segunda-feira, 2 de agosto de 2010

He is the law

Conheço e admiro o trabalho de Law Tissot, um dos pioneiros da cyber culture underground no Brasil, desde os tempos de correspondências via carta, quando publicava o "Escarro Napalm" em zine xerocado - põe tempo nisso aí, já que parei de publicar e trocar cartas por volta de 1995. Através da internet fiquei sabendo que ele nunca parou, continua lá, ativo, em sua cidade nos recôndidos do extremo sul de nosso país. Hoje me deparei com uma entrevista com o cara no Zinismo.

Reproduzo-a abaixo:

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O professor de artes visuais e ilustrador Law Tissot conseguiu colocar em prática o sonho de muitos fanzineiros. Em um espaço físico localizado em uma antiga estação de trem (em Rio Grande – RS) funciona a FANZINOTECA MUTAÇÃO. Neste espaço pode-se consultar um belo acervo de fanzines, xerocá-los por um preço módico e ainda participar de oficinas de graffiti , lambe-lambe e arte postal.
Conheça mais sobre este espaço na entrevista abaixo:


ZINISMO: A primeira pergunta é clássica: como se deu seu envolvimento com a cultura underground e com os fanzines?
LAW TISSOT: É difícil pecisar um "ponto zero", mas com certeza sem o Movimento Punk nada teria acontecido. Viver o espírito das ruas naquela época foi muito rico em todos os sentidos. Tem coisas que só as ruas fazem por nós. E no aspecto da arte, então, em plena abertura política dos anos 1980... Foi um privilégio ter sido adolescente naquele momento da nossa história, e ter encontrado todos aqueles caras.

Como foi o processo de criação e estabelecimento da FANZINOTECA MUTAÇÃO?
Eu sempre tive um grande entusiasmo pelos fanzines desde quando os conheci, provavelmente em 1983, 1984... Essa paixão aumentou quando comecei a fazer os meus próprios zines e entrar naquela rede de trocas e contatos pelos correios. Daí nasceu um desejo de ter um local para manter um acervo público de zines. Mas isso demorou muito, porque levei uma vida de aventuras urbanas entre os anos 1980 até 1999. Em 2001 entrei para o Curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande e aos poucos fui me envolvendo com outros aspectos da cultura brasileira. Com isso cheguei aos companheiros do Ponto de Cultura ArtEstação e através de um edital da Funarte (Interações Estéticas 2009) pude legitimar esse sonho, com espaço físico adequado, catalogação, copiadora e todo o resto... A maior dificuldade está em conseguir zines das décadas de 1980 e 1990, temos recebido muitas doações, é verdade, mas bem sabemos que a quantidade de zines e zineiros neste país foi enorme. Muita gente desapareceu na história e muitos zines - lamentavelmente - nunca mais serão lembrados.

Acredito que a Fanzinoteca mutação possibilite o primeiro contato de muitos leitores com os fanzines. Como você observa tal interação?
Existe uma nova geração que tem uma grande distância de tudo isso, do que vivemos e do que significa editar, reproduzir, distribuir um zine, com todos os elementos - do xerox aos correios - então, às vezes, por mais que eu me esforce e me entusiasme com as explicações, o pessoal prefere mesmo é ficar apenas conectados nas suas redes sociais e nos blogs (no caso do blog é muito curioso, pois os vejo como filhos digitais dos zines, em um certo sentido é claro). Mas é importante dizer que aqueles que fizeram - ou ainda fazem - parte do mundo dos zines são os que mais se emocionam (mesmo!) com nosso espaço, acervo e ações.

Você associa o maior acesso à internet e tecnologia como responsável pelo declínio da produção dos fanzines nos anos 00?
Não tenho uma resposta certa a respeito disso. Não creio que foi apenas a internet, na medida em que temos como exemplo o Zinismo, onde existe uma excelente relação entre o uso da internet e a produção / fomento dos zines. São muitos fatores que podem ter esfriado toda a cena underground. Por um lado as transformações são inerentes a cultura humana. Mas existem muitos companheiros fazendo algo para manter os zines vivos, é isso o que importa na verdade.

Como professor de artes visuais, gstaria que falasse um pouco sobre a linguagem e estética própria dos fanzines.
A liberdade criativa dos zines são a sua maior identidade, assim podemos experimentar todos os formatos, linguagens e poéticas que nossos talentos alcançarem.

Qual sua percepção sobre a cena zineira atual no Brasil e no mundo? Qual o lugar dos fanzines nos dias de hoje?
Existem nomes importantes hoje, que mantem os zines num nível de propagação bastante atraente, como é o caso do Fábio Zimbres, através da Mostra Transfer . Tem a cena de Fortaleza, com o Weaver, Lupin, Paulo Amoreira, JJ Marreiro... visitei essa turma em março e fiquei assombrado com tanta energia circulando. O Brasil é mesmo muito vasto, através da fanzinoteca tenho me surpreendido bastante. Mantenho contato com a cena de Portugal desde os anos 90 e através deles chego a outros países da Europa. Lá, me parece, os zines atingiram um outro aspecto. Mais sofisticado até. Acho que os fanzines brasileiros, quando inseridos - e se relacionando - com todas as manifestações da arte urbana contemporanea poderão encontrar uma identidade bem interessante.

Gostaríamos que fizesse uma pequena lista de bons fanzines e blogs para os leitores do zinismo, podem ser vivos ou mortos...hehe
É uma pergunta curiosa, pois eu tenho uma relação passional com qualquer espécie de zine. Não conseguiria eleger os melhores. Prefiro que os leitores do Zinismo acessem o blog da nossa fanzinoteca e descubram os zines do nosso acervo e todos os links que dispomos. Será uma experiência muito interessante, acredito!

Espaço livre para manifestação:
Gostaria que me escrevessem (tissot_law@yahoo.com.br) que prometo responder sempre. Quem puder visitar o sul do RS, venha até a cidade do Rio Grande e conheçam a nossa fanzinoteca. Quem puder doar um zine, melhor. Nossa idéia é ampliar cada vez mais nosso acervo de zines e preservar para as gerações futuras o maior número possível de exemplares, com seus conteúdos incríveis e idéias mirabolantes de seus autores

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