quinta-feira, 11 de agosto de 2016

TUDO AO MESMO TEMPO AGORA

As Histórias em quadrinhos brasileiras seguem conquistando o mundo: os irmãos gêmeos paulistanos Fábio Moon e Gabriel Bá, de 40 anos, venceram pela segunda vez o prêmio Eisner, considerado por muitos o oscar dos quadrinhos. Agora na categoria “Melhor adaptação de outra mídia”, por Dois Irmãos (Quadrinhos na Cia., 2015), baseado no romance homônimo do manauara Milton Hatoum. A primeira foi em 2007, pela aclamada “Daytripper”, na categoria “série limitada”. “Dois irmãos”, que foi lançado nos Estados Unidos pela influente editora Dark Horse, a quarta maior do mercado – perde apenas pra Marvel, DC e Image - narra uma tumultuada relação de ódio entre dois irmãos gêmeos nascidos numa família de origem libanesa que vive em uma Manaus decadente, muito distante da efervescência econômica e cultural do ciclo da borracha, no início do século XX. O livro foi lançado no ano 2000 e se tornou uma espécie de clássico moderno da literatura brasileira. A adaptação para os quadrinhos segue o mesmo destino. ++++++++++++++++

Em se tratando de Histórias em quadrinhos, aqui em Aracaju temos o enorme talento de Eduardo Cardenas, que pode ser comprovado com a leitura de seu “Mórbido, maléfico e maldito gibi”. São contos curtos de horror decentemente roteirizados, magnificamente ilustrados e distribuídos em 32 páginas impressas aqui mesmo, no estado, com um resultado pra lá de satisfatório em termos de qualidade gráfica. Produção do autor, independente, pode ser adquirida no site http://lostcomics.com.br/ . Lá estão disponíveis para venda, também, “The Noir Samurai Tango – O Boêmio”, do professor e quadrinista sergipano Rodrigo Seixas; “Somner”, da baiana Dimítria Elefthérios, e “Boiuna – o guardião das esmeraldas”, uma HQ no estilo do horror clássico com temas tipicamente brasileiros - seu autor, o veterano Elmano Silva, é egresso da escola revelada nos anos 1970 e 80 pelas revistas Spektro, Calafrio e Mestres do Terror. //////

“O que é roubar um banco se comparado a fundar um?” Os personagens principais da HQ “Criminosos do sexo” parecem concordar com a tese de Bertold Brecht, pois é o que resolvem fazer assim que pensam numa função prática – e lucrativa - para o misterioso poder que descobrem ter: parar o tempo ao seu redor quando atingem um orgasmo. Escrita pelo premiado Matt Fraction e belamente ilustrada por Chip Zdarsky,”Criminosos do Sexo” está sendo publicada nos EUA pela Image Comics desde setembro de 2013 e é uma das séries em quadrinhos mais cultuadas da atualidade. Além de frequentar com assiduidade o primeiro lugar no ranking dos mais vendidos do New York Times, foi indicada a dois Eisner Awards em 2014, incluindo Melhor Série Contínua, e venceu na categoria de Melhor Nova Série. Em fevereiro do ano passado seu autor assinou contrato com a Universal TV para uma versão nas telinhas. No Brasil, já tem dois volumes belíssimamente encadernados em capa dura lançados pela Editora Devir. Fique de olho, também pra poder dizer, quando se tornar um estrondoso sucesso mundial a la “Walking Dead”, que já conhecia. E que nos quadrinhos é muito melhor. \\\\\\\\\\\\

Muhammad Ali morreu no dia 03 de junho de 2016 e eu finalmente peguei pra ler o gibizão de capa dura com miolo em papel couchê que a panini lançou faz algum tempo com uma história publicada originalmente pela DC Comics em 1978 em que ele enfrenta ninguém menos que o Superman! A idéia esdrúxula acabou rendendo uma HQ criativa e divertidíssima, desenhada pelo legendário Neal Adams. Vale uma conferida.  #############

