sexta-feira, 24 de maio de 2013

Nem guitarra rosa nem som vagabundo

“O som tá uma merda porque é meu. Eu alugo. Desculpem o atraso” – assim começou e esse foi o tom da apresentação da Tody´s Trouble band no Saloon, sábado passado. Detalhe: o ex-gordinho estava lindo, com uma camisa de mangas compridas estilosa, suspensórios e gravatinha borboleta. Escudado pelos comparsas Demétrio na guitarra (não era rosa) e o excelente Romão na bateria, fez um grande show, sem grandes problemas – só satisfação. Que o diga Isabela Raposo, que não parava de dançar.

O Saloon é um novo espaço que vem abrindo suas portas para as bandas alternativas de Aracaju – aqui não cabe tergiversação, pois qualquer banda que fuja do figurino reggae/arrocha/mamãe eu vou tocar num evento de Fabiano Oliveira, em Aracaju, é, definitivamente, ALTERNATIVA. Montou um esquema que tem dado certo: é semi-aberto – a maioria do povo fica na rua, mas há pequenos espaços cobertos no próprio bar e numa marquise de uma oficina ao lado, para o caso de chuva – e não cobra nada, nem ingresso nem “couvert”. Você só paga pela bebida, e é a bebida, imagino, que paga tudo, inclusive os cachês – quero crer que eles existam, por menor que sejam – das bandas. Dá certo porque com bebida o povo não regula: consome! E dando certo atrai, inclusive, garotas bonitas. Haviam várias delas lá. Algumas, inclusive, perfeitamente vestidas no clima da noite, estilo pin ups dos anos cinqüenta.

A Tody´s Trouble Band é, provavelmente, a melhor coisa que aconteceu no cenário alternativo da cidade nos últimos tempos. E é lindo assistir ao surgimento de uma banda nova e tão boa assim, quase que do nada, e vê-la evoluir a cada apresentação. Estão afiadíssimos e com um repertório impecável que mescla excelentes composições próprias – que já estão se tornando pequenos hits da cena local – com versões bastante pessoais de clássicos que vão de “Bicho de sete cabeças” a “Beber até morrer”, dos Ratos de Porão. Tudo executado com muita empolgação, animação e pequenas doses de ironia “non sense” ao longo do percurso.

O grande momento da noite, a meu ver, foi a execução de um clássico absoluto da musica instrumental que eu nunca mais havia ouvido e de cujo nome/autoria não conseguia me lembrar. Perguntei a Tody e ele responde que era “O milionário”, dos Incríveis - na verdade uma versão para "The Millionaire", da banda inglesa (de Manchester!) The Dakotas. Mas a lista de momentos antológicos foi longa, tanto que fui vencido pelo cansaço e nem fiquei até o final - isso depois de uma hora e cacetada, já partindo para as duas horas de som ininterrupto.

No caminho para casa, com um grau de satisfação que só uma boa noite de bom rock and roll - ou de sexo - pode proporcionar, me vieram à mente algumas reflexões: estávamos num bairro periférico da capital do menor estado de um país do terceiro mundo, mas estávamos nos divertindo com uma banda de rock sensacional que, falo sem medo de me equivocar, não fica nada a dever e é, inclusive, bastante superior a boa parte do que é incensado pela imprensa “especializada”. Então foda-se o complexo de vira-latas! Existe vida diferente e inteligente para além dos “caos” e “infernos” do Baixo Augusta! Sem querer desmerecer a opção da verdadeira legião de conhecidos meus que têm abandonado o barco supostamente amaldiçoado por um cacique rancoroso, fico por aqui mesmo, e fico feliz. Cada um tem seu caminho a seguir, mas eu ainda acredito na máxima de um velho poeta que li uma vez mas não lembro quem era: o sentimento mais provinciano que existe é o desejo de sair da província”.

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A.

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