sábado, 5 de dezembro de 2020

Horrores Humanos

Conheci a Karne Krua no II Festcore de Aracaju, o primeiro festival de rock que fui em minha vida, em 1987, aos 16 anos. Eu morava no interior do estado, em Itabaiana, e estava começando a mergulhar nesse universo totalmente novo pra mim. Fiquei impressionado! Lembro de ter pensado “caralho, essa banda é tão boa quanto o Cólera” – era minha principal referencia, pois tinha comprado o disco ao vivo na Europa através do CIC, Centro Informativo Cólera, e ouvia sem parar. Também porque tinha pouquíssimos outros discos para ouvir na época.

Fiquei amigo de Silvio, o vocalista, e cliente da loja de discos dele, a Lokaos. E fã da Karne Krua. De lá pra cá acompanhei todas as fases, fui a incontáveis shows e ensaios. E foram muitas, fases e shows e ensaios. Karne Krua tem 35 anos de existência ininterrupta! Nunca parou!

Conheci o rock, também, graças ao radio. Primeiro através dos hits de bandas como Legião, Titãs e Ultraje, que tocavam na programação normal. Depois por um programa específico, o “Rock Revolution”, que era produzido pelos caras da loja Disturbios Sonoros, de Aracaju, na radio Atalaia FM. Me marcou bastante. Sempre tive vontade de ter um programa de rádio. Ajudei a produzir um na Itabaiana FM já na década de 1990. Foi divertido, tocamos Napalm Death e Carcass no intervalo da transmissão da inauguração de um poço artesiano pelo então vice-governador do estado, que era o dono da emissora! Mas tinha pouquíssima audiência, evidentemente. Era uma excentricidade, quase uma molecagem. Em todo caso, cheguei a entrevistar a Karne Krua numa das raras ocasiões em que eles se apresentaram por lá.

Em 2007, 20 anos após a noite em que fui ao meu primeiro show de rock da vida, consegui finalmente um espaço no radio em Aracaju, na emissora publica do estado, a Aperipê FM. E em 2012 a Karne Krua se apresentou no meu programa de radio! A apresentação foi transmitida ao vivo, direto do estúdio. Foi meu “momento John Peel”. Memorável.

A apresentação foi também gravada e posteriormente lançada no CD Demo “Horrores Humanos”, que chega agora ao formato de streaming. São várias sessões de gravação registradas em diversos estúdios ao longo dos anos de 2011, 2012 e 2015. Um registro poderoso de uma formação marcante para a banda, com Ivo no Baixo, Alexandre Gandhi na guitarra e Adriano na bateria. Foi nessa fase que a lançaram seus excelentes dois últimos álbuns, “Inanição” e “Bem vindos ao fim do mundo”, em CD e LP de vinil, respectivamente, além do EP “split” com a banda brasiliense Besthoven, lançado em compacto de vinil de sete polegadas.

As duas ultimas faixas de “Horrores Humanos”, gravadas ao vivo no Bateras Beat, em 2015, já previam as novas mudanças pelas quais a banda passaria depois de um longo e produtivo período de estabilização na formação: Já contam com Oitchi, que substituiu Adriano, na bateria. Pouco tempo depois a banda perderia não somente Oitchi, mas também o guitarrista, Alexandre Gandhi. Seguem firmes, no entanto: os substitutos, Afonso, na bateria, e Lilo, na guitarra, já estão perfeitamente entrosados, com diversos shows no “currículo”, inclusive. Estão parados por conta da pandemia, mas prometem para breve um novo lançamento, “primitiva”, uma volta às raízes, com algumas musicas inéditas e outras antigas mas nunca editadas em álbuns ou demos.

por Adelvan Kenobi

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