Em 2015 o prêmio Nobel de literatura foi entregue a uma jornalista, a bielorussa Svetlana Aleksièvitch, de quem pouco ou nada se tinha ouvido falar, até aquele momento, por aqui. Por conta disso, sua obra singular, composta por depoimentos colhidos entre sobreviventes da guerra, do totalitarismo e de desastres nucleares e lapidados numa prosa que a Academia sueca qualificou de “Literatura polifônica” passou a ser , finalmente, publicada no Brasil. Já saíram até agora, pela Companhia das letras, Vozes de Tchernóbil – A história oral do desastre nuclear e A guerra não tem rosto de mulher. Este ano ela foi a grande atração da Flip, a Feira de Litaratura de Paraty, onde fez declarações como esta: “Prefiro o trabalho das mulheres ao dos homens. Quando morei na Suécia, a ministra da Defesa era uma mulher. Lembro uma foto dela grávida, passando em revista as tropas. Se todos os ministros da Defesa fossem mulheres, teríamos menos guerra no mundo. Trabalhei 30 anos sobre a história do comunismo russo e entrevistei centenas de homens e mulheres. Sempre as histórias delas eram mais interessantes. O mundo feminino é mais colorido, mais na base do emocional, mas ainda não chegamos ao ponto de igualdade entre gêneros no mercado de trabalho. Na minha terra há muito poucas mulheres na política e em outras áreas expressivas. Há também poucas autoras, que na opinião de muitos só deviam escrever sobre flores, amores e cozinha. Eu mesma quando comecei a escrever sofri questionamentos por abordar temas tão pesados.” ////

Quem também esteve na Flip, trazido talvez pelo anuncio da continuação do filme baseado em seu livro mais famoso, “Trainspotting”, foi o escocês Irvine Welsh. “Pornô”, a continuação de Trainspotting na literatura, servirá como ponto de partida, mas a nova história seguirá novos rumos, porque a indústria pornográfica mudou muito desde que o livro foi lançado, em 2002. Em todo caso, a volta do elenco original, inclusive de Ewan McGregor, que havia rompido com o diretor Danny Boyle ao ser preterido por ele em favor de Leonardo DiCaprio como protagonista de “A Praia”, tem causado frisson nos fãs – que não são poucos, e dentre os quais me incluo. Welsh escreveu ainda “Skagboys”, uma espécie de “prequel” de “Trainspotting”, em 2012, mas veio ao Brasil este ano para lançar seu novo livro, “A vida sexual das gêmeas siamesas”, que é ambientado em Miami Beach – bem longe da Escócia, portanto – e discorre sobre outro tipo de vício: o consumismo. Viciado ele mesmo em exercícios físicos, principalmente porque lhe permitem comer o que quiser, ele mora já há sete anos nos EUA, a maior parte do tempo em Chicago, cidade natal de sua mulher. Sobre as diferenças entre a América e sua terra natal, declarou: “Miami é muito diferente de onde eu venho. Na Escócia a cultura é mais verbal, em Miami as coisas são mais visuais. Lá as pessoas têm mais consciência do corpo e têm um vício no consumismo americano. É tudo mais físico, você fica mais preocupado com a forma do que em Edimburgo e até Chicago, em que as pessoas acabam ficando presas atrás de laptops. Você sai na rua e vê as modelos da Condé Nast e os artistas. Acho que o clima quente ajuda a criar esse comportamento de rua que não há em outras cidades. Há muitos brasileiros lá. E vocês gostam de festas.”

por Fernando Correia
No ano e mês da copa do mundo, em 2014, a Renegades of punk, banda sergipana de punk rock, decidiu aproveitar o refluxo e dar seu primeiro giro pela Europa. Consta que ninguém, além dos que já estão acostumados a circular na contramão, como eles, entendeu nada por lá: “Vocês são brasileiros, seu país está sediando a copa do mundo, o que estão fazendo aqui?” Rock, ora. Dos bons. Só agora, em 2016, o registro do feito apareceu na rede em um documentário de 41 minutos produzido com o capricho que é a marca registrada de tudo o que eles fazem. Chama-se “O som da selva” e pode ser visto no youtube. Veja! //// Quem também acaba de postar o registro de uma miniturnê pela “gringa”, no México, foi a The Baggios. Que está produzindo seu terceiro álbum, “Brutown”, com a ajuda dos fãs – R$ 31.340,00 captados via plataforma de financiamento coletivo “Catarse”. Um dos prêmios para quem colaborou foi o acesso a um show de pré-lançamento que aconteceu no dia 16/07/2016 na Reciclaria. Fui. Me senti um peixe fora dagua com minha bermuda surrada e camiseta do napalm death em meio a um público hipster e arrumadíssimo. “Empiriquitado”, como diz a minha mãe. No rigor do que ditam os blogs de moda. Mas curti. As músicas novas são, no mínimo, interessantes, e nem a participação insossa da chatíssima – e aclamadíssima - Sandy Alê conseguiu estragar a noite – que foi aberta por um combo montado com os novos nomes de uma nova cena independente que germina na cidade, numa “vibe” igualmente “hipster”, emulando a já não tão nova MPB indie das Tiês, Tulipas e Jenecis da vida, ou, pior ainda, aquele roquinho insosso que na verdade não é – e nem faz questão de ser, imagino – rock. O “supergrupo” era composta por Vitória Nogueira e Nicole Donato – não vi, cheguei atrasado; Lau e eu – interessante; Casco – muito ruim – e Cidade Dormitório – a mais promissora, com boas composições, apesar do vocal afetado, que me lembrou o irritante Helio Flanders, do Vanguart. Em todo caso, foi interessante ver amigos egressos das fileiras do Hard Core underground e periférico se aventurando por outras sonoridades – ficou na minha cabêça a imagem do guitarrista, Heder Nascimento – também da Cessar Fogo – dedilhando suavemente a guitarra com uma tatuagem gigante do Motorhead no braço. Adoro esses contrastes ...

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A vida é feita de escolhas. Tinha prometido a mim mesmo que assistiria a um show completo do Napalm Death assim que eles voltassem ao país depois da relativa frustração de vê-los como banda de abertura para o Hatebreed no Circo Voador, em 2014, mas decidi também que não poderia perder a apresentação do Suicidal Tendencies com Dave Lombardo na bateria, que aconteceria uma semana depois. Como tive que escolher, já que dinheiro não é capim nem dá em árvore, escolhi o segundo, que nunca tinha visto ao vivo ...

Comparecemos, eu e minha amiga Luana, do Rio, ao Audio Clube, na Barra Funda, a tempo de ver as bandas de abertura, Tolerancia Zero e Oitão. Chatos pra cacete, ambos. Hard Core “testosteronado” e cheio de “atitude”, com muita pose e pouco conteúdo. Fomos salvos pelos Ratos de Porão, que detonaram, como sempre, tocando na íntegra o pior disco de sua melhor fase, “Anarkophobia”. Mas o grande show foi mesmo do Suicidal, que fez uma entrada triunfal  após ser anunciado por uma garotinha de uns 4, 5 anos, trajada como fã - com direito à clássica bandana azul, evidentemente. Começaram com “You can´t bring me down” e emendaram um hit atrás do outro, sem piedade. Lombardo foi anunciado com pompa e aclamado pelo público, mas fez uma apresentação contida, sem nenhum estrelismo. Era penas um grande – e bote grande nisso – baterista dando uma força aos amigos, sem interferir nos arranjos e andamentos das músicas. Quem brilhou e se destacou mesmo foi Mike Muir, que ainda está em forma e segue sendo um grande frontman, conduzindo a platéia num frenesi insano que acabou em cima do palco, a seu convite.

Antológico! --------------------------------------------------

Antes tarde do que nunca, quero falar também do maravilhoso show de David Gilmour que vi, também em São Paulo, no final do ano passado. Foi no estádio do Palmeiras, reformado e tinindo. Fiquei na pista e muito pra trás, o que foi uma pena: pode-se dizer que vi Gilmour apenas pelo telão, pois de onde eu estava ele era apenas um ponto minúsculo no palco. Em todo caso, e apesar do blah blah blah sem noção do público coxinha que parecia estar ali apenas pelos velhos sucessos do Pink Floyd e pelo “status” conferido pelo preço exorbitante do ingresso, foi lindo poder ver  – na medida do possível, em meio ao mar de celulares posicionados à minha frente – finalmente ao vivo o legendário guitarrista interpretar pérolas do cancioneiro psicodélico circundado por uma banda pra lá de competente e pelo já tradicional show de luzes e feixes de raio laser. Um momento especialmente emocionante, pra mim, foi a volta do intervalo – sim, o show é tão longo que tem intervalo – com uma homenagem a Syd Barret, já que eu havia recebido um inesperado telefonema da namorada de Levi Marques, NOSSO diamente louco, que havia partido deste vale de lágrimas por livre e espontânea vontade alguns dias antes. SHINE ON, you crazy diamond!

Na saída, a platéia dá novo show de deselegancia, mandando em coro a presidenta tomar no cu. Bizarro. Contraste total com o clima intimista do evento.

Quero registrar também a extrema dificuldade que tive para conseguir um táxi depois do show. Foi tenso, pensei que ia ter que dormir na rua ... 

A.

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