terça-feira, 10 de novembro de 2015

PCdoB: da guerrilha ao Ministério da Defesa

Quando ainda fazia programa humorístico – e era engraçado – Jô Soares tinha um quadro em que um general entrava em coma na posse do presidente Figueiredo, o último ditador, e acordava já na “Nova Republica” (muita ênfase nessas aspas, por favor) de Sarney & cia. Espantado com as mudanças, repetia o bordão “me tira o tubo” a cada constatação das voltas que o mundo dá. Às vezes fico imaginando o que o general diria se acordasse hoje, com um papa argentino, um negro na presidência dos Estados Unidos, uma ex-guerrilheira – mulher! – presidindo o Brasil e, agora, o PCdoB à frente do Ministério da Defesa.

Sim, aquele mesmo PCdoB, o Partido COMUNISTA do Brasil. Fruto de uma dissidência stalinista – depois maoísta, “albanista” e, por fim, petista – do “partidão”. O “partidinho” – era pequeno, na época – que organizou a guerrilha do Araguaia, o mais planejado e consistente – ou menos delirante  - projeto de combate armado à ditadura.

Médici deve ter dado algumas voltas no túmulo, certamente. Mas o mesmo quadro do programa do Jô terminava sempre com o general pedindo para manter o tubo ao constatar que, no final das contas, nem tudo havia virado de pernas pro ar. As coisas mudam, às vezes, para continuarem as mesmas. Com efeito, a presença da legenda de João Amazonas à frente da pasta à qual estão subordinadas às Forças Armadas não causou nenhum assombro, a não ser entre os cães raivosos que se recusam a notar que o mundo é outro e a guerra fria já ficou há muito tempo para trás.

O próprio PCdoB mudou, e muito. Na cerimônia de passagem de cargo Aldo Rebelo, o novo ministro, prometeu apoiar “cada uma das agendas estratégicas das Forças”. Citou nominalmente projetos como o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), da Marinha; o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), do Exército; e o FX-2 para aquisição dos caças Gripen da Aeronáutica, ressaltando a importância deles para o fortalecimento da soberania brasileira. Enalteceu a história da fundação das Forças Armadas e fez questão de elencar algumas conquistas das três instituições - sem mencionar, claro, o papel dessas mesmas forças na repressão aos movimentos populares. Canudos e Contestado, assim como o golpe de 64 e a ditadura subsequente, foram solenemente ignorados nesse "balanço Histórico" ...

No caso da Marinha, destacou a Batalha do Riachuelo. “Ali, ao vencer a Armada Paraguaia, o Brasil e a Força Naval abriram caminho para o progresso das forças terrestres”, disse. Prometeu, ainda, atualizar o Projeto Nacional de Domínio do Ciclo Nuclear, além de “lutar para preservar a capacidade operacional da nossa Esquadra”. Já para o Exército, ressaltou que a Força nasceu nos idos do nacionalismo do País. Citou o “Exército da luta pela independência, que nos deu essa heroína única de convicções e de bravura, Maria Quitéria. O Exército de Duque de Caxias e da consolidação da República”. Por fim, sobre “a mais jovem das Forças”, a Aeronáutica, lembrou que aviadores brasileiros “deixaram nos céus da Europa o tributo de sangue para que o mundo vivesse em liberdade”. “À Força Aérea, nós devemos o Correio Aéreo Nacional, que era muito mais que correio. Era a instituição integradora de um País sem logística, separado pelas distâncias”, lembrou.

O que Aldo disse era o que o comandante do Exército, o gaúcho Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, de 63 anos, queria ouvir, a julgar pela entrevista que concedeu ao jornal Correio Braziliense no dia 27 de setembro de 2015. Nela, ele exalta a passagem de Lula pela presidência: “Nós nos acostumamos a matar um leão por dia, mas perdemos a capacidade de pensar a longo prazo, estrategicamente. Até que veio o governo do presidente Lula e essa série orçamentária que era declinante se reverteu e começou a melhorar. O marco foi quando o presidente chamou o ministro (Nelson) Jobim para o Ministério da Defesa e disse: “Sua missão é colocar a defesa na pauta de discussão nacional”. E, aí, o ministro Jobim, com o ministro Mangabeira Unger, elaborou uma Estratégia Nacional de Defesa, um marco na história da defesa. Pela primeira vez, o poder político disse aos militares qual era a concepção de Forças Armadas, o que entendiam como necessário para o Brasil.”

De “quebra”, deu uma estocada bem humorada nos “aloprados” que defendem uma intervenção militar: “É curioso ver essas manifestações. Em São Paulo, em frente ao Quartel-General, tem um pessoal acampado permanentemente. Eles pedem “intervenção militar constitucional” (risos). Queria entender como se faz. O Exército vai cumprir o que a Constituição estabelece. Não cabe a nós sermos protagonistas neste processo. Hoje o Brasil tem instituições muito bem estruturadas, sólidas, funcionando perfeitamente, cumprindo suas tarefas, que dispensam a sociedade de ser tutelada. Não cabem atalhos no caminho.”

A maior ameaça aos planos dos militares, hoje, não é o comunismo. É a crise. A maior desde 1929, dizem especialistas. Uma daquelas crises cíclicas típicas do ...

Capitalismo!

A.

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