado, de forma minimamente estruturada, com qualidade e “profissionalismo”, longe dos esquemas viciados do mercado e do setor público/estatal. Ano passado conseguiu o feito de ser o primeiro projeto sergipano a ser aprovado no sistema colaborativo, via “catarse”. Com isso viabilizou os recursos que precisava para a produção de um filme – primoroso, um belíssimo registro para a posteridade - e de um festival inteiramente dedicado à música sergipana que passa ao largo da grande mídia e dos grandes eventos do calendário cultural oficial. Este ano repetiu o feito, com um valor substancialmente maior. O filme ainda está em fase de produção, mas o festival aconteceu no último sábado, dia 13 de dezembro do ano da graça de 2014 – e foi um sucesso!

As apresentações começaram às 14H. Cheguei por volta das 16:30, a tempo de ver a Skabong fazer a festa do público, ainda em pequeno numero, presente. Clima bom, fim de tarde, sol se pondo entre os coqueiros. O local escolhido para abrigar o evento contribuía: espaçoso, aconchegante e bem decorado.  Um tanto quanto distante, para os padrões aracajuanos, mas nada que uma carona amiga não resolvesse.

Na sequencia tivemos o “tropical punk” nervoso da Renegades, sempre competente e energético. Ótima “pegada” em excelentes composições próprias intercaladas com alguns covers – do Husker Du e dos Ramones. O som estava ótimo e a banda afiadíssima – já são alguns bons anos de palco nas costas, inclusive com um giro pelo circuito de “squats” da Europa feito de forma 100% independente. Totalmente “Do it yourself”. Era o rock muito bem representado no zons, que se caracteriza, também, pela diversidade de ritmos ...

Diversidade que “deu as caras” logo na sequencia, com a MPB “ácida” de Alex Santanna – algo próximo ao que gente como Moacir Franco e Jards Macalé costumavam fazer nos anos 70. Bom show, com boas composições, ótimas letras e uma perfomance visceral, acompanhado de uma ótima banda. O que já explicitava outra característica da noite que deixava no ar uma exclamação que não saía de minha cabeça: COMO TEM GENTE TALENTOSA AQUI EM NOSSA TERRA. Creio em Deus pai! Talento pra todo lado, inclusive entre o público, com muita gente boa registrando tudo – as excelente fotos que ilustram esta matéria, por exemplo, são de Saulo Coelho Nunes.

A diversidade se manifestou não penas no aspecto musical, mas em todas as atividades - e foram muitas – que se desenvolveram ao longo do festival. Uma rápida volta pela chácara deixava você de cara com pessoas, literalmente, pintando e ... fazendo pole dance! Sim, no intervalo entre as apresentações musicais tivemos, dentre outras coisas, uma belíssima exibição de pole dance, outra de dança contemporânea e uma peça teatral do grupo Caixa Cênica. Havia também uma lanchonete servindo comida vegetariana, algo indispensável dada a distancia do local e o longo período de tempo que ficariam por ali os que se dispusessem a ver tudo que a noite teria a oferecer . Este foi, no entanto, o ponto fraco da estrutura: o pessoal não conseguia dar conta da demanda, nem parecia ter muita disposição e/ou paciência para explicar as dificuldades a quem estava esperando com fome. Já que estava de carro e a noite seria longa, preferi me deslocar até a Atalaia para comer, o que me fez perder pelo menos um show, da Coutto Orquestra.

Vi antes, no entanto, Polayne, com sua perfomance teatral super elaborada e seus trinados sofisticados com bem colocadas citações ao Cocteau Twins e ao Led Zeppelin, além de uma versão de um clássico do pós punk brasileiro safra década de 1980, “Armadilha”, da banda brasiliense Finis Africae. Bom show – saltando aos ouvidos, mais uma vez, a extrema competência dos músicos! Destaque para a participação especial do grupo de percussão Burundanga.

E cheguei a tempo de ver uma sensacional apresentação da Plástico Lunar, extremamente enriquecida por um show de malabares com fogo executado pela dançarina Monique Leal e pela presença, no palco, de dois grandes guitarristas convidados: Melcíades, da Máquina Blues, e Julico, da Baggios – que tocou na banda por um longo e produtivo período e de cuja falta eles, sejamos sinceros, ainda não se recuperaram. Não por falta de competência dos caras - é que Julico é acima da média, e é naturalmente difícil substituir um musico de sua envergadura. Plástico com Julico é outra coisa, e isso fica claro na nítida empolgação de todos, que não se cansavam de se derramar em rasgados elogios.

Finalizando a noite, o reggae roots classudo e tocado com um feeling sobrenatural da Reação.  Mais que um show, uma verdadeira celebração, comandada por dois caras que estão, certamente, entre os melhores compositores e “front men” do estilo. Assim como a Plástico é, com toda a certeza, uma das melhores bandas de rock atualmente em atividade no Brasil – e é uma pena que a grande maioria do restante do Brasil não saiba disso – o mesmo pode ser dito da Reação, na seara do reggae.

No entanto, não vi a apresentação deles até o fim devido ao adiantado da noite – já passavam das três da manhã e eu estava lá desde as quatro e meia da tarde! Quase 12 horas ininterruptas de arte sergipana de primeiríssima qualidade, apresentada numa estrutura impecável e com uma boa presença de público. Tudo produzido de forma independente e colaborativa. De lavar a alma!

Parabéns a todos os envolvidos – na produção e na viabilização do projeto.

Que venha o filme!

E os zons 2015 ...

A

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