sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Não quer ajudar, não atrapalha

É sempre a mesma coisa. Primeiro todo mundo põe um filtro arco-íris no avatar. Depois vem uma onda de gente criticando quem trocou o avatar. Depois vem a onda criticando quem criticou. Em seguida começam a criticar quem criticou os que criticaram. Nesse momento já começaram as ofensas pessoais e já se esqueceu o porquê de ter trocado o avatar, ou trocado o nome para guarani kayowá, ou abraçado qualquer outra causa.

Toda batalha pode ser ridicularizada. Você é contra a homofobia: essa bandeira é fácil, quero ver levantar bandeira contra a transfobia. Você é contra a transfobia: estatisticamente a transfobia afeta muito pouca gente se comparada ao machismo. Você é contra o machismo: mas a mulher está muito mais incluída na sociedade do que os negros. E por aí vai. Você é de esquerda, mas não doa pros pobres? Hipócrita. Ah, você doa pros pobres? Populista. Culpado. Assistencialista.

Cintia Suzuki resumiu bem: “Você coloca um avatar coloridinho, aí não pode porque tem gente passando fome. Aí o governo faz um programa pras pessoas não passarem mais fome, e aí não pode porque é sustentar vagabundo (…). Moral da história: deixa os outros ajudarem quem bem entenderem, já que você não vai ajudar ninguém”.

Todo vegetariano diz que a parte difícil de não comer carne não é não comer carne. Chato mesmo é aguentar a reação dos carnívoros: “De onde você tira a proteína? Você tem pena de bicho? Mas de rúcula você não tem pena? E das pessoas que colhem a rúcula, você não tem pena? E dos peruanos que não podem mais comprar quinoa e estão morrendo de fome?”.

O estranho é que, independentemente da sua orientação em relação à carne, não há quem não concorde que o vegetarianismo seria melhor para o mundo, seja do ponto de vista dos animais, ou do meio ambiente, ou da saúde, ou de tudo junto.

O problema é exatamente esse: alguém fazendo alguma coisa lembra a gente de que a gente não está fazendo nada. Quando o vizinho separa o lixo, você se sente mal por não separar. A solução? Xingar o vizinho, esse hipócrita que separa o lixo, mas fuma cigarro. Assim é fácil, vizinho.

Quem não faz nada pra mudar o mundo está sempre muito empenhado em provar que a pessoa que faz alguma coisa está errada —melhor seria se usasse essa energia para tentar mudar, de fato, alguma coisa. Como diria minha avó: não quer ajudar, não atrapalha.

NOTA DO BLOG: É por essas e outras que desisti de manter perfil em rede social. Um dia ainda vou entender porque as pessoas ficam tão insuportáveis quando estão num ambiente virtual "social". Enquanto não chego a uma conclusão, prefiro não ter Whatsapp (è assim que escreve?), nem twitter, nem instagram. Aos poucos vou desistindo de atualizar este blog também - parece que (quase) ninguém mais lê mesmo. Muita coisa, né? "Quem lê tanta noticia"???!!! Hobsbawn descreveu o século XX como "A Era dos extremos". Acho que estamos vivendo, agora, a era da distração ...

Em todo caso, tenho duas páginas no Facebook, uma pessoal e outra do programa de rock. É diferente de perfil, bem mais tranquilo, e serve pra quem quiser entrar em contato comigo(Adelvan).

www.facebook.com/programaderock

Texto por Gregório Duvivier

Folha, 13/7/2015

#

Nenhum comentário: