domingo, 26 de janeiro de 2014

UM BRINDE AO EXCESSO!

Tudo é excesso nessa verdadeira extravagância em forma de filme que é o novo de Martin Scorcese, "O Lobo de Wall Street". O diretor parece realmente ter ligado o bom e velho botão de “foda-se” e filmado à vontade, sem limites, quase sem cortes, sem aparas de arestas. Estava, evidentemente, se divertindo. Praticamente brincando de fazer cinema. O resultado, como não poderia deixar de ser, é irregular – chega uma hora em que você meio que enche o saco ao ver mais uma cena de orgia sexual regada a drogas, ambição e cinismo em doses cavalares – mas, em muitos momentos, brilhante!

A própria estrutura do longa – e bote longa nisso, 3 horas de duração! – parece refletir o estilo de vida dos personagens retratados, operadores do mercado financeiro que não hesitam em passar por cima do que for preciso para obter o que querem: DINHEIRO! Dinheiro, dinheiro, mais e mais dinheiro. MUITO dinheiro. Utilizado única e exclusivamente para satisfazer seus desejos hedonistas, que, tenho que repetir: não têm limites.

A atuação de Leonardo DiCaprio é magistral. São várias cenas e diálogos antológicos com personagens coadjuvantes igualmente excelentes e muito bem interpretados – com evidente destaque para Jonah Hill, não por acaso indicado ao Oscar pelo papel do sócio alucinado fumador de crack! Mas vou destacar uma: aquela na qual ele tem que correr para casa depois de ingerir substâncias “ilícitas” que comprometem sua coordenação motora.

O filme foi, a meu ver, injustamente acusado de “glamourizar” a vida desregrada de seu protagonista. O suposto glamour está, na verdade, apenas retratado. E de forma farsesca, já que se trata, evidentemente, de uma paródia. O julgamento moral do que se vê na tela fica por conta do olhar de quem vê. Eu, por exemplo, fiquei mais com a impressão de que ele romantiza a atuação dos agentes federais, quase sempre mostrados como verdadeiros heróis a serviço bem, na velha escola maniqueísta de ver o mundo. O que não deixa de ser verdade, em determinados momentos, e a depender da situação. Só que nem sempre. Na maioria das vezes eles são apenas cães de guarda incumbidos de inibir os excesssos corrosivos para que o sistema, intrinsicamente injusto, não pare de funcionar.

O que é difícil de acreditar, mesmo, é que haja pessoas que se entreguem dessa maneira a tamanha insanidade. Mas parece ser tudo verdade. Em teoria, é, já que o filme se baseia na autobiografia do corretor da Bolsa de Nova York Jordan Belfort. A caricatura desenhada por Scorsese não é, portanto, tão irreal quanto parece. Não é por acaso que o mundo está do jeito que está, imerso num caos econômico, conceitual e moral. Porque o dinheiro, ao contrário do que diz o “guru” de Jordan no início do filme(Matthew McConaughey, numa participação tão rápida quanto fantástica), não é fictício. Ele existe. E se se concentra estupidamente nas mãos de alguns, é porque falta nos bolsos de muitos e muitos outros.

A

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