Um carro se aproxima de um ponto indeterminado no meio do
nada, em paisagem desértica, e subitamente é tragado por uma passagem subterrânea
que leva seus ocupantes a uma fantástica e futurística instalação científica. Trata-se
do Projeto Tic Toc, destinado a pesquisar a possibilidade de se fazer viagens
através do tempo. Como era de se esperar, uma empreitada muito custosa. E são
estes custos que levam uma comissão do senado americano a enviar um
representante para investigar o andamento dos trabalhos, com uma ameaça concreta
de corte de verbas.
Assustado com a possibilidade de que o trabalho de sua vida seja
perdido, um dos responsáveis pela pesquisa, Tony Newman (James Darren), entra
no túnel e consegue voltar no tempo. Mas fica preso por lá – num local e horário
nada animador. Impossibilitados de trazê-lo de volta a tempo de evitar uma tragédia
(não vou entrar em detalhes para não estragar a surpresa de quem ainda não viu),
os demais membros da equipe concordam que o Dr. Douglas Phillips (Robert
Colbert) parta em seu encalço.
Assim começa o episódio piloto de uma das mais cultuadas e
aclamadas séries de TV da História, “O Túnel do tempo” (Time Tunnel), de Irwin
Allen. A partir dali e por mais 29 episódios, durante os anos de 1966 e 1967, os telespectadores puderam acompanhar os
dois amigos às voltas com todo tipo de situação perigosa em aventuras que os
levavam a diferentes pontos chaves da história da humanidade. Porque como sua atitude
precipitada se deu antes do desenvolvimento da técnica que permitiria o resgate
dos viajantes, eles têm que se virar enquanto esperam pela possibilidade de
voltar “para casa”.
A série foi um grande sucesso, inclusive no Brasil, e só foi
cancelada devido aos altos custos de produção. Os cenários futuristas da Base
do túnel e as reconstituições das épocas pelas quais passam os viajantes são, em geral, primorosas - com os devidos descontos para os (d)efeitos especiais toscos típicos da ficção científica produzida nos anos 50 e 60 - que, vistos hoje, não deixam de ter seu charme. O grande destaque, no entando, fica mesmo por conta dos brilhantes roteiros gestados na mente criativa de Allen (Nova
Iorque, 12 de junho de 1916 — Santa Monica, 2 de novembro de 1991), criador de
inúmeras outras populares e memoráveis séries para a televisão, como “Terra de
Gigantes”, “Perdidos no Espaço” e “Viagem ao fundo do mar”.
É importante ainda destacar algumas observações que constam
no livro “Túnel do Tempo: um estudo de história audiovisual”, obra
coletiva coordenada por Dennison de Oliveira. Nele se afirma, por exemplo, que "Trata-se do produto da indústria cultural dos EUA que maior e mais
duradoura influência exerceu sobre o imaginário coletivo nacional no que
se refere à formação das concepções de Tempo, História e Ciência e cujo
impacto ainda hoje pode ser descrito e analisado". E prossegue, referindo-se ao pano de fundo político/ideológico do programa: "A
permanente guerra ideológica dos blocos em confronto no decorrer da Guerra Fria
foi uma fonte inesgotável de inspiração para o entendimento do sentido
implícito nos episódios. Ao lado de um evidente etnocentrismo (a sociedade
norte-americana é sempre mostrada como a mais avançada e a mais justa, todas as
outras lhe sendo inferiores), percebe-se também um acentuado maniqueísmo (todos
os personagens e instituições são assimiladas somente ao “bem” ou ao “mal”)
onde novamente os valores norte-americanos aparecem como os únicos positivos e
moralmente defensáveis. Na maior parte dos casos é difícil evitar-se a
assimilação do lado do “mal” da história de cada episódio aos soviéticos,
havendo pelo menos um episódio onde isso se dá de forma explícita. Verificam-se
também alguns casos de reabilitação moral de povos e nações, em especial dos
derrotados na Segunda Guerra Mundial que, no contexto da Guerra Fria, se
tornaram aliados dos EUA.” (OLIVEIRA, 2010; p. 21).
Vale muito a pena ver de novo. Pra quem não conhece, é
indispensável.
A.
Um comentário:
Não resisti comentar, rezando para que a horda do mal esteja ocupada pela primeira vez na vida e não venha emporcalhar teu blog atrás de mim. Acho que a maioria das pessoas sonha em voltar no tempo com a consciência do que deu errado e agir como Dean Winchester. Eu sou uma delas.
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