Babalu, Gandhi, Silvio e Ivo |
O disco já havia sido lançado de forma inusitada: foi
executado com transmissão ao vivo pelo programa de rock, direto dos estúdios da
Aperipê FM, a rádio pública do estado. Mas não houve um show de lançamento,
propriamente dito. Aproveitando uma passagem de Babalu por Aracaju para tocar
com o pernambucano Siba – ex-Mestre Ambrósio – tiveram a idéia de fazê-lo,
finalmente.
Cheguei na Casa Rua da Cultura por volta das 23H30, a tempo
de ver a Robot Wars executar a última música do seu set. O ambiente estava
preocupante: pouca gente, público ligeiramente apático e desanimado. Haviam
rumores de um boicote à casa por conta de alguns acontecimentos anteriores
envolvendo polícia e agressões a ex-integrantes da Companhia de teatro que
administra o espaço. Mas, aos poucos, pessoas foram chegando, o clima foi
melhorando e os boatos não se confirmaram.
O show seguinte, da Nucleador, continuou meio frio, mas não
por culpa da banda, que mandou ver em seu crossover matador com uma execução
precisa. O público é que continuava um tanto quanto distante. Algumas rodas de
pogo, ainda que tímidas, foram esboçadas, mas não havia muito a ser feito, já
que o principal “animador” da bagaça, Levi, estava ocupado fazendo seu trabalho
nos vocais. Ele é, aliás, um dos destaques da banda, em termos de perfomance de
palco, inclusive. Fizeram um set energético e enxuto – com direito a covers do
Pennywise! - que, no final das contas, parece ter aquecido o ambiente.
Porque na apresentação seguinte, da Crimes Hediondos, o
clima já era outro. O grupo, formado por alguns veteranos da cena
punk/crust/grind da cidade – Cícero “Mago” na bateria, Pedro na guitarra e
Mazinho no contrabaixo – escudados por um “seminovato”, Alércio, nos vocais,
faz um Hard Core “old school” porradíssimo, pendendo para o crust – para que o
som fosse definitivamente “crust” os vocais teriam que ser mais “guturais” ou
gritados, mas o de Alercio está mais para uma vocalização mais limpa.
Agressivo, meio desesperado até, é verdade, mas entende-se a pronuncia, o que
não é muito característico do crust. Sua presença de palco, alíás, é excelente,
com alguns trejeitos corporais bem característicos e uma entrega evidente à
tarefa de espalhar a mensagem de caos, desordem e desgraça. A perfomance da
banda, como um todo, é muito boa e incendiou de vez a platéia. Um aquecimento
perfeito para o que viria a seguir ...
O que veio a seguir foi, provavelmente, o melhor show da
Karne Krua que eu já vi – e olha que eu já vi muitos, mais que ele mesmo, disse
Silvio – exagerando, evidentemente – naquela mesma noite. Dizem eles – e eu não
tenho porque não acreditar – que fizeram apenas um ensaio para esta
apresentação. Não parecia. Babalu, o único elemento que, a principio, poderia
estar “enferrujado” na engrenagem, estava perfeito. Mais que perfeito, eu diria
até. Incrivelmente perfeito. Todos ficaram impressionados com sua perfomance,
absolutamente matadora. Velocidade, agilidade e habilidade fora do comum.
Impressionantes os arranjos que ele fez para alguns dos sons mais toscos do
início da carreira da banda, como “terrorista”, que eles tocaram depois de
executar, na ordem e quase que na íntegra, o álbum “inanição”. Acho inclusive –
e tive a chance de externar minha opinião lá mesmo, surrupiando o microfone do
backing vocal – que, já que ele não vai mesmo ficar em Aracaju, deveria tentar
entrar no Slayer. Só ele substituiria à altura Davi lombrado...
O público reagiu: foi uma verdadeira celebração da energia
libertária do punk rock, do rock and roll e da anarquia. Verdadeiros hinos, como “Subversores da ordem”, "O Vinho da História", "Contaminados", e “neoclássicos”, como a matadora
“inanição”, foram cantados a plenos pulmões pela platéia extasiada. Uma noite
absolutamente memorável, inclusive pela presença, em certos casos inusitada, de
vários ex-membros da banda, como Antonio “Almada”, o primeiro baterista, que há
tempos eu não via num show de rock por aqui.
Lamento por quem perdeu.
A
